quarta-feira, 25 de abril de 2007

33 Anos de Enjoo

O Molde da Academia e o Cravo, de Ian Ellis. Imagem de como o oficial, quando erguido a critério do gosto, pode preferir aos alvos e Marianos cravos do 28 de Maio realidades bem mais escuras.

O Demo-liberalismo, se obedecer ao médico que o mande dizer "trinta e três", poderá achar-se de boa saúde, mas só por conveniência ignorará que o País está moribundo. Um pouco como a infecção, a qual progride enfraquecendo o corpo. É mal endémico das variantes deste ideário institucionalizado, nascido dos horrores da Revolução Francesa e que, mesmo na nossa brandura, teve de recorrer às revoluções de sangue de 1834 e 1910, ou à do vómito, a de 1974. Não esquecendo que esta se raiou profusamente do derramamento sanguíneo de tantos combatentes e populações inocentes do Portugal Ultramarino. Mas a ambição suprema era, como vai continuando a ser, livrar-se de embaraços e fazer como os outros.
Não se conte comigo para carpir os opositores organizados que procuram as substituições dos regimes. Vale para os skins de hoje, como para comunistas & Delgados do Antigamente. Acharia uma carência total de desportivismo um indivíduo que se associe com outros para acabar com um poder vir queixar-se de que o dito o tenha aprisionado, abanado, ou morto. Mas não me posso calar quando são pessoas que nunca manifestaram vontade de participar nessas corridas as vítimas de quem tem na mão os instrumentos opressores. Como as etnias que Hitler e Estaline dizimaram, as classes que Lenine e os Jacobinos atacaram, a Vendeia ou os nascituros que os democratas, parisienses ou abrilistas, resolveram assassinar.
Estafado, mais do que estafado se encontra o argumento do pluralismo. Este é restrito aos partidos que se entendem para distribuir-se quotas de gestores e altos cargos, comprazendo-se na sacro-santa "alternância", herdeira directa do Rotativismo que não deixou saudades. Tudo dentro da mesmíssima família, portanto, variando apenas o primo que, em cada hora, ocupa a cabeceira da mesa, com as inescapáveis mediocridades promovidas que as cumplicidades aparelhísticas trazem. Os estranhos encontram a porta fechada, todas as portas fechadas. Com uma tranca adicional, a exclusividade das atribuições das listas dos eleitos aos estados-maiores das facções reconhecidas. E nem dignidade houve para referendar a aceitação deste quadro político, ao contrário do que fizeram sistemas anti-pluripartidários que a isso não estavam obrigados pela retórica respectiva e, no entanto, se fizeram plebiscitar.
Ao ter confiado a sua génese à espoliante e ficcionada procuração do pretendido representativismo de uma Assembleia Constituinte, o sistema então nascente e hoje jacente fez assinar o pacto mefistofélico e assumiu-se de vez como o liberalismo do Demo.

11 comentários:

João Villalobos disse...

Esta do «espoliante» lembrou o esfoliante que ofereci ao Távora. Pronto, podes ficar também com um embalagem :)
Abraço e saudades

cristina ribeiro disse...

Caríssimo,
É já de saída para o aeroporto que me associo ao seu enjoo.
Vou passar uns dias(quem dera fossem mais!)ao País onde a verdadeira Democracia(embora pareça que também por lá "a Tradição já não é o que era")convive bem com a Majestade(ainda que Çamorano a pense "pérfida"...).
Beijo

Marcos Pinho de Escobar disse...

Belo texto, Caro Amigo. 33 anos de absoluta impunidade para aqueles que, para derrubar um regime que não lhes agradava, destruiram Portugal e lançaram milhões de inocentes ao sofrimento e à morte.
Gordos, ricos e velhos, comemoram os seus crimes com largos e sinistros sorrisos, cheios de hipocrisia e prepotência. Triste fim de uma Nação.
Um abraço.

Anónimo disse...

Bon Voyage, Madame Ribeiro

O Réprobo disse...

Daimoso João,
Obrigadíssimo, tinha ficado a cobiçar o presente alheio, na forma de uma Grande Medicina anti-cravos.
Abraço

O Réprobo disse...

Alada Cristina,
ai que saudades, ai, ai! Bom périplo e dê um abraço meu a esse País Insular, não deixando que o Príncipe William, agora de novo solteiro, A desvie de nós.
Beijo

O Réprobo disse...

E, Ilustre Euro-Ultramarino, continuam a queixar-se de que a escola não enche suficientemente as criancinhas da mensagem promocional do regime, no duplo sentido de sistema governativo e de dieta que fez emagrecer Portugal. Nem percebem que é essa lenga-lenga, despejada sem arte mas com muita e visível manha que afasta mais rapidamente deles as gentes.
Abraço

O Réprobo disse...

O Cavalheirismo de Nuestros Hermanos pelo teclado de um dos Seus Máximos Expoentes, o inigualável Çamorano.
Abraço e união no voto

Anónimo disse...

Faço minhas as palavras do Euro-Ultramarino acima. Sempre acertado no que escreve, como aliás o está igualmente o Administrador deste Blog, mas aqui estou a ser redundante porque isto já este Senhor o sabe, não é assim? Pelo que lhe renovo os meus parabéns pelo seu texto e envio cumprimentos aos dois.

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Nota: Diz enjoo? Enjoo é dizer pouco. Este regime e o perfil moral das personagens falazes que o representam - já para não falar do perfil físico - provocam náuseas de tal ordem no sistema digestivo (e em boa verdade uma alteração completa em todos os restantes sistemas) que sistemàticamente originam o vómito acompanhado da bílis, que creio ser a pior consequência do verdadeiro enjoo.

Maria

O Réprobo disse...

Pirritantes? Uuummm, não estará o resultado viciado pelo personagem dos Gatos Fedorentos, o Super-Irritante, justamente?
Mas obrigado pelo convite.

O Réprobo disse...

Maria, Realista à outrance:
Sem dúvida, penitencio-me por ter descrito a sensação que a data desperta de forma demasiado eufónica. Obrigadíssimo pela aprovação, que me enche de contentamento.
Beijinho