sábado, 15 de dezembro de 2007

A Raça & a Lata

Pode ficar confundido quem conheça apenas por leitura o desabafo da Rainha Mary de Inglaterra, ao ver a Princesa Margarida, Sua Neta, num anúncio que procurava promover o gramofone:
Lá o Pastor Alemão está bem, agora o gramofone é que não!
Com efeito, o Nipper, famoso cão dado a dentadas, pintado por um dono cheio de saudades, que viria a tornar-se o símbolo de famosa etiqueta discográfica sob a divisa His Master´s Voice era um Bull Terier cruzado de Fox Terrier...

O Pastor pela Cabeça Coroada referido era Martin Niemöller, que também entrava na fotografia. Uma personalidade confusa, a quem sempre faltou a orientação superior do Catolicismo Romano: começou por alinhar com Hitler, opôs-se depois à interferência do Estado na hierarquização eclesial, sem jamais rejeitar as teses do Poder sobre a Raça. Preso e com a cabeça pedida por Goebbels, viria a escapar por graça especial do Führer, vindo no pós-guerra a ser ostracizado pelos vencedores, por ter permanecido numa pantanosa concepção de nacionalismo germânico. Com o tempo tornou-se um pacifista radical, adepto do desarmamento que deixasse à mercê dos Comunistas do Bloco Soviético.
Voltando ao aparelho que ele co-propagandeara, devo dizer que é um caso raro em que exulto com as inovações técnicas. Para ser coerente com outras preferências, deveria vociferar contra a música em conserva e lamentar a concorrência que ela faz às execuções presenciais. Mas o certo é que deu um jeitão e a minha colecção de discos é das coisas que, verdadeiramente, melhoraram a minha vida.
Só é de lamentar que no Quinze de Dezembro em que se comemora o registo da patente do aparelhómetro por Thomas Edison, se tenha de lamentar a voracidade dele, que moveu mundos e fundos para impedir de circular na Federação Americana discografias de Autores cuja repodução técnica lhe não coubesse. O inverso da função de difundir.


8 comentários:

Diogo disse...

«Para ser coerente com outras preferências, deveria vociferar contra a música em conserva»

Affreux, mon ami, vraiment épouvantable les conserves. Au-dessus ceux de pieuvre.

Anónimo disse...

A propósito de publicidade antiga, lembrei-me do Paulo e da T,quando, há pouco, fui "requisitar" o livro de Rocha Martins que ontem me aconselhou, ao deparar com vários exemplares da «Revista Portuguesa ABC» por ele dirigida. É verdadeiro maná para quem se interessa pela anterior publicidade.
Beijo

O Réprobo disse...

Pois é Diogo, tenho cá um pó a óleos que não sejam Santos...

O Réprobo disse...

Bem sei Cristina, ainda recentemente estive com uma colecção bastante considerável nas mãos. Mas não estava completa e hesitei.
Nestes casos a hesitação é a morte do artista.
Beijo

Terpsichore Diotima (lusitana combatente) disse...

Reprobozinho e mais visitantes

Podem assinar a petição contra o acordo ortográfico, se não querem ficar depois com os olhinhos úmidos de tristeza... e culpa, muita culpa :)

E lá na minha caixa de comentários, tem uns dados novos interessantes. sabiam que o Brasil usa legendas para traduzir... o português? (eu não sabia... já desconfio então que deve ser por medo de não perceberem o que digo, que reagem em geral tão snob e arrogantemente quando os encontro no estrnageiro, afinal...)

Venhma lá ajudar nos meus comentários que tenho um prof que acha que eu devo ser umilde. Ou é humilde? Sei lá.... hahahaha
Não tenho jeito nenhum para os fatos (e tenho TANTO que fazer...)
(escrever a uns amigos à espera, entre outras coisas....) :)
JInhos
Um bom dimanche

O Réprobo disse...

Querida Terp,
Lá irei, contribuir para a boa causa. Hã, esse Professor que manda os Outros ser humildes, sei quem é, trata-se de Frei Tomás, não? Lá aplicar-se a ele o conselho e ser menos pronto nas prescrições de humildade alheia é que fica para a próxima encarnação...
Gostaste do quadro do Durand, no postal sobre a Amizade? Pareceu-me que era coisa para cativar uma Mocinha como Tu.
Beijinho

Terpsichore Diotima (lusitana combatente) disse...

Caro Paulo
Gostei muito dos espíritos afins, que se sentem a são e salvo mesmo à beira do abismo... Gosto muito mesmo, sim senhora. Gostaria de ver melhor o quadro.
Engraçado como tem um significado que se duplica: eles sentem-se a são e salvo no abismo, no sentido de se apoiarem um so outro. E eles sentem-se a s-ao e salvo no sentido de poderem confiar que o outro não o empurra ou faz qualuqer coisa brusca ou mal feita que o faz cair...
Os espíritos afins, isto é, dois amigos que o sejam ~e a verdadeira amizade é rara - em situaçõess de desiquilíbrio e perigo, suportam-se e apoiam-se de forma a que não caia o outro.
Olha desculpa por-me para aquii a pensar em voz alta. Não sei se é assim também que vês. ?
Também estou para postar sobre a amizade há meses...!

Bem.
Ah, obrigada pelo Mocinha. Gostei.

O resto nã pergunto.

Cara Cristina, chegou a encontrar o link?

Beijinhos

O Réprobo disse...

Querida Terp,
Desculpar? Pois se corresponde inteiramente à minha interpretação! E que não correspondesse, as Tuas achegas são sempre bem-vindas.
Ah, esse postal sobre a Amizade, porque promessa, passou a dívida.
Beijinho