A Chancela da Asneira
Acostumados estamos às gaffes da classe política portuguesa, especialmente no partido do desgoverno, com cimeiras línguas soltas ao estilo de Milu, Lino e outros Pinhos. Neste panorama carnavalesco costuma, por ter um olho, fazer figura de rei o Dr. António Vitorino, tido geralmente por mais vivo e certinho do que os camaradas em redor. É, então, desolador que, para tentar contrabalançar os números da audiência do entertainer-mor que é o Prof. Marcelo, se veja obrigado a soltar notas em estilo mais rápido e convicto do que o seu falar habitual, com a inerente paralisação do raciocínio que leva direitinho ao disparate.
Foi desta forma que, na sessão de ontem, se referiu ao actual titular das Finanças do Reino Unido, previsível sucessor de Blair na liderança Trabalhista, como "o provável futuro chanceler". Momento quântico, entre todos, confundindo inconscientemente alemães e britânicos. Dos primeiros é que o Chefe de governo é o Chanceler. Na Albion o título é hoje açambarcado pelo responsável do tesouro, Chancellor of the Exchequer, dado o progressivo esvaziamento das atribuições do Lord Chancellor e a vagueza das funções do Chanceler do Ducado de Lencastre, uma reminiscência Mooriana a que, sem pasta, costuma incumbir a coordenação interministerial da reforma que seja a menina dos olhos do Primeiro-Ministro da altura, com o prometido destino da paixão educativa do Eng. Guterres. Brown, portanto, não será chanceler, salvo na vitorinesca mente que o dá como a pescada, visto que já o é.
Reflexão mais séria seria a de pesar a justeza comparativa da designação nesses dois Estados, como no Brasil, onde indica o Ministro dos Negócios Estrangeiros, ou do equivalente francês Garde des Sceaux, o da Justiça. A reserva do nome à chefia da administração sobrevive, nos países germânicos, como uma reminiscência dos tempos em que era um coadjutor da Coroa. Na tradição inglesa a prioridade do material revela-se na ligação dos Selos Reais com que mais concerne aos súbditos, o uso dos impostos recolhidos. Não rejeitando a ideia que se retira da escolha do País-Irmão, associando o conceito ao que vincula a Nação perante as outras, parece imperioso reconhecer que os que deram no vinte foram, por uma vez, os franceses, aplicando a noção à actividade pública de regulação da vida do comum dos mortais.
2 comentários:
Caro Réprobo,
Gostei do Prof.Marcelo,nessa sua qualidade:a de Professor(admito que a esta minha apreciação não será totalmente estranho o facto de me ter dado uma nota razoavelzinha...),mas já há algum tempo que desisti de ouvir o analista político.
Já nessa altura o Dr.António Vitorino(seu Assistente)era,literalmente, por ele abafado,e não lhe sei dizer até que ponto,pela sua já então reconhecida ânsia de protagonismo.Não obstante,passados estes anos todos,igualam-se na minha nula pachorra para ouvir o que entendem debitar na nossa televisão .
Mas,realmente,essa de dizer que o Membro do Gabinete Trabalhista será,provavelmente,o"futuro chanceler"do Reino Unido,é de Antologia...
Recompensada (pela nota) e Recompensante - pelo comentário - Cristina:
Também eu fui aluno dele e recebi generosa classificação. E concordo tanto com o que diz que lembro esse primeiro ano de faculdade em que não perdia as aulas do mefistofélico inventor dos factos políticos que conhecia do Expresso, chegando a ir ao doutoramento. O tempo ensinou-me que também as respectivas análises são mais espectáculo e vendettas do que coisa realmente profunda. Mas talvez seja o que ainda as faz triunfar numericamente junto dos espectadores.
Vitorino, penso-o menos superficial do que mostra ha conversa com Judite. Mas para manter vivos os vinte minutos tenta dar-se um tom determinado que o faz concentrar-se demasiado no estilo, menos no conteúdo. Resultado... por vezes, quando abre a boca... e não vi entrar mosca alguma.
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