sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

As Grades do Inferno

Quem queira consolar-se com o pouco digno disso que nos resta, pode ir ver as fotogradias tiradas, por vezes, de S. Pedro de Alcântara pela Arte da Luísa, duma Lisboa diversa da da litografia de 1845 de Sousa e Barreto. Entretanto, no dia em que se noticiou a reabertura do passeio do Aqueduto, veio-me à lembrança falar de outro fecho dele e de uma sua macabra substituição pelo cimo da muralha de S. Pedro que comecei por referir. Tanto infeliz se julgou livrar da infelicidade esmagadora atirando-se de lá, que o altruísta vereador Ayres de Sá desencadeou uma campanha para colocar uma grade que obstaculizasse as tentações. Entre adiamentos de sessões camarárias e dilações se passaram alegres anos - menos para os espatifados e os que deles se apiedavam - de 1852, em que o gradeamento se decidira, até 1864, em que uma proposta contrária a ele unanimemente triunfou(!). Pelo meio, nada de ferros. Só em 1866 o bom senso voltou. Onde é que nós já vimos um país de adiamentos, oh, onde terá sido?
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Grades do Inferno pois lhes chamei, não por oprimirem, mas por tardarem desesperantemente em existir. Quem como grade funcionou, no que a Antero de Quental respeita, foi Oliveira Martins. Lembremos parte da carta a Eça em que à bala fatal se referiu:
Matou-o a sua imaginação exarcebada pelo capacete de ozone da ilha. Era uma tentação antiga: duas vezes o desarmei e uma no instante em que se ia matar. E então havia um motivo: mulher. O nosso pobre Antero não tinha a filosofia bastante para perceber que, a vida nem vale a pena de nos desfazer-mos dela. Era um alucinado da metafísica e provavelmente acabou julgando ir viver num mundo melhor.

O Penúltimo período do texto não se aplicará também a um blogue?

Muito Cabelo, Pouco Juízo

Tendo surgido nas caixas de comentários mais abaixo a ressurreição da teoria de que os homens prezam Nelas um matagal de pelo exponencial, tenho de reconhecer que me parece ter sido sempre essa uma suposição do Belo Sexo, desprovida de correspondência fáctica. O exagero é de todas as idades - no Século XVIII chegou a extremos que já denunciei, publicando uma gravura que evidenciava o disparate, ainda que, num dos casos, desculpando-se ostensivamente com o formato de coração, o qual é equivalência gráfica absoluta à tese que aqui vi defendida. Mas ainda recentemente se atribuiu o prémio de penteado que segue...
Sou contra, acho que uma relação verdadeira não se compadece com ménage à não sei quantos... piolhos.

Desistência en Três Tempos

O estranho caso do nomeado que, como o caranguejo, andou para trás, no provimento da vacante direcção da PJ portuense só me suscita um comentário: por muito competente que o jurista em questão seja nas instrumentais tarefas em que exerce os seus conhecimentos, não serve, de todo, para esta chefia. Não por a realidade o ter desmentido quanto ao pacífico carácter da sua abortada ida para a referida direcção. Sim, por não ter tido o pudor de se escusar, atado que estava a laços notórios com parte interessada numa mediática investigação dependente do organismo que se propunha conduzir; e por haver emitido tomadas de posição muito audíveis contra uma escolha anterior, conexa. Quem assim toma partido deve abster-se de aceitar cargos que o tornem suspeito.

O Dia Preguiçoso

O Rei dos Gatos, auto-retrato de BalthusÉ sempre penoso falar do dia 29 de Fevereiro, esse visitante menos assíduo do que os outros 365. Uma neblina inquietante rodeia-o, desde que a mitografia das datações lhe resolveu atribuir o começo da Fraternidade, a acção decisiva de Caim sobre Abel. Mas todos os nascidos numa dessas menos frequentes recorrências enfermam do estigma da sonegação do festejo lídimo, sem contrapartida na longevidade, fazendo imaginar que não teriam tempo próprio de celebração, o que equivale a esquecer as horas de acerto de calendário.
Um dos vindos ao Mundo nestas condicionadas circunstâncias foi Balthus, que não poderia deixar de figurar em página tão amiga de gatos. Hesitando sempre entre subtrair a biografia ao público ou dar lamirés dela com indícios de contrafacção que alimentasse a fantasia genealógica de que, aliás, não carecia, o auto-retrato em que se fez soberano amado de seres conhecidos pela independência e teimosia em escolher não é suficientemente contrabalançado pela paráfrase da ironia em dístico que os Romanos pregaram na Cruz. Tenho como seguro que o título deste quadro - que ecoou no dumas Memórias - é também uma tentativa mais de escapar a um destino imaginado pela falta dos anos de comemoração habitual.

Agarrar o Vulto

Aquiles Tentando Apanhar a Sombra de Pátroclo de Henry Fuseli

O sentido de ser algo muito para além do que os outros podem captar está sempre presente nas horas de fraqueza em que não se consegue abstrair de si e é ainda, pela óbvia mediação do texto, mais patente entre quem escreve e quem lê. Pode surgir como uma dupla opressão, a que os ultra-sensíveis sentirão em chicotada no orgulho - como desconformidade do reconhecido e do tido como justo -, mas também o que tudo farão por esquecer, a adaptabilidade de si como cedência ao que pensam estimado pelos que pela baça imagem dêem, transformando-os em escravos desse escuro duplo que se queixam de concitar as atenções.
No fim de (todas as) contas é a eterna ingenuidade egocêntrica que ignora ser uma sombra algo a que o afecto se tenta agarrar e que a desmedida vontade de se livrar dela não deixará de transformar numa autocracia individual e exul incapaz de gerar a empatia, mergulhando na altivez que não excede o desespero, por não conseguir içar-se além do ponto de passagem em que pensar-se cesse.
De Tomás Losa Carretero:

DISTANCIA

No. No me conocéis. No me habéis visto.
Sólo mi sombra entra
a vuestro mundo. Más allá estoy yo,
blanco de eternidad frente a la luz eterna.
Como en sueños me sinto vivir a mis espaldas:
en donde el mundo acaba mi pensamiento empieza.
Amáis y odiáis mi sombra;
pero es sólo mi sombra... - qué tristeza
y qué placer...! -
Y yo estoy solo, nuevo,
como el agua que espera
que, a un mandato del mundo, le reclame la fuente
en dolores de cauce alivio de riberas.
No. No me conocéis. No me habéis visto.
Sólo es mia la luz que me proyecta!
Yo estoy en la distancia
donde está mi grandeza,
pues, estando muy lejos,
parezco estar muy cerca.
Estoy en ese punto
donde muere el sonido y el silencio no llega.
Donde cesa la imagen su trayecto visible
y, en ausencia suprema,
se desciñe su atuendo de miradas y siente
su libre desnudez infinita y eterna.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

O Labirinto

Mulher Penteando-se de Degas

Pois, Fugidia Idealista, veja as inconveniências desta via: Tanto trabalho tinha dado, para atrair o gesto, mas acabava por fazer voltar ao ponto de partida, para compor o resultado...
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Proteccionismo Com Frustrações

Como todos os sites cronológicos davam como acontecimento marcante deste dia do mês o fim do Protectorado Britânico sobre o Egipto, decidi-me a abrir este livro de memórias de um diplomata francês que presenciou a coisa in loco, dando-nos um relato capaz de trazer à terra os cantores da epopeia. A agitação independentista devida aos acólitos de Saad Pacha tinha tornado completamente ingovernável a terra dos Faraós, pelo que Londres, em vez de mandar tropas para o atoleiro, enviou Lord Milner, um alto funcionário, à frente de uma comissão de inquérito. Diz o Autor que todos os inquiridos se recusaram a responder, o que não atrapalhou o inquiridor, o qual produziu um relatório extenso, poemenorizado e documentado(!) sobre a situação, vindo a estar na base da tal declaração de 28/2/1922 do Alto-Comissário, Lord Allemby, em que a Coroa reconhecia a independência e soberania egípcias, reservando-se discricionaridade em quatro pontos:
-a segurança das comunicações dentro do Império
-a defesa do Egipto contra uma agressão estrangeira
-a protecção dos interesses estrangeiros e das minorias
-a questão do Sudão.
G´andas Ingleses! Isto é que é "independência" e "soberania"! Nos outros, claro. Bora reformular a concepção de Protectorado? Não admira que o representane Máximo tenha telegrafado para a Mulher: Returning victorious

Mas, como extra, apanhei uma história muito mais interessante. O Egipto dava equivalência de estatuto diplomático aos Comissários da Dívida estrangeiros (esta também é linda). A Albion costumava nomear ou gente em fim de carreira ou personalidades algo excêntricas para o cargo. Assim, na época, achava-se defendida nessa vertente por um gentleman já não muito novo, sempre metido em calças apertadíssimas e colarinhos inenarráveis, que falava de todos os temas com uma extensão de conhecimentos tal que deixava os interlocutores algo incomodados, ao ponto de se deitarem com afinco a estudar um campo que lhe pensavam estranho, para o colocarem na defensiva. Calhou a ser a música chinesa e Mr. Farnhall, posto sem aviso prévio perante a discussão da matéria, saiu-se com o brilhantismo de sempre, embora emitindo um ponto de vista contrário a um dos artigos consultados pelos provocadores, o da Enciclopédia Britânica. Vendo nisso a única frecha por onde o poderiam pôr em dificuldade, fizeram-lhe notar a discrepância.
Resposta: É perfeitamente exacto. Fui eu próprio que redigi esse artigo, mas devo reconhecer que me enganei. Preparo uma redacção diferente para a próxima edição.
Ou o melão que sabe bem ver em todos os despeitados pelas qualidades alheias. Coisa feia a inveja, né?

Área Protegida

Prometo pensar seriamente em criar aqui no blogue uma coluna para as pérolas da Dr.ª Ana Gomes. Agora pôs-se ao lado de um ministro unanimemente dado como deslocado da sua vocação, qualquer que ela seja, e recentemente visto como desbocado primário, dizendo que por ele se ter metido a comentar irregularidades insinuadas contra o Dr. Paulo Portas deveria começar a cuidar da rectaguarda.
Parece que a generosa conselheira se refere a cumplicidades que o líder popular terá junto de um certo PS. Como não especifica, ficamos a pensar que seja a ala que tudo fez para abafar a investigação de ligações fatais no processo Casa Pia, a mesma a sentir-se bem abafando estoutras suspeitas e acção eventual de magistraturas sobre más acções de políticos.
Quanto a mim, não deveria ser questão de facções, todo o Partido Socialista deveria nutrir profunda gratidão pelo estado em que o pretenso protegido contribuiu para colocar o centro-direita português.

Imortalização do Instante

Descontemos a malandrice do Autor da pintura de fazer aparecer uma coisa suja como é o dinheiro corrompendo um ideal construído e aplicado como se quer o Beijo. Por toda a reflexão que vem fazendo sobre este, apetece dar esta Bolsa, uma vez depurada, à Fugidia, como objecto de toilette que sirva de prolongamento do efémero. Quem pintou foi Vladimir Kush.

Passado, Presente, Futuro

Em 28 de Fevereiro de 1904 era fundado no gabinete da Gerência da Farmácia Franco o embrião do Glorioso, o Sport Lisboa, tendo o mentor e redactor da acta, o Grande Cosme Damião, tido a modéstia de não inscrever o nome ao lado dos dos demais participantes, postura de todo incompreensível, se considerarmos a busca dos holofotes que caracteriza muito dirigismo desportivo de hoje.

Este preparado foi, durante muitos anos, remédio santo para o País. Unido ao Sport Benfica, estava criado o ideal de eclectismo e o caudal vitorioso que haveria de no Povo mitigar a vergonha remontante de não sermos capazes de outras Índias. Quando o Benfica não ganha, evidencia-se a decadência e a insuportabilidade dos políticos, pelo que Vos dou os dois emblemas da fusão, acrescidos do actual e do símbolo do Futuro, até para ser condigno com o que o Meu Amigo João Távora defende e a Bíblia preceitua.




quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

O (Maxim)Bombo da Festa

Um dia cansativo, terminado por triste notícia, a da morte de Mike Plowden, que me foi dada na Federação Portuguesa de Basquetebol, aonde me deslocara em serviço. Mais um (ex-)atleta que cai para o lado, sem razão aparente, pese um antecedente cardíaco registado. Naturalizado português, amava, de facto, este País, o qual na equipa em que ele pontificou, com Lisboa, Jean Jacques & C.ª, teve, pela primeira vez, um clube a discutir internacionalmente os jogos, quando altura e peso pareciam condenar-nos, na modalidade.
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Pálido consolo, encontrei uma fotografia que há muito procurava, para postar. O Amigo Bic Laranja tem homenageado os autocarros de dois andares da Carris, como aqui e num delicioso postal em que falava da inclinação que eles podiam atingir. Sinto pena de que se tenha abdicado de um veículo que podia levar mais passageiros, precisamente quando há mais gente a querer viajar neste transporte público. Claro que seria um alvo mais dramático num atentado, mas que Diabo, não estamos no Iraque, ou, sequer, em Londres. Desconfio é de que rareiem os condutores com perícia para conduzir estas enormes massas. Assim, honro-lhes a memória com o retrato de um antepassado, o primeiro com um par de pisos que fez carreira regular. O Amigo Bic diz que, na Sua mocidade, lhes achava cara de calhambeque. E esta, heim?

Deprimente

Lua Escura de Antoine de VilliersA descoberta de terem os anti-depressivos usados nas perturbações psíquicas menos graves efeitos equivalentes aos de pastilhas de água e açúcar, residindo toda a sua capacidade terapêutica nos efeitos psicológicos que despertem nos afectados, vem uma vez mais confirmar as raízes da fragilidade contemporânea. Fizemos de nós umas plantinhas de estufa, sempre abertas a padecer em função de factores extrínsecos aos ciclos físicos e mentais que incomodam e diminuem, ficando absolutamente viciados num reconhecimento da importância que sentimos devida, nem que seja sob a forma de uma prescrição médica de pragressíssimos medicamentos.
Placebo por placebo, antes receitar a cada ameaçado de depressão a feitura de um blogue. O exercício ajuda muito, desde que não fique cativo da atenção de que, numérica ou individualizadamente, se julgue credor. E sempre é melhor do que confiar em que, para as dores da Alma, vale expediente idêntico ao utilizado para resolver as da cabeça, com recurso a uma fraudulenta parente da aspirina.

Questão de Economia

O Mundo está louco de todo: o líder parlamentar do PCP veio defender a iniciativa privada no que toca a financiamento partidário, querendo diminuir s prestações públicas, aumentando, em contrapartida, a fatia dos contributos dos militantes, de alguma forma os "sócios" dos partidos. Isto enquanto o Prof. Marcelo defende, para acabar com as prevaricações no campo, que eles sejam suportados pelo estado, vedando os donativos particulares.
Esta troca de courts de Esquerda e Direita vem mostrar que a verdade é só uma: para acabar com os abusos dessas organizações em matéria pecuniária, só há em expediente seguro: ilegalizar esses sorvedouros. Nem desviariam do OE verbas importantes para acudir a necessidades muito mais prementes, nem, inexistindo, se tornariam suspeitos de favorecimento aos que lhes untassem as mõs.

O Desejo Ibérico

Casal Com Cavalos, s/t de William Littlefield

Por uma margem digna da reeleição de um déspota coreano Nuestros Hermanos confessam-se satisfeitos com o sexo que têm, em evidente contraste com os nossos compatriotas, que se gabam de fazer muito e aproveitar pouco. Devo dizer que considero residir a causa profunda na sementeira de comportamentos que a música popular realizou - o estribilho de Marco Paulo mais, eu quero mais e dás tão pouco começa a fazer das suas.
O pior é o diagnóstico que Miguel de Unamuno fez dos dois Povos: escreveu que os Espanhóis eram um Povo de invejosos e nós um de suicidas. A negação do bem-fundado da primeira conclusão aparece como evidente. E a segunda também fica prejudicada, pois a insatisfação, enquanto não leve à desistência, é o melhor antídoto contra a morte auto-infligida.
Mas suspeito de que o Sr. Sócrates ainda vá utilizar as conclusões para dizer que o caluniavam aqueles que evidenciam ter-nos ele f. bem...
Num inesperado acrescento, poderiam alguns tentar explicar a euforia na Vizinha Nação ao generalizar as migalhas que o Governo Autónmo Catalão considera adequadas à saciação da sua juventude. Erro grave! O que se deve tirar daqui é que para os partidos que o integram tudo vale para proclamarem que não fazem parte do todo de Espanha!

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Orgulhosamente Só!

Meio-cheio, ou meio-vazio? Há quem se tente convencer de que um beijo é "só" um beijo...

O Eu Em Pedaços

A Insignificância Congelada de Sibylle RuppertO essencial é sem cessar ameaçado pelo insignificante
René Char

Pede-me a Ana Vidal que deixe acorrentar-me à revelação de meia dúzia de insignificâncias minhas e que cusque as de mais Seis. A bem dizer, como destacar algo sem significado de maior numa pobre vidinha que, toda ela, quadra perfeitamente nessa definição? Mas finjamos que não, que este serzeco tem alguma vida para além da sua falta de sentido interior. Vamos a elas, que agora é que as são:


Detesto ver combinados o azul e o castanho, faço logo juízos definitivos sobre o gosto de pessoa que os junte, mesmo esquecendo que o Criador tem na sua obra muitos troncos de árvore enquadrados pelo Céu.
*
Tenho alguma dificuldade em ver filmes de que haja lido o livro, embora a inversa não proceda. Julgo que é por ter encontrado, muito maioritariamente, desilusões na passagem para a tela e menos no outro sentido. Há excepções, como «Brideshead Revisited».
*
Detesto ervilhas - exceptuando na língua de vaca estufada - ao ponto de as catar do arroz das ditas, afinal uma forma de lhes dar o arroz. Em compensação, adoro favas, o que vários Amigos consideram uma incongruência, não justificando com o burro que sou.
*
Adoro o mar e a contemplação das suas cores, assim como compreendo o prazer de nadar, mas detesto a praia, por causa da malfadada areia, agravada pelos frequentadores e os bronzeadores que fedem. Já me atiram muita para os olhos, escusado me parece dar uma oportunidade para fazê-lo ao Vento a que a Nossa Amiga insiste em abrir a Porta...
Dizem Pessoas Que me querem bem dever eu viver em Nice, onde será tudo calhaus condizentes comigo até à água. Mas nunca lá pus os pés.
*
Detesto Whiskey, mas adoro Baileys, passe a publicidade, talvez por a estima pela Nata, numa mente simplória como esta, descambar em literalidade. Peço sempre sem gelo, o que tem surpreendido muitos assalariados de pubs.
*
Fico sempre mal quando oiço o desejo, cheio de boas intenções, muito na moda e importado dos pivots televisivos Fica(que) Bem! Bole-me com os nervos, que fazer? Nem será pelo Imperativo, que irritava os meus Pais. Psicanalisando-me um pouco, descobri que dava Benfica de pernas para o ar. Ora, mais do que já anda há longos anos... não havia necessidade.

Ufa! Acabou!
Vou fazer a maldade a

Marta

CS

RAA

Lory Boy

Exactor

Euro-Ultramarino

O Que os Outros Têm

Vamos polemicar com o meu Amigo João Távora: Meu Caro João, não concordo minimamente com qualquer publicidade que eleja como referencial, a denegrir ou a superar, o património dos outros. Aceitaria até que o Presidente do Sporting dissesse que achava o seu clube o maior e, por isso, pensava ir-lhe bem o título de primeiro em sócios. Agora, apontar o adversário e os números que atingiu, como meta a superar, fica muito mal, é mostrar que se sente inveja das asas que, por natureza, não se possui. Nos últimos tempos também me irritou uma publicidade do Pingo Doce, contra as promoções, cartões e feiras dos outros, até porque me lembro dos tempos em que a cadeia tentava concorrer nessas iniciativas. Fazer por despromover o que funciona no vizinho faz parte daquele ressentimento que, na Sociedade, leva a querer ter mais do que ele, como no Capitalismo, ou a pretender que ele não tenha mais, como no Comunismo. O Leão merecia melhor.

Subsídios Para o Estudo do Princípio do Beijo

Prelúdio a um Beijo de Roger DellarEntenda-se, "Princípio", aqui, vale como início, não como fundamento, que a minha ligação à Universidade e aos calões dela parou, com alívio de ambos, ao fim dos cinco anos obrigatórios da licenciatura. E o que me proponho transmitir é uma percepção que considero poder estar na base de muitas desinteligências futuras, ofuscada pelas aplicações dos capitais de expectativa do momento, mas deixando o grão de discórdia que, com o azedume futurizável, não se escusará a germinar.
Discorro sobre o beijo amoroso, não já acerca do ósculo amical. Para publicar um inquérito que deu como resultado ser o primeiro toque na boca d´outrem feito mais frequentemente pelo homem no lábio superior da Mulher, quando Esta o sentiria como experiência mais agradável se incidisse sobre o inferior.
Devo acrescentar que a sondagem está aldrabada, nunca discuti o assunto com outro elemento masculino, embora haja interpelado a respeito muitas das Senhoras com Quem me relacionei e não só no sentido que estão a pensar... Por outro lado, só abordo o primeiro contacto, claro que o gesto normalmente migrará para geografias, humidades e profundezas variegadas.
Ora o que Elas me dizem, em quase unanimidade, é que os sujeitos começam pelo de cima e que se sentiram mais...aaaaaa.... levitadas se a opção recaísse sobre o de baixo. Tomemos como boa a informação. A que se deverá esta desconformidade comportamental?
No macho, quase de certeza que estaremos perante uma impulsividade inconsciente que pretenderá honrar, pegando no que está mais à mão, como indício da ânsia que tem da Contraparte. E nas mais das vezes a diferença de alturas estará distribuída de molde a surgir primeiro o que pára mais alto. E no Belo Sexo? Consigo desencantar duas explicações para a diferença manifestada e tantas vezes frustrante:
a) uma vontade de se ver notada por um aspecto que seria menos evidente, sinal do interesse que despertaria no parceiro um exame mais detalhado, numa tendência paralela à que faz gozar a volúpia de um elogio aos sapatos com mais intensidade do que o encómio à blusa.
b) Como muitas vezes ocorrerá ser mais carnudo o lábio preterido, a sensação de desaproveitamento do melhor de si - neste episódio inaugural - pelo beijoqueiro visto como menos competente, assim como que um desperdício do campo que se oferecia a quem tivesse dentes para ele.
Julgo que ninguém substimará a importância das primeiras impressões. Para melhorar a vida da Humanidade, tanto como para destruir certezas falsas, ofereço este pequeno texto anatómico à fúria iconoclasta ou à corroborante adesão dos meus Leitores e, sobretudo, Leitoras.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Ambiguidades do Captar

Embora as minhas preferências absolutas vão para Velázquez, G. Bellini, Mantegna, Turner... se me perguntarem por pintores grandes da França Oitocentista, não posso deixar de pôr à frente um nativo de 25 de Fevereiro, Renoir. Não o louvarei pela mestria técnica, ou sequer pela dissolução das formas na luz, para o que há gente mais preparada. Quero destacar a Atenção, essencial em qualquer artista plástico que não enverede pela pura fantasia, mas em que é difícil de encontrar imortalizador da dos modelos, com felicidade.Uma obra-prima de referência obrigatória, O Camarote, merece toda a fama que tem. Muito do que torna a obra tão conseguida é o contraste entre a figura feminina, que, certa das armas que tem, se oferece placidamente para ser olhada, enquanto o homem, em muito menos destaque, assenta os auxiliares da vista curta a outro ponto, desinteressando-se daquela que tem tão próximo e, presumivelmente, muitos outros olham. Mirará as reacções à sua companhia? Ou procurará uma rival dela, querendo acrescentar conquista ao território incorporado? Para o espectáculo é que não olha de certeza, como o olhar dela também, aliás, parece muito pouco concentrado para fazê-lo.
Menos conhecido, A Primeira Saída é um prodígio pelo que revela de deslumbramento e descoberta de um mundo novo, com um minimalismo de exposição dos traços. Do jogo do título com a absorção sugerida pela suavidade de um perfil escassamente sugerido, com as costas que nos vira a indicarem a fixação em qualquer sensação que lhe sabemos nova. Leveza e aplicação só possíveis no "interesse desinteressado" quando a inexperiência ainda impera.
E por fim, O Baloiço, talvez o menos comentado, que considero absolutamente genial. Na indissociabilidade da Mulher e da Criança, logo infundindo uma percepção de maternidade, o que poderia ser a experimentação da segurança do baloiço para o rebento é desmentido pelo coquetismo do gesto com que compõe o cabelo. A miúda olha, surpreendida pelo roubo do brinquedo, mas com a admiração de quem quer ser como ela. E o triângulo amoroso sugerido pelos dois homens... quem será o legítimo, quem será o intruso? Quer a superstição que esteja encostado ao casamento como à árvore o que tem títulos sociais, enquanto que o rosto rapado e o facto de se dirigir à que desvia pudicamente o olhar sugere o piropo que desencadeia a afectação do pudor. Pode também não ser nada disto, por exemplo um pai que vigie o pretendente à filha, acompanhado pela irmãzita dela, que tenta perceber se gosta do futuro cunhado, aquele senhor que lhe disseram ser muito querido à Mana... mas uma vez mais o que se destaca é o direccionamento para o que prende. No célebre «Peeping Tom» Michael Powell filmou a macabra defesa da tese de que o que mais gera o medo é o medo alheio. Com Renoir podemos concluir que o que mais evidencia a atenção de quem pinta é a dos que retratou com génio.

Contra a Impunidade!

Sei que vou ser acusado de brutalidade e facciosismo, mas pouco importa: acho que Sarkozy fez muito bem em iniciar-se à arte hadockiana contra um manifestante, aqui narrada:
dn.sapo.pt/2008/02/25/internacional/sarkozy_perde_a_calma_e_insulta_agri.html
Toda a gente tem o direito de recusar um aperto de mão, ninguém o tem de dizer ao Outro que o contacto com ele o sujaria. É bom que os insultuosos e cobardes engraçadinhos deste mundo saibam que lhes pode acontecer outro tanto. Os meus heróis, para não acharem que só desculpo políticos de que gosto: John Prescott, governante Trabalhista, que não aprecio; e Rosado Fernandes, a que política (mas não já literariamente) sou indiferente, os quais resolveram "no braço" um ovo atirado e uma ofensa com imunidade parAlamentar ao País.
Mas claro que se insulta a si próprio quem aceita ser responsável político num sistema de mão estendida...

Paridade Que Premeia

Agradecendo ao Carlos Portugal,o meu comentário à cerimónia dos Oscars é um só: se as quotas chegassem aos bonecos dourados a que muito ser salivante tenta lançar a rede, o resultado seria o mesmo - com bonecas douradas vale também Este País Não É Para Velhos.

Paridade Sebástica

Ainda não foi ontem o Domingo em que do nevoeiro nos chegasse a aplicação das quotas à Figura Desejada. Não tenho dúvida da vocação de Tiffany Mulheron para imperar em conjunção com os Lusos, pois só no nosso idioma a proximidade fonética significativa dá pleno alcance ao seu último nome...

Estado Policial

Coisas do século passado! «O Século» de 25 de Fevereiro de 1961 dava esta notícia da plena confiança que as pessoas depositavam nas entidades policiais, a propósito do fumo: o proprietário do café acreditando que a cliente de cigarro na mão seria removida, esta fazendo fé em que a queixa apresentada garantiria a sua dignidade e razão.Compare-se com o estado de coisas socrático-ASAEsco: clientes e proprietários de estabelecimentos unidos, tentando que a nova polícia os não aperceba, com esta metendo o nariz onde não (e por ninguém) é chamada...
Onde mora o Totalitarismo?

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Justiça!

Já uma vez falei da grande injustiça que a memória histórica, ou antes, a falta dela, fez ao enorme Cabo de Guerra e glorioso evadido que em idade avançada morreu na batalha de Pavia que hoje se comemora. A história é conhecida, embora controvertida, pois não se chega a acordo dobre ter sido uma calinada dos soldados ao comporem canção de homenagem ao notável Marechal de la Palisse, ou adulteração de copista das palavras de Francisco I, confundido com o valor de s que o f também tinha, ao tempo.
Fosse como fosse, Rei e peões se irmanavam no reconhecimento que o epigramismo oportunista de La Monnoye fez perder de vista. O que justifica plenamente o desagravo de Dumas Pai, quando, a este respeito, disse que a ingratidão não era um privilégio dos Reis, no caso foi-o da posteridade.


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Traças Com Traça

Já em 1919 a opressão do urbanismo contemporâneo se fazia sentir. Na minha zona foi ao ponto de a Empreza Estoril ter sentido a necessidade de abrir um concurso ente arquitectos nacionais para projectos de Casa Portugueza com que preenchesse o Grande Parque que se planeava, programada e programaticamente mencionando de forma a evitar que n´ele se edifiquem os tais caixotes e gaiolas, que pela linda linha de Cascaes se vêem de Oeiras até àquela vila.
Caso para dizer então, não que o Estoril ainda era o Estoril, antes que tinha passado a sê-lo. Um dos resultados que se evidenciaram foi o da casa que aqui se mostra, mandada construir por Alexandre Nunes de Sequeira, rogando-se aos Leitores que se não mostrem tão tortos como as imagens, e imputem esse desalinhamento à imperícia do digitalizador humano que tento ser.
Acima de tudo: Que sorte o plano não se contar entre os confiados à assinatura José Sócrates!

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O Último Grito

A publicidade tem que se lhe diga, até nas relações com a música. Hoje, avocando sofisticações massificantes, intercala apelos à compra de produtos que é de rigor todos terem, adquiridos em locais de venda indiferenciados, enquanto que na antiga venda ambulante cada transacção punha em confronto Pessoas verdadeiras e a mercadora variava conforme o exemplar. Também a música era, inicialmente, parte integrante do pregão, a forma de anúncio do tempo, que era impagável, porque mais digna.
Aconteceu com esses altissonantes estribilhos algo da decadência da forma que também atingiu a Missa, quando deixou de ser cantada, logo obrigando a revivalismos. Luís Chaves informa-nos que o pregão cantado deu lugar ao gritado, passando a berrado ser. Numa tentativa de não cortar totalmente, alguns ainda entoavam uma ondulação frásica que nem seria carne nem peixe, mas satisfaria qualquer das preferências.
Parece terem sido os ardinas e o cauteleiros os principais artífices da degradação, como as varinas que chegariam a alterar a fonética, de pescada do alto para pescadato, por exemplo...
Sendo que a personalidade indissociável de uma venda que não seja anónima obriga a procurar uma qualquer imitação de arte, com os resultados medíocres que costumam. Donde, alguns vendedores de Sorte Grande enveredaram pelo estilo da quadra popular, onde outrora imperava a melodia...
Mas sobressaía toda uma regularidade que se transformava em muleta ética. Não eram só os habitantes de Koenigsberg que acertavam os relógios pelo passeio de Kant, também muito Lisboeta remediado saía para mais um dia à passagem cronometricamente exacta da Mulher da Fava Rica. Simplesmente, quando um hábito se esvai, deixando de ser factor vital para passar a entretenimento, caímos na sede de pitoresco que marca a decadência nossa e deles, dos protagonistas do Típico.
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O sossego afectuoso e tranquilizante da rotina viria a ver-se substituído pelo inquietante ferrão da saudade, no mesmo intento de preservar a enformação que nos individualiza, contra as normalizações cosmopolitas e metropolitanas. A memória é importante, à falta do genuíno que a encenação não reaviva. Também nesse sentido a frase de Maritain, segundo a qual ser anti-moderno é maneira das melhores de ser ultra-moderno, mantém verdade e actualidade. Breve, em vez de ser apreendida naturalmente, viria toda esta prática a ter de ser ensinada, como no livro de leitura da 3ª Classe de 1942:

Vendedores ambulantes
começam a aparecer.
Vamos lá ver, ó freguesas,
o que trazem para vender.

Oito horas. À nossa porta
passa agora a tia Chica.
Com sua voz compassada,
apregoa: «Fava Rica».

Lá vem também a peixeira
com seu trajo pitoresco,
dizendo: «Oh! viva da costa!»
ou então: «Carapau Fresco».

E agora, de toda a parte
se ouve gente que apregoa,
gritando: «Quem quer´laranja?
Quem compra laranja boa?...»

«Merca o cabaz de morangos...»
«Século. Notícias. Voz...»
«Oh! boa amora da horta!...»
«Quem quer ameijoas p´ra arroz?»

sábado, 23 de fevereiro de 2008

A Cilindrada da Mentira

Para compensar o post anterior, vamos lá falar de cilindros aplicados a faltas de lisura: fiquei de cabeça à banda com as declarações da Dr.ª Ana Gomes. Então a Boa da Senhora garante que o centrão PSD-PS andou a aldrabar o País sobre o turismo gratuito para Guantanamo, diz que o seu partido saltou do suborno e das ameaças para a cilindragem e ainda vem defender que o inquérito à coisa não seja simplesmente policial-judiciário, mas também parlamentar!!! Sabe-se o que esses apuramentos dão normalmente, veja-se as décadas de Camarate. Como pode aquela cabecinha pensar que uma comissão, decerto dominada pelos dois grandes emblemas facciosos coligados, viesse a fazer luz sobre o que lhes não convém? E que os capatazes do Sr. Sócrates se abstivessem de aplicar o rolo compressor que terão empregado na sua deputada, sabendo-se que a Verdade não é militante rosa?

Código da Estrada

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Quando chove, a deficiente construção da rua que me surge em frente da porta cria gigantescas poças e o inerente risco de, em combinação com um carro passante, contemplar com uma banhoca involuntária o peão que ocupe o passeio.
Pensando os buracos de uma perspectiva não-egoísta, ponho-me a admitir que o sonho das autoridades demissionistas a quem incumbe o dever de reparar as vias possa ser esta publicidade, que sugere caber o ónus de uma viagem estável UNICamente ao discernimento aquisitivo dos particulares...

A Herança E O Homem

Em tempo de Aznavour, longe do ridículo equilíbrio das incriminações de opimiões, quero honrar a Afirmação que não esquece as suas raízes, às quais me irmano por os agredidos fazerem parte da Verdade do Cristianismo.

Em Redor de Um Grande Drama

Meg Ryan, imortal, na esplanada de When Harry Met Sally

É uma verdade incontornável do nosso tempo: a vitória do Ginásio sobre o Teatro. Sem que algo acrescente, de imediato, ao bem-estar, esta descoberta científica que o «Público» noticia vem reduzir o valor da arte de representação, colocando a tónica em imperativos de musculações! Para mim é mais uma tentativa de menorizar a destreza masculina, mas posso estar enganado...

Peito ou Perna?

Não, não tenciono servir-Vos frango. Quero apenas, contra a Era do Silicone que dá como inevitáveis prescrições gelatinosas implicando cortes, propor o tratamento conservador que evite que Vos passem a perna: para Gente que considere o esforço, a disciplina do exercício continuado; para os entusiastas dos resultados rápidos, as pílulas que têm o condão de desmentir Kipling - Ocidente e Oriente podem bem encontrar-se, nem que seja num ideal peitudo!