sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Apagar os Indícios

Claro que caminhamos para a idade, Truística T. Mas não é tão grave que obrigue a ingerir produtos duvidosos, já dissecados pela Júlia. Se está tão preocupada com a marcha inexorável do tempo, basta disfarçar os traços denunciantes, com este produto à altura do Seu Brilhantismo.
O segredo está em AGITÁ-LA...

Máquina do Tempo Escalabitana

Quartéis mistos favorecem necessariamente o fogo natural das orientações maioritárias.
Em
Santarém os envolvidos neste passatempo podem defender-se com o argumento de que, estendendo-se neste ano a época de incêndios para além da calendarização prevista, havia que buscar a contrapartida dos bons velhos tempos...

O Cosmos Pessoano

de Stuart?
30 de Novembro é também a data da morte de Fernando Pessoa. Passo os olhos por uma carta, então inédita, publicada pela «Colóquio Letras» Nº 45 de Setembro de 1978, em que oferece a Unamuno o primeiro número da «Orpheu». Depois de uma provocatoriamente altiva, quase publicitária, assunção da sintonia com as vanguardas literárias europeias, sem que se perdesse o cunho original, arroga-se de cosmopolitismo:
Baseados n´isto e como seja nosso intuito estender quanto possivel a nossa influencia, e conseguir, atravez da nossa corrente - a mais cosmopolita de quantas teem surgido em Portugal - uma approximação de espiritos, tão pouco tentada ainda, com a Hespanha, pediamos a V. Ex.ª nos desse a sua opinião sobre a nossa revista e a literatura que contém - opinião essa que, se pudesse ser dada atravez da imprensa, como julgamos que a nossa iniciativa merece, duplamente nos seria grata. Nada nos é tão sympáthico como a agitação de idéas e é porisso que sobremaneira agradeceríamos que tornasse pública a sua opinião - seja ella qual fôr - sobre nós.
O carácter penoso de todo o pedido daquele que começa a um estabelecido, em três tonalidades desgostantes: o fale-se bem ou mal de mim, mas fale-se, a promoção da irreverência do movimento a factor de qualidade e, acima de tudo, a auto-proclamação do cosmopolitismo. Este pode, desde que não esmague os laços de originalidade, ser factor de engrandecimento espiritual e criativo, ampliando as referências. Mas só se reconhecido e creditado por outrem. Na boca própria soa sempre a provinciano antigo contando na terra as "maravilhas" que viu na cidade grande. Pessoa era muito maior do que se pintava ao Consagradíssimo Escritor Espanhol. Mas este é um mal impossível de evitar, quando se juntam dois voluntarismos: o da juventude e de empreendimento colectivo.

A Persistência do Dia

Iluminura de FouquetDia de Santo André. O facto que ainda hoje mais celebrado é na memória das gentes, o da cruz do Seu martírio, em X, bem poderia contribuir para uma popularidade maior, na época em que esse sinal é impingido como realização das esperanças, seja em votos, testes, inquéritos ou totolotos. É evidente, aliás, que muito do prestígio que ainda resta ao sufrágio advém da renovada confiança que as cruzinhas da Santa Casa povoam nas nossas mentes receptivas. Isto apesar de na sabedoria enraizada se dar conta da inquietação associada à diminuta durabilidade da luz: Pelo Santo André todo o dia noite é.
Pena que se haja perdido o rasto ao Apóstolo. Na fabulosa oferta pictórica da Grande Espanha estalou uma polémica sobre o bem fundado das representações do Mártir, a de Zurbaran, em sereníssima Leitura, contraposta à de Ribera, com a sombria agonia da crucifixão.
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX Esmiuçadamente apreciado o episódio sagrado, ambas, porém, encontrariam o seu fundamento, pois O Primeiro Chamado teria tido durante o suplício um período de permanência em vida longo, durante o qual, pregado, pregou à multidão, sem esmorecer.
O que faz com que a ligeireza bloguística que gostaria de pensar como agilidade me leve a lamentar que não haja sido tão resistente um dos belos arcos que Lisboa tinha, o de Santo André, precisamente, atestado de que o Exemplo do Patrono da Escócia e da Ucrânia não entrou nas cabeças nem nos corações dos responsáveis da Cidade...

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Bravo Como a Festa

Em vez de me chamar velhadas ou insinuar que só por passes de ilusionismo e coelhos retirados de cartolas poderei ter alegrias desportivas, a menina T bem podia ter-se lembrado de algo bom, para falar como a patroa do Ambrósio, acompanhado por vestes e rostos menos sorumbáticos. Além de que a fonética do nome lembra o adorável verbo vencer e o do outro sócio é mnemónica de natividades ancestrais...

As Artes da Fuga

Não será prosápia pensar que está o Planeta com precisão de que o réprobo enverede por este rumo profissional, no momento em que o Dr. Costa, desejoso de que a proposta legislação de maiorias autárquicas tivesse efeitos retroacticvos, não tem pejo em fugir do poleiro de edil que lhe ameaça dar mais descrédito do que o montante de crédito que diz o Município necessitar. Na altura em que o PSD alfacinha foge às responsabilidades de fornecer uma alternativa financiadora para justificar o voto contrário que tem pleno direito de formular. No dia em que se sabe de noutro concelho do País ter o erário público financiado a fuga à Justiça da Presidente. E no instante em que, fugindo à pena capital, dois violadores e assassinos de uma criança demonstram que no Sudão a diferença de gravidade do seu acto para a escolha do nome de um brinquedo é de somente sessenta chicotadas. Os Italianos é que sabem e dão à fuga a designação de caça.

Retrato Actualizado

Como e leio o mesmo, mas perdi 4,50 Kg. O mundo ainda será capaz de me consumir tanto?

E a Culpada Foi a Cobra

Adão e Eva segundo CranachNum intervalo das suas mediocridades imortais teve Vítor Hugo ensejo para uma frase de Génio: A Mulher detesta a cobra por ciúme profissional. É verdade, mas há que precisar. Decerto que a hostilidade à sinuosa e ora rastejante recordação do Paraíso perdido é comum no Sexo dito Fraco, ao ponto de usar o nome do bicho para estigmatizar outras congéneres, detestadas. Claro que sob a forma de sapatos, cintos ou carteira o caso se apresenta diferente e a vulnerabilidade ao apelo ressurge. É esta a relação da Mulher com a montra, salvo as de Amesterdão, que enforma a diferença principal face ao homem: precisa de ceder a algo que a seduza, de modo a usar a sua integralidade assim acrescida para influenciar notoriamente a respectiva companhia masculina. O contrário da mente do macho, que procura envergonhadamente encobrir o que, vindo Dela, perturbando-o, o atraiu irresistivelmente, bem como prescindir de A modificar, coisa que dá origem à interpretação errada de desinteresse e é motivo de muita ruptura.
Isto são traços que nenhuma mudança de estrutura social poderá apagar.


Contos de Fadas

Querida Amiga, não me dê enciclopédias desactualizadas sobre Desportto. Depois da noite de ontem, concordo que me devo virar para o Passado do meu Benfica, porque o Presente, apesar da qualidade agradável do jogo jogado, só traz resultados tristes. Presenteie-me, portanto, com este livrinho que hoje se lança, as historias encantatórias de um tempo que passou.


E, como José António Camacho declarou que se a Champions começasse agora, seríamos apurados, sugiro que leve a generosidade ao ponto de oferecer-lhe o clássico dos Salada de Frutas «Se Cá Nevasse...»...



Fazia-se cá Ski

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

O Dono da Voz

Gato e Gramofone de Colin Ruffell
Devo dizer que, achando-o engraçado, nunca dei muito crédito ao logotipo da EMI, na medida em que o lema His Master´s Voice me parecia de ínfima probabilidade, dada a raridade de caninos seres com a fala dos donos transposta para disco. E não consta que os canídeos sejam melómanos por aí além.
Outro caso com os gatos, os quais, segundo o Professor da Universidade de Viena Hermann Bubna Littitz, especialista em Etologia, gostam de facto de Música e tiram dela um efeito relaxante, diminuidor dos instintos agressivos. Mas só num certo ritmo, que foi aquele em que neste registo dirigiu, respondendo pelo aumento de bem-estar que lhes causará. Ora, se os meus Leitores estavam indecisos sobre a prenda de Natal a dar às mascotes bigodudas, aqui têm ideia. E, se sentirem impulsos belicosos, comprem o CD para Si e procurem aumentar a receptividade, na mira de não ficar atrás dos Felinos...

Jogo de Cintura

Quer uma moda nova reduzir uso de jóias nas Senhoras e incrementá-lo nos homens, com brinquinhos espalhados pelo corpo todo. Talvez seja essa a onda cavalgada pelo fabricante que entendeu haver mercado para um cinto de castidade masculino,quando ainda permanece na memória a onda de protestos que l´Affaire Petit levantou, na segunda metade do Século XX, só porque um ourives francês do correspondente apelido decidiu melhorar o casamento com o testemunho de amor consubstanciado na oferta duma jóia à sua Mulher: uma peça equivalente, adequada ao Belo Sexo, em ouro! Está tudo de pernas para o ar!

Dilucidação da Ambiguidade

A Eleição no Condado de George Caleb BinghamOs mesmos que recitam as loas ao Representativismo vêm agora reconhecer que ele não serve, por tornar dificilmente governáveis as câmaras, propondo assim que uma pequena vantagem se transforme numa maioria à pressão. A melhor mentira é a que inclui uns grãos de verdade, sabe-se. Claro que eleições a que concorram partidos são um entrave a governações capazes. Mas em que é que o plano autárquico, onde mais facilmente são estabelecidos acordos e, apesar de tudo, os interesses concretos dos munícipes têm maior presença, por não ser tão voraz a abstractização normativa, é diferente do Nacional? Em vez de tratamentos conservadores exigia-se era a abolição dos partidos. Seja como for, o reconhecimento da necessidade desta engenharia eleitoral vem demonstrar que Representação, em Politologia, não deve ser entendida no sentido da observância do mandato, mas no teatral.

Bandeirada

Lendo acerca da eclosão da transportabilidade alternativa de muitos pontos do Enorme Brasil, que o Capitão-Mor noticia, dei em reflectir sobre o avanço em sede de qualidade de vida de que a América do Sul e o imenso Continente Asiático desfrutam, face a nós, europeus. Seja pelo barulho dos mototaxis, seja pelo ofegar na tracção dos rickshaws, está eliminada a pavorosa conversa de taxista!

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Em Bom Português...

...trocar o Primeiro-Ministro Britânico por Mugabe não obrigará a mudar o nome da reunião UE/África de Lisboa de Cimeira para baixeira?

Os Cabos das Tormentas

Qual quê! Ávila é terra de Santidade, não de cabos. E nunca esperei que a viciação citadina da Menina T A levasse a esquecer Quintas. Menos ainda que traísse um ex-libris da terra em que nasceu. Como está provado que é da corda, tenho de antecipadamente esclarecer que não falta um "de" entre "Condutores" e "Eléctricos"...

Vida de Gato

A Apoteose da Câmara das Maravilhas de Kircher no Museu do Colégio dos Jesuítas de RomaNo dia desse estranhíssimo e obcecado erudito que foi Athanasius Kircher, gostaria de mencioná-lo brevemente como exemplo de quanto a abstractização, a demanda do conhecimento sem inserção na esfera sentimental e o espírito de ajuntador podem tornar monstruoso um homem cultivado. O mal deste Reverendo Padre foi ter esquecido o Amor da Mensagem inscrita no nome da Companhia e a recomendabilidade do esforço de agradar essenciais à convivência sã com o Próximo. Aqueles que o dão como émulo de Leonardo caem precisamente no mesmo erro, ao prescindirem de um requisito que lhe faltava, o da criatividade expressa na realização plástica que cativa. Prisioneiro originário do estudo das Matemáticas, delas deu o salto para a dissecação linguística e a análise musical, duas aplicações práticas delas, com a esterilidade de quem abdica do aspecto encantatório de ambas. Dois outros refúgios que procurou transmitem a mesma nota de desumanização: o esoterismo das correspondências herméticas dos obeliscos e a acumulação no extraordinário Museu que fundou. A ambas faltava o objectivo de serviço afectivo. A invenção da Lanterna Mágica, ancestral invocada do Cinema, facto pelo qual é mais conhecido, enferma da mesma pecha - a da duplicação da imagem do que é Único, desprovida da Arte que lhe desse alma.
Estava desbravado o terreno para a escorregadela maligna. Não se coibiu de arquitectar, para distracção dum ocioso, este pianogato, feito à base de agulhas que picavam as caudas dos pobres inocentes, quando se premiam as teclas respectivas. Parece que houve quem apreciasse os miados aflitos e doridos dos bichos...
Para que se veja bem como a obsessão pela compilação de saber pode piorar um homem, afastando-o, irremediavelmente, da Sabedoria.

Vida de Cão

Nos «Prós e Contras» de ontem, em que os sindicalistas estavam na berra, um ex-governante socialista, Vítor Ramalho deu como uma "expressão popular" e desaconselhável quanto mais conheço o Homem, mais gosto do meu cão.Popular? talvez, na medida em que muita gente que da Filosofia só tem uma palidíssima ideia, à imagem nublada da de Klimt, acima, a papagueia, normalmente como mera desilusão da Espécie, sem querer por tanto reconhecer méritos especiais aos caninos amigos. São muitas vezes pessoas dos mesmíssimos meios que usam a palavra cão para diminuir a dignidade do outro, ou troçar da fidelidade dele a alguém que não o próprio maledicente.
Curioso é que nessas mentes mais afastadas do filosofar costumo ver a frase atribuída a Schopenhauer, que não a disse. Com efeito, insistem em concorrer no que refere à autoria dela Pascal e Madame de Stäel, devendo preverir-se Blaise a Germaine, por mais antigo. Mas o Grande Pessimista de Frankfurt disse coisa muito mais radical. Censurando Espinosa por uma muito caracteristicamente semita depreciação da dignidade do mundo animado extra-humano, deixou claro que quem nunca teve um cão não sabe o que é amar ou ser amado. É evidente que a escrita pode ser interpretada de forma a corrigir o homem que a fez e o quasi-panteísmo espinosiano também poderá fornecer combustível ao amor às manifestações Divinas em todas as Suas Criaturas...
No que contendem a actividade especulativa e as práticas vulgares é na maior aptidão para amar, mesmo de canídeos se tratando. Podem os sábios argumentar, com razão, que pensar com afecto uma condição animal é meio caminho para a universalidade do Amor no mais Cristão dos espíritos. Mas poder-se-á, nos menos dotados para essas subtilezas, encontrar exemplos de ligação profunda ao seu amigo fiel, e a intuição, tantas vezes tacitamente reiterada na vida social dos Humanos, de que amar necessita de um ser concreto em que se aplique, de uma individualudade que, diluída em categoria, enfraqueceria a exactidão e intensidade do conceito. São os mesmos que poderiam censurar ao Autor de «O Mundo Como Vontade e Representação» ter denominado o seu poodle a partir de Atma, palavra hindu para "Alma". Ao que contraporiam as claques dos filósofos que Atman, o nome do bicho evocava chefe bárbaro de outrora, indicando a vontade de amar os menos apetecíveis.
São Francisco resolveu o problema, mas, para isso, abdicou da posse. E o Mundo não vai estando para tão grandes Santos.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Com Unhas e Dentes

Deixe-Se disso, Querida Amiga, nunca conseguirá ter as unhas como a Recordista do Mundo, porque, de cada vez que olhar esta imagem, vai aplicar-se em roê-las...

As Faces do Urso

Que o antigo defesa do Sporting Rui Jorge não tenha percebido o motivo de, certa vez, haver sido expulso, queixando-se de apenas ter chamado urso ao fiscal de linha, nada tem de comparável com a Professora Britânica presa no Sudão por permitir que miúdos de 7 anos tivessem nomeado um ursinho de brinquedo com a graça do Profeta, Maomé. O pobre e peludo animal, como coisa em si, não é chamado ao caso: interessa é notar que o atleta leonino não estava a exprimir concordância, bem pelo contário. O que tornava inadmissível a classificação. Enquanto que os miúdos, presumivelmente, gostavam do peluche, era uma forma de o procurarem distinguir. É o mal dos fundamentalismos, reduzir tudo o que toca a religião a um catálogo de proibições. Também tivemos um cheirinho disto no Vitorianismo, que, contudo, se humanizava com essa maravilha de invenção que é a hipocrisia social. E no Puritanismo protestante, a quem tal atenuante não valia.
Mais, não percebo como pode alguém, perante esta imagem, achar que todos os ursos artificiais são ofensivos...

A Desmontagem da Patranha

Querem os mitómanos abrilistas fazer a nossa cabeça e nela meter a ideia de que os Portugueses Africanos eram menos considerados no Estado Novo.
Ó prá desconsideração deste capismo de época...
Posted by Picasa

A Perda do Equilíbrio

Festa com vinho, numa cratera de CorintoComo devoto de muito do que a Grécia Clássica nos deixou e julgando-me apreciador de vinho tinto, é natural que rejubilasse com a importância que na dieta Helénica o precioso líquido assumia. O pequeno almoço típico, por Safo descrito, um pedaço de pão vinicamente embebido dava-me, outrossim, a alegria de remeter para a materialidade em que assenta a Eucaristia, na minha Religião. Nem a variante da refeição matinal pintada por Aristófanes, com tempero pouco atraente de alho e vinagre, me afastava desta admiração. Assim como, repugnando-me os que não sabem beber, via com bons olhos a troça que na Hélade se fazia dos Beócios, tidos, a um tempo, como pacóvios, bêbados e glutões, os exemplos acabados das insuficiências espirituais e do excesso alimentar.
Assim sendo, o ideal das duas taças, a da Saúde, porque necessária ao organismo e a do Prazer, pela delícia da experimentação do sabor, tinha a perversão na interdita terceira, a da embriaguez, o que me parece não pequena condensação do espírito de equilíbrio dessa Antiguidade.
Mas eis que tudo vai... por água abaixo. Leio que a ingestão da maravilha dionisíaca se fazia não em estado puro (vinos), mas com H2O adicionado. Era a mistura, que dava pelo nome de Krassi. E, com efeito, viria a calhar a descoberta etimológica que lhe fizesse remontar a expressão "erro crasso", em fez de culpar patrícios romanos, ou outras possibilidades!

Tanks? No Thanks!

Dona T, como pensou conseguir recrutar-me através de um mecanismo que deixa tão eriçado o pelo de qualquer felino?

domingo, 25 de novembro de 2007

& Companhia Ld.ª

Não se pode tolerar que nos queiram enviar para os trópicos através de um meio menos apto para o efeito: nunca direi mal do que é Nacional. Mas aplicado ao Ultramar Luso parece que ignorar a Companhia Colonial de Navegação é um episódio suplementar da mais do que famigerada Descolonização Exemplar. Reveja a dádiva, T, ou não se verá livre de mim.

Eça (a) Descoberto

Leitura de um simpático livrinho da BN sobre o sempre acrescentado conhecimento que escritos ecianos proporcionam. São aqui noticiados, descritos e biografados manuscritos de vária ordem, entrados na posse de quem deve, a mais oficial das Bibliotecas. Há de tudo, desde artigo de imprensa, cartas consulares inéditas, um peça de fundo em tempos atribuída a Oliveira Martins, versões parcelares da «Ilustre Casa...», «A Cidade e as Serras» e de «O Primo João de Brito», esboço do Basílio célebre, todas elas tesouros para as edições críticas. Enriquecem um texto de Isabel Pires de Lima, comprovativo de que se suspendeu uma boa investigadora para ficar com uma má Ministra, no próprio dia em que a recepção pela Confraria Queirosiana e a demissão do dever de aquisição de arte importante o reiteram. Também um interessante paralelo entre a ficcionada guarda dos escritos de Fradique Mendes e a conservação e chegada à luz do dia, para publicação, dos de Eça, devida a Carlos Reis. E um relato, pelo Meu Amigo Manuel Vieira da Cruz, da aventura da abertura do cofre onde outros se encontravam, justificando um Banco pelo mecenato que outrora cabia aos Príncipes, concretizado na doação subsequente.
Do Autor de «Os Maias» em 25 de Novembro chegado a este Mundo, de que conservou um momento passado através de estilo e equacionações anda hoje frescos, o que é particularmente difícil num ironista, não resisto a transcrever trechos de uma das cartas, aquela em que exprime desagrado por Newcastle:
Com efeito, meu caro Amigo, nunca invejei tanto o poder de Nero - que - quando embirrava com uma cidade lhe mandava tranquilamente deitar fogo. (...)nunca pensei que o coração humano - que não tem mais de quatro polegadas quadradas - poderia conter tantas toneladas de rancor. (...) Aqui tudo é mau - o clima, a sociedade, os costumes, os passeios, os conhecimentos, a moral, os jornais, as mulheres, os criados - etc. - tudo é mau a única coisa boa que há - são os trens de caminho de ferro - ... quando partem daqui. Quando chegam, são odiosos. Quase soa a variação sobre o dito do Dr. Johnson acerca da Escócia, de que a melhor coisa que lá havia eram as estradas para Inglaterra...
Como parece uma versão diversa da conhecida carta a Ramalho, a aplacar a susceptibilidade dele, a tríplice escolha que na mesma missiva dá entre besta, burro e alimária para qualificar o empregado da chancelaria, quando, no ponto epistolográfico mais conhecido, punha em tom de brincadeira à vontade do freguês burro ou camelo.
Enfim, exercícios de erudição que são verdadeiras ofertas cultuais a um Autor de Culto que não é monopólio de um grupo restrito.

Tocar A Rebate

Emma Griffiths é que veio acrobaticamente em meu auxílio para que não fique pendurado quanto a exemplificações do calçado que qualquer Mocinha Prendada deve tazer no enxoval. Percebido, Miss T?

O Aço Também Se Forja

25 de Novembro, o de 1970, foi também o dia em que apareceu pela última vez Yukio Mishima. Se a desolação de ver desdenhados os valores de Honra, Seviço e Sacrifício são estimáveis, lamento o caminho que encontrou para lhes fugir. Ao predomónio dos partidos e das empresas não há que opor o de seitas, milícias, ou sexualidades menos ortodoxas, mas o do estudo e da frequentação dos espíritos admiráveis, um e outra capazes de propiciar crescimento. Como também o aperfeiçoamento do corpo não deve ultrapassar o domínio da progressão desportiva, para cair na estética reduzida à auto-contemplação, seja pessoal, seja de género. O culto da beleza só dignifica quando incidindo sobre a alheia.
Um sacrifício pelo desvirtuamento de uma Tradição pode encontrar dignidade na Morte, mas apenas conseguirá ser profícuo na vida. E não é um testamento que torna um legado mais admirável, é a transmissão familiar e consagrada dele.
Só assim ganharia sentido universalmente acessível o que escreveu:
Combinar acção e arte é combinar a flor que fenece e a flor que dura para sempre

Uma Santa Que Era Génio

O Martírio de Santa Catarina por Masolino Da PanicaleA Patrona dos Filósofos e Pregadores tinha de ser Alguém a Quem nada faltasse, desde linhagem a bens, de conhecimentos a capacidade argumentativa e que desdenhasse todos esses pedaços apetecidos pelo vulgo para ser digna da Mensagem de Fé que Se prometera espalhar, depois da Aliança visionariamente recebida, após outra percepção mística, a de a imensa beleza e coadjuvantes perfeições que possuía não chegarem, no conceito do Menino. Ameaçada por Maximino, mau imperador - antes de ser honrada por outro, Justino, que o nome merecia -, pelo saber e firmeza oratória lhe converteu os cinquenta sábios a seu soldo, a Imperatriz e outros membros da sua casa; aliciada com a oferta de casamento Real, não se deixou afastar por isso da Verdade, sendo o alimento que a pomba lhe trouxe quando condenada a morrer pela fome e o leite derramado, em vez do sangue expectável, da decapitação final a nutrição simbólica dos que procuram pôr o conhecimento ao serviço do Supremo Bem. É, caso curioso, numa Doutrina que sempre vem valorizando a Fé não-necessitada de milagres como provas, um dos raros Exemplos de Intervenção Sobrenatural a auxiliar a difusão Evangélica, expressa na chegada do Anjo que despedaçou a roda inicialmente pensada para o Seu Martírio. Santa Catarina de Alexandria tem a celebração a 25 de Novembro.

sábado, 24 de novembro de 2007

Que Ferro!

Sabotadora T, não tem vergonha de tentar acabar com uma indústria tão necessária, passível até de se converter em objecto decorativo, nos dias de hoje? Contra as rugas não há melhor, mas escusa de passar-me a ferro por causa desta discordância...

Desvanecimentos


No dia de Toulouse-Lautrec lembro-o com evocação do seu grafismo publicitário, por da pintura já haver falado noutro local. Ficaram célebres os cartazes, pelo que o que quereria apontar nestes dois é a evaporação dos aspectos cruciais que se pretendia anunciar. Prescindindo das linhas na roupa de baixo das dançarinas de can-can, ou, quase, dos patins do gelo, quer este, quer os revestimentos das femininas pernas, acabam por resultar numa indistinta mancha branca. Uma suspeita me assalta, a de que terá sido viciação no afinco em disfarçar o que normalmente mais sobressairia, a deformidade física, que, nos seus suspeitados ou assumidos auto-retratos pictóricos, empreendeu.

Grades Para Quem?

A subindústria cinematográfica americana popularizou um género alimentador de inclinações algo peculiares, traduzido nas vicissitudes das mulheres encerradas em prisões, sujeitas a abusos sexuais de outras presas e de guardas, por já não serem concebíveis prisões mistas. Sabe-se o que dariam na vida real como regra, precisamente o que, como tortura paraprocessual, terá sido, excepcionalmente, querido neste caso. Ora o Brasil, apesar das conhecidas bolsas de pobreza, não está entre os países desmunidos que não possam construir estabelecimentos prisionais separados para cada género. Se alguns governos estaduais não têm meios para tanto, o federal deve chamar a si a responsabilidade. O evento, chocante, será pouco comum, pelo que me angustiou muito mais um pormenor não-sublinhado dele, o de a menor encarcerada junto dos homens ter sido forçada ao sexo para obter comida. Quer dizer que o poder público manda tão pouco nestes locais de punição que nem consegue garantir que todos os reclusos tenham uma refeição ordenada por vontades que não sejam as de alguns deles. Quando assim é as barras de ferro servem mais para vedar a submissão à Sociedade do que para esta vergar os recalcitrantes. A realidade supera a ficção. Mas no sentido descendente.

Comer Queijo Faz Lembrar

Busca de Queijo de James SeborConhece Quem me segue, desde outras moradas blogosféricas, a minha paixão pelo queijo. Mal sabendo andar já tinha o lamentável costume de rapinar o que serviam à mesa paterna, para o ir roer para um canto. Mas é alimento que poderia simbolizar a própria universalidade humana, não só por ser feito à imagem da Lua que nos banha a Todos, como por ter desempenhado papel importante em civilizações hoje inimigas. Os Árabes davam-no como descoberto por Kanina, um mercador que levara para viagem longa leite de cabra num odre de bucho de carneiro, o qual, por insuficientemente seco, misturara ao líquido a coagulante quimosina, dando uma pasta que, provada, se verificou ser manjar de Deuses. Duas culturas tão insistentemente opostas poderiam alicerçar as bases do entendimento na comum predilecção histórica por tal maravilha, já que David levou como provisões, na jornada terminal de Golias, doze queijos, os quais, como rememoração do desenlace feliz do episodio, passaram, em número de dez, a ser oferecidos ao comandante de cada exército hebraico em campanha. E Jerusalém provou a sua aptidão para cidade Triplamente Santa pela proximidade de um Vale dos Queijeiros hoje desaparecido da toponímia.
Mas os Egípcios mais antigos de que há notícia dominavam já aquele que era fabricado com leite de ovelha, assim como os Gregos consumiam o do dos caprinos, o do de burra e o do de égua. Nunca provei estes últimos, mas gostei da experiência da minha estadia alentejana, com um outro, tirado do leite de porca. A epopeia ficou consagrada com referências na Ilíada e na Odisseia. E no período Medieval era uma das preferências nutricionistas dos guerreiros Cristãos e dos bens mais apetecidos nos saques empreendidos pelos Muçulmanos.
Vem tudo isto a propósito da minha segunda grande alegria de ontem, uma corbeille com uma variada panóplia de exemplares deste género, que me ofereceram. Sabendo-se como a conjugação do Inglês e da fotografia levaram a consagrar o Say Cheese como uma tentativa de perpetuar a alegria, faço votos para que a reunião de realizações deste âmbito, das mais díspares proveniências, possa pacificar o Mundo de forma muito mais eficaz e menos cínica do que a ONU.
Queijos de Todas as Nações de John Bowman


*
Não vou sem mencionar a corporização da poesia expressa na alimentação da isolada Semiramis, alimentada a pedaços de queijo pelos pássaros, que os roubavam para lhe garantir a sobrevivência, exemplar mito propulsionador do amor puro desejável entre a Espécie Humana e as restantes.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Confortos...

A douta opção registada onde a tradicional imaginação da T predomina dá-nos uma alternativa de mobiliário para um escritório com gatos. Não pense nisso, Querida Amiga, é muito fria hipótese, não condiz comigo. E os bichanos precisam de ver móveis de aspecto estimável, para as turrinhas...
Prefiro algo à imagem desta Mobília Humana, de Allen Jones.

E com este anúncio complementar da foto dedicada ao Bic Laranja se faz a hermenêutica do que a Mesma Bloguista Lhe quis significar. que nos dá um banho de saber, pelo que todos queremos que mantenha a chama sempre viva. Há que ler as letras miudinhas!

A Recompensa

Um dia que correu mais do que bem, com duas alegriazinhas de tomo: a primeira foi encontrar um livro que buscava há 25 anos, «Hitler e Eu» de Otto Strasser, em versão francesa, procuradíssima nos dois Países. Irmão de Gregor, rival do que veio a tornar-se o Führer, depois da morte do mano na Noite das Facas Longas, assumiria a liderança da facção dissidente do NSDAP, partindo para vários exílios, com passagem por Portugal, onde Schellenberg lhe deu caça, infrutiteramente.
Assalta-me desde logo a memória do relato de Jacques Bergier, o qual, prisioneiro num campo, perguntou a um colega de cativeiro a razão das suas férias forçadas na mesma estância, obtendo, para total espanto, a resposta de que tal se devia a ser um verdadeiro SS, sendo os guardas que os vigiavam impostores. Era um militante da Frente Negra, dos Strasser.
Depois da compra fiquei a cismar sobre se o Mundo teria sido poupado a tanto desastre, caso a luta interna no Nacional-Socialismo tivesse pendido para o outro lado. Isto apesar de a tendência strasseriana ser, prospectivamente, "mais totalitária" do que a vencedora. Mas menos expansionista. Talvez... nunca o saberemos.
Como me pus a reflectir em mais um caso de traição, a de Goebbels, um protegido deles que se passou com armas e bagagens para o estatuto de fiel dos fiéis entre os dirigentes do III Reich. Caso tivesse ficado entre a minoria alfim expulsa, Hitler teria conseguido ganhar, nacionalmente?
E espreitando algumas páginas do volume, não deixei de sorrir ao ver um responsável pela alegada ala esquerda do partido recordar que emendara o emergente Adolfo, o qual achava serem os Três Impérios o de Bismarck, o do Tratado de Versalhes e o próprio, lembrando-lhe que Möller van den Bruck criara a expressão para designar o Sacro-Império Romano-Germânico, o bismarckiano e o que lhes retomasse os valores, ainda a fundar. Ou seja, um esquerdista a remeter para um dos pólos de contacto da Intelectualidade Germânica com a Tradição.
O volumezinho que adquiri vem em encadernação engraçada, com as capas de brochura preservadas. Na lombada as iniciais C. M.. Inquirido o Livreiro, não me soube responder, por, aparentemente, não corresponderem à identidade que vendera a biblioteca. Fiquei-me interrogando sobre o trajecto da compra, antes de à minha mão chegar.
A outra alegria? fica para amanhã, quero variar no próximo postal.

Filantropia e Vampirismo

Quem leia a necrologia em que se insere a morte do Drácula a que tínhamos direito ficará ciente da diferença entre um rebento da autêntica linhagem e um adoptado: este recolhia sangue alheio para dar vida a outros, os verdadeiros para satisfazerem necessidades próprias. Assim como uma Vamp que se dedicasse a sugar as forças vitais de um homem para distribuir o dinheiro que dele recebesse pelos pobres e para lhe esgotar as energias doutra forma aplicadas em acções criminosas.
Valha a verdade que a descendência legítima de Vlad podia orgulhar-se do carácter sanguinário do seu avoengo, mas não propriamente da ingestão da seiva alheia. O ofício dele era empalar, como fez aleatoriamente a um décimo do seu exército para demonstrar aos restantes o que lhes sucederia se não lutassem bem. Um doping imagético, portanto, ou a invenção do retrovisor, num sentido diverso do que ficou. A sua lenda cruzou-se com a da Condessa Bathory, a qual, ao castigar uma criada de forma mais cruel do que o benévolo João Villalobos costuma, viu umas gotas do sangue dela espirrarem para o pulso que apresentava um ar mais jovem do que o resto, no dia imediato. A partir daí multiplicaram-se as virgens sangradas até à morte, para obter um cosmético que não lembraria à Júlia ML. Castigada foi com o emparedamento em vida.
Voltando ao falecido, já nem os vampiros são como antigamente: enquanto os de antanho aplicavam as dentuças em pescoços apetitosos, este ofereceu o seu aos insaciáveis credores que o deixaram na miséria. E o facto de ter sido candidato pelo Partido Liberal alemão é muito elucidativo das causas do declínio eleitoral deste. O exemplo colorido dos Radicais italianos não colhe em terras mais sisudas.

Books & Boots

Por que misterioso motivo, no duelo entre as fabulosas Adriana Lima e Ana Beatriz Barros a segunda tomou uma certa vantagem?
Por ter dado corpo à Bibliotecária Ideal, eis a meta volante que confere bonificações...

Os Malefícios dos Intelectuais

Tanta vez a ânsia de acrescentar resulta desastrosa para o que custou antes a fazer, sob o olhar hostil dos fiéis a outros escritos e a sonolenta indiferença de parte do público potencial...
Às Bibliófilas Que me leiam, começando pelas Participantes neste debate.