segunda-feira, 30 de abril de 2007

A Minha Posição

Museu de Peter Heideck


Retirando ensinamentos do que se vem verificando nos últimos meses, tenho de me pronunciar aqui contra a criação do museu dedicado a Salazar. Então a função deles não é a de depósitos de realidades desprovidas de vida?

Espreitadelas


O inefável Khadaffi, que só o circunstancialismo amoral das prioridades ocidentais mantém no poder, veio dizer das desgraçadas vítimas de Darfur que "são culpados de internacionalizar o conflito", ou porque foram noticiados uns tiros mais audíveis na fronteira com o Chade, ou porque o socorro só pode vir do estrangeiro, já que de Kartum qualquer impulso seria no sentido de acelerar a ceifa da fome. Claro que as pobres populações não querem internacionalizar coisa alguma, gostariam é de nacionalizar a comida do país, no sentido de a fazer chegar à integralidade do território. Mas há uma boa noticia: a política externa do Coronel deixou por um momento de estar livre para levantar os olhos em direcção a lideranças megalómanas contra o Ocidente, fosse do Mundo Árabe, ou do Continente Africano, para ter de resolver um imbróglio no seu próprio quintalinho, a fronteira entre a África Islâmica e a que o não é.
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Em França Ségo, não tendo conseguido tirar da cartola o "coelho" Bayrou para usar como arma no segundo turno das Presidenciais, contentou-se em exibir um roedor chamdo Strauss-Kahn, aparentemente por ser pouco socialista, assim comprovando a sua (dela) moderação. A coisa não tem pés nem cabeça. Justamente por a sua imagem não ser radical é que era supérfluo sugerir para Primeiro-Ministro um político com essas características. O que acrescenta de caracterização diferente da sua (dela) é a agenda dos contactos manhosos na manga, à beira da corrupção; e o estatuto de queridinho de uns quantos empresários, detestado pela maioria da população. Inacreditável!
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O Presidente da Comissão Europeia conseguiu, por uma vez, que a banalidade do seu raciocínio coincidisse com o bom-senso, ao dizer que espera que a Turquia se porte como uma democracia madura na questão entre laicistas e religiosos islâmicos que rebentou a par da eleição do Presidente pelo Parlamento. Assim é que é. Se o candidato do Governo levar a melhor, poderá exprimir receios da entrada de Ankara por estar em perigo a liberdade religiosa. Caso os militares intervenham para o impedir, poderá sempre dizer que é de temer a entrada de uma nação com a política tutelada pelos quartéis. Estamos safos! O pior é se o partido do Dr. Erdogan escolhe um substituto hostil à adesão que aproveite um crescente sentimento anti-europeu para reconciliar-se com o meio castrense magoado com a desconfiança de Bruxelas. Só por aí é que se imagina as fardas a aceitarem um político contestatário do laicismo como Comandante Supremo...
O Mundo não está famoso

domingo, 29 de abril de 2007

Contra a Bibliofobia!

Uma Busca:Eles encontraram um livro de Poesia de Esenin! de Nikolai Getman
Mau grado a minha identidade ser um segredo de Polichinelo, não é permitido a um signatário assumido como réprobo confessar a amizade por Quem quer que seja, nem a solidariedade, independentemente das divergências doutrinais. Fica pois esta nota em abstracto pespegada, com o ónus da concretização a caber aos bons entendedores.
A destruição dos volumes de textos é velha como o Mundo. Desde as recíprocas práticas religiosas de afirmação da sua visão da Verdade, com o propósito de imprimir nos espíritos a definitividade da execução dos escritos inimigos, até temores tributários de algo entre a superstição e o pré-maquiavelismo ligados à conservação do Poder, que geraram um Imperador Chinês com um cognome de Queimador de Livros. No universo contemporâneo a Alemanha hitleriana fê-lo, com intuitos semelhantes de associação da vontade popular ao triunfo da cultura oficial.
Nota-se uma abrupta e absurda queda qualitativa quando o móbil da inutilização não se refere já à condição herética ou hostil dos autores, ou ao perigo das suas máximas concernendo a conservação política, para passar-se a culpar o livro em si, personificando-o. Foi o que o Santo Fidel Castro de muitos opinadores fez, na grande biblioincineração de 2003, ao estatuir que "certos livros não deveriam ter visto publicados um simples capítulo, uma simples página, uma simples letra". Na base da reificação do ódio suspeito muito de que se possa encontrar a inconsciente e infantil pulsão de não querer permitir aos outros o acesso a um tesouro eventual na posse de um nebuloso gnomo do ramo, como de impedir a este a continuação do fruir dessa propriedade.
A Biblioteca de Rob Gonsalves

O grau zero da dignidade no ódio em questão atinge-se porém quando se priva alguém dos seus calhamaços, não já por preocupações de neutralizar capacidade propagandística que a quantidade de exemplares de cada obra não consente, mas para privar os adversários que se pretende atacar do manto protector de que se rodearam. Sabe-se que uma maneira clássica de enfraquecer um Homem é investir contra os seus afectos. Nesta medida, subtrair a um grande Leitor a companhia dos maços de folhas encadernadas que ama é transformá-lo num sem-abrigo. E nem funciona a única espirituosa redenção sugerida por Brodsky quando dizia que há crime maior do que queimar livros, qual fosse, não os ler. Confesso que seria perfeita a apreensão em que os homens de mão dela desatassem a devorar os milhares de páginas que tinham sido encarregados de desviar, convertendo-se às prosas lá dadas, porque, no sentido de preocupação, tal desenvolvimento decerto instalaria angústias extremas nos mandantes deste horror.
E mais, como técnica de combate político é muito rudimentar, uma interpretação grosseira, literal e, contudo, plena de iliteracia da recomendação de, nestes casos, proceder by the book.

sábado, 28 de abril de 2007

Um Sorridente Futuro

Ninguém duvidará do acerto da escolha de uma Figura dialogante como o Dr. Sampaio para o alto cargo institucional tendente a aliar Civilizações. Ao pendor de contenção que o tornou conhecido, passados os anos juvenis do MES, responde o Islão - que não tem apenas Bin Ladens - através de personalidades plenas de moderação, com quem se pode conversar, tal o Xeque Mahmud, que Vos convido a conhecer, cliando aqui. Reparem que não nos ficamos por entendimento, impõe-se a aliança, o que vem a calhar com o conteúdo da prelecção.
Dedico esta perspectiva de esperança a Todas as minhas Leitoras.

sexta-feira, 27 de abril de 2007

A Defesa de Sócrates

A Mesa do Advogado de Betty Justin

"O homem honesto é uma criança"

Ódio Velho Não Alcança?

Ainda está por explicar a razão profunda da reviravolta de Bismarck quanto à participação da Alemanha no clube das potências coloniais. Passou grande parte do seu consulado a dizer que a maior parte das possibilidades nesse domínio representava uma amante demasiado cara para as posses germânicas, acedendo, mais tarde, a fazer mergulhar o Reich na aventura ultramarina para que nada o parecia vocacionar. Já o Príncipe Bernhard von Bülow, que ocupou a mesma cadeira, a seguir a Hohenloe, sempre defendeu, a par da concorrência teutónica a França e Inglaterra noutros continentes, a criação do colonialismo do seu País à custa das possessões Portuguesas. Não era só Angola e Moçambique, confinantes com territórios em breve dependentes de Berlim que ambicionava. Nem a Guiné, nem Timor escapariam às divisões que propunha.
Foi nesse contexto que o Tratado de Windsor, reactivando a Aliança Britânica, uma das maravilhas da Arte de Soveral, se revelou salvador. Um espumante Bülow, metamorfoseado em memorialista, garante que houve acordo posterior com Londres para se lamberem ambos à custa das dependências lusas, mas é duvidoso que assim se tenha passado. Grey nega-o e a História transformaria num enigma a estagnação de um tal entendimento. Mas, a ser verdade, só corroboraria a fama de diplomata de fracos resultados que mais tarde se lhe haveria de colar, por não conseguir fazer a Itália entrar na Grande Guerra ao lado do seu País, nem persuadir a Áustria a ceder territorialmente, em ordem a esse desiderato.
Quais as razões desta monomania odienta contra a nossa Pátria? Rocha Martins sugere que o político tivesse presente a expulsão, noutro século, de um seu familiar, um tal Cavaleiro do nome. Não sei se algum Confrade ou Leitor me poderá elucidar sobre tal personagem, mas não encontro rasto dele, nos meus pequenos esforços. Seja como for, a ser verdadeira a imputação, jorraria abundante material para a reflexão de licitude de vergar a política de uma Nação a rancores pessoais e familiares, o que parece mesquinho, ou de mostrar fidelidade aos sentimentos que envolvem a herança dos antepassados, aspecto mais louvável duma realidade que poderá ser a mesma.
Apetece concluir, até porque hoje é Sexta-Feira e urge homenagear um hábito instituído pelos Colegas do Corta-Fitas, que, apesar do competente General com idêntico apelido e, no momento da morte de Rostropovich, do Mestre de Viana da Mota, von Bülow a valer é a Brigitte, nem que seja preciso ir buscá-la à Austrália...

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Explicação dos Pássaros



Os resultados da primeira volta das Presidenciais francesas suscitaram uma série de análises em Portugal que, quanto a mim, não se debruçam sobre o essencial. Aos meus olhos este seria a medida em que os dois finalistas rompem com a prática política anterior e não a dose em que a continuam, pois não era crível que um oriundo de partido integrado viesse a operar transformações radicais no quadro constitucional. Desta expectativa modesta, não só Madame Royal afrontou os barões partidários que contra ela concorreram, como propõe uma modificação por cá pouco falada, mas que merece reflexão - a criação de um mecanismo análogo ao do impeachment para o Chefe de Estado, acabando com a impunidade e irresponsabilidade que actualmente o favorecem. Depois dos três últimos titulares do cargo, a política gaulesa precisa disso como de pão para a boca. E esta fronda anti-abusos dos poderosos pode ser a chave do sucesso da candidata. Resta saber se o tom do seu discurso celebrativo da passagem ao segundo turno, fastidioso e lido à maneira de uma colegial, a beneficiarão, cativando a simpatia do generalizado sentimento contra os políticos, à Bush, ou se a farão passar por incapaz.
Já Sarkozy tem o problema do cobertor, claro, no puxar para o candidato gaulista o eleitorado da UDF, o que não pareceria difícil, por ser coisa a que este está mais do que habituado. Mas é aqui que entra Bayrou, o qual, ao não apoiar nenhum dos seus vencedores rivais e anunciar novo partido, parece querer transformar a UDF num fiel da balança, tal e qual os Liberais alemães durante muitos anos e não no comparsa menor de uma coligação, como foi durante grande parte da V República. Mesmo a façanha máxima da história da agremiação, a eleição de Giscard, passa hoje por malfeitoria indisputada, quer pelo que se revelou o eleito, quer por só ter tido sucesso graças ao apoio de Chirac contra o candidato proveniente do seu próprio RPR, Chaban-Delmas.
E é aqui que Sarko se pode jogar como revel ao Sistema, pois o desvio que fez de um partido que o Chefe de Estado cessante sonhou como transformador da herança de De Gaulle em consolidação do Chiraquismo, inclusivé na vertente que o salvaguardasse de responder perante a Justiça por falcatruas suspeitadas, pode modificar toda a ratio da UMP e da ética política francesa.
Claro que os malefícios dos partidos continuam, inquebrantáveis. No que toca à honradez dos intérpretes é que os actuais presidenciáveis têm uma palavra a dizer.
Pobre França, quanto caiu!

quarta-feira, 25 de abril de 2007

33 Anos de Enjoo

O Molde da Academia e o Cravo, de Ian Ellis. Imagem de como o oficial, quando erguido a critério do gosto, pode preferir aos alvos e Marianos cravos do 28 de Maio realidades bem mais escuras.

O Demo-liberalismo, se obedecer ao médico que o mande dizer "trinta e três", poderá achar-se de boa saúde, mas só por conveniência ignorará que o País está moribundo. Um pouco como a infecção, a qual progride enfraquecendo o corpo. É mal endémico das variantes deste ideário institucionalizado, nascido dos horrores da Revolução Francesa e que, mesmo na nossa brandura, teve de recorrer às revoluções de sangue de 1834 e 1910, ou à do vómito, a de 1974. Não esquecendo que esta se raiou profusamente do derramamento sanguíneo de tantos combatentes e populações inocentes do Portugal Ultramarino. Mas a ambição suprema era, como vai continuando a ser, livrar-se de embaraços e fazer como os outros.
Não se conte comigo para carpir os opositores organizados que procuram as substituições dos regimes. Vale para os skins de hoje, como para comunistas & Delgados do Antigamente. Acharia uma carência total de desportivismo um indivíduo que se associe com outros para acabar com um poder vir queixar-se de que o dito o tenha aprisionado, abanado, ou morto. Mas não me posso calar quando são pessoas que nunca manifestaram vontade de participar nessas corridas as vítimas de quem tem na mão os instrumentos opressores. Como as etnias que Hitler e Estaline dizimaram, as classes que Lenine e os Jacobinos atacaram, a Vendeia ou os nascituros que os democratas, parisienses ou abrilistas, resolveram assassinar.
Estafado, mais do que estafado se encontra o argumento do pluralismo. Este é restrito aos partidos que se entendem para distribuir-se quotas de gestores e altos cargos, comprazendo-se na sacro-santa "alternância", herdeira directa do Rotativismo que não deixou saudades. Tudo dentro da mesmíssima família, portanto, variando apenas o primo que, em cada hora, ocupa a cabeceira da mesa, com as inescapáveis mediocridades promovidas que as cumplicidades aparelhísticas trazem. Os estranhos encontram a porta fechada, todas as portas fechadas. Com uma tranca adicional, a exclusividade das atribuições das listas dos eleitos aos estados-maiores das facções reconhecidas. E nem dignidade houve para referendar a aceitação deste quadro político, ao contrário do que fizeram sistemas anti-pluripartidários que a isso não estavam obrigados pela retórica respectiva e, no entanto, se fizeram plebiscitar.
Ao ter confiado a sua génese à espoliante e ficcionada procuração do pretendido representativismo de uma Assembleia Constituinte, o sistema então nascente e hoje jacente fez assinar o pacto mefistofélico e assumiu-se de vez como o liberalismo do Demo.

terça-feira, 24 de abril de 2007

Explicação da Cepa Torta

Momento de resgate nas Afinidades: confesso a Vós, Irmãos, que pequei certa vez, por minha culpa, minha tão grande culpa. Há uns bons vinte anos andava frustrado e insatisfeito com a situação académica em que estagnara. E procurei pioneiramente mais um grauzito, para o que enviei várias provas a potenciais reitores universitários, tendo o cuidado de preencher a lápis a mensagem de envio, para poder reciclá-la convenientemente. Infelizmente nenhum me deu os quinze valores que eram o mínimo aceitável. Talvez porque sou um homem de Hoje, quer dizer, do Vinte e Quatro de Abril e, em função dessa qualidade, não alcancei juntar papel timbrado, ou sequer cartão, de ajudante de ministro ou membro do Club de S. Bento. Foi este o que consegui arranjar e que dilucida as razões do inêxito. Mas uma coisa é certa, como sempre me esforcei por ser ser cortês para com os outros, conseguindo evitá-lo com a minha própria pessoa, não permiti que o tratamento social de "Mestre Réprobo" aparecesse no meu curriculum...

segunda-feira, 23 de abril de 2007

A Lição Dos Brutos

Oh Tumba, Onde Está a Tua Vitória?, de Toorop

Não tinha, até hoje, conseguido dar razão a tantos espíritos ilustres que exceptuavam Bruto da mediocridade gritante dos democráticos assassinos de César. Não prezando ideais amores a Repúblicas, estava desobrigado de estimar quem apregoasse servi-las, maxime pela facada num pai, ainda que adoptivo. E nem o respeito se impunha, por não ter facilidade em testemunhá-lo a quem muda de campo com facilidade. Tivesse ele sido um lutador de sempre contra o consulado de Júlio César, outro galo cantaria. Mas medrar à sombra dele e aproveitar a proximidade para alinhar com os inimigos rancorosos que precisavam de um testa de ferro com cara mais limpa para se darem uma aparência de honestidade diante do Povo nunca fez o meu género.
E, no entanto, o Brutus recriado por um Génio autêntico, Shakespeare, surgiu-me nestes dias como estimável, ao permitir, contra o conselho de outros conspiradores, que António fizesse o elogio do estadista morto, desde que não falasse contra os seus matadores.
Marco António, aí vos fica o cadáver de César. Tende cuidado em não nos censurardes, na vossa oração fúnebre; podereis, porém, dizer todo o bem que quiserdes de César, e acrescentar que procedeis assim com nossa autorização.
Se não piedade, confiança na força do seu nome e algum resto de lisura, que é sempre de admirar quando a mais hipócrita e totalitária das actualidades demonstra que sucessores seus tiraram ilações do fim da Batalha de Filipos, atestando que é sempre possível descer mais. E quando o elogio ou os respeitos prestados a um Morto são tidos por perigosos, pelos manda-chuvas que o querem fazer esquecer, não estaremos também perante um belo triunfo sobre a Morte? Não o da Epístola aos Coríntios, com a sua dimensão Sobrenatural, mas, à escala humana, a perduração na Memória e no Conceito dos compatriotas sujeitos à tirania que deixou cair a pele de cordeiro.

domingo, 22 de abril de 2007

Três Foi a Conta Que Deus Fez


Com o coração seguindo, preocupado, a quebra na saúde do Grande Eusébio, pôs a Águia os olhos no poder do Lenhador de Winslow Homer e obteve a Madeira necessária para esculpir um atestado de restauração da própria imponência. É nos momentos difíceis que se vê quem sabe reagir!

sábado, 21 de abril de 2007

O Direito de Usar Armas

Fabricando Aristocracia, de Darwin Leon


Foi sem surpresa, mas com o desacordo habitual, que verifiquei recair a tónica maioritária das análises do último morticínio escolar estadunidense no debate sobre a restrição ou não do mercado de armas. Ninguém se deu ao trabalho de recordar que o sonho americano colhe o que semeou: generalizou o direito de andar armado, como reacção aos que na Europa o tinham, encontrando-se estes, no entanto, proibidos de trabalhar, pois era funcional a sua razão de existir: defender a Comunidade. Ao permitirem a todos acumular o sucesso profissional com a lei da bala que facultasse ao mais rápido no gatilho afirmar-se, foi criada uma nova concepção de aristocracia, fazendo reviver as antigas, mas rebaixando o conceito com o caminho do materialismo concorrencial, coisa alheia ao espírito enformador da noção de Nobreza no Velho Continente, colaboração com o Poder e não seu livre exercício. Claro que era o caldo de cultura ideal para os deserdados e desequilibrados reagirem com desesperos lúgubres. E quando as duas características se reúnem num só indivíduo, que alvo mais fácil do que os universitários, proto-elite aspirante ao sucesso, mas sem possuir ainda os meios de pagar guarda-costas e fechadíssimos condomínios protectores?

A Carne e a Pedra

A Castiglione

Todos já ouviram chamar a Sade o Divino Marquês, porém a Itália, terra das Mulheres Extraordinárias teve, na piemontesa corte de Turim, uma Condessa a que igualmente chamou "Divina". Onde aquele se impôs pelo fascínio da prosa que pregava as delícias da subjugação alheia, esta obteve a sua fama pelo triunfo da sedução. A História, maxime a bonapartista que criou a expressão da sua repetitividade risível, tinha aqui mais uma acha com que alimentar a fogueira: enquanto o comitê de patriotas polacos se dirigiu com preces à Walewska para que se abrisse às investidas do primeiro Napoleão, a bela transalpina não consta que tenha derramado muitas lágrimas para aceder ao convite do seu primo Cavour no sentido de que marcasse um ascendente sobre o sobrinho do Corso, por sua vez também coroado, tornando-o dócil às aspirações do Ministro dos Saboias.
Um menos conhecido Metternich chamou a esta ansiosa por justificar-se a aplicação do feminino dum título de seu célebre homónimo "uma estátua viva" Subsistem dúvidas sobre se ele terá empregue a expressão no sentido em que nós dizemos Fulana É uma Estampa, ou se se referiria à frieza. Na dúvida favoreçamos a Dama.
O certo é que o mais interessante está na forma como ela, envelhecendo, jogou com a memória do seu triunfo, orientando o retratismo de um momento precoce da fotografia, escondendo parcialmente o rosto que tão idolatrado fora. Por uma das ironias em que o Mundo é fértil, foi precisamente esta faceta tardia que inspirou a modelagem de uma estátua que a celebrasse. Mas não se pense que esta ocultação de si fosse modéstia sincera: pediu para ser enterrada com a camisa que usara no seu triunfo na Corte de Compiègne. Todo o jogo para a câmara fora cálculo e só cálculo. O que dará bons argumentos a quem queira, então, optar por interpretar a qualificação do Austríaco como dirigida ao carácter e todos os elementos deste terem convergido para uma consagração final ampliada.

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Falsos Como Judas

Anda o Mundo pasmado com a repetição da Hstória que é o golo de Messi, como que decalcado do de Maradona, o qual, por certo, impedirá as gentes de se debruçarem sobre a História Pátria, ou sobre um episódio dela, sendo certo que podiam e deviam fazê-lo. Não serei eu que estranhe o gáudio esmiuçante dos certificados do Sr. Sócrates, pois embora o caso não seja tão grave como se o grau académico que envolve elementos falseados fosse requisito do cargo que ocupa, pode contribuir para o julgamento público do perfil do Político e da idoneidade da instituição. De resto, que surpreende que um País que anda aos papéis se concentre no papelão que cada um destes cavalheiros desempenhou? Entretanto, voltei ao relato do tal episódio. Foi no tempo da Rainha D. Maria I, que um caixeiro chamado Alves dos Reis se entreteve a falsificar a assinatura do Patrão em letras, com o compomisso correspondente. Alves dos Reis, precisamente os apelidos do autor da mais famosa falsificação de moeda do Século XX... Em que medida pode o precursor onomástico ter encorajado a orientação profissional do segundo do nome? Curioso, o facto de o setecentista ter sido condenado a açoites e degredo para Angola e a firma a que se uniu o nome do contemporâneo ter sido, justamente... O Angola & Metrópole! Uma homenagem?
A força da reacção é que não tem equivalente: enquanto o Ancien Régime aplicou a pena com a dureza dissuasora enunciada, a República em que o epígono se moveu, prejudicando-lhe a vida, é certo, acabou por consagrar-lhe a obra, ao fazer com que, em virtude da apreensão das notas ilegítimas, elas se transaccionem hoje a preços mais elevados do que as verdadeiras da época.
Por isso, não vos admireis da falta de sanção de que os forjadores de informações e avaliações escolares se possam vir a gabar. Está inserto na genealogia do Poder em que se filiam os actuais regedores lusos, com refinamento de conduta e tudo. Da parte dos obreiros da contrafacção mais não é que o velho anseio de fazer um favor a quem manda, de cerviz dobrada à espera da paga. Pelo lado do que beneficiou pouco mais será do que a velha e disseminada aspiração a mostrar-se mais do que é. Inscrito nos genes dos abusadores de um Povo que disso não tem culpa.

Sangue Azul

Calculem que fiquei tão sensibilizado com a chegada do Clube de Futebol Os Belenenses à final da Taça de Portugal que desde já anuncio estar a torcer ferrenhamente por um sucesso pleno também na próxima jornada da Liga, Domingo. Imaginem-me procedendo como este adepto do Togo, embora pintando-me de um azul indiscutível e afixando os dizeres "Belém" ao longo do corpo...

quinta-feira, 19 de abril de 2007

(um)A Decisão

Esperança, de G. F. Watts.

Atentai na Decisão do Supremo Norte-Americano, de manter a legislação federal contra o repugnantíssimo procedimento denominado partial birth abortion. Cega ao predomínio actual na infelicidade em que se tornou o Mundo, a Esperança ainda tem um fôlego, de algum lado soprando. Digamos como Roberto Carlos, a propósito desta brisa, de sentido contrário à ventania:
Ainda há tempo de ouvir a voz do Vento
Numa canção que fala muito mais de Amor.

O Prestígio Por um Fio

Não têm conta as lições que podemos retirar da publicidade antiga! Eis a remissão para o que os nossos primeiros Reis teriam podido fazer, se tivessem ao dispor o telefone. Para além de uma colagem ao sucesso, ainda hoje presente nos anúncios em geral, há uma subtil alusão a um possível marialvismo antecipado, directamente relacionado com os cognomes.
Alérgico como sempre fui ao abuso do aparelho, faço notar que esta intimação ao "Progresso", vista na conversação à distância, ainda retinha um simbolismo que se deve sublinhar - a ligação por um cabo, tal como a umbilical união do Povo ao Rei, assim como a sua inexistência nos tempos que correm, dominados pela inexistência de fios que nos unam, na era dos telemóveis. Sem falar em que o auxiliar de combinações de rendez-vous prometedores foi promovido a substituto deles, chegando ao extremo do sexo por telefone das hotlines. Época de tecnologia avançada, época de decadência!

Desconsiderações Sobre a França

todo o atentado cometido contra a soberania em nome da Nação é sempre, em maior ou menor grau, um crime nacional, porque nunca está a Nação livre de culpa quando uns facciosos chegam a estar em condições de cometer o crime em seu nome.
Joseph de Maistre in Considerações Sobre a França

A conquista do Ar, de Roger La Fresnaye
Apoderei-me propositadamente desta imagem para ilustrar o que me vai na alma enquanto tocaio o triste espectáculo de uma eleição presidencial mais em França. A pintura foi concebida para comemorar os êxitos pioneiros da aviação francesa, porém a mesa vazia e o desconsolo da ilegitimidade tricolor a voar parecem-me mais do que apropriados para exprimir o atentado que é a prevaricação em preencher por papeluchos, o lugar que foi de São Luís, isto é, a patética tentativa de se apoderar do vazio.
E, no entanto, o mal não está nas pessoas. Os candidatos são melhores do que a V República habituou. Até aqui, tínhamos a arrogância como imagem de marca, De Gaulle à cabeça, olhando de alto do seu metro e noventa e sete, fingindo lutar contra a decadência ao trucidar os que estavam na mó de baixo, camuflando com "passos históricos" as cedências vergonhosas cuja rejeição prometida lhe tinham valido o Poder. Pompidou pouco contou, mas a sua afabilidade relativa não escondia a presunção da nata financeira donde foi extraído. Giscard tinha o olhar altaneiro e não tinha mais, salvo as perigosas ligações diamantíferas a circenses Napoleões africanos. Mitterand nunca a escondeu, por detrás do florentinismo com que enrolou família e País. Até alguém vindo dos meios católicos, como Delors, não conseguia evitar os tiques da auto-suficiência pesporrente com que amassava as tradições nacionais sob o rolo compressor burocrático.
Na última eleição tocou-se no fundo, com um burlão comum a vencer, depois de eliminado o Jospin de anedota, homem cujo drama reside em não ver a opinião que faz da sua estatura política corroborada por alguém mais, o que significa que a justiça não se sumiu de todo.
Perante isto, Sarkozy, que adoptou alguns dos tiques dos seus predecessores gaulistas parece uma esperança redentora, pois consegue fazer da antipatia peculiar aos litigantes dos sufrágios um sinal de decisão. Que é aquilo por que os franceses mais suspiram, massacrados pela regular criminalidade protestatária.
Madame Royal estava longe de ser, como a querem fazer os seus compatriotas e a extensão portuguesa deles, apenas uma carinha-laroca. Tinha, realmente, uma panóplia de propostas substantivas que, contudo, teve de meter na carteira, porque não agradavam à sua base de apoio. A descentralização era incompatível com o jacobinismo legiferante caro aos militantes socialistas gauleses. O ambientalismo é por eles tido como mero apêndice eleitoral, não cativa, para além do que os Verdes possam acrescentar a uma maioria. A reforma do Serviço Público é impensável no partido cuja maior base de apoio está, justamente, nos funcionários do Estado. E vamos ver até que ponto foi um erro afirmar firmeza no combate ao crime sem aceitar a descida da idade de responsabilidade penal, dado constatar-se a preponderância juvenil no recenseamento etário da criminalidade.
O Sr. Bayrou, creio-o, na verdade, bom homem, tanto quanto um político o pode ser. Mas, de cada vez que é inquirido sobre propostas concretas, só lhe saem frases ocas sobre "a necessidade de políticas novas", com o engasgo subsequente quando lhe pedem para precisar, bem como o aprofundamento em abstracto da União Europeia. Faz lembrar o actual Presidente da Comissão, com mais bonomia, não admirando que lhe teça os encómios que invariavelmente debita.
E Le Pen já não é o mesmo. À transigência em correr com as regras do Sistema este Réprobo, maior do que o que escreve, soma agora a rendição perante as inovações instiladas pela filha e presuntiva herdeira, tacitamente capitulando perante a convicção - e não já mera aceitação - republicana, eleiçoeira e abortista com que se pretendeu renovar no Campo Nacional. O seu corajoso combate ameaça diluir-se numa progressiva indiferenciação.
Perante isto, não se pode concluir por coisa diferente de que, apesar da melhoria no material humano, as contingências impostas pelo regime e pelo Arco Consensual continuarão a fazer das paragens que condenaram Maurras um péssimo exemplo para o Mundo. Pode-se seguir o espectáculo, mas como de baixa comédia que é.

quarta-feira, 18 de abril de 2007

Pauliteiros de Ciranda

Ai que saudades, ai, ai! Do tempo em que o entusiasmo dos relatores da bola levava a ingénuas quedas nas armadilhas da gíria, como aquele incomparável Radialista que, querendo dizer que o Benfica vira o poste da sua baliza devolver dois remates do adversário, soltou: Neste encontro já vimos duas a beijar o pau direito de Bento!
Tempos que já lá vão, como, infelizmente, o Glorioso Guarda-Redes que tinha a descrita estrelinha dos Campeões. Sem as vantagens da espontaneidade, temos de nos virar para a malandrice das conotações acintosas, substituindo a adesão à magia do Desporto pelo escrutínio divertido de uma sentença judicial do imenso e inesgotável Brasil, que um Querido Amigo nos enviou. Confrontai:

A Partida dos Partidos

Sim, escolho este título ciente da multiplicidade dos sentidos que encerra: a brincadeira de mau gosto continuamente infligida ao Todo Português pelos rótulos partidários e a retirada de tais núcleos de cumplicidades, que se deseja célere e irrevogável.
Na sequência deste importantíssimo postal do Corcunda ocorreu-me ilustrar duas breves notas sobre o tema através dum esgotado protesto panfletário de 1808, pelas semelhanças que apresenta com a situação que atravessamos. Sem a intolerável monomania sanguinária da Primeira República, esta, de Segunda ou de Terceira, que suportamos ostenta pontos de contacto evidentíssimos com o cansaço que no fim do Constitucionalismo Monárquico se oferecia na pele de forçada ementa do País. O progresso material estava lá e, apesar da ascensão dos agitadores Republicanos, o Poder não participava da violência conflituosa conhecida da Guerra Civil, ou do jacobinismo costista que viria a seguir-se. Mas o seguidismo parlamentar, a ficção da representatividade, traída pelas listas eleitorais e pelo uso dos mandatos, o descrédito de uma classe política preocupada sobretudo com a auto-promoção e os favorecimentos, numa destravada ânsia de subir que, impune, contagiava também, aos olhos do Observador, pouco a pouco, a Justiça e as Armas obrigavam à necessidade de reagir, em nome do Patriotismo e contra a fragmentação.
O momento estritamente institucional diferia do que presentemente vivemos num dado essencial: estava-se perante a obra demoníaca da multiplicação dos partidos políticos, ou por cisões dos titulares do Rotativismo, ou por reacção a este. Não é o que se verifica hoje, se exceptuarmos a contudo relevante singularidade do Bloco de Esquerda. Mas se a proliferação não obra, verifica-se uma generalização do sentimento de indiferenciação dos disputadores do Poder. Eles são todos iguais deixou de ser "conversa de taxista", uma Classe por dever de ofício com a sensibilidade sempre à flor da pele. Quando esta percepção alastrar aos estratos sociais com influência mas sem participação na gamela da Administração estarão criadas as condições para se concluir que a solução reside no derrube do regime e não nas pretensas escolhas que ele oferece, como isco escondendo o anzol.
Uma chamada de atenção final: o Autor do panfleto com capa reproduzida, embora escrevendo como se de fora do movimento estivesse, mostra simpatia pela reacção nacional e moderadamente anti-parlamentar dos Nacionalistas de Jacinto Cândido. Não pode ser essa a via. O monopólio partidário não se combate sentando mais um jogador à mesa, mesmo que este proteste não vir a entrar na batota generalizada. Só proibindo a sala de jogo que arruína o País se poderá chegar lá.
Copio os versos dum Costa Lima no folheto citados, sobre a trindade que regeria o Portugal de então, a Propina (subvenção), o Empenho (cunha) e o Voto (o totoloto que nunca premeia):
Não vês aquela dama, em trajes insolentes,
seguida, logo atraz, de imensos pretendentes,
a bôlsa sempre aberta, a mão sempre estendida;
portuguêza a valêr, frêsca. bela, garrida,
com lábios côr de rosa e a voz pura, argentina,
sonora do metal... vês? Chama-se Propina!
Propina, a bela dama, a fada seductôra,
rainha da belêza, a deusa ecantadôra,
quando meiga e sorrindo, em alguem põe a vista,
adeus justiça e lei! Não há quem lhe resista!
*
Agora mais alem... Vês um homem sisudo
vestido com decência, um tanto barrigudo,
de fita a tiracol, comendas a brilhar,
direito como um fuso, ou taco de bilhar,
falar pausadamente á súcia, que o rodeia,
mexendo no berloque, apenso na cadeia,
com ar aristocrata e pose de empreitada,
sorrindo por disfarce, ao som de uma pitada?
Chama-se Dom Empenho, o tipo verdadeiro
de quem já foi ministro e agora é conselheiro
.............................................
Propina mais Empenho egual a coisa feita:
Não há nêste torrão ninguem que o não respeite;
do luso maquinismo Êle é mola, Ela azeite.
*
Passemos ao terceiro, aquêle outro burguêz
de um tôdo espertalhão, que junto dêle vês.
Oh! êsse... é mais! é tudo! é grande potentado,
que faz de um badameco um par, um deputado;
e quando está de veia agarra um boticário,
e fal-o sem c´remónia um alto funcionário.
Amigo do vadio e protectôr da pândega
faz do Estado uma creche e um asilo da alfândega;
faz tudo quanto quer, quer tudo quanto faz:
na fúria do querêr, crê tu que êle é capaz,
sem licença da carta, ou permissão de alguem,
da pasta dar da guerra ao Jaime de Belem.
Pois êsse... meu amigo, êsse... chama-se o Voto,
que tem sido e será peor que um terramoto;
por onde quer que passa arraza, e faz caliça...
de casas? Não... da lei, da honra e da justiça.

Mas onde é que nós já vimos este filme?!

terça-feira, 17 de abril de 2007

e Reverso

Onde não se concebe refresh que valesse é no que tocasse a um acidente sucedido no Século XIV, a tristemente célebre Margarida da Caríntia, concorrente séria ao título de Mulher Mais Feia de Sempre. Não se pense que a involuntária característica a teria levado a procurar na Virtude a compensação que a tornasse admirável. A sucessão de infidelidades ao contudo apaixonadíssimo primeiro marido, João Henrique da Boémia, vai para além das baronias que distribuía pelos camponeses vigorosos que desejava e possuía - terminou no abandono final, para casar com o Imperador Luís da Baviera, por cima de recusas de anulação e da excomunhão papais. Se o segundo esposo começou por cobiçar os ricos e estratégicos teritórios que a aliança traria, não tardou a ficar perdidíssimo pela mulher. Redenção por um casamento harmonioso? Nem pensem. Acabou envenenado por ela, talqualmente o filho, nos seus vinte anos, dado a megera ser tão pouco escrupulosa sentada no trono como movimentando-se no leito. Trata-se, como se entrevê, de coisa bem diferente do expresso na moralidade do nosso ditado popular "casai as filhas bonitas que as feias saberão casar", ou da preferência de Benjamin Franklin pelas amantes velhas e feias, face às novas e belas, porque, dizia, "as primeiras se esforçam muito mais". Aqui o esforço era todo destrutivo, condizendo com a ameaça visível. Quem nunca se conformou com a monstruosidade foi o Pai da evocada, o que se justifica, pois se uma perversão pode fazer viciar, a autoria de algo deformado nunca deu bom nome a ninguém. Têm os psicólogos pano para mangas para desculpar as falhas de carácter em virtude desta rejeição.
Já quanto à falta de harmonia física temos de recorrer à pena dum pensador de eleição como Ralph Waldo Emerson, para negar o que parece, à primeira vista, evidente: dizia ele que "o segredo da fealdade não reside no irregular, mas no desinteresse". Consultando esta biografia, vê-se pois evaporada a possibilidade de apelidar de "feia" a que foi assunto deste post. À cautela, junto o retrato, para demonstrar como um grande escritor deixa, por vezes, a Realidade em maus lençóis...

Verso

Duas reconversões que se saúdam: a de Sharon Stone, cujo rosto marcado de há meses me fizera soltar uivos de dor e cuja publicitação entendo agora, ao ver o anúncio da Dior que propagandeia a sua proteína da longevidade - aparece melhor do que nunca. Melhorar o que, por tão Bom, parecia impossível foi o que se fez, outrossim, à imagem emblemática de Miss Pearls, com o que igualmente me regozijo, bem merecedora que a vejo da trabalhada moldura que a serve e realça. As duas transformações provêm de químicas diferentes: a do engenho e escolha do Artista que retrata, no caso da Bloguista, o uso de besuntices atentatórias da naturalidade, no que se constata na Actriz. Tudo bem quando acaba bem, no entanto.
Sei bem das diferenças: a SS que mudou do vermelho para o negro tem neste cartaz - que desde já proponho para a Rotunda e em permanência ilimitada - uma frase de fecho que diz "Melhor agora que aos vinte anos". Poder-se-ia dizer o mesmo da nossa Ilustríssima Colega, não fora o facto de ser muito mais nova e de os vintes, Nela, parecerem perdurar, inamovíveis...

segunda-feira, 16 de abril de 2007

emPATA Aqui, emPATA Ali...



O Trabalho e os Dias

Enquanto uma Explosiva Colega rebenta mais pedra para desbravar um filão, este maldito perturbador da Vossa Paciência aguarda fielmente como o muar à porta da mina que Bonar pintou.

...A Tumba o Leva"



Podia ser o fecho de uma sentença começada por "O que a TV dá...
Perdi ontem preciosas horas a ver o famoso documentário sobre a alegada descoberta do túmulo de Jesus e deparei-me com uma ficção de má qualidade. O melhor argumento dado para vender a tese de que aquele Jesus, ali sepultado com familiares, era Jesus Cristo foi a estatística. Nem me aventurando pelas inconsistências técnicas que apontam aos dados fornecidos, lembrarei que muitos dos grandes acontecimentos históricos têm uma base de probabilidades de partida infinitamente menor. O cálculo das ditas poderá ser aliciante para sondar o Futuro, indeterminável que se mostra à maioria, não serve para apurar o Passado, o qual participa de uma esfera de verdade, não já de possibilidade, embora possa auxiliar. E as declarações do expert que computou os elementos são docemente modificadas: quando ele diz que os nomes em conjunto são mais raros do que cada um dos elementos que o compõem o termo rarer é dado como rare. Claro que um Zé filho de uma Ana e de um João, com um tio António, é mais raro do que a identidade Zé, por si só considerada. Mas quem poderá concluir pela dificuldade de achar uma tal correspondência? E os nomes em questão eram suficientemente comuns para aguentarem a comparação. Em momento algum se toca no espanto que seria Naturais de outra região não serem sepultados, como era hábito, com o nome da terra de origem: nem vestígios de Nazaré, Magdala, etc., ao contrário do que acontece com o recipiente que recolheu o Simão que ajudou na Caminhada Final.
De resto, toda a história abana muito, ao recorrer a falsários estabelecidos, quer na recolha da patine, com o envolvido num "achado" adicional forjado para acrescentar aos Manuscritos do Mar Morto, quer ao inventar o "Túmulo de Tiago", já certificado oficialmente como impostura, estando o proprietário processado criminalmente por várias fraudes arqueológicas. Além de não ter desaparecido nenhum receptáculo de ossos, bem como de o que se tentou impingir como tal ter dimensões bastante diferentes das registadas.
Acresce toda a insuficiência na análise de DNA que a Arqueóloga portuguesa entrevistada no fim apontou. E, na tentativa de pôr na sepultura uma Maria Madalena, o esforço de aproximar - que nem se conseguiu fazer coincidir - uma menção grega, quatro séculos posterior, de uma inscrição aramaica desafia a lei da gravidade investigatória.
Por fim, o ângulo e o círculo, passados como um símbolo Cristão arcaico, quase esotérico, encontram-se frequentemente em muitos elementos funerários judaicos, conforme os bons catálogos mostram à saciedade. E que lógica teria uma religião perseguida inscrever um emblema do próprio Credo à vista das autoridades que atacavam os Seus enquanto vivos, ou perseguiam a memória dos mortos?
Se era só isto que havia para dar, vou ali e já venho.

domingo, 15 de abril de 2007

Destino: Paris

Veio o Estimadíssimo Confrade dar-nos a leitura de um poema belo, do punho de um Autor muito cá de casa, encimado por um título que me desperta recordações inamovíveis numa pacata manhã dominical. Com efeito, para além da condição de adepto do SLB, nesta semana tombado na luta contra a mais temível das três mitológicas figuras, essa Atropos que era, em simultâneo, Fim e Destino e que Goya, conforme se vê acima, tão bem retratou na sua dualidade, ribomba-me cá dentro a recordação de meu Pai, membro de uma roda de Amigos intitulada Miúdos de Benfica, onde, se não fora nado, não há dúvida de que foi criado. Pensando no desaparecimento que nos atingiu, vejo-me também aí lutando contra a Parca.

E atentando no denodo com que a mesma Figura da Blogosfera vem propondo a Deslumbrantes e Desejáveis Companhias roteiros pela Cidade-Luz, ocorreu-me que talvez pudéssemos cear aqui, conforme um souvenir guardado por Aquele que, terrenamente, me deu a vida, da passagem que pelo célebre estabelecimento empreendeu nos Anos Cinquenta, numa altura em que lá actuava a famosa Yvonne Ménard.

Porque me parece digno de nota o esforço incessante que as funcionárias da casa desenvolvem para trazer à memória dos possíveis clientes momentos felizes da vida passada, mas próxima, destes...


...e, reparando no título da intérprete de um dos números de então, me surge como muito possível acicatar a curiosidade de um Outro Grande Bloguista, fazendo imaginar que estará em cena um sucedâneo dentro da mesma linha...
As Senhoras poderiam divertir-se com os trapinhos das frequentadoras, os homens com realidades mais despojadas!
Mãos, digo talheres, à obra!

sábado, 14 de abril de 2007

(pat)ÉTICA

Saturado de ouvir republicanos de várias bandas com a boca cheia de ética, dei comigo a remoer um solilóquio de Ética Monárquica, pela tensão com as vigências que é subsumível ao título, enquanto estas o são pela incongruência relapsa. Lembrei-me da famosa frase de Raul Proença, "A República, para os «bons republicanos», é um regime em que não há um Rei a governar - e em que eles se governam". Claro está que as aspas deitadas visavam excluir dessa ironizada bondade Autor e leitores que lhe fossem simpáticos, reduzindo aos adversários internos dentro dos adeptos dessa circulante Forma de Estado o odioso da promoção do interesse próprio.
É porém evidente que na própria essência significante da teorização republicana está presente essa chaga. Se não reduzida ao menor denominador comum do latrocínio, ao menos, mascarada pela fatiota vistosa da participação cívica, a arrogância de confiar no juízo próprio para se ir propondo, ou fazer vingar procuradores de si, quer dizer, marionetas nobilitadas pela magia que se quer dar à palavra "mandato".
O que importa de todo proscrever é a soberba que acredita ter direito a escolher agentes e caminhos nas funções soberanas da Comunidade. Restrita a escolha a partir de baixo às pastas técnico-sociais, num nível concelhio, muito bem, desde que o sufrágio se não desenrolasse com base em listas partidárias, devendo a escolha recair formalmente perante o indivíduo X ou Y. No que toca à Política Externa, ao que resta das Finanças, ao que sobrevive da Justiça de da Defesa e aos restos da Segurança a única atitude que dignifica um indivíduo é a disponibilidade para servir, se chamado por Quem está acima e não foi eleito, o contrário da ambição ao penacho e/ou ao poder, sempre visível nas altercações deprimentes que precedem o discurso "unitário" final da apresentação dos candidatos de cada facção. É esta a única Ética que em política merece o nome - a que não briga para se elevar, mas se eleva esperando uma chamada legítima, já que não-proveniente de um qualquer congénere que tenha vencido pelos mesmos caminhos ínvios.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Trio Desafinado

Vendo a entrevista televisionada de ontem não pude deixar de me enternecer com a veemência que o nosso Primeiro colocou na defesa da seriedade das suas qualificações na Engenharia Civil. Se os pareceres sobre o projecto da Ota mais recentemente vindos a público estiverem certos, a melhor linha de defesa do Chefe de Governo consistiria em confessar a sua insuficiente formação em tal campo do Saber...
Inteiramente merecido o destaque dado pelas câmaras da TV, no fim do jogo de hoje, na Luz, a Nuno Gomes, esse grande defesa central do Espanhol de Barcelona. Para além de conseguir não meter a bola numa baliza a um metro, sem o Guarda-Redes à sua frente, ainda a tirou dos pés de Simão, que, mesmo atrás de si, ameaçava marcar...
Fiquei de boca aberta com a notícia de a Al-Qaeda do Iraque prever vir a pescar os seus bombistas suicidas entre crianças: parecia-me abstrusa a ideia de prometer a recompensa clássica do martírio, sob a celebrada forma de 72 virgens, a quem ainda não estivesse com toda a, hããã, disponibilidade para aproveitar o prémio. Já perspectivava um agiornamento teológico do Paraíso islâmico, com a substituição das ditas por, sei cá, ursinhos de peluche, quando li nas letras miudinhas que as admissões à carreira iriam incidir em portadores de deficiencias mentais. Não serei tão mauzinho que insinue estar salvaguardado o estalão deste concurso público, salvo na idade...
Vou deitar-me, para não passar por mais desgostos. Boa noite.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

A Parábola do Figueira

Durante o Período Pascal fazia todo o sentido recordar a Parábola da Figueira, a propósito dos Sinais da Salvação que teimavam em escapar a muitos, melhores do que nós, até. Decorrido, em mais um ano, esse momento de reflexão, a ninguém admirará que saúde a aparição como Comentador deste espaço do Sr. Oliveira da Figueira, publicando uma foto integrável no campo que blogosfericamente o celebrizou, também susceptível de dela se extrair grande moralidade:
Não se deve abdicar de querer chamar a Esta um Figo: Helen Swedin, Madame Figo, casada com o ex-capitão da Selecção Nacional.

Da Dor e da Culpa

Auto-retrato com Comprimidos, de J. Mark Inman

O império dos analgésicos e dos calmantes acabou por triunfar: estendeu o seu domínio da esfera do Físico à reserva, entretanto desprotegida, do Espiritual. A guarda-avançada fez entrincheirar-se como mandamento relacional uma concepção estendida (ou distendida, melhor se diria) da saúde, sugerindo a desejabilidade das relações sociais cingida àqueles que exibissem precauções imunológicas e forma física acima da média. Daí, a coroação do preservativo e do jogging, o que não era devastador, na medida em que contributiva líquida para o tesouro da satisfação pessoal, eliminando medos, num caso, melhorando prestações, no outro. O homo americanus e os seus imitadores não pararam por aí, no entanto. E resolveram, dentro da mesma órbita de preocupações, proscrever os sinais do sofrimento e a assunção de culpas. Passou a ser mal visto adoptar os fumos e crepes negros do luto, como, pelo outro lado, psicanálises várias se esforçaram por localizar num obscuro facto esquecido de experências remotas a razão de comportamentos incómodos, eliminando a recriminação que cada qual pode e deve fazer-se por ceder a eles. A irresponsabilidade infantil ainda tem a desculpa de negar o que se fez por temer o castigo. Esta ânsia madura de negar-se deficiências próprias como origem dos comportamentos lamentados apenas quer evitar o incómodo de ser desdenhado pela fracção ínfima da Comunidade que rodeia cada qual. Daí a subestimar o Sacrifício vai um passo curtíssimo, agravado pela aspiração a considerar como anomalias psíquicas as necessidades de redenção que não correspondam a criminalizações estabelecidas. Séculos e séculos de Filosofia e Religião que identificaram a plenitude vital do Homem na tensão entre as penas - não apenas as penalidades, note-se - e o perdão estão assim condenados ao caixote do lixo da tranquilidade artificial. Porque também no mundo interior os nossos contemporâneos abdicam cada vez mais de ser entes multifacetados, para se reduzirem a consumidores de pílulas.

terça-feira, 10 de abril de 2007

O Poder Simbólico

Desencantou-me Mão Amiga num bouquiniste de Bruxelas a versão em francês do livro do Padre Luis Gonzaga de Azevedo sobre as perseguições dos revolucionários republicanos aos religiosos, em particular aos Jesuítas, na sequência do triunfo em 5 de Outubro de 1910. Está lá tudo, citações de O Mundo, orgão afonsocostista, inventando tiros e explosivos lançados de estabelecimentos clericais, prontamente desmascarados pela imprensa estrangeira, a brasileira em primeira linha, a campanha de insultos a fazer lembrar o estilo de Streicher contra os Judeus, a prisão, com as humilhações acéfalas do tratamento assemelhado ao dos criminosos comuns, com os "sábios da República" a tirarem as medidas cranianas ao gosto da época; e contra o sentimento de alguns dos próprios médicos que lhes obedeciam... Bem como a expulsão final.
O decreto mesmo é um mimo e uma peça acusatória contra o Governo Provisório da República que o promulgou. Os primeiros dois artigos são de fazer saltar das órbitas os olhos dos mais distraídos, restaurando as leis pombalinas de 1759 e 1767, expressamente estabelecendo que: "continua a estar em vigor como lei da república portuguesa, a lei (...), promulgada sob o regime absoluto..."
Que admira pois que os jacobinos de 1910 tenham feito a estátua da Rotunda a Pombal, tal como os liberais de 1834 tinham restaurado o medalhão com a efígie dele na estátua de D. José, no Terreiro do Paço? Os adeptos da centralização e do ódio não podiam suportar quem lhes disputasse o ensino, que passa por insígnia do saber, professando, ao mesmo tempo, uma obediência estrita que lhes fosse estranha.
Estou, entretanto, em crer que os bons olhos com que o anti-jesuitismo é visto por alguns a quem repugnam as arbitrariedades e violências da 1ª República brota de um raciocínio análogo ao daquele aristocrata francês que se recusava a dar a ler aos seus rebentos os livros da Condessa de Ségur, por todos os filhos desta terem acabado mal, o que não abonaria da sua virtude educativa... Lembrar-se-ão estes cépticos de Voltaire e Diderot, que deles foram discípulos. Mas a questão parece falsa. No que ao ensino deve ser imputado, a qualidade da escrita, mais um grão de louvor merece ser acrescentado aos Padres da Companhia. O resto deve-se procurar no orgulho de naturezas que busca a glória para si, incompatível com a adstrição ao Serviço e o acatamento de uma disciplina férrea.
Mas o que mais interessa é que não se vê os próceres e a intelligentzia deste regime que temos, que procuram - e bem - não legitimar expulsões de inocentes estrangeiros, ao ponto de - muito mal - favorecer os que, vindos doutras origens, tenham culpas em cartórios vários, dissociar-se da herança partidocrática que continua a ser reabilitada e enaltecida nas persistentes, embora soporíferas, peças oratórias e académicas dos Senhores do Momento. E a esquecer que inocentes portugueses foram expulsos pelo regime que os precede genealogicamente. É contra este tranquilo branqueamento da maldade histórica que urge resistir.

domingo, 8 de abril de 2007

O Lugar Dela

Não pude impedir-me de pensar em como pouco consideram aqueles críticos que reduziram a importância da Mulher no Cristianismo ao contudo fulcral estatuto de Mãe, decalcado do culto da Virgem Maria, muitos deles os mesmos que tentam encontrar herméticos papéis e presenças para St.ª Maria Madalena, Aquela cuja indisputada notoriedade sexual estava mais à mão entre as que seguiam Jesus. É fazer tábua rasa do mandato de anunciar o túmulo vazio, conferido angelicamente às Piedosas que no Domingo Pascal se tinham dirigido à Sepultura, como Carracci aqui representa. Num universo religioso retirado do Judaísmo, em que o desmpenho cultual feminino era secundarizado ao ponto de alguns protestantismos revivalistas negarem o valor antecipatório nas aparições de Nossa Senhora, por a profecia ser alegadamente reservada aos Homens, tal como deles se fez eco H. L. Heijkoop, constituiu esta missão uma revolução coperniciana avant la lettre. Mesmo o incumprimento devido ao terror não é dado como típico do Género, nem desobediência culposa, mas como fraqueza Daquelas poucas, assaltadas por medo inelutável.
Da mesma forma, é À que não titubearia, A de Magdala, que Jesus aparece. E que não O reconhece, senão quando chamada pelo nome, coisa estranha em quem tivesse contacto carnal com o Mestre, como querem fantasias esotéricas do Tema, dado que o hiato entre a separação e o seu termo não correspondia aos muitos anos de Penélope, mas a apenas escassos três dias. Nem a natureza da reacção e da incumbência parecem ser a de um casal, por muito Singular que fosse. Mas claro que os amantes do Oculto ficariam muito empobrecidos no encanto das suas efabulações sem o recurso à União física com o Senhor. Depois da acusação da subalternidade, esbate-se a do acasalamento, ambas por vezes estimadas pelas mesmas cabeças, que não percebem contradição nelas, cegas que estão no empenho da recusa ou diminuição Da que viria a ser Padroeira de Portugal.

Tigres de Papel

A Actualidade é um corpo de aluguer que, cada vez mais, requer a paga do silêncio. Fiquei abismado em perplexidade sobre o que terá passado pelos miolos de tantos opinadores, para que se pronunciassem apoplecticamente sobre os cartazes da Rotunda e remoções correspondentes. Até que achei a resposta: cedências atentas e atenciosas ao gosto vigente, que recomenda a cada qual que faça pela vidinha para ser cabeça de cartaz.


Quanto ao mais recente desenvolvimento do diploma socrático, a abandalhar a dignidade do homónimo ateniense que nunca do papel certificante precisou, só posso deixar o lembrete, Naquele que o é por excelência, que não façais como a gente aqui denunciada e que, obedecendo a um dever de séculos, guardeis o Domingo.



Música no Coração

Não passa uma Páscoa sem que eu oiça o celebérrimo moteto de Mozart, Exultate, jubilate, que me parece sempre adequado à alegria do significado da Ressurreição. Gozei-o hoje na mui competente, embora algo defensiva, interpretação de Edith Mathis, com Bernhard Klee na regência. No meio da alegria, ocorre-me ter o feliz destinatáro deste lampejo do génio de Amadeus, o castrato Venanzio Rauzzini, irmão de um festejadíssimo compositor de música sacra hoje esquecido, sido um notável cultor da amizade, ao ponto de mandar erguer um monumento no quintal, imortalizando "o mais fiel dos amigos" e terminado pela tirada a que os mais devotados escavadores da História das Ideias reconhecerão um sabor pascaliano: "não era um homem, era um cão". Eis os dois inseparáveis e devotados companheiros, pintados por J. Hutchison. Dedico o post a Dois Confrades Melómanos, o Je Maintiendrai e o F. Santos, sendo que ao Primeiro, cabe a razão adicional de a retratada mascote ter dado pelo nome de Turk...

sábado, 7 de abril de 2007

Sábado de Aleluia

A Aurora Surge Entre as Montanhas, de Dullah Mary Evans

À esmagadora carga da Véspera surge a Claridade que liberta, na manifestação completa, rumo à Elevação que possa unir de novo os dois pólos da adoração sagrada. Para tão sobre-humano Momento parecem escassos os recursos poéticos que O celebrem, fraca demiurgia quando concorrendo com o poder extremado da Prece que já não pede só na aflição, antes, não abdicando dessa humildade enternecedora, sobretudo agradece.
Escreveu Torga:

SUDÁRIO

O dia rompe da noite
Como um rebento do fruto
Ri-se um melro de alegria,
Acorda o ceu do seu luto.
Era preciso cantar,
Mas um hino absoluto.

E quem o canta, quem é
Capaz de uma tal façanha?
A poesia morreu
De desespero e de manha.

Mas a questão vem a revelar-se falsa: o óbito da Poética como exaltação apropriada só pode ser certificado relativamente à acepção de técnica, não À do maravilhamento que se impõe espiritualmente. É o triunfo do centrípeto da Comunhão sobre o centrífugo da realização, afinal Aquela Esperança a que secreta ou assumidamente se aspira, para lá das coroações de louros da "passagem cá por baixo" que compensam mas não recompensam.