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quinta-feira, 12 de junho de 2008

Quem As Não Tem?

O Amante Coroado de FragonardNão se pense que foi inocente o postal anterior, na data que corre. É que hoje é celebrado no Brasil o Dia dos Namorados, equivalente ao São Valentim Europeu, que, segundo abalizadas opiniões, tem ligação directa ao favorecimento sacro desses enlevos, para que se invoca Santo António. Segundo as Damas juízas dessa especializadíssima competência que antes abordei, não seria assimilável aos festejos do mesmo Santo na nossa Lisboa, porquanto cá é pedido o casamento e por Terras de Vera Cruz se chega à frente o emamoramento, coisas que elas separavam com implacável distinguo.
Mas para se ver como a Idade Média não tardou em ser revista e corrigida e se entendiam em altos círculos Amor e Himeneu como passeantes de braço dado, temos a historieta do consórcio principesco entre D. João, filho de D. João III com D. Joana, cujo pai era Carlos V:
o conselho régio achou que o Nubente deveria escrever uma carta de amor à Prometida, mas, por desconfiança da hipotética redacção, ou deferência, o Rei pediu que cada conselheiro escrevesse uma, enviando-se a melhor. Todos obedeceram, menos Simão da Silveira, o qual mandou comprar a sua já confeccionada a um estabelecimento do ramo, que prosperava no Largo do Pelourinho Velho. Foi a que ganhou.
Para quem, como eu, considera altamente irritante a oferta de mensagens de amor para SMS pré-fabricadas, uma batota como a da compra de chaves de Totoloto já prontas, não falando sequer em Cyrano de Bergerac, há pelo menos que reconhecer que esta rapaziada tem a quem sair...
Bom Dia dos Amorosos, Amigos do Brasil!

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Da Inconstância ao Martírio

Passou ontem mais um aniversário sobre a decapitação do Rei Carlos I de Inglaterra, o qual, vendo correctamente a Sua Real Missão de resistência à centralização parlamentar que serviu a instauração da tirania puritana, teve, no entanto, contra si a iniciatvia absolutizante e divinizadora do Direito dos Stuarts, a mudança contínua, da recusa à cedência, face às aspirações da Escócia e da Igreja, a tibieza de deixar cair Strafford e Laud, os amigos em que se podia fiar.
A fantasia de Alexandre Dumas fê-lo pôr na boca de Mazarino, numa das sequelas de «Os Três Mosqueteiros», a frase os ingleses são um mau povo, que corta a cabeça aos seus Reis. A ironia, dado o momento em que escreveu, não se circunscreve ao que aconteceu um século e tal depois da execução, em França, após uma catadupa de erros semelhantes, sem guerra de religiões, mas com guerra contra a Religião: também inventou ser o Remember gritado pelo Monarca, imediatamente antes da machadada final, alusivo a um depósito secreto de ouro que permitisse ao Filho levantar exércitos para retomar o Trono. Não o seria. Com toda a probabilidade, referia-se às palavras que proferira antes, em que assumia o seu sacrifício por defender os Direitos do Povo. Substituir a obsessão do serviço dos Súbditos pela segurança do dinheiro é a mais irónica das liberdades do ficcionista.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

A Mecânica dos Fluidos

Nunca teria o arrojo de falar de mecânica acerca do casório, mas como foi a T que remeteu para essa chave de fendas e pôs ao dispor veículos de ocasião, vou fazer-me lucas e aceitar o termo. Não posso é fazer outro tanto às carripanas. Reparai, não é oferecida toda a actividade de uma estação de serviço, pelo que teríamos de recorrer a este estabelecimento para garantir a lavagem e lubrificação adequadas. Ora, achais que alguma noiva se sentiria confortável diante de uma proposta de girling?!

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Os Cabos das Tormentas

Qual quê! Ávila é terra de Santidade, não de cabos. E nunca esperei que a viciação citadina da Menina T A levasse a esquecer Quintas. Menos ainda que traísse um ex-libris da terra em que nasceu. Como está provado que é da corda, tenho de antecipadamente esclarecer que não falta um "de" entre "Condutores" e "Eléctricos"...

terça-feira, 14 de agosto de 2007

A Coerência Democrática

A 14 de agosto de 1945 um tribunal constituído apenas parcelarmente por magistrados, sendo as restantes partes dele parlamentares hostis e resistentes, com um presidente e um procurador que exprimiram antecipadamente a convicção da culpabilidade do Acusado, condenou o Marechal Philippe Pétain, salvador do País em 1918 e em 1940, quando mais ninguém queria pegar no poder, à morte (comutada em prisão perpétua). As acusações? 1- Ter excedido os poderes conferidos pela Assembleia Nacional, que tinham sido os «plenos», recorde-se, entrando assim da forma mais triste na renovação da língua. 2- Ter aceite a derrota como definitiva, quando as testemunhas inglesas, de acordo com o próprio Churchill explicaram ter sido tudo combinado com Londres, para evitar que o armamento, Império Colonial, economia e território franceses ficassem completamente na mão do inimigo. 3- Ter colaborado com o ocupante, fornecido tudo o que ele exigia e de que necessitava, não considerando minimamente as toneladas de papel que evidenciavam o constante regatear das condições impostas, quando não a sabotagem do seu preenchimento.

Que espanta? Nas letras Claudel também publicou um poema laudatório dirigido ao Condenado, quando ele estava por cima. E quatro anos depois, outro, ao político que mais pesou neste exemplar acto judicial...
Ao contrário, o Réu, como única defesa, proferiu:
Ao vosso julgamento responderá o de Deus e o da posteridade. Eles serão suficientes à minha consciência e à minha memória. Confio-me à França.
Apesar da odiosa fantochada nunca se alterou.

segunda-feira, 4 de junho de 2007

A Carta Roubada

A França Recebendo a Carta de Luís XVIII por Merry Joseph Blondel

Aniversário muito menos estimável do que o anterior, o da outorga da Carta Constitucional por Luís XVIII, em 4 de Junho de 1814. Cntaminado pelos fundamentos do Liberalismo, acabaria a restauração Borbónica no Trono por ser apenas uma máscara de beleza enganadora para o rosto devastado do País dominado pelos partidos e pelo dinheiro. Mais do que os poderes concretos atribuídos à Câmara Eleita - que não eram muitos -, a cedência no princípio de partilha da função legislativa entre Soberano e eleitos, como a amnistia dos Revolucionários, constituía uma legalização da rebelião, apenas susceptível de ser ultrapassada se a decisão residisse em mãos hábeis e fortes. Aquele Rei não as tinha e ficaria para sempre estigmatizado por dever o regresso e a Coroa às tropas russas, como pelo desprestígio de ser visto demasiado de costas, impressão consagrada num célebre filme de Gance. Os Legitimistas, desautorizados, ficariam remetidos a lutas importantes mas menores como a suavização do aspecto censitário do sufrágio, imposta pela Burguesia parisiense liberalona que, assim, desejava perpetuar a sua imagem de exclusiva força viva da Nação. Galicanismo, irreversibilidade da expropriação dos bens clericais, centralização governativa, recusa de regresso à enformação orgânica do Estado, mitificação do Exército segundo a estruturação republicano-napoleónica, nada faltava para sublinhar o erro maior, o da concessão de um forum em que o encarrilamento pelos gangs de cumplicidades que são os grupos partidários triunfasse. Daí para cá o Mal não conseguiria ser revertido, com carácter de permanência. Era a traição à Constituição Essencial da França, assim alienada num pedaço de papel, disfarçado pelas pinceladas cortesãs.

quinta-feira, 5 de abril de 2007

O Complexo de Judas

"O que tens a fazer fá-lo depressa e sem demora" - Jo, 13, 27
Nunca uma fala do Salvador encontrou terreno tão fértil para adulteração fundada na duplicidade! A própria duplicação do nome Judas, no bom Tadeu e no Iscariotes expressa, convidava a reavaliar a Traição, como instrumento decretado pelo Senhor para remissão da Espécie. O mesmo raciocínio que levou alguns eruditos a queimar os neurónios para fazer corresponder à desconfiança popular de que o Diabo não é tão mau como o pintam a noção de Satan como colaborador da Divindade no castigo dos Condenados. Eterna fraqueza do Homem, que quer tanto aviltar o que lhe está acima, como elevar o que antes foi dado como a mais baixa condição. Pensando-se no meio julga, com a esperteza da atenuação das diferenças, elevar-se rebaixando, mas dependendo da caução que lhe possa ser dada pela elevação de réprobos piores ainda que aquele que escreve. Daí as reabilitações que tentam os literatos, como os periódicos descobridores de "Evangelhos de Judas", aspiração antiga de gnoses várias. O pior dos seres humanos tende a encarar como refractário à Humanidade todo o que pregue a consideração de uma acção do Homem como traição ao Divino. Daí que, tanto no mito de Prometeu, como na aventura adâmica que nos tramou, a tónica seja colocada na aspiração ao Conhecimento traduzida no roubo do fogo, ou na prova do fruto, passando para segundo plano o essencial da conduta criminosa - a tentativa de se igualar aos Deuses ou a Deus, por ambicionar a imortalidade, sem necessitar para tanto da naturalidade da condição, ou do Amor Total, O que está para além da dose estupefaciente que sacie o egoísmo. O mesmo igualitarismo que tudo quer integrar, Judas e o Demo à cabeça, qual preconceito para-hegeliano que faz da antítese parte componente do Bem, pela falácia suprema que é o Progresso.
Não admira que a ilustração de todas as entregas da Inocência se tenha concretizado no gesto que, especificamente desprovido de carga erótica, mais puro devia ser - o beijo. O resto, reabilitações que encontram terreno, sobretudo, nos adversários, internos ou externos, da Hierarquia Eclesial tenta a popularidade como desodorizante do fedor do imenso mal-estar que é a conclusão do ser pensante que se olha e não quer reconhecer desgostar-se.
Boa Páscoa.