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sábado, 14 de junho de 2008

Geometria Variável

A Tirania dos Horizontes de Kyle Evans

Como se sabe, também não rejeito a Arte Abstracta. A teorização original dela, por Kandinski, sempre me pareceu, porém, padecer de alguma miopia que obrigasse a perceber a autenticidade expressiva como erradicada das formas reconhecíveis para além da estrita Geometria, como, igualmente, condenar-se, ao confessar a Arte filha da sua época, quando ambiciona transmitir uma sensibilidade individual. Mas estas dúvidas não visam proscrever outra coisa que os conceitos de que esta ou aquela modalidade de Pintura são censuráveis... em abstracto. Cada caso será um caso.
Nesta conformidade, para desanuviar e afastar as vistas curtas renegadoras, segue um bon mot:
Um jovem pintor gabava a Arte Abstracta a Van Dongen, dizendo, com fervor:
- Eu sinto bem que nunca poderei alguma vez pintar que não com o meu cérebro!
Resposta do interlocutor, acompanhada de uma palmadinha nas costas:
- Ah! Seu miniaturista!

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Ao Pé do Santo

Santo António como O viu Murillo

Da Hagiografia mais antiga colho aquele episódio que considero o mais explicativo de muita fama posterior do mais popular dos Santos:
Outro, ainda moço, da cidade de Pádua, chamaso Leonardo, se acusou de ter dado um pontapé em sua mãe, e dizendo-lhe o Santo que bem merecia cortado o pé com que ofendera sua mãe, foi para casa e cortou-o. Aos gritos do lastimoso moço acudiu a mãe, e vendo o caso, foi-se queixar do Santo, o qual saindo do convento a consolou, e foi com ela dar saíde ao filho, unindo-lhe o pé como dantes.
Torneando as explicações especializadas, julgo estar aqui toda a raiz da fama de taumaturgo de Santo António, a capacidade de reconduzir a um estado anterior de mais saúde, o que pareceria, à época, definitivamente prejudicado, ao decepar-se um membro. A partir da taumaturgia o salto para a crença de remediador de amores é fácil, pois ao Vulgo não custa considerar as dificuldades e aspirações nesse campo como peculiar forma de doença. Veja-se São Valentim, conhecido pelas curas de epilepsia, que, igualmente veio a desembocar no patrocínio dos apaixonados.
Outra ironia que dá que pensar é a da prevenção que o grande Lisboeta escreveu contra a parte escura de cada jornada diária:
A noite, que tira o nome do facto de fazer mal aos olhos, é a tribulação ou tentação que impede o olho da razão. Lê-se em Job: Seja aquela noite solitária e não digna de louvor. A noite da tentação é solitária, quando não encontra no homem consentimento; não é digna de louvor quando o homem não lhe sorri nem aplaude.
Tenho para mim que os animais ruminantes de discursos alimentados que são as audiências dos simples não atentaram em que o Antídoto contra a solidão tentadora que o Doutor da Igreja propunha era a procura de Cristo e se abalançaram em acompanhar-se com o que tivessem mais à mão, isto é as relações mundanas, com a iluminação que os festejos trazem, tomando o lugar que seria o da aproximação da consciência à Divindade. Mas daí não virá mal ao Mundo e, lá está, se não todas, muitas são as vias boas para se chegar a Deus.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

O Dia e a Noite

Europa (pormenor) como a viu Jan van KesselDia da Europa, coincidente com o aniversário da Declaração Schuman, pioneira da integração institucional. Celebrar um património elegendo como data comemorativa adaptações jurídicas aplainadoras das particularidades que o fizeram é não pequena medida do declínio. Xavier Tilliette, pensando Paul Valéry como Hamlet europeu (com quem confrontará Husserl e Brunschvigc), chama a atenção para a vergonha de assunção civilizadora do nosso continente, sempre disposto a incensar culturas muito respeitáveis doutras latitudes, porém embaraçado perante um passado colonial que tem por vergonha.
Paradoxalmente, não sente qualquer pudor em exportar e impor aquilo que deveria deitar ao lixo, a ossatura normativa do demo-liberalismo que alegremente prega aos outros povos, e com que, não menos alegremente, os prega a lenhos só sagrados para as multinacionais. Valéry inscrevia o Espírito irradiador Europeu no que todos, salvo algum Giscard armado em constitucionalista, reconhecem - o pensamento Grego, a estruturação Romana, o universalismo Cristão. Os governantes que nos calharam substituíram a reflexão sobre os limites do Homem face ao Destino pela omnipotência humana, desde que se trate da deles, a aspiração à Justiça transcendente, embora informante da aplicação dos magistrados, pelo dogmatismo dos veredictos das maiorias e o ideal do Amor pela vileza do aluguer. Que a difusão do nosso estádio civilizacional na Expansão haja combatido a antropofagia, os sacrifícios humanos rituais e o arbítrio dos déspotas que não valorizava a vida, nada conta. Só pensam no remorso da escravatura, que existia, generalizada, antes de chegarmos às paragens que pretensamente apenas oprimimos, e continuou a subsistir, embora localizada e encoberta, depois de debandarmos.
Quando os poderosos de um quadrante geográfico pretendem exercer uma infliência desvinculada da Referência à Eternidade que é o Divino, como à Ancestralidade, expressa no que os antecedeu, estão com os dois pés inteiramente no território da noite da decadência. Basear a superioridade que os declare imitáveis apenas na bolsa elimina todo o potencial de respeito que o Culto e o Sangue - mas não a perversão de modernismo neo-pagão do Culto do Sangue - impõem. É que a roda da fortuna anda e desanda muito mais facilmente do que o Intemporal e a Linhagem. E as contas recheadas, se são aptas a despertar inveja, só nos mais pervertidos da nossa sociedade infundem respeito.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Letra da Lei

Ora bem, a Fugidia mostrou-nos a Sua letra. Lá andei a escarafunchar em locais da casa a que pouco vou e achei este guia do carácter que nos diz:
1-Escrita inclinada para a direita (de quem lê) - sensibilidade.
2-Linhas direitas sem rigidez - franqueza, rectidão.
3- Maiúsculas tipográficas - inteligência poética na escrita comum.
4- Margens estreias - economia.
5- Letras médias - dignidade.
Reconhece-Se, Querida Amiga?

terça-feira, 18 de março de 2008

Transigência (Ir)Racional

............................................Como Gauguin o viu

Podem achar uma heresia, mas nunca gostei por aí além de Mallarmé, apesar de notar a Arte, já que sempre lhe cheirei uma excessiva trapaça auto-interpretativa no método simbolista que adoptou, como se precisasse de recorrer a qualquer meio, de rigores semânticos pouco escrupuloso, para fazer coincidir com o Absoluto dos desdobramentos a que ao Livro sonhado conferiu a esperança da capacidade.
Terá acabado por acreditar que essa "norma libertária" permitiria soltar a criatividade, mas findaria por deixar a póstuma confissão do fracasso que a loucura enforma, através do reconhecimento das cisões que estilhaçam uma ordem inventiva disciplinadora, cedendo à submissão espiritual em que o Acaso domina. Com a alienada morte de «Igitur», testemunhando a secessão íntima da sombra a que chamara sua, para se fundir naquela mais escura que o envolve e supera.
Mas apesar de os truques continuarem até na palinódia estilizada do que teorizara, conseguiu uma certa estatura, muito por alimentar as ilusões que todos gostamos de manter vivas, antes de nos tranquilizar com a desilusão compassiva a engrossar as fileiras das nossas, mais tormentosas.
Foi a forma que encontrei de não deixar passar o aniversário do nascimento.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Fontes e Males

Pandora de WaterhouseTenho pena de discordar de Quem gosto, mas calar seria cobardia. O Miguel Castelo-Branco atirou-se à Geração de Setenta que, quanto a mim, é o melhor que o País intelectualmente produziu. Acho-o Injusto, Miguel. Diz que eles inventaram a Decadência, quando nem ovo ou galinha a questão é. Ela estava lá, inteirinha e reconhecida universalmente, num Fontismo de melhoramentos materiais que não satisfazia minimamente as aspirações de imagem de quem pensava. A maioria das pessoas e os Seus vergastados com ela, davam-na em confronto com o Tempo das Índias, mais tarde o Integralismo vê-la-ia começando na própria Expansão, o que me agrada, por achar que quando um Povo precisa de mais do que o espaço em que vive é o princípio do fim. Foi da conjunção de esforços civilizadores da Dinastia Filipina que surgiu Iberismo de Oliveira Martins, saudoso de uma importância que desapareceu após a perda da unidade.
Mas tenho a sensação que o Seu postal visa principalmente Alguém que não entra no grupo da fotografia. Antero. Só ele, da geração, entrou na onda que refere, de sobrevalorizar o papel da Inquisição e levantar uma Questão Judaica caseira. Mas isso não foi inventado por esta leva, senão herdado de Herculano. E o Iberismo que o Autor das «Causas...» alardeava, esse sim assanhado, era maldição ideológica dos partidos, aqui sob a capa de federalismo anarquizante, enfermando dos problemas que crera exclusivos dos do regime - a esterilização do Homem.
Foram também os partidos que vitimaram o esforço dos Vencidos: antes do mais por terem acreditado poder governar numa partidcracia, muito constitucionalmente assentes nas Câmaras, com Vida Nova de Lobo d´Ávila e um Progressismo parlamentar tomado de assalto, antes de veteranos da intriga, quais Mariano de Carvalho e Emídio Navarro, esquecerem as desavenças para garantirem a coutada. Junqueiro resvalaria de deputado desse grupo para uma outra partidite no fim renegada, a Republicana. Agora os outros? Tudo fizeram para, com o Rei - e não contra ele - savarem o País das facções. O grande erro foi não terem sido o que o Miguel diz que foram, quer dizer, não terem enveredado pelo Autoritarismo, terem entrado em composição com as eleitoralices, a ponto de o pensamento Martiniano se rebaixar às tiradas de cartola eleitorais de um Gonçalves Chapeleiro.
No mais, foram Servidores do Paço lealíssimos como Sabugosa e Arnoso, ou até Ramalho, hostis ao Rei? E Soveral que recuperou internacionalmente prestígio para um cantinho da Europa dado como nulo?
Diletantes? Por gostarem de jantar em sítios de evidência? Mas olhe que nenhum outro movimento intelectual foi tão fecundo como o deles, precisamente a pecha apontada ao diletantismo e que os visados parodiaram em Fradique Mendes.
Aquele que não gostava tanto da vida mundana é, paradoxamente, o que, pela brevidade da detença em cada ponto de exame e os saltos que logo dava para outros pólos de interesse, mais se aproximaria do estigma que deitam sobre as diletantices. Aponto-O como o fez, com intuito nuanceado, a torrente de génio que Eça foi:
Era Antero!

E em PS, para melhor ironia, peço-Lhe, Miguel, que volte a desgostar dos partidos. Não basta afixar no Blogue que se não tem um. É preciso combatê-los.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

O Céu Como Limite

Um sujeito como eu não usa o mesmo postal para celebrar duas Figuras por poupança, senão por não ser avaro na admiração devida. Andava à procura desta citação do Padre António Vieira, que cumpre mencionar em passagem de momento apropriado, até porque o mesmo vale para outro Grande Manejador da Língua que, em serviço público, Se apresta a viagem. Ao Amigo Je Maintiendrai deixo, como tentativa de esbater a mágoa de vê-Lo zarpar e reconhecimento do invejável dom de se sentir em casa seja onde for, as palavras do Grande Jesuíta:
Irei para onde me mandarem, seja África ou América, que em toda a parte há terra para o corpo e Deus para a alma; e lá nos acharemos todos naquele tribunal, onde só testemunha a verdade, sentenceia a justiça e nunca é condenada a inocência.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Mudanças Pesadas

Os Americanos adoram um dito de espírito dos candidatos a que possam tornar adstrito o resto da campanha. Reagan, na reeleição, com a piada da idade de Mondale, Bentsen dizendo a Quayle que ele não era Kennedy. Até ao momento a medalha de ouro da réplica inspirada vai para John McCain, o qual, respondendo a um Romney que procurava colar-se à imagem de candidato da mudança, tão pagante a Obama no outro partido, retorquiu, aludindo à quantidade de vezes que o Mormon mudou de posição sobre assuntos-chave:
Nós discordamos em muitas coisas, mas com essa estou plenamente de acordo, você é realmente o candidato da mudança.
E nem houve do outro lado presença para responder que também o seria no sentido que segue...
O que é capaz de ter empurrado para bem longe a possibilidade.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Publicidade Comparada

Devo dizer que não tenho dados para apreciar os méritos profissionais destes dois expoentes de clínica geral, pelo que me ficarei pela qualidade anunciante de ambos. E aqui, tenho de dizê-lo, a minha simpatia vai toda para o Prof. Karamba. Razões?
1- Na elencação dos problemas a resolver, reconhece que a Família pode apresentar preocupação, o que nem é considerado pelo seu rival, apesar de dar mais exemplos.
2- Usa umas expressivas reticências, não recorrendo ao "etc.", o repelente bordão de todos os ignorantes, começando pelo signatário deste postal.
3- Não usa o termo para mim altamente inquietante, em função do hermetismo opaco de que se reveste, que é "amarração".
4- Não coloca Crescentes inculcadores de sobressaltos, porque símbolos dos radicalismos que querem semear o terror entre nós.
5- Não emprega o irritantíssimo "portanto", num caso em que não se infere do que antecede suficiente matéria para uma conclusão.
6- Tem um site na net, nada a esconder, enfim.
7- Usou como pano de fundo a cor próxima da de um Grande Clube.
Acima de tudo: vi primeiro os anúncios dele, pelo que os 45 anos de experiência do Professor Fofana, contrapostos aos seus 42, me deixaram a impressão de serem golpe baixo para ultrapassar o concorrente.
O Marketing (aqui) é tudo!

domingo, 4 de novembro de 2007

Como a (Im)Perturbabilidade

A propósito de uma parecença física que noutra altura da minha vida me colaram a certo actor, episódio desenterrado do esquecimento nesta caixa de comentários, segue uma nota sobre como, recentemente, fui ludibriado. Encontrando na net a imagem de cima, não tive dúvida em crer nela captada uma das belezas da tela que mais me dizem: Gene Tierney, a da foto seguinte.
Eis senão quando me achei desenganado. Tratava-se de uma célebre fotografia de Moda da autoria do ex-marido da Princesa Margarida de Inglaterra, dando a fotografada pelo nome de Jane Quick, muito apropriado para simbolizar o carácter apressado da minha atribuição.
Fiquei então meditando genericamente sobre o Mistério da Semelhança e se ele residirá intrinsecamente nos seres aproximados por outrem, ou será traço revelador do contemplador deles...
Nesta última hipótese reduzir-se-ia a condição de mistério a mero enigma. E o próprio emblema dele à confusão de paralelos físicos intercivilizacionais - o Demónio Grego crepuscular da Morte e Destruição que punha a adivinha ameaçadora apenas por Édipo resolvida, como sósia do deus Egípcio Harmachis, divindade do Sol Nascente, protector da Perspicácia e da Serenidade, o vizinho das Pirâmides de Gizé, ambos metidos no mesmo saco por compartilharem a mistura de ingredientes animais que os compunham. Se a resposta continua prejudicada, a auto-interrogação ganha terreno, até porque a própria solução libertadora do episódio helénico assentava, afinal, nessoutra forma de simile que é a analogia.
Também por isto dedico o singelo post que lesteis à Terpsichore E. M. Psiche.

sábado, 27 de outubro de 2007

Como Me Rendi a Breda

Gosto de jogos de espírito, de fazer a vontade a Damas que admiro e de palrar. Não podia, em conformidade, deixar de comprar o desafio da Terpsichore, de falar sobre um quadro que me tenha dito muito. É inútil esconder o título, porque Aquele que considero o melhor de sempre tem identidade divulgadíssima até junto de pessoas pouco interessadas nas Belas Artes. Demais, diria, pois A Rendição de Breda, de Velázquez, passou com um segundo nome, Las Lanzas. E aqui penso estar uma chave, até porque é uma outra o elemento central, para leitura menos imediata do que a sugerida pelos catálogos. E qual é ela? Não penso que o papel dos dardos em absoluta verticalidade seja apenas o de dar a dimensão do contingente bélico, embora também para isso sirva. Pintor do Rei que era, o Artista quer com uma arma nessa altura já mais cerimonial do que eficaz, dar-nos a grandeza protocolar do Exército da Coroa de Espanha, face a alguma irregularidade dos defensores holandeses, preferencialmente associados à ferocidade combatente dos arcabuzes. Assim se acentuaria o Cavalheirismo de Spínola perante a capitulação de Nassau, de que parece ter tido um proveito igual à fama, o que corresponde ao verso de Calderon inspirador da confecção do quadro: o valor do vencido aumenta a fama do vencedor. A postura de ambos, inclinando-se um, confortando com o braço o homólogo, enformando um traço de união, quebraria a rigidez inicialmente esperada na circunstância. Lanças assim subvertidas dariam a medida da ironia que pudesse corroborar a percepção que Dali tinha do pintor seiscentista, como dos mais inteligentes do ofício.
Mas o que mais me afasta da interpretação dominante é o papel atribuível aos olhares das segundas figuras "para fora da pintura". Onde todos vêem apenas um meio de trazer a si o contemplador dela, eu suspeito, além disso, uma inquietação que só pode ser dirigida ao imortalizador da cena, presumivelmente por captar o instante de entendimento dos chefes, num ambiente de animosidade político-religiosa, com destroços ainda fumegantes em fundo. Assim se explicaria a diferença de expressão do auto-retrato incluído, encostado à borda direita, muito menos severo que a dos outros: com efeito, o retratado conheceria bem demais o retratista...
Não tenho memória especial da comparência, salvo que na primeira vez que conscientemente estive frente a ele tinha enchido o quarto do hotel madrileno em que fiquei de volumes adquiridos na Casa Del Libro. E a surpresa das dimensões, para que me não achava sificientemente avisado. De resto, foi a confirmação da existência real de uma obra muito olhada e algo pensada. Nada como o que aconteceu na Basílica da Santíssima Anunziata, em Florença, onde tinha ido contemplar os frescos de Andrea Del Sarto e tive o encontro até hoje mais imediato com o Sagrado, que me tomou os sentidos e falou, transportando-me, às emoções.
Bom, se isto é uma corrente, gostaria de ouvir o Je Maintiendrai falar sobre um quadro que haja desempenhado um papel capital na respectiva fruição. Estando para isso, evidentemente.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Do Espiritual Na Arte

Um achado que é notícia por más razões, pelo que se não pode considerar uma notícia que é um achado. Tudo o que tem voz na imprensa das Belas Artes - e em cantinhos da generalista - fala no "quadro que foi encontrado num monte de lixo e custa um milhão de dollars", sem que alguém medite em como essa redução de e ao valor pecuniário poderia desgostar o Pintor Rufino Tamayo, que a fez. De origem índia, sempre insistiu, contra as tentativas de engajamento nos movimentos políticos revolucionários materialistas, em veicular na sua Arte uma visão da Tradição, legitimada pela sua extracção étnica; e da espiritualidade pessoal e familiar, solidificada pela sensibilidade que exercitou.
Ladrão ou receptador que o tenha deitado fora, possivelmente por tê-lo como dificilmente vendável, a viúva do proprietário a quem o tinham roubado, insensível até ao facto de haver sido presente conjugal, de imediato o alianando, vieram afinal conluiar-se com os adversários da teorização estética do Fazedor da obra, na medida em que tenham considerado tão-só a sua avaliação patrimonial. Que deixa um travo de melancolia em quem goste de pintura. Para além do investimento, digo.

terça-feira, 26 de junho de 2007

Prioridades ao Olhar

O Astrónomo de Vermeer

Ele há destes dias. Se me vejo nas mais das vezes no desdém do cálculo, costuma ser o que procura sempre proveito no agir e no dizer, não tanto o da redução das coisas a fórmulas. Mas hoje vejo-me em maré de saturação das abstracções; e as marés, como sabe muita Gente, embora o não soubesse Galileu, são competentemente influídas pelos Astros. Pelo que nesta hora da minha vida me sinto a resvalar pelas fruições directas e a pôr um pouco à margem as conceptualizações, sempre sinónimo de cansaço, mas, outrossim, da necessidade de aplicar o capital do eu em investimentos mais directos do que a submersão nas erudições que fazem perder de vista o Sublime dos Objectos estudados. Como os pontos brilhantes do Firmamento, que, desprovidos de contacto, se tornam soporíferos.


De Walt Whitman:

WHEN I HEARD THE LEARN´D ASTRONOMER

When I heard the learn’d astronomer;
When the proofs, the figures, were ranged in columns before me;
When I was shown the charts and the diagrams, to add, divide, and measure them;
When I, sitting, heard the astronomer, where he lectured with much applause in the lecture-room,
How soon, unaccountable, I became tired and sick;
Till rising and gliding out, I wander’d off by myself,
In the mystical moist night-air, and from time to time,
Look’d up in perfect silence at the stars.