Limitação da Vida
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O poder que se traduz no domínio das mentes é tão viciante e obsessor, na crescente e insana vontade de expansão, como qualquer tendência para o coleccionismo. Não é pois de estranhar que a Televisão, cansada da facilidade e do adquirido que é a confecção das informações que comandam o Presente, tenha igualmente querido determinar o Passado. O terreno parecia prometedor, dada a ignorância da História expressa nos testes liceais e a apatia da camada da população propensa a reagir contra os donos da Actualidade.
Vai daí, o modelo do concurso era o mais prometedor. Num regime que não tem credibilidade para conceder títulos nobiliárquicos autênticos e em que as condecorações, desde que encabeçadas pela amarelada ou alaranjada Liberdade, são objecto de troça universal, nada mais indicado do que escolher o expoente nacional por uma votação que mobilizasse os telespectadores. A própria entidade organizadora poderia abichar uns ganhozitos-extra, caso conseguisse impingir um poeta, escalando até ao cimo a montanha que é o estatuto de promotor da cultura, ou lisonjeando alguma figura do regime, coisa capaz de outorgar lucros mais baixos, logo mais sensíveis...
O poder que se traduz no domínio das mentes é tão viciante e obsessor, na crescente e insana vontade de expansão, como qualquer tendência para o coleccionismo. Não é pois de estranhar que a Televisão, cansada da facilidade e do adquirido que é a confecção das informações que comandam o Presente, tenha igualmente querido determinar o Passado. O terreno parecia prometedor, dada a ignorância da História expressa nos testes liceais e a apatia da camada da população propensa a reagir contra os donos da Actualidade.
Vai daí, o modelo do concurso era o mais prometedor. Num regime que não tem credibilidade para conceder títulos nobiliárquicos autênticos e em que as condecorações, desde que encabeçadas pela amarelada ou alaranjada Liberdade, são objecto de troça universal, nada mais indicado do que escolher o expoente nacional por uma votação que mobilizasse os telespectadores. A própria entidade organizadora poderia abichar uns ganhozitos-extra, caso conseguisse impingir um poeta, escalando até ao cimo a montanha que é o estatuto de promotor da cultura, ou lisonjeando alguma figura do regime, coisa capaz de outorgar lucros mais baixos, logo mais sensíveis...
Contudo, a avidez forçou à batota. Ao imporem uma lista de onde tinha sido excluído o governante com mais tempo de exercício no País, excitados ficaram os ânimos de muitos que se conformaram com trapaças outras, ou que, por acharem que hoje nada vale a pena, se alhearam de as combater. Ganhar o Pretérito com cartas marcadas é que passava as marcas. É neste sentido que se pode falar em "voto de protesto", na escolha de Salazar como o maior Português de sempre. O grito contra o regime vigente nunca alcançaria tanto, por muito que ele o mereça, como merece. Mas pôr a nu um jogo viciado ainda é capaz de decidir à acção muitas consciências honestas. PENA É QUE NÃO SE EXTRAPOLE DESTA REVOLTA PARA A ELIMINAÇÃO DE OUTRA BATOTICE ANUNCIADA, A DA CONCESSÃO EXCLUSIVA AOS PARTIDOS DA DISPUTA DO PODER. É TÃO REPUGNANTE COMO A ELABORAÇÃO DE UMA LISTA FECHADA DE CANDIDATOS, À ESCOLHA DO FREGUÊS...
Este opinador não votou, porque não gosta de televisão, nem de eleições. Na hipótese absurda de ter outras predilecções, votaria noutro nome que não o de Salazar, não porque não achasse que a ele iria mal o estatuto, mas porque "sempre" é muito tempo. E porque a criação da Pátria ou a conformação do Mundo ao jeito dela sugeririam O Conquistador ou o Infante como escolhas mais acertadas. Porém, nestes tempos em que as névoas do embrutecimento aprisionam os passatempos da comunidade, a preferência que constitui o aguilhão capaz de incomodar a manipulação estabelecida obriga, sem constrangimentos, a soltar uma sonora gargalhada!
2 comentários:
Caro Réprobo,
Confesso que,depois de uma primeira fase em que decidira não contribuir para aquilo que achava não iria ser mais do que um circo,o que vi confirmado,aqui na blogosfera,aquando da intervenção do Prof.José Hermano Saraiva,em que,parece,pouco terá faltado para se chegar ao insulto,achei por bem,quando soube quem eram os dez "apurados",ajudar o meu "eleito"a ser relembrado pela História.
Foi assim que votei em D.Afonso Henriques,ainda antes de ter passado o Documentário que assegurou a sua defesa(e acho que merecia uma melhor defesa!)apesar de reconhecer os méritos de outros dos "candidatos":tendo sido por essa altura que comecei a acompanhar o programa,ainda que muito irregularmente,indignei-me quando,durante uma das emissões,um Professor de História(?)de Coimbra disse,pelo telefone,não saber justificar perante os seus alunos a presença de Salazar entre os dez finalistas.
Compreendo,por isso,muito bem a sua gargalhada!
Sapiente Cristina,
estamos, como se vê, em grande sintonia. Só lamento a incorrecção como constante estilística do Doutor Torgal, se calhar uma insistência infantil em assegurar que nada tem a ver com o credo nacionalista de respectivos familiares, mostrando serviço através da violência verbal...
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