sábado, 31 de maio de 2008

Beber Com Conta Serrada

Serradayres, numa garrafita, pode ser um estímulo agradável, serra d´ares deste tipo é uma piela demagógica...

Sem Curas de Trazer Por Casa

O Vendedor de Tisanas, por DunkerA situação que percorro levou-me a meditar sobre a incontestável sabedoria popular do dizer Cautelas e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém. Aplicada ao caso, serve tanto para legitimar a assistência domesticamente prodigalizada, como o recurso à especialização profissional. Há sempre um elemento de dúvida, neste domínio, o de pecarmos por excesso, ou por defeito; mobilizar respostas desproporcionadas, correndo o risco de ceder a alarmismos da vizinhança da hipocondria por procuração, ou repousar sobre impressões de leigos, apesar de nossas. Tenho para mim que é sempre quando o optimismo triunfa que fica concedida a margem para ele ser desmantido. E por isso vou pelas cautelas, que não são de penhor, a não ser o do reconhecimento da beleza e semi-transcendência do acto de curar.
Como escreveu, em versos de poesia discutível, mas esperança justificativa, Eugénio de Carvalho Júnior, dedicando-os a um recém-chegado à Medicina, que se acabara de formar,

SER MÉDICO

Hoje deixas a vida de estudante
Para seguir a tua carreira amada.
Já vai ficando longe, bem distante,
A vida que levavas, descuidada.

Feliz por ver-te alegre, triunfante,
Teu mestre, que seguiu tua escalada,
Vem te dar um conselho neste instante
Em que inicias, firme, outra jornada:

Ser médico é ser bom! Sem ser perfeito
Há de trazer um coração no peito
Sensível «como bússola da dor»!

Ser médico é ter sempre um lenitivo,
Uma palavra amiga, um incentivo,
Uma mentira... se preciso fôr!

Um Bloguista Em Cuidados

Outra variante de A Doente e o Médico de Jan SteenRogo aos meus Leitores que perdoem a ronceira marcha da postagem de hoje, mas vivo as preocupações de ter a minha Mãe sob observação numa urgência hospitalar, depois de uma queda que nos assustou muito aos dois. As indicações dos exames, felizmente, desmentem receio de lesões graves, restando o doloroso de fortes traumatismos sobre fundo de anemia. Mas claro que quer a necesidade de acompanhamento, quer a angústia emergente, não são propícias a postais muito elaborados. Contudo, não havendo motivo de força maior, tentarei manter-me na vossa companhia.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Sem Abrangência Deontológica

Compreendo perfeitamente que, sendo Jornalistas muitos dos Confrades do Corta-Fitas, não possam, pelas regras profissionais, mesmo às Sextas-Feiras, divulgar as Fontes. Não me achando sujeito ao mesmo código de conduta, cá Vos deixo Federica Fontana...

Janelas Abertas

Passando a apresentar outra das aquisições recentes, tenho como grato poder ver um autor de outra nacionalidade encontrar nos Minhotos, que constituem um Nicho importante dos Meus Leitores e Amigos, aquele misto de actividade e sonho que julgo ter sido o que levou a Cristina Ribeiro a considerar-Se "um bocadinho nefelibata, mas só às vezes".
Da Província do Minho - mais exactamente nomeada Entre-Minho-e-Douro - os portugueses dizem de bom grado que é o paraíso lusitano.
(...)
Os Minhotos têm rostos claros, leais e limpos.
(...)
O calor do clima, a atmosfera húmida, uma sombra velando frequentemente o brilho vermelho do sol, o tom mais surdo mas ainda verdejante da região, fazem-na uma espécie de Bretanha meridional de que a melancolia não está, no entanto, excluída. O Minhoto é um sonhador mais metódico, mas também mais feliz do que o Transmontano, ou o habitante das Beiras.
Uma canção extravagante e algumas palavras feitas para a rima quiseram que os portugueses sejam alegres. Uma tradição bem estabelecida afirma que eles são tristes.
(...)
Nas classes mais educadas, onde o amor do país, o orgulho nacional são tão profundamente ancorados, a recordação das glórias do passado acrescenta à sua amargura. Este país, como varanda da Europa, desempenhou um papel tão fulgurante que ainda está um tanto deslumbrado dele. E por um singular ricochete, quanto mais um português é orgulhoso do seu passado, quanto mais ele mede com um tanto de amargura a diferença entre outrora e hoje, mais tende a tornar-se injusto para com a sua pátria, quer denunciando-lhe cruelmente os enfraquecimentos, quer não suportando que um estrangeiro o faça. Renascendo, segundo o esforço que empreende desde 1926, o país não dará mais azo a essas amargas críticas voltando a dar aos Portugueses mais confiança no seu destino.
Devo contestar num ponto essencial. Não creio, embora as peripécias históricas possam desculpar o diagnóstico, que o fulcro do tormento da reflexão que sobre nós fazemos tenha por base o tempo e a comparativa perda de importância. Essa é a ligação de estranhos cultos a isso predispostos, como a dos melhores espíritos patrícios, desejosos de afastar de si o mobil da Inveja. Não, não é sobre o Tempo, é sobre o Espaço o olhar que nos fere: verificarmos nos outros nossos contemporâneos a pujança e as realizações que nos desejaríamos, com o inerente esmorecimento fatalista que nos dá como delas incapazes. Por isso mesmo, ficamos igualmente tão escancarados à cópia do que se faz lá fora, o que doutro modo se não compreenderia.
O que não impede que este analista da nossa psique tenha acertado ao vislumbrar a última tentativa segura de construção genuína e isenta dessas duas pechas.

Eterna Insatisfação

Twig Com Chicote de Marc Luscheraqui disse o que me ocorria sobre a orgia masoquista do Presidente da Federação Internacional Automóvel, Max Mosley. E acho uma parvoeira completa a demissão que se prepara, por confundir o público com o privado. Agora, quando ele se queixa de que a revelação das imagens o humilhou, tenho de reconsiderar, será que, conhecendo-lhe os gostos, não estão a tentar dar-lhe mais prazer ainda?

A Nutrição da Porca

Com esta notícia pode estar em curso uma reabilitação do Dr. Menezes, já que num partido de calotes, tão representativo da importância deles na Economia Lusa, a sua renúncia pode passar a ser vista como sacrifício que permitiu a recolha de fundos, de forma a sair airosammente das sanções a que cofres vazios ameaçavam sucumbir.Mas veja-se o quão divorciados estão partidos e Todo Nacional: nos primeiros uma eleição é factor de enriquecimento, enquanto que os sufrágios respeitantes ao conjunto inteiro não fazem senão agravar a penúria.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Lógica da Língua

Nas duas últimas semanas têm aparecido nos muitos jornais umas curiosas e mais que notórias carpideiras lamentando que os Portugueses, maxime os Jovens, estejam de costas viradas para os políticos. Deixemos a menção às idades mais tenras, explicável por não serem vistas como suficientemente calejadas para resistir aos cantos dessas sereias roucas que pouco dão, para além da própria propaganda. Que motivo há de espanto nesse afastamento? Vox populi, vox Dei, a própria etno-linguística popular nos diz que era antigamente muito usada a expressão ando político com Fulano, segundo Alexandre de Carvalho Costa, como sinonímico de estou de relações cortadas com..., ou ando zangado com...
O mesmo estudioso nos diz que isto teve origem no pluripartidarismo e respectivas discussões, as quais muitas vezes culminavam na extinção da amizade entre os intervenientes. Há, portanto que concluir que nada mais lógico do que andar político com os políticos, pois eles assim andam com o Povo. E se no começo do regime algum entusiasmo ainda existiu, eram os rendimentos que o Estado Novo deixara a falar mais alto, não lembrando as gentes o que houvera antes.
Tudo voltou ao mesmo, para avivar-nos a memória.

A Inclinação da Grandeza

Passagem de mais um aniversário de G. K. Chesterton. Já fui dando aqui, ali e acolá umas pinceladas sobre Ele. Hoje, do extraordimário polígrafo que intuiu ser a Arte como a Moralidade, por traçar a linha algures, gostava de falar da vertente menos conhecida por cá, a generosidade que leva à admiração reconhecida. No nosso Mundo calhou a ser a figura do detective a herdeira do prestígio que outrora cabia aos profetas, pois onde os nossos Avós desejavam saber as consequências da sua acção, não cessamos nós de nos interrogarmos sobre o quão baixo descemos e acerca das motivações criminais dos piores do grupo. Desta forma, Conan Doyle moldou o seu Sherlock à memória de um professor que tivera na Faculdade de Medecina, o Dr. Joseph Bell, o qual, esse sim, empregava a famosa expressão Elementar, meu Caro, cuja busca faz desesperar os calcorreadores das aventuras do investigador ficcionado.No caso chestertoneano foi o homem que o levou ao Catolicismo, o Padre de ascendência irlandesa John O´Connor (não, não é o pedófilo famoso, é outro, anterior), resultando do convívio com ele a inspiração para o Padre Brown. Claro que a obra do escritor eduardiano é muito maior do que os contos policiais, mas estes são uma espécie de brasão das suas armas. No sacerdote de carne e osso encontrou um conhecimento incomparável da atracção humana pelo Mal, que o fez rir dos estudantes e assistentes de Cambridge, presunçosos como é fácil em universitários jovens, os quais exprimiram ao seu mestre reconhecimento pela erudição, mas dúvida sobre o seu entendimento da vida real. G. K., que fora por ele inteirado, pouco antes, de algumas perversões que nunca imaginara, disse mais tarde que a ciência da Maldade a que Homem pode descer, naquele eclesiástico, fazia os seus desdenhadores parecer meninos de coro. O que o outro justificava, dizendo que as horas de confessionário poderiam ser muito aborrecidas, se não se extraísse delas um genuíno saber no campo. O que permitisse equacionar as tentações, prejudicando a incógnita, acrescento por minha conta e risco.
Ao contrário de Brown, O´Connor era um versadíssimo apreciador de Literatura e Belas Artes, tradutor de Claudel e Maritain, iniciador da Juventude na apreciação da poesia de Thompson e Hopkins, possuidor de um pequeno museu na sua própria casa. Mas na naturalidade com que o aniversariante do dia proclamava a sua reverência por uma figura indiscutivelmente menos conhecida residia a simplicidade do verdadeiro Dom, a de utilizar os muitos talentos para inquirir e aprender, no trilho pedregoso do deslindamento do mistério dos abismos a que pode dirigir-se a alma humana.

Sexo, Mentiras e Vídeo

A divulgação de registos audio ou video contendo performances sexuais de políticos tornou-se um hábito contemporâneo, ainda antes de serem ofuscadas por gravações de crimes como em Abu Grahib, ou patifarias menores, quais a da luta escolar pelo telemóvel. Estou mesmo em crer que estas últimas fazem parte da onda geral de aproximação dos Militares e da Juventude aos seus governantes...
Mas voltando aos homens do leme, normalmente essas provas eram usadas por adversários, com o fito de lhes destruir as carreiras. Novidade, novidade é o que se passa com o Governador da Florida, Charlie Crist, suspeito junto de alguns de ser gay. Apoiantes seus divulgam agora uma cassette dele, envolvido com a namorada, para provar o contrário. Ora, o homem é solteiro, não pode fazer da vida pessoal o que quer? E muita dessa fama parece vir da simpatia que destacados activistas homo lhe não escondem, uma espécie de diz-me com quem andas dir-te-ei quem és.
Temo é que naquele país viciado em espectáculo os adversários não tardem em analisar a convicção e - quem sabe a competência - posta em imagens para... argumentarem que se trata de um simples exercício de representação. Uma coisa é certa, prestar-se a isto tudo, só de quem quer mesmo ser vice-presidente.

Declaração de Intenções

Finalmente ganhei coragem. Como nos dois casos em que postei aqui fotos tiradas com uma camarazita digital de bolso comprada há meses a receptividade se revelou assinalável, passo a andar com ela enfiada na algibeira, verdadeiramente para o que der e vier. Estou a isso determinado ainda pelo desgosto de não ter fotografado o telefone verde abandonado na rua, que poderia agradar à Nocas da Cor. Mas há mais, sempre apavorado pela ameaça do País dos Lotófagos, essas poções do Esquecimento que assombram o Ocidente desde a «Odisseia», tentarei preservar aspectos eminentemente perecíveis do tempo que passa.Como tentarei dar a minha visão de algumas coisas de forma mais feliz do que as minhas limitações expressivas e domínio da Língua consentem. Não tentarei fazer fotografia artística, que isso é para Quem sabe. E não me imporei mínimos de publicação: em aparecendo algo que puxe por mim, capta-se. Não aparecendo, não se força. Pena que não possa fotografar o Passado que se pôs a andar! O título da rubrica, o do post anterior, é o de célebre colecção de uma editora francesa, quando publicou relatos menos conhecidos de pessias que presenciaram sucessos conhecidíssimos. Enfim, proporcionando-Vos a base visual das minhas percepções, espero aumentar a interacção que me faça estimar o aparelhito da forma graficamente documentada.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Há Sempre Lá Um Reporter - 1

Será que a insurreição já começou?
Hoje à tarde, num muro contíguo à estação ferroviária de Cascais...
Afiança-se que apenas se tirou a fotografia, o papel estava mesmo lá colado!
Foto reprobábel

Estender à Letra

A Once In A While passa, com Distinção, mais um anito. Se eu não postasse esta canção, pelo afecto e admiração que Lhe dedico, não seria digno de ser chamado amigo da Once, seria apenas um amigo da onça. Dizzy Gillespie no fundo da canção homónima da Celebrada

Encorajamento

E para Todos os que pensem, na sequência do postal anterior, que mudar o triste estado de coisas que vivemos é como levar a carta a Garcia, lembro que o estafeta que originou a expressão o conseguiu. E digam lá que não valeria a pena, tratando-se de Danna Garcia? Mas para os que se contentassem em ficar por aí, recordo outrossim que o carteiro toca sempre duas vezes. Assim polissemicamente se fala, um bom português.

Invocação de Maio

Nos dez anos da Revolução de Maio era assim. Hoje, nos oitenta e dois que faz, é mais assado. A movimentação dera-se para evitar que o fraccionamento sucessivo do País obstassem à tranquilidade das Gentes que não viviam na e da agitação política e queriam trabalhar, viver e rezar sem serem ameaçadas pelo Poder. Hoje não se vive um quotidiano homicida, por influência directa da governação. Mas aumentam as tentativas de promover divisões, ao ponto de dar como elogiáveis as políticas fracturantes. Cresce a insegurança emanada da violência criminosa, por culpa de responsáveis políticos que, se não são já mandantes, pela tibieza e boa vontade que manifestam para com os infractores, deles se tornam cúmplices. E corta-se nos direitos sociais dos que vivem do seu labor, como na simpatia, mesmo que não-praticante, que o Culto tradicional inspira. A confiança de tudo poder, até o abuso, alimenta-se de dois pilares mais apodrecidos do que os da ponte a tragédia de Entre os Rios - a Europa não deixar mudar o regime e a hierarquia militar, ao contrário da de 1926 estar domesticada. Ilusões! Bruxelas é, como factor político internacional, tão impotente como Lisboa. E aprisionar a força armada na caserna, a prazo, será apenas a maneira de fazer rebentar cortes mais violentos de reacção à doença que os partidos espalham. Mal as pessoas tenham um lampejo de como reagir.

Terramotos e Cicatrizações

Quem não recorda o exemplo Romano de Marco Cúrcio? Aquele que, perante um horrendo abalo de terra que abrira fenda descomunal na zona do Forum, acrescido do vaticínio dos áugures segundo o qual as terras só voltariam a fechar quando a Cidade lá deitasse o seu maior tesouro, viu este concretizado no valor das armas e corporizado em si, pelo que se precipitou no abismo, operando-se, de imediato, o efeito pretendido.
Na China de hoje procede-se ao contrário. Deixa-se que os pobres pais atingidos pela desgraça de filho morto ou incapacitado pelo sismo mastodôntico que se conhece venham a poder ter mais um. Tentativa de contrapartida da dor, dirão uns, cálculo da melhor maneira de entreter, estagnando vontades insurrectas, desconfiarão outros. Mas a ironia vingadora da questão está em ser o tremor do solo o tímido veículo corrector de um abismo muitíssimo maior - o da limitação oficial da procriação, afinal a paroxística expressão do totalitarismo.

Mulheres & Mentiras

A Fugidia põe-nos a questão de a amizade, na vertente da conversação franca, apenas poder ocorrer entre homem e Mulher, conforme terá teorizado Ramalho Ortigão. Querida Amiga, gosto de muito o que Ramalho escreveu, mas não lhe dou qualquer crédito em matéria de teorizações sobre o Belo Sexo. Para louvar, deixava-se cair na necessidade de estabelecer regras de correspondência impossível. E como se amarrava a cada juízo que exprimia, o vício de querer fazer as crónicas agradar ao cientismo dominante na Passagem do Século dava-lhe para arranjar fundamentos dos mais extraordinários. Não me acredita? Ora vou dar-Lhe um rol de citações com que não poderá concordar:
Lisboa não tem beleza nem higiene para fazer lindas as mulheres.
e
A mulher de Lisboa é das mais feias da Europa
ou, para celebrar o Mulherio de Viana, aquelas que nunca, em parte alguma, tiveram mais lindas competidoras:
A mulher de Lisboa é feia pela persistência de influências que, actuando consecutivamente sobre os indivíduos, acabaram por determinar uma feição da raça.
E segue um longo artigo em que dá como responsáveis a falta de árvores que suavizassem o clima, a escassez e má qualidade da água, a higiene deficiente e malnutrição em minerais e a carência de museus.
Dizei-me, pode-se confiar em quem emite destas opiniões sobre Tal Tema?

terça-feira, 27 de maio de 2008

Palavras Sobre Canhões

A 27 de Maio de 1941 foi afundado o couraçado alemão Bismarck, depois de três dias antes ter infligido igual sorte ao cruzador de batalha britânico Hood. Mais do que o interesse bélico, ficou-nos o do valor simbólico e propagandístico desses tristes fins. O problema maior foi o prestígio acumulado durante uma vintena de anos pelo vaso inglês, entre os dos das duas guerras mundiais, como o maior navio de combate do Mundo, apesar de deficientemente reforçado na bjindagem, o que não transparecera. O público passou a ver nele toda a Royal Navy, e como nesta lia a sua sobrevivência, a rever-se no navio. Por isso Churchill, sabendo do seu fim às mãos do inimigo, deu a ordem Afundem o Bismarck por todos os meios, dizendo, em voz mais baixa, para o Secretário da Guerra: No dia em que as pessoas não confiarem mais na Marinha a guerra estará perdida. Como o intervalo foi de três dias apenas, conseguiu-se uma extraordinária reconversão anímica, fazendo suceder o triunfalismo da vingança ao que mal tinha começado a conhecer-se como desmotivação do desastre. E, por uma vez, a propaganda falou verdade, ao inculcar a ideia de que, com o emprego aeronaval que Hitler não aprovara em larga escala no curto prazo, a sorte do domínio dos mares estava favoravelmente decidida. Neste evento, a morte do colosso alemão começou pela acção certeira dos aparelhos transportados pelo porta-aviões Ark Royal. No imaginário popular estava garantido o fogo que informaria a própria letra de canções como a de Johnny Horton.

Indecoroso É o Senhor!

A Evolução do Latrocínio:Por estas e outras rejeito o Liberalismo e não ligo peva aos Socialistas a que temos direito.
(recebido por e-mail agorinha)

Explicaçao dos Pássaros...

...que voam para longe, apesar da promessa de carcanhol garantido.É que um monstruoso erro de casting transformou certa imagem da área de conhecimentos em questão, dando-lhe enorme publicidade negativa. Ninguém quer ser como esta gárgula que, aposto, nem a Zazie conhecia...

A Sopa do Pobre

Sopa de Sue VeselyPois, ao contrário da camada esperançosa do País, eu sou igual a mim próprio todo o ano. Sopinhas, nada, seja Verão ou Inverno. Nem é tanto o horror a levar sopa nas pretensões que formule; ainda em idade de não as ter já empurrava com a língua a colher com que Mãe ou Empregadas ma tentavam impingir. Até que se contratou uma Minhota do Gerês, grande contadeira de histórias a qual, assim, me levava à certa.
Adulto, irrita-me aquela finura dos cremes e das canjinhas, talvez por me desgostar algo com nome de aplicação superficial, ou com fonética igual à das facilidades, na gíria. Só abro excepções para caldos fortes, tipo feijão com arroz, grão, ou essa de Pedra, que, em Almeirim, permite ao talher ficar de pé, nele enterrado.
Mas claro que este tentame de me grudar como lapa a um relatório que só à Juventude respeita é tentativa mais do que descarada de se dar uma nova um pobre sujeito que não pede senão... sopas e descanso.

O Peso da História

Pedem-me a Cristina Ribeiro e o Tiago Laranjeiro que dê conta dos 57 volumes que, ontem adquiridos, terão contribuído um pouco mais para me arrasar a coluna. Fá-lo-ei, à medida que os assimile e de acordo com o merecimento que lhes ache.
Começo com o que, fisicamente, menos pesou, embora outro tanto se não possa dizer, no aspecto espiritual. Estas 11 páginas de Alberto de Monsaraz não sei se serão raridade, mas foi a primeira vez que vi um exemplar delas. O Grande António Manuel Couto Viana não as refere na sua antologia «Poesia Monárquica Portuguesa», embora inclua nela versos posteriores - e melhores - do Autor.

Trata-se de um longo poema escrito na ressaca da implantação da República, datado de Outubro de 1910, em que as quadras tocam os pontos altos de cada um dos períodos da nossa História, durante os séculos de construção, pela Coroa. Não os transcreverei, por a dimensão de um postal não comportar. Mas posso dar-Vos a primeira e última, referentes à ruína destruidora que chegara:

Reino de Portugal, cumprem-se os fados,
Filho de heroes, baqueaste no caminho;
Vivias mal, por mal dos teus pecados,
E agora, morres misero e mesquinho

(...)

O´ desditosa Patria minha amada,
Epopeia do Povo e da Realeza,
Não tens Reis, não tens Povo, não tens nada...
Quebrou-se o encanto, Patria portuguesa!

segunda-feira, 26 de maio de 2008

O Que é Que a Itália Tem?

Tenho a maior dúvida de que Scolari consiga, apesar do golpe dos sócios, motivar atletas e público como das outras vezes. E mesmo que esteja errado, há uma certeza. Nunca se estará perante tão grande infusão de querer como no Mundo Transalpino. Enquanto a Federação Portuguesa de Futebol continuar a ser mais papista que o Papa e estabelecer substâncias proibidas que não constam de interdições internacionais e às quais não se vergam os adversários, não vamos longe. Quem são os Campeões do Mundo, Quem são?

Fogo & Frigideira, SA

O Prof. Eduardo Lourenço, por quem tenho tanta consideração intelectual, como de que nutro divergências de posição, diz que o PSD e o PS são alternativas à mesma coisa. A expressão, a princípio, pareceu-me infeliz, pois o que aparentava querer dizer é que não se constituíam, reciprocamente, em alternativa. Depois pensei, o que por estas bandas ocorre sempre com dificuldade. E percebi a razão, claro que ambos são alternativa a uma via sensata e coerente do exercício do Poder. Não estranhamos nós, os que nos situamos de fora do regime, que os seus expoentes sejam duas faces da mesma moeda. Mas quando a melhor cabeça pensante do Sistema vem reconhecer que a moeda está viciada, nem sequer concedendo a possibilidade de um cara ou coroa honesto, o alardeado ponto forte desta opção conbtitucional, a alternância, fica reduzido a cisco. Nunca tendo reconhecido bondade de semelhante proposta, não tenho o que lamentar. Mas é sempre esclarecedor ver explicitado, de facto, o carácter fraudulento do conteúdo ideológico com que tentam enganar o Povo.

Wuthering Hights

Rise de Susan MadsenMuitos ficarão surpresos com a compra de meios de difusão religiosa pela decrépita «Penthause». Não é o meu caso: nem tanto por me entrar pelos olhos adentro ser, na nossa época, o erotismo, como a religiosidade, tido como maneira de atingir o Céu. Antes porque, no sector imobiliário, o conceito de penthouse envia expressamente para as alturas; e por, na pouco rigorosa sociedade em que esbracejamos, ser associado a um estilo de vida luxuoso: é que, reciclando-se a actividade do grupo empresarial citado em populares sites de promoção de encontros, está a prometer altas sociedades, o que, na imaginação dos simples, pode ser tido como a sopro da ascensão à Alta Sociedade, ficando os esses finais justificados por boiarmos numa pretendida estrutura plural...

Nihilismo à Vol D´Oiseau

Almas Gémeas de James Everett StanleyQuerida Charlotte, é honra, quase tão grande como a alegria, haver a minha alma sido geminada com a Sua, em resultado do inqueritozito. Tenho como certeza absoluta que se trata de uma semelhança do jaez da documentada na imagem de cima, a do esforço artificioso (meu) de quem tem em mente o Exemplo (Seu) de um bater de asas grácil, facílimo e natural.
Quanto à inquietante presença do nihilismo - ou niilismo, se preferirem -, já me coloquei em campo para encontrar ginásio onde queimar essa superfluidade gordurosa. Se bem que, interrogando-me acerca da natureza do "nosso", tenha obtido a resposta seu palerma, nihilismos há muitos. O que me levou a acreditar que se trate daquele grãozinho de sal que nos impeça de cair numa totalidade apolínea que afaste ou canse as Pessoas que nos rodeiam...
Mas a panaceia contra a "negatividade da Negação" encontrei-a no Chesterton que, Deus seja louvado, anda a ler. No conto do Padre Brown «A Forma Errada» um guru oriental responde ao inofensivo sacerdote, por três vezes, que nada queria, inquirido sobre o que pretendia. E o detective improvisado daí retira:
Quando disse pela primeira vez «Não desejo nada», isso só significava que ele era impenetrável e que a Aria não se rende. Depois voltou a dizer «Não desejo nada», e eu percebi que ele queria dizer que era auto-suficiente, como um cosmo, que não precisava de nenhum deus, nem admitia quaisquer pecados. E quando ele pela terceira vez disse «Não desejo nada», disse-o com um olhar inflamado. E eu sabia que o que ele queria dizer era literalmente o que disse, que nada era o seu desejo e a sua casa; que não sentia a falta de nada, nem de vinho, senão do aniquilamento, a destruição de tudo ou de qualquer coisa...».
E já antes tinha concluído:
O cristão é mais modesto, quer alguma coisa.
Homem Pensando no Background do Nihilismo de Heather Elizabeth Pielke

domingo, 25 de maio de 2008

Exercício de Admiração

Como estou extenuado, do movimento do dia, vai só um postal de gratidão à grande Blogista que é a Meg, não só por nos dar as últimas da frivoleira de Cannes, mas, muito principalmente, por soltar um hossana mais à Sharon Stone de que já me confessei adorador. A minha postura em relação à única SS consensual é, mais ou menos, a que Alexander Lyamkin nos deu em Adoração, aqui mesmo abaixo. Como penhor de gratidão, fica uma gravura antiga da Cidade das Mangueiras, essa Belém do Pará onde vive a Nossa Amiga. Cliquem, que vale a pena aumentar.

Ir ao Fundo da Questão

A Cristina deu aqui o mote para tanger outra cítara: a do enraizamento no nosso inconsciente, tantas vezes confirmado na História Política, do preconceito de que uma renovação só se consegue com o sacrifício do pescoço de alguém. Nas inaugurações minhotas é o galináceo o sacrificado, decerto porque tendencialmente universal símbolo da sobrevivência e da ressurreição, que se quer estimular com esse corte radical...Mas já Alexandre Magno, segundo a lenda, teria recorrido aos poderes sobrenaturais da associação. Escapado pelos 11 anos à vigilância de Aristóteles, fora mergulhado numa gaiola precursora dos batiscafos no Oceano Índico, de que queria conhecer os habitantes das profundezas. Os marinheiros encarregados de o puxar de volta à superfície foram dispersos por uma tempestade. Mas o desembaraçado Príncipe não se atrapalhou; e matou ali mesmo um galo que consigo levara, pois era pacífico à época que o mar não suportava sangue fresco no seu interior, daí resultando que o mergulhador e seu receptáculo fossem por ele cuspidos de volta.
Tendo perdido de vista as razões primeiras do relato, é bem possível que o desfecho, perdurando na memória do Ocidente, tenha estado na base de aspergir os cascos de algumas das primeiras barcas da nossa Expansão com sangue de galicoque, antes de serem deitadas às ondas...
Parafraseando muito livremente Pascal, se o bico do galo se abrisse mais tarde para cantar, a sorte do Mundo - e a dele - poderia ter sido bem diversa.

Madame De...

Ainda para ilustrar, de forma pouco antecipável, como o espartilho pode corporizar a luta entre a liberdade e a escravização de uma Mulher, cumpre lembrar uma história curiosa. Kitty Schmidt, a proprietária da mais célebre casa de meninas da Berlim do tempo de Hitler, tentou passar-se, com a astronómica soma de mil libras escondidas no corset, para fora das fronteiras do Reich. A razão? O medo de aceder ao ultimatum de Heydrich, o qual queria utilizar o estabelecimento e algumas seleccionadas profissionais dele para recolha de informações sobre as elites nacionais e estrangeiras que o fequentavam. Apanhada, teve de ceder, sendo instalada na sua afamada pensão, pelos inevitáveis expoentes da Gestapo e SD Naujocks, Schellenberg e Schwarz, um sofisticadíssimo sistema de escutas, que deu para, entre muitos outros, ouvir as confissões de Ciano e de um falador diplomata da Embaixada Italiana. O próprio Heydrich foi escutado, numa distracção do responsável pela espionagem do local, que custou a este a ida para a Frente Russa num batalhão disciplinar SS. Em 1942 uma bomba aliada destruiu o confessionário, ultra-eficaz porque involuntário. Foi reconstruído o prostíbulo noutro local, pelos SS, mas o seu melhor tempo tinha passado.
Para os cinéfilos, foi esta uma das fontes em que se inspirou Fritz Lang para o derradeiro filme da série «Mabuse».

Os Dias da Rádio

Costumo assumir com candura a condição de repelido das televisões, pela degradação que se vem observando, em crescendo, no apelo superficial a que as imagens recorrem. Também assim em matéria de debate, cada vez mais orientado para a impressão colhida pelo olhar, desde o primeiro televisionado em marga escala, o de Kennedy contra Nixon, em que os meros auditores deram vitória substantiva ao então Vice-Presidente, o contrário do que aconteceu com os telespectadores, que preferiram o jovem Senador.Também no comentarismo, pouco a pouco, tenho canalizado a minha atenção para a Rádio, de onde julgo poder extrair-se mais sumo. Desde os tempos heróicos do «Flashback», apesar de a presença de actores políticos activos poder prejudicar a qualidade da troca de pontos de vista, pelos pontitos que quisessem marcar. Sem tais contras, gosto de ouvir o «Com Sal e Pimenta», nos Sábados da Renascença. Sem voos de águia, mas com senso e alguma sensibilidade, Francisco Sarsfield Cabral, Manuel de Lucena e João César das Neves costumam passar em revista os factos importantes da semana, tocando com seriedade as feridas mais importantes.
Mas isto, até ontem. Aí, foi o descalabro, quando se puseram a falar do que poderia, para além da vice-presidência, ser dado para satisfazer as ambições de Mrs. Clinton e fazê-la apoiar Obama. Concordaram todos, num unanimismo desconsolador, que a Presidência do Senado estaria em cima da mesa. Quanto mais fundo iam,... mais se enterravam, deixando clara a confusão entre as duas câmaras e a ignorância de que é a Alta, a dos Senadores, a que pertence Clinton, a que automaticamente é presidida pelo... Vice-Presidente. Foi confrangedor como manifestação da falta de estudo do tema que se propunham tratar. A minha ligação à telefonia sem fios, que me dava a ilusão de liberdade, face ao pequeno écrã, já conheceu melhores dias. Doravante, continuarei a ligá-la, mas como ruído de fundo dos meus almoços de Sábado, simplesmente.

sábado, 24 de maio de 2008

Justiça à Minha Senda

Como o Jansenista foi dado como motivado pelo Existencialismo, coisa de que sempre suspeitei, resolvi fazer este quiz, para saber o que achavam que me faz correr. Deu a Justiça. Não sei se o conseguirei, mas é coisa que me agrada imaginar.
À Vossa Superior Consideração.
A Justiça, por Rafael, de que guardo uma reprodução pendurada na parede



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You scored as Justice (Fairness)

Your life is guided by the concept of Fair Justice: Everyone, yourself included, should be rewarded and punished according to the help or harm they cause.

"He who does not punish evil commands it to be done."
--Leonardo da Vinci

?Though force can protect in emergency, only justice, fairness, consideration and cooperation can finally lead men to the dawn of eternal peace.?
--Dwight D. Eisenhower

More info at Arocoun's Wikipedia User Page...


Justice (Fairness)


85%

Existentialism


75%

Divine Command


75%

Kantianism


60%

Utilitarianism


55%

Hedonism


35%

Nihilism


20%

Strong Egoism


10%

Apathy


0%


Gáudio


Hoje senti-me um verdadeiro atleta: na sequência de um célebre concurso, vi-me medalhado pela Fugidia com uns portentos de criatividade, para mais atestando o asilo que me concede na Magnífica Toca.
Para o quadro ser perfeito, ainda veio uma Menina entregar-me flores, no caso uma Grande Bloguista que inicia carreira a solo. Há dias em que não só subimos ao topo, como nos quais sentimos, literalmente, estar no Céu

O Contrário de Chávez

O Amor da Pátria no Palácio da AjudaTanta reflexão desesperada sobre o Silêncio de Deus, mais não traduzindo do que a nossa surdez, gerada e geradora da impotência ou desistência de construir uma Sociedade Cristã, quando o maior enigma, embora de solução aparentada, respeita à afonia da Pertença Ancestral, quando esperaríamos que se definisse. O Tempo que nos agrilhoa não finda enquanto o Conceito existir. Não se está no término de um segmento de recta, a incomensurabilidade da permanência do Nexo Nacional pode, na vertente afectiva, aparentar a interminabilidade. Pelo que qualquer interrogação sobre o momento que ele atravessa e a fase civilizacional que anuncia, é questionário ao espelho. Só a nós cabe responder às perguntas que o pânico de nos vermos abandonados por Instâncias Maiores faz para Elas reenviar. Não percebendo o que perceberam os nossos Avós - que apenas sendo dignos de Quem nos fez ganhamos a segurança da Sua Proximidade. Nessa resposta residem as chaves.
De Natália Correia, com o alcance ampliado que destacar da inserção dá:
Ó Pátria minha misteriosa
que da Europa és a esfinge! És o rebate
de uma última pedra preciosa
ou és cedo demais num tempo acre?

Sempre em tua estação de desditosa
deste mirtos em campos de vinagre.
Dá-nos consolação ó nebulosa
sepultada no bago do milagre.

Serás morte? será a comovente
despedida do Anjo do Ocidente
que a flor perdeu anunciando balas?

Nas quinas és a urna de um segredo:
guardas a noite? o dia? és tarde? és cedo?
Louca e triste, ó Mãe, porque te calas?

Prevenir ou Remediar?

Na Nova Demanda do Espartilho, dei com este Um Pouco Mais Apertado! de Thomas Rowlandson, que creio, evidentemente, solidário com a luta na ordem do dia...Mas ninguém e tira da cabeça que os tiros contra as montras das confeitarias portuenses foram trabalho de batedores, integrado na mesmíssima jornada...

Ódio Sem Estimação

Querem saber o que eu odeio, mesmo bem odiadinho? Este tenebroso objecto seiscentista do Castelo Lamothe-Fenelon, em que, invocando o refinamento, se gerou monstruosidade muito mais nauseabunda que o mero e in-ofensivo Kitsch: uma retrete simulando pilha de livros!Haveria decerto maneiras mais limpas de explicitar a atitude dos donos face à Leitura, que coisa!

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Viva o Faixismo!

Um Conservador terá o direito de provocar? Então, Meus Amigos, calma nos teclados, não estou a falar de Política, mas de conservadores de museu, para mais não se tratando de locais vocacionados para a Arte de Vanguarda a que o conceito seja caro. Sobre o despojamento das faixas das múmias a que, como confessa provocação, procedeu um museu britânico, estou com o protesto do público que os fez retroceder. Mas não pelas razões apontadas pelo Colega Egípcio, que parece para-puritanamente proscrever a nudez, em razão de uma moralidade. Sim porque penso que as faixas fazem parte indissociável do conceito de embalsamamento. Nessa qualidade, não devem ser escamoteadas ao curioso Público que quer aprender. ou estaremos a atentar contra a memória que merece o labor deste companheiro...Anubis Procedendo a um Embalsamamento

O Vazio Policial

O Senhor Ministro garante que não faltará verba, nem a consequente gasosa nos depósitos das Polícias e eu quero crê-lo com todas as minhas forças. Porém, o «Destak» de hoje, a páginas quatro, diz que, já depois de tão formal garantia, as forças policiais colocam essa possibilidade. Não sou eu, ignorante dessas coisas, que duvido do Governante, são os seus homens no terreno, o que é péssimo sinal.
Lendo o título acima sou inteirado da organização da Polícia na Cidade de Lisboa, no Reinado de D. Luís, em que as doze Esquadras e múltiplas secções cobriam a área citadina não só atendendo às necessidades de então, mas como base do crescimento futuro. Optou-se nesta República partidocrática por fechar postos e confiar a segurança a um elemento mais precário, o da mobilidade que as viaturas facultam. Com uma gigantesca paralisação perspectivada, em caso de crise grave, temo que se pretenda já enveredar pela substituição da frota por veículos fuel-cell, movidos por combustíveis não extraídos do petróleo. E que de restruturação em restruturação, cada vez mais se fique preso ao chão.

O Aguaceiro

Atrás de mim virá quem bom me fará... Subitamente o Labour britânico ficou cheio de saudadinhas de Blair, só porque a sua sucessória antítese, Gordon Brown, lhes fez perder uma eleição paecelar. Bem, não é só isso, o facto é que não é uma chuvada qualquer: detida há três décadas com sete milhares de votos de vantagem, Crewe & N. parecia segura, noutras quaisquer circunstâncias. Ontem nem a candidatura da filha da deputada falecida valeu. Os Conservadores ganharam o lugar e já começaram as más línguas não apenas a prenunciar revoltas parlamentares contra o líder, como a reavivar a história de apenas ter casado para ter hipóteses de ser Primeiro-Ministro. Esquecendo Heath.
O reabilitado Bliar insiste em manter-se como assombração deste Escocês azarado. Dantes era por não cumprir a sua parte do Granita Pact, o acordo de transmissão do poder que ambos tinham feito, presumivelmente visando a última metade do segundo mandato. Agora é por a ter observado, embora com atraso. Como querem que o actual P-M ria? Dizem que fazê-lo com mais frequência seria meio caminho andado para maior aceitação. Um alvitre que cheira muito à história do ovo e da galinha.

Belas e Se... Não

Vamos falar de temas que realmente interessam! A Meg desafiou-me para abordarmos o espartilho como funcionário da Atração Sexual, a par das botas. E eu não sou rapaz de deixar passar destes reptos... ou não assinasse réprobo.
Comecemos pelo fim: queixava-se há semanas um vendedor de lingerie de que as Mulheres Portuguesas, na Juventude, enfiam umas cuecas de algidão e um soutien barato, só se começando a importar com a sofisticação, chagadas a maturidade mais pronunciada. E eu explico: todas as Senhoras são excelentes psicólogas no que toca ao Amor que lhes respeite. A culpa cabe-nos a nós, homens - Elas perceberam que tínhamos deixado de aspirar às dimensões divinas da Afrodite, contentando-nos com um pedaço de carne, pelo que, sob o pretexto de trabalharem, recambiaram os espartilhos para os museus.
Exactamente as Proporções de Vénus de Octave Tessaert

Claro que no tempo em que eram poupadas, nas classes possidentes, a essa obrigação geradora de stress e depressões era diferente. E o aprisionamento em que moldavam o corpo era passível de estudos eruditos que As dessem como objecto sexual, veja-se o clássico de David Kunzle «The Corset as Erotic Alchemy». Submeter-se a torniquetes que diminuíssem a cintura e empinassem o peito era obrigação de qualquer dama de qualidade.
Novo Método de Laçar à Inglesa Para Cinturas Mais Estreitas de Basset

Não nos enganemos, a pressão nesses dois sentidos mantém-se, simplesmente os quadros mentais do Tempo, a Pressa e o Conforto, aboliram o esforço, erguendo em alternativas os produtos de emagrecimento e os implantes mamários.
Alfaiates, Fazedores de Botas, Cabeleireiros, Os Executores do Amor de Grandville

É que esta sujeição ao imperativo de agradar é o próprio Inferno de que o Belo Sexo nunca quererá sair. Fará todos os pactos demoníacos para tornar-se mais apetecível, é a sua subida ao cadafalso dos técnicos que lho prometam, como a tortura eterna da insatisfação, a punição desta querida e peculiar vaidade que o pudor de Dante não descreveu com a minúcia das faltas e suas sanções.
A Pedra de Amolar do Demónio de Le Poitevin

Chegamos finalmente ao âmago da tese da nossa Amiga. Dominar e ser dominado como desculpas para o compressor dos troncos femininos. Será isso para os mais imaginativos e libertos. Todavia, para o grosso das elites do Ocidente, desatar aquele obstáculo colocado estrategicamente seria sempre um preliminar adicional. Arte afrodisíaca, sim. E a dicotomia Amar e Penar está presente na própria maneira de nomear o acessório de toilette - espartilho, acentuando o sacrifício, corset, à francesa, se quiser sublinhar o capital de desejo.
Sofrer para Imperar, afinal o resumo da Mulher!

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Bus Stop

Eu até nem sou rapaz de temer agoiros, mas esta de porem o rótulo da «Casa Portuguesa» no autocarro da Selecção, sabendo-se que Portugal não produz tais veículos de transporte colectivo, pode bem ser tido como presságio de as nossas esperanças e a respectiva efectivação virem a ter o destino deste projecto de onibus francês da Belle Époque, nunca construído, confrontado com a concretização abaixo verificável...

Hate List

Pede a Cristina que nomeie seis coisas que odeio. Não sou dado a ódios, quando algo - ou alguém - me repugna ou me afasto ou justiço no local, conforme os dias. E aprendi com Jünger que quando escrevo sobre o que não gosto não gosto do que escrevo.
Acresce que tenho sempre a imagem odienta conexa com a do assassino de crianças a que Robert Mitchum deu corpo, que tinha tatuada nos dedos de uma das mãos a palavra LOVE e nos da outra o tal HATE.
Nunca consegui obcecar-me de tal forma que desejasse mal a alguém, ou algo, fora da punição por actos concretos. Mas entendendo a expressão como significando coisas que de todo me não agradam, cá ficam:
O Bacalhau - É o mais próximo que conheço do ódio. Durante muito tempo gostei de repetir a frase que o Meu Avô empregava: Por que é que os barcos não vão todos ao fundo? Claro que não queria qualquer mal aos pescadores, significava apenas que não o aprecio como alimento, ao ponto de o Comandante do Quartel onde militarmente servi me avisar dos dias em que a ementa da messe trazia o meu inimigo, segundo Ele.
A Inveja - Acaba por ser caricato ver o auto-castigo que inflige, mas penso que é o mais baixo a que o ser humano pode descer.
A Banana - Recuso dar a essa coisa o nome de fruto, tem fios a mais, não é fresco, passa por emblema de macacada e metáfora de homens ou países sem vontade própria.
A crueldade - Para além de ser despromoção de qualquer pessoa querer fazer sofrer inocentes, é sintomático de não se ter crescido, os miúdos é que se vingam nos mais pequenos das humilhações e frustrações que lhes são impostas.
A despedida "fique/a bem", cartões de pagamento, os auto e telemóveis - é a pepineira da sociedade contemporânea que imita o que ouve nos audiovisuais e acha que o prestígio e sentimentos se incrementam numericamente, seja em totais de gastos e contas, seja em horas poupadas.
Michael Jackson e Madona - Não lhes desejo qualquer mal, mas irrita-me o artificialismo transformista pronto a comer.
E pronto, chuto para a

A Meg

Eu Diria Mesmo Mais,...

No dia de aniversário de Hergé que melhor forma de homenageá-lo do que ler-lhe a biografia... em Banda Desenhada? Não tem esta obra génio, ao contrário da do seu Objecto, mas nem isso era pedido. Com saltos temporais inimigos da minúcia, próprios desta Arte, vive muito do ponto forte de sugerir as inspirações das personagens em pessoas que se cruzaram com o Autor de Tintin: Bob de Moor para Haddock, o pai e o tio para os Dupontd, uma frequentação musical do ciclo de conhecimentos materno para a ária preferida da Castafiore...
Desde Pol Vandromme que nos tinha sido enraizada a noção de o universo tintiniano, com o ressurgimento de personagens secundárias ao longo dos diversos albuns, configurar uma sociedade paralela, ao jeito de «A Comédia Humana» de Balzac. Não há pois grande enriquecimento a constatar com o entrecruzamento de pessoas reais, que aumentassem por uma espécie de clef dum qualquer roman a complexidade que lhes é própria e intransmissível.

Até porque não é na absoluta imanência que reside apenas o gigantismo cultural desta criação, mas também na capacidade de fazer-nos regressar a constantes da herança espiritual do Ocidente, na parelha de heróis em que desembocou a fase mais adulta da obra.

Porque ninguém me tira da cabeça que Tintim é partícipe dos traços de Ulisses, utilizando a esperteza e o ocasional engenho enganador dos maus para um bom fim, enquanto que Haddock cita Aquiles, não só na ira hiperbólica, mas igualmente na Lealdade e na disponibilidade para a luta em terreno aberto, como na fidelidade ao Amigo, Pátroclo entre os Helenos, como, para o efeito, o Dono do Milu, nos nossos dias.

Por isso os Gregos desconfiavam de Ulisses e idolatravam Aquiles, enquanto a nossa época tende a subalternizar este, admirando o ardiloso. Sinal dos tempos e da decadência do Escrúpulo e da Espontaneidade no conceito dos Povos, o próprio ferrete do Declínio.

E creio que a porventura abusiva assimilação proposta não será enjeitável modalidade de libertar Georges Rémy do aprisionamento em que o seu talento o confinou, apenas superficialmente fracassado no salto que pretendeu para a Pintura. Sem o saber, pintava, já.