segunda-feira, 4 de junho de 2007

A Carta Roubada

A França Recebendo a Carta de Luís XVIII por Merry Joseph Blondel

Aniversário muito menos estimável do que o anterior, o da outorga da Carta Constitucional por Luís XVIII, em 4 de Junho de 1814. Cntaminado pelos fundamentos do Liberalismo, acabaria a restauração Borbónica no Trono por ser apenas uma máscara de beleza enganadora para o rosto devastado do País dominado pelos partidos e pelo dinheiro. Mais do que os poderes concretos atribuídos à Câmara Eleita - que não eram muitos -, a cedência no princípio de partilha da função legislativa entre Soberano e eleitos, como a amnistia dos Revolucionários, constituía uma legalização da rebelião, apenas susceptível de ser ultrapassada se a decisão residisse em mãos hábeis e fortes. Aquele Rei não as tinha e ficaria para sempre estigmatizado por dever o regresso e a Coroa às tropas russas, como pelo desprestígio de ser visto demasiado de costas, impressão consagrada num célebre filme de Gance. Os Legitimistas, desautorizados, ficariam remetidos a lutas importantes mas menores como a suavização do aspecto censitário do sufrágio, imposta pela Burguesia parisiense liberalona que, assim, desejava perpetuar a sua imagem de exclusiva força viva da Nação. Galicanismo, irreversibilidade da expropriação dos bens clericais, centralização governativa, recusa de regresso à enformação orgânica do Estado, mitificação do Exército segundo a estruturação republicano-napoleónica, nada faltava para sublinhar o erro maior, o da concessão de um forum em que o encarrilamento pelos gangs de cumplicidades que são os grupos partidários triunfasse. Daí para cá o Mal não conseguiria ser revertido, com carácter de permanência. Era a traição à Constituição Essencial da França, assim alienada num pedaço de papel, disfarçado pelas pinceladas cortesãs.

2 comentários:

Anónimo disse...

Acabei ontem de ler o livro de que lhe tinha falado,e,entre outras coisas,sublinhei a frase"o regime democrático,da soberania popular,supõe,previamente uma opinião pública esclarecida.(...)Essa opinião pública esclarecida não é possível em Portugal"(...)porque"incompatível com a psicologia da raça latina(...)Foi essa opinião pública esclarecida que tornou possível o regime parlamentar inglês,instituição inadaptável ao continente".

Uma voz autorizada vem confirmar o que já intuía :a impraticabilidade daquilo que,durante muito tempo acreditei ser possível,e de que já há tempos vinha a descrer,com muita pena minha,é já uma pecha antiga,entre nós.
Beijo

O Réprobo disse...

Desenganada Cristina,
em Inglaterra a questão é diferente, pois, tendo-se conhecido a revolução política e, antes, a religiosa, não se abalou o fundamento social, ao contrário do que aconteceu em França e imitações. Em Portugal dá-se a infelicidade histórica de o Tradicionalismo não ter triunfado, mas o alívio doutrinário de o Rei Legítimo não ter pactuado com o atentado à Herança Histórica, nem ser soberano estrangeiro num raro caso de proibição do acesso de tal ao Trono pelas Leis Fundamentais.