Quem As Não Tem?
O Amante Coroado de FragonardNão se pense que foi inocente o postal anterior, na data que corre. É que hoje é celebrado no Brasil o Dia dos Namorados, equivalente ao São Valentim Europeu, que, segundo abalizadas opiniões, tem ligação directa ao favorecimento sacro desses enlevos, para que se invoca Santo António. Segundo as Damas juízas dessa especializadíssima competência que antes abordei, não seria assimilável aos festejos do mesmo Santo na nossa Lisboa, porquanto cá é pedido o casamento e por Terras de Vera Cruz se chega à frente o emamoramento, coisas que elas separavam com implacável distinguo.
Mas para se ver como a Idade Média não tardou em ser revista e corrigida e se entendiam em altos círculos Amor e Himeneu como passeantes de braço dado, temos a historieta do consórcio principesco entre D. João, filho de D. João III com D. Joana, cujo pai era Carlos V:
o conselho régio achou que o Nubente deveria escrever uma carta de amor à Prometida, mas, por desconfiança da hipotética redacção, ou deferência, o Rei pediu que cada conselheiro escrevesse uma, enviando-se a melhor. Todos obedeceram, menos Simão da Silveira, o qual mandou comprar a sua já confeccionada a um estabelecimento do ramo, que prosperava no Largo do Pelourinho Velho. Foi a que ganhou.
Para quem, como eu, considera altamente irritante a oferta de mensagens de amor para SMS pré-fabricadas, uma batota como a da compra de chaves de Totoloto já prontas, não falando sequer em Cyrano de Bergerac, há pelo menos que reconhecer que esta rapaziada tem a quem sair...
Bom Dia dos Amorosos, Amigos do Brasil!
Mas para se ver como a Idade Média não tardou em ser revista e corrigida e se entendiam em altos círculos Amor e Himeneu como passeantes de braço dado, temos a historieta do consórcio principesco entre D. João, filho de D. João III com D. Joana, cujo pai era Carlos V:
o conselho régio achou que o Nubente deveria escrever uma carta de amor à Prometida, mas, por desconfiança da hipotética redacção, ou deferência, o Rei pediu que cada conselheiro escrevesse uma, enviando-se a melhor. Todos obedeceram, menos Simão da Silveira, o qual mandou comprar a sua já confeccionada a um estabelecimento do ramo, que prosperava no Largo do Pelourinho Velho. Foi a que ganhou.
Para quem, como eu, considera altamente irritante a oferta de mensagens de amor para SMS pré-fabricadas, uma batota como a da compra de chaves de Totoloto já prontas, não falando sequer em Cyrano de Bergerac, há pelo menos que reconhecer que esta rapaziada tem a quem sair...
Bom Dia dos Amorosos, Amigos do Brasil!
15 comentários:
Boa noite, Rép.
Só agora consegui vir espreitá-lo (dia complicado hoje) e leio de empreitada: andou a divagar sobre o amor, é?
Não me diga que há «moura na costa»? Ou descobriu que afinal adora a NF?
(gargalhada)
Vá, flutue, flutue...
:-p
Beijinho.
Ele há cada uma :); então a coisa já vem de longe, mesmo :)
Beijo, Paulo
Qual, Querida Fugi, sou um observador distanciado. O tempo das mouras encantadas já lá vai, este é o dos Mourinhos. E para tais não tenho vocação nem pachorra.
Sou é um escravo da ordem do dia.
Descanse bem.
Beijinho
PS: nem pense, não gosto de artigos subtraídos aos donos legítimos.
Não é, Cristina?
O episódio é triste, por meter as elites ao barulho. Mas o facto de o estabelecimento de então prosperar em tal negociata é mais do que significativo.
Beijo
Também não suporto mensagens pré-fabricadas! Quem não tem imaginação para mandar-me uma mensagem original e personalizada, não merece a minha atenção nem o meu tempo.
Beijinho
é o Marketing dos afectos..odeio, tal como a Ana..
querido, adorei o post. Valente, valentim. aqui escrevi um post assi: Dasamorados. veja lá. e veja a respota do comentário do cummings que vc fez, please?
Isso aqui é muito bom.
E as cartas que vc menciona? são reais? Onde estão?
Gente...Nem lembrei disso aqui desterrado no Texas!
Mas a volta não tarda...
sobre a ameça informática, Querido Paulo, o técnico de informática ensinou-me um truque. Ao iniciar o computador, mude-lhe a data para o dia seguinte ou anterior.
hummm planeou tudo, hein?
beijinho
Querida Ana,
é isso mesmo, não há insegurança que justifique essa fungibilidade na expressão de sentimentos íntimos. Como é que um qualquer enamorado pode chegar ao pé da amada e dizer: "minha querida, eis o que pensei de e para ti. Olha, foi escrito por um tipo que nem conheço nem te conhece".
É insulto bravo.
Beijinho
Também digo Aaaargh, Querida Júlia. E depois queixam-se da insensibilidade do outro. A dar de comer amor em conserva, quem é que aguenta?
Grande dica essa do Seu técnico! Sinto-me libertado do Azar.
Só um poucochinho, o planeamento...
Beijinho
Obrigado, Querida Bea, já explicitei o que quis dizer e vou já Lá comentar o outro post.
As cartas são verdadeiras e vem o episódio referido pelo Historiador António Borges Coelho em «Ruas e Gentes na Lisboa Quinhentista, Caminho, Lisboa, 2006.
A que ganhou e foi enviada deve estar nos Arquivos Nacionais Espanhóis, talvez o Amigo Filomeno saiba dizer algo a respeito.
Beijinho
Meu Caro Nelsinho,
ai, o que o Lone Star State não faz! Esperemos que a lembrança do dia ainda tenha ido a tempo de activar algum modo de comemoração romântica...
Abraço
Nem o romance perdurou nem a implementação desse projecto produziu mais-valias...
Sucedâneos industrializados de artesanato genuíno é o que dá.
Cumpts.
Ahahahahaha! brilhantíssimo, Meu Caro Bib Laranja, este comentário é a versão bloguística da genial crítica chapliniana de «Tempos Modernos».
Abraço
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