segunda-feira, 14 de maio de 2007

Resposta

Caindo nos transportes da Fantasia que são a poção mágica de cada auditor de música, ou seja, a assunção de que a canção me (lhe) é dirigida, escuto «Under My Skin», por Diana Krall. E exorto-A a esquecer o derrotismo do desenvolvimento para se fiXar No título: não é caso para cirurgia que remova, impõe-se o TRATAMENTO CONSERVADOR!

Contestação do Vazio

Filho Único de Csaba Osvath
Sem vocação para, com dolo, burlar os Outros, desde muito cedo me revelei exímio na arte de enganar-me a mim. Deixei para trás o sofrer próprio de ir crescendo entre adultos, com o escape de "observar para conseguir ser sensível" onde, doutra forma, não o seria. Passada, portanto, a altura própria da necessidade das partilhas infantis, exultei com a condição de rebento solitário, animadora na e da idade do egoísmo, adolescência e começos da virilidade, só mais tarde notando que o que me tentava atribuir como endurance mais não tinha, afinal, feito do que lavrar o terreno para a agudez da falta que a dor suprema da Perda viria a fecundar. Pobre momento de conflitos de nostalgias, a Do que conheci e a do que nunca tive, entrelaçando-se uma na outra e mentindo-me, por sua vez, ao sugerir-me que a situação inverificada seria génese de suportabilidade maior, droga entre tantas outras com que o nosso intelecto se entretém no vivificante jogo dos ses...
De Carlos Queiroz,
UMA PONTA DO VÉU

Nunca tive irmãos.
Assim, na minha infância, há um grande silêncio
Que vem de brincar sozinho
No lusco-fusco dos recantos
Das salas e dos pensamentos
- Terrivelmente sério,
Como os artistas inspirados.

Nesse tempo nasceu este desdobramento
E esta solidão onde ainda se cruzam
(Inquietos, calados, transparentes),
Fantasmas e fantasmas de meninos
Que se sentem sozinhos.

Era preciso alguém que de mim se escondesse
Era preciso alguém que eu agarrasse -
Era preciso alguém que tivesse a coragem
De pôr a descoberto as minhas fraquezas,
De rir das minhas precocidades ridículas
E de chorar comigo sem disfarce,
À hora fecunda dos medos.

Assim eu me escondia de mim mesmo,
Atrás das árvores, dentro dos armários,
No faz-de-conta dos espelhos.
Assim eu me agarrava pelos braços, pelas pernas
E me impedia de ser natural
Nos meus gestos e nos meus passos.
Assim eu próprio me dirigia insultos,
Sem reacções nem surpresas.

Assim compreendi, cedo de mais,
Que a alma é uma coisa que se deve esconder
- Como fazem os homens.

Nunca tive irmãos.
Nunca ninguém cresceu, hora a hora, a meu lado,
Repartindo comigo a ternura, a tristeza,
Os brinquedos, os doces, os castigos
E os mistérios do lar.

Assim, todo o imenso amor de mãe,
Toda a profunda incompreensão dos adultos,
Todo o mal que se faz por engano ou vaidade,
Todo o bem que se faz por vaidade ou engano,
Todo o mistério sem mistério,
Desabaram, inteiros, sobre mim.

E a minha infância suportou, sozinha,
O peso desse fardo maravilhoso
- Embrulhado em silêncio
E atado com fios de poesia.

A Vingança do Conquistador

D. Afonso I perguntar-se-á para que Diabo andou a fundar um País, se nem o deram como o Maior Português de sempre, a ele, dos que de facto o quiseram ser, O que mais forçou a barra. Mas ontem deve ter-se sentido vingado, com o retorno o Vitória da sua querida cidade de Guimarães ao convívio dos Grandes. Esta nota é dedicada a uma Ilustre Vimaranense, felizmente assídua nesta página, a Cristina Ribeiro.

A Superioridade dos Contributos

Dentro da embalagem dada pelos que acusam a Santa Madre Igreja de absorção de formas pagãs e reconversão delas ao serviço do Dogma de Cristo, lebre também levantada a propósito de Fátima, esta feliz fusão de celtismo e cristianismo, com a chancela das Celtic Woman: Lisa Kelly com «May it Be». Permito-me salientar a coincidência do permissivo verbo e do mês. Também aos Meus Amigos amadores de Tolkien

domingo, 13 de maio de 2007

Remissão

Roga-se aos Leitores que coloquem mentalmente os dois comentários da Cristina Ribeiro no post acima, pois a minha inexperiência em postar vídeos fez com que, ao corrigir uma gralha do texto, o vídeo desaparecesse. As respostas seguem lá.

Fátima, Amar do Mundo

Percebo bem a raiva que os ateus têm a Fátima, por lá acorrer tanta gente irmanada numa Mensagem de Amor de que eles próprios se excluíram. Compreendo os agnósticos a quem, sem a força da Fé que os una a Deus, repugnará aceitar como validamente provada a Causa da Mobilização Mariana, conceptualmente ainda menos acessível para um prisioneiro do intelecto do que a Potência de um Criador. Mas, acima de todos, lastimo os Católicos que se não conseguem dar à Comunhão com os seus Irmãos, na peugada dos Pastorinhos. As razões são mais do que muitas e algumas partem até de preocupações estimáveis, pois tal como a mentira mais eficaz incorpora sempre alguns elementos verdadeiros, cuja reconhecibilidade atraia mais facilmente os alvos da propaganda, também a difusão do caudal anti-religioso faz gala de recorrer a pontos de apoio do conhecimento cultual do Absoluto para se promover.
Uns, menos elaborados, tentam insinuar a corrosiva dúvida sobre se as honras à Mãe de Jesus não contenderão com a Adoração de um Deus Único, por Se encontrar de fora da Articulação Hipostática. Outros, mais enciclopédicos, pretenderão assimilar a acorrência à Cova da Iria a práticas pagãs espalhadas, de devoção a divindades ligadas à Condição Maternal. Um terceiro Grupo, menos vocal no apartar deste multitudinário Factor de União, justificar-se-á com o carácter pretensamente rudimentar da veneração dos peregrinos, orientado para uma espécie de "suborno" de Nossa Senhora, com promessas de todo o tipo para a resposta a maleitas e aflições imediatas, sem a omnipresença evidente da perspectivação soteriológica final.
Aos primeiros não cessa de responder a Igreja, enquadrando a celebração de Maria como meio nunca desligado de Deus, De Quem Ela recebeu a Ordem, a Fecundação e, pela Encarnação, constituiu a única totalidade de União do Humano e Divino até agora conhecida na Terra, desde a configuração da nossa espécie sujeita ao conhecimento de Bem e Mal. Para os segundos, basta verificar a diferença entre o substrato de universalismo do Amor, face à mera associação da Fertilidade às colheitas. Mas no terceiro grupo o caso fia mais fino.
A chave do enigma intui-a a multidão, quando alguns estudiosos e pensadores não conseguem libertar-se da opacidade envolvente que os impede de aceder. É a Intercessão a que se aspira alicerçada na imensa compaixão perante as agruras actuais dos desprotegidos que em Maria se revela nos Evangelhos, desde logo nas Bodas de Canã, em que pede ao Filho que solucione o contratempo triste mas menor da escassez, face à concentração Divina na Missão Salvífica Final. É nesta diferença de sensibilidade, a que olha para a pequenez das tristezas quotidianas e atenta na exasperação que elas comportam e a Descomunal, Toda absorvida em conceder o resgate da perdição a que o uso da Liberdade pode conduzir, que a confiança dos Povos germina para se entregar. E como as leituras têm quase sempre a possibilidade de reverso, não será o testemunho da fragilidade e a invocação do Auxílio Superior atitude muito mais estimada no Céu, mesmo numa modalidade estritamente especulativa, do que o orgulho em não proceder como os outros, que certos espíritos, tornados orgulhosos pelas letras, têm por inferiores?
Não serão fáceis os caminhos de Fátima. Salvo para os que já Lá chegaram. Que são muitos, o que os torna difíceis de perdoar pelos arredios de tal Esperança. Mas não por Deus, CREIO.

sábado, 12 de maio de 2007

Engolir em Seco

é o que esta descoberta científica vai fazer a muito boa gente. Depois das precauções dirigidas ao simbolismo tabágico chega a vez da Coisa em Si. Mas para os Leitores que não prescindam de ficar com... água na boca, deixa-se a sugestão desta elucidativa, se não edificante, obra. MÃOS à dita!

Mudam-se os Tempos...

Revisitação de «Separate Tables»: Se estivessem então em vigor as normas anti-fumadores que se quer impor à indústria cinematográfica, Lancaster teria aplicado a força bruta em Hayworth depois de ela tentar acender um cigarro e não com esse acto sido colaboracionista numa cena de pacificação!

Elixir da Juventude

Para confrontar com a versão mais tardia de «Águas de Março» que o Abencerragem nos deu.

sexta-feira, 11 de maio de 2007

Reflexos & Reflexões

Andando à Chuva de José Roberto

Leitura do Diário de Jean-René Huguenin, Autor sugerido pelo BOS, o que é sempre carta de recomendação a atender.
«Um homem reflectido não pode esperar», dizia Barrès. Eis a mais bela palavra de esperança que conheço. Ele poderia ter dito também: «Um homem reflectido não pode amar» E seria a mais bela palavra de amor. Que nós cheguemos a esperar e a amar, apesar de todas as decepções e fadigas e contra elas, contra a nossa razão, contra a própria evidência, contra o mundo, é toda a beleza da esperança e do amor. Poder dizer no fim da sua vida: «Eu sou a única pesoa que não me decepcionou.» Não em nome de um orgulho insensato, mas porque, nesse oceano de miséria e de lama, só nós não tivemos o desespero de nos lançarmos nele. Ninguém para nos aplaudir, quase ninguém para nos encorajar, e no entanto permanecer digno, permanecer um homem de honra.
Eterna sedutora tonalidade de sabor nietzsheano de todos os solitários a quem pesa a desventura da insuficiência humana, mas que espremem da sua vontade um receituário de vitalismo anti-redomas de racionalidade que constituíssem o escafandro sem movimento dirigido a resultados semelhantes aos de um Taoísmo expurgado de continuidade espiritual. Apesar da corda do relógio da auto-suficiência que seria a insistência raciocinante no desinvestimento, a repulsa perante tão rarefeita contenção impele à recusa da renúncia mas faz transigir com a inevitabilidade do isolamento, quando o carácter aberto do Futuro pode, além da satisfação honorável que é a fidelidade ao Princípio, trazer também a rara descoberta de outra vida que nunca desiluda, elevação extrema da continuidade da tentativa. A atitude mais vulgar para não se ficar encharcado é abrir um guarda-chuva. Há quem se não molhe, por andar sobre as nuvens. Mas só o Escol absoluto pode identificar-se com a própria água que fecunda, sem perder de vista a realidade nem renunciar a ver outrem a quem honrar e que o honre, sem ficar obrigado a olhar para o que seja um mero reflexo da sua teimosia aprioristicamente erguido em justificação da persistência.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Três Petiscos

VLORA: Barco de Papel


1- Não entendo a insistência patológica do Sócrates actual em, por interposto Lino, reafirmar a construção na Ota, quando as revelações académicas que nos distraíram durante largo tempo atestaram suficientemente o seu estatuto de Engenheiro de Obra Feita...

2- Guardo-me para fazer noutro dia um balanço de Blair, que hoje se despediu. Mas mandar o seu agente junto dos eleitores dizer que continuará a representar no parlamento a circunscrição por que foi eleito até ao fim do mandato, a menos que lhe seja oferecida alguma alta missão internacional, não será uma deselegante forma de se pôr em bicos dos pés a pedir o cargo?

3- Não consigo tragar o Senhor Ramos Horta, agora Presidente Eleito do desgraçado e querido Timor. Parece-me um ambicioso sem pingo de sinceridade, o que o facto de só se candidatar a funções públicas nacionais depois de falhada a sua untuosa campanha para Secretário-Geral da ONU parece confirmar. Que pena estar nele hoje personificada a resistência aos cadastrados da História que a sigla da FRETILIN simboliza!

O Inferno Animal

Maria Entre os Animais de Dürer


Mau grado a sabedoria ancestral lembrar repetidamente que gostos não se discutem, é vício esmagador de Letrados e leitores discuti-los à exaustão. Daí que, enfileirando ineptamente na segunda das categorias, não possa resistir à tentação de divergir de Dois Grandes Bloguistas. Desta, porque detesto o coelho no prato, adocicado que o sinto. Daquele porque na Vida abomino, genericamente, o Homem, que tenho por indigesto.
Mas depois de mencionar o que nos separa, toca a submergir-nos no que nos une. Gosto dos bichos e do convívio cordato e afectuoso com eles. E estou com o Jansenista quando, condenando os maus tratos a animais por divertimento, exclui o seu consumo para garantir a subsistência. Não sendo capaz da abstinência a que também a Charlotte se confessa revel, permito-me, no entanto, estabelecer uma pequena distinção: a deglutição de carne não deveria ir além do estritamente essencial, sendo certo de que é esse ideal mais uma perfeição de que não sou capaz.
Dito isto, conviria que o único animal, além do Elefante, a que, por enquanto, é creditada a capacidade do reconhecimento da própria imagem tivesse o coração suficiente para sentir a do outro, inocente, ao ponto de abdicar dos comportamentos agressores das espécies menos bem sucedidas, porque menos batoteiras na expansão das armas com que vieram ao Mundo. Há, infelizmente, muito, demasiado, que andar, antes de chegarmos aos interditos culinários.
A Grandeza do Santo de Assis foi mais do que a mera privação dos bens mundanos dentro de um espírito de Alegria que contrariava o conhecido da maior parte das asceses. O ponto mais alto da sua Herança Espiritual reside na extensão da verdadeira - que não a postiça das confrarias políticas e esotéricas - Fraternidade aos tidos por brutos, levando o respeito ao ponto de ver as mensagens de Deus a Si dirigidas simbolizadas oniricamente em aves de capoeira entre as quais se encontraria a Própria alusão imagética. Nessa admirável fusão se dissolveu a hiperconsciência desumana da Humanidade que de tanto se pensar se forja, mais a direitos espúrios que nenhum sentido faz que possa ter, como o de infernar as vidas dos seres com menos defesas.
De Mark Twain: O cão é um gentleman. Espero ir para o Paraíso deles, não para o dos homens.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Jogos de Câmara

O Casal e a Caverna de Jorge Estrada

A voracidade televisiva por desaparecimentos de crianças pode encontrar as legitimações que queira. Desde logo a de mobilizar os telespectadores para participação no esforço de as encontrar. E não sou inocente ao ponto de não saber que as declarações certas, pretensamente deixadas escapar pelas Polícias e difundidas pelos Media, podem confundir os raptores, embora duvide da inteligência para o efeito necessária em todos os nossos jornalistas. No caso da pequenina inglesa, que com todas as forças espero que apareça sã e salva, surge, no entanto, uma dúvida forte - a atenção das televisões seria igual se não fosse a telegenia dos pais e o encanto que se desprende das fotografias da desaparecida? Casos anteriores que também concitaram coberturas obsessivas parecem desmenti-lo. Mas nesses não se verificou o autêntico namoro dos cameramen com as vantagens da mãe desesperada, focando-lhe artisticamente ora os olhos, ora a boca, em zooms que quase se diriam poéticos... O mal é que este triunfo do Belo sucede na coutada que deveria pertencer ao Útil.
Tenho para mim que todo o interesse dispensado pela Comunicação Social às infelicidades infantis é tentativa apressada de se limpar da parcialidade inacreditável que na questão do aborto a maioria dela demonstrou, em prejuízo dos mais novos de todos...
*
Outra face da exposição mediática é a nova da publicação de desentendimentos privados entre Ségolène Royal e François Hollande, na sequência da candidatura Socialista derrotada. Tanto barulho à volta da possibilidade de a sua relação pessoal transpirar para as posições públicas de ambos e afinal o que se verifica é que os posicionamentos oficiais que desenvolveram obrigou a uma suadeira que pode comprometer a esfera da privacidade! E é sempre a indiscrição das reportagens que, à custa das famílias, alegremente se promove, escudando-se no dever de informar, mesmo quando o que sobressaía era o de o fazer menos.
Ainda bem que os réprobos vão tendendo para a obscuridade!

Royal Couple de Samuel Bak

terça-feira, 8 de maio de 2007

Da Superioridade do Ensino



Tem a solidariedade institucional destas coisas: o Presidente Cavaco disse que era necessário reformar a Universidade e o Governo, pressuroso e voluntarista na tentativa de corresponder à preocupação de Belém, entendeu o alvitre no sentido de ser preciso mandar a instituição para a reforma. A aventada possibilidade de transformar faculdades em fundações não é, não pode ser num governo socialista, a pura rendição ao prestígio da magia do aligeiramento das responsabilidades do ministério da tutela. Nem parece que seja só um desforço perante uma instituição que, tendo facilitado os socráticos caminhos ínvios para o canudo, não soube calar o carácter, ahaaam, paralelo do mencionado percurso.
O caso tem alicerces mais antigos e radica no diagnóstico que há dois séculos nos fazemos de diplomomania aguda. No livro com capa reproduzida Domingos Tarrozo já ia resmungando:
N´este ditoso paiz, para se poder ser qualquer cousa ou tudo, é apenas necessário, - mas indispensável, - mostrar um trapo de papel, vergonhoso e humilhante, em que os professores encartados dos lyceus e das escolas superiores, - herdeiros e representantes da antiga esupidez do ensino e da velha ignorância nacional, digam em nome della: - «Acabamos de dar a este homem muita, boa e bem organisada massa cerebral: logo, fornecemos-lhe o espírito, o talento, a sciência e o genio. Cursou! Examinado! Approvado nas lindas disciplinas officiais. Pagou as propinas, tinha bom dinheiro e gastou-o. Por conseguinte, sabe tudo! Póde ser tudo! As leis assim o querem. Ahi vai um sábio!
Devo confessar que a minha atitude relativamente à Universidade é mais matizada. Não gostei nadinha dos cinco anos que lá passei e continuo a interrogar-me como puderam concluir o curso algumas luminárias que lá conheci. Mas o facto de vivermos numa Nação em que, apesar dos pesares, os dois maiores historiadores contemporâneos, Herculano e Oliveira Martins, não dispunham de qualquer canudo deve fazer-nos pensar duas vezes sobre a impenetrabilidade do alegado monopólio. O Autor, que dedica ao Segundo dos Expoentes referidos o seu livro, deveria ter pensado duas vezes sobre se essa intenção lhe não derrubará a tese.
É que se não deve confiar-se na uniformidade de pensamento ditada pela cátedra, que tenderá sempre a permitr apenas os limites de liberdade que julgue toleráveis, também no auto-didactismo existem fanatismos iguais ou superiores, com a agravante da ausência de rotinas metodológicas que constituam um apoio medíocre, mas ainda assim um apoio. Acresce que a capacidade de se mover em sistema adverso até atingir o estatuto que permita divergir pode não só ser triagem de qualidades, como aguçar uma arte académica que conceda princípios de asas aos mais carentes.
O problema não estava em prioridades concedidas aos diplomados, com o inerente prestígio com que eram olhados, como não está no facto de essa miragem ter conduzido a uma produção em série de habilitados a coisa nenhuma, por não haver a que os empregue. Estava, sim, em se ter abdicado de uma ideia elitista para o Ensino Superior, reduzindo-o a uma instilação de princípios que interagisse com o mercado, ou por ele fosse eliminada. Desde o princípio que se deveria formar os alunos universitários para formarem a elite do Estado, o seu funcionalismo, com uma disciplina rígida e uma mnistração de conhecimentos cujo eclectismo transcendesse, embora não eliminasse, especializações necessárias. Com a medida do que Serviço Público precisaria seria possível permitir aos excedentes o emprego em sectores que seriam meos respeitados, embora talvez pior remunerados, evitando a oferta desenfreada que conduz ao desemprego que nem é uma coisa, nem a outra.
Mas que não se caia no pensamento anti-universitário, nem na oficial concessão de particularizar (mesmo que não privatizar, note-se) cada terminal de ensino. Ou mergulharemos no domínio das seitas, sempre mais temível do que o das Igrejas.

Triunfo do Casca Grossa

A Caça ao Crocodilo e ao Hipopótamo


Ora aqui estão boas razões para sorrir: os Humanos assaltados por problemas dentários porque vêem agora uma luz ao fim do túnel com a notícia de que a espessura e propriedades da casca do ovo de crocodilo pode facilitar amplamente os tratamentos da disciplina temível mas inescapável que é a odontologia, maxime os implantes. A bem dizer, não é de todo uma surpresa. Sabia-se que o inspirador da linha Lacoste tem a faculdade de ir substituindo os dentes deteriorados por outros, suplentes, mesmo em idade provecta e sem auxílio cirúrgico. Claro que doravante quem "está por baixo" é o hipopótamo da história popular, o espertinho que lamentara o rabudo, ao saber da Ordem Real para matar os animais de boca grande. O quadro de Rubens que encima ficará reduzido aos da sua espécie. A menos que, numa propagação asiática de outras atitudes, o que se passa na Índia e na China com a eliminação dos rebentos do género feminino dos nossos congéneres, dê na Tailândia para preservar apenas, do grande réptil, o sexo capaz de ser poedor...

Ai Que Saudades, Ai, Ai...

...do tempo em que Evangelista na primeira página era Linda e as ligas que lhe respeitassem iam sendo bem diferentes desta; ou a reabilitação dos fura-greves!

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Momento Consensual


O Jansenista e os activistas dos direitos dos animais, como provam este post e a camisola envergada, estão de acordo em que esta fotografia traduz uma PETA. Só que os últimos assumem-na na origem, enquanto que o nosso Confrade a dará como qualificação...
E que fazer de séculos de elaborações idealistas que, no plano do comércio carnal, quiseram associar o amor por alguém à vontade de comê-lo? O Grande Bloguista tem toda a razão!

Moralidades Eleitorais

Que resta dizer de França? Que foi uma lição para todos apercebermo-nos de que nunca se deve regredir de uma posição eminentemente moral, para tentar aceitação maior: Jean-Marie Le Pen disse, reiteradamente, que Sarkozy não era ameaça para seu score eleitoral, porque "os franceses prefeririam sempre o original à cópia. Pois foi essa preferência que o penalizou, depois de permitir o desvio da Frente Nacional para a aceitação e papagueação do abortismo e da República, empreendida sob a batuta da sua maestrina filha. Já que a mensagem se assemelhava à dos políticos do Sistema, o eleitorado entendeu votar num deles. Adeus abrangência! O crime não compensa.
*
O Presidente da Comissão Europeia saudou o triunfo de Sarkozy uma vitória da Europa. Eu até acho que o foi, por não permitir que vá para o Eliseu alguém vocalmente complacente para com a integração turca, que seria o primeiro passo para transformar politicamente o nosso Continente naquilo que Valéry o dava como geograficamente sendo: um cabo da imensa Ásia. Mas alguém acredita que o velho Durão dissesse coisa diferente se tivesse ganho a Ségolène? Não o estão mesmo a ver a debitar a mesma conclusão, com um ar igualmente convicto?
*
No Reino Unido uma espécie do Mr. Wolf de Tarentino, interpretado por Harvey Keitel, um solucionador de problemas, o Titular da pasta do Interior, Mr. Reid, demitiu-se. Aparentemente amuado por não ser opção para a liderança trabalhista, deu a entender que aceitava resolver as broncas do gabinete para evitar trabalhos maiores a Blair, mas que não estava para idêntico esforço em prol do sucessor Brown, sem que sequer a solidariedade entre escoceses operasse . E, por falar nisso, o Chanceler tem de se acautelar, que na sua Fife ganharam os nacionalistas escoceses. Já viram a bronca constitucional que era, academicamente hipotetizando, o Labour ganhar outra eleição e o seu Líder não ser eleito, quando o P-M está pela não-escrita constitucionalidade obrigado a ser um parlamentar?
A provar que estamos em tempos de começo de resistência à ameaça cultural dos islamismos radicais, falava-se de Straw para a pasta vaga, o homem que o extremismo muçulmano mais deve detestar, depois de Sarkozy, entre os políticos europeus. Mas sobreveio uma incerteza nessa escolha, aventando-se a versão de que o próximo ocupante de Downing Street quereria dar um torão de açúcar aos yes men de Blair nomeando o Sr. Miliband para o posto, até como agradecimento por ele não lhe disputar o lugar cimeiro que tem em vista. Ou seja, um arranjozito partidário a pesar tanto como a segurança da Nação, do outro lado.
Depois construam estátuas à Moralidade, construam! Bah!

domingo, 6 de maio de 2007

Belle du Jour

Cesse o pranto diante da beleza de Ségolène, perdida para a República. Os Franceses e, por extensão, os seus parceiros europeus poderão regalar-se com olhadelas sôfregas para Cecilia, essa feliz mistura de sangue russo e espanhol que é a Mulher do Presidente Eleito das Gálias, a qual, ainda por cima, traz como apêndice as duas filhas do primeiro casamento.

Já no plano estético que substitua as curvas pela recta analítica, tenho de sublinhar as diferenças de reacções e como faz diferença a Reacção. O vencedor fez um discurso para o Futuro que diz querer tornar sorridente, a bela vencida discursou sorridente para tornar a ter um Futuro, pois já há gente a querer abocanhar-lhe a sucessão como disputante eleitoral do PSF. E, vendo a animosidade dos azuis contra Royal, emendada pelo seu herói triunfante, tal como a de Ségó contra o seu rival, aclamada pela multidão dos vermelhos que a confortava, dei comigo a olhar para o Branco, cor do meio do pavilhão tricolor e nom adoptado pelos fiéis à Realeza Franca, que não punha uma metade da Nação contra a outra...
Logo, cedendo a uma fraqueza contra a qual não posso lutar, dei comigo a lamentar que, em vez da Royalté não esteja a chefiar o estado francês uma Royauté; e a felicitar-me por não ir nos cantos das sereias republicanas, as tais que só têm a metade das escamas...

sábado, 5 de maio de 2007

Olimpo Tripeiro

Em terra que não é só de Portistas, pois são muitos mais os Portuenses, Ute Lemper não poderia homenagear a sua audiência adoptando os azuis do FCP. Diplomata que é, optou antes por referir o seu gosto pelo Vinho do Porto, dando assim uma ferroada na prosápia inglesa que dá o ex-libris do Douro como The Englishman´s Wine. Nalguns sempre me irritou, precisamente naqueles que usam tão licoroso líquido para acompanhar a refeição, produzindo o nosso País tipos de vinho muito mais adequados ao efeito e sendo o primeiro produzido na região, antes da comercialização britânica, um normal vinho de mesa, embora de qualidade. Com tal hábito apetece perguntar: Porquê a modificação? Agora, nada admira que uma Diva ame este produto da Excelência, pois já João Saraiva punha os Deuses do Olimpo doidos varridos por ele, com crítica à antecessora da ONU e tudo:
AUTO DO VINHO DO PORTO ou UMA PARTILHA NO OLIMPO

PRÓLOGO

(Baco passa em revista a sua garrafeira;
Pára em detido exame a certa prateleira,
Onde pôsto a recato um velho «Pôrto> havia,
E empalidece ao ver uma ânfora vazia.)


BACO

- Por Júpiter! roubado! E logo - ó maldição! -
O meu vinho melhor!... Quem seria o ladrão?
Será crível que esteja entre os deuses do Olimpo?
Eis a grande questão que vou tirar a limpo!...

ACTO ÚNICO

(Na Assembleia dos deuses. Sentados em humiciclo, diante do trono de Júpiter, que empunha um feixe de raios, os deuses observam o rosto consternado de Baco, que acaba de depôr a sua queixa).


JÚPITER

- O caso, amigos meus, resume-se em bem pouco:
É Baco que se queixa, a chorar como um louco,
De que alguém lhe bebeu uma ânfora de «Pôrto».

BACO

- É uma dor sem alívio, um pesar sem confôrto!

JÚPITER

- Pois bem. Eu vou dizer-te, ó Baco, quem bebeu o divino licor...

BACO

- Ah, vós sabeis?

JÚPITER

- Fui eu!

(Os deuses entreolham-se, estupefactos)

BACO

- Abusais do poder! Mas dizei: que razão
Vos leva a cometer tão injusta agressão?
Temos vivido em paz; mas se esta paz se quebra...

MARTE
(desembainhando o gládio)


- O meu gládio não treme!

BACO

- Eu recorro a Genebra!

JÚPITER

- O tesouro de Baco é causa de discórdia?
Repartamo-lo, pois!

BACO

- Oh, não! Misericórdia!

JÚPITER
(com grande fleugma
)

- O «Pôrto», a não ser eu, quem ousa pretendê-lo?
Não há vinho melhor, como deveis sabê-lo!
Por êle é que eu deixei o nectar que bebia,
E - o caso é de notar - nunca mais tive azia...

VÉNUS

- Prefiro o Champagne

MARTE

- Eu, que apavoro a terra,
Reclamo (é o meu direito!) as bebidas de guerra!

JÚPITER

- É justo. E tu, Neptuno? escolhe, ó Deus dos mares!

NEPTUNO

- Eu fico satisfeito em tendo à mão Colares.

APOLO

- Eu quero Chambertin.

MINERVA

- Eu, Tokai...

DIANA

- E eu Xerez!

JÚPITER

- Tu, deusa da justiça, ó Témis, tu talvez,
Queiras Chipre ou Madeira...

BACO
(indignado)


- Isto é demais! Protesto!

TÉMIS

- Segundo o meu costume, ó Jove, eu levo o resto!

JÚPITER
(levantando-se para encerrar a audiência)

- A partilha está feita; Amigos, tenho dito!

BACO
(erguendo os braços num apêlo desesperado)


- E a mim, o deus do Vinho, o nume favorito
Do Homem que na terra o meu culto celebra,
Que me deixais ficar?

JÚPITER
(imperturbável)


- Disseste-o já: Genebra!