sexta-feira, 11 de maio de 2007

Reflexos & Reflexões

Andando à Chuva de José Roberto

Leitura do Diário de Jean-René Huguenin, Autor sugerido pelo BOS, o que é sempre carta de recomendação a atender.
«Um homem reflectido não pode esperar», dizia Barrès. Eis a mais bela palavra de esperança que conheço. Ele poderia ter dito também: «Um homem reflectido não pode amar» E seria a mais bela palavra de amor. Que nós cheguemos a esperar e a amar, apesar de todas as decepções e fadigas e contra elas, contra a nossa razão, contra a própria evidência, contra o mundo, é toda a beleza da esperança e do amor. Poder dizer no fim da sua vida: «Eu sou a única pesoa que não me decepcionou.» Não em nome de um orgulho insensato, mas porque, nesse oceano de miséria e de lama, só nós não tivemos o desespero de nos lançarmos nele. Ninguém para nos aplaudir, quase ninguém para nos encorajar, e no entanto permanecer digno, permanecer um homem de honra.
Eterna sedutora tonalidade de sabor nietzsheano de todos os solitários a quem pesa a desventura da insuficiência humana, mas que espremem da sua vontade um receituário de vitalismo anti-redomas de racionalidade que constituíssem o escafandro sem movimento dirigido a resultados semelhantes aos de um Taoísmo expurgado de continuidade espiritual. Apesar da corda do relógio da auto-suficiência que seria a insistência raciocinante no desinvestimento, a repulsa perante tão rarefeita contenção impele à recusa da renúncia mas faz transigir com a inevitabilidade do isolamento, quando o carácter aberto do Futuro pode, além da satisfação honorável que é a fidelidade ao Princípio, trazer também a rara descoberta de outra vida que nunca desiluda, elevação extrema da continuidade da tentativa. A atitude mais vulgar para não se ficar encharcado é abrir um guarda-chuva. Há quem se não molhe, por andar sobre as nuvens. Mas só o Escol absoluto pode identificar-se com a própria água que fecunda, sem perder de vista a realidade nem renunciar a ver outrem a quem honrar e que o honre, sem ficar obrigado a olhar para o que seja um mero reflexo da sua teimosia aprioristicamente erguido em justificação da persistência.

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