quinta-feira, 10 de maio de 2007

O Inferno Animal

Maria Entre os Animais de Dürer


Mau grado a sabedoria ancestral lembrar repetidamente que gostos não se discutem, é vício esmagador de Letrados e leitores discuti-los à exaustão. Daí que, enfileirando ineptamente na segunda das categorias, não possa resistir à tentação de divergir de Dois Grandes Bloguistas. Desta, porque detesto o coelho no prato, adocicado que o sinto. Daquele porque na Vida abomino, genericamente, o Homem, que tenho por indigesto.
Mas depois de mencionar o que nos separa, toca a submergir-nos no que nos une. Gosto dos bichos e do convívio cordato e afectuoso com eles. E estou com o Jansenista quando, condenando os maus tratos a animais por divertimento, exclui o seu consumo para garantir a subsistência. Não sendo capaz da abstinência a que também a Charlotte se confessa revel, permito-me, no entanto, estabelecer uma pequena distinção: a deglutição de carne não deveria ir além do estritamente essencial, sendo certo de que é esse ideal mais uma perfeição de que não sou capaz.
Dito isto, conviria que o único animal, além do Elefante, a que, por enquanto, é creditada a capacidade do reconhecimento da própria imagem tivesse o coração suficiente para sentir a do outro, inocente, ao ponto de abdicar dos comportamentos agressores das espécies menos bem sucedidas, porque menos batoteiras na expansão das armas com que vieram ao Mundo. Há, infelizmente, muito, demasiado, que andar, antes de chegarmos aos interditos culinários.
A Grandeza do Santo de Assis foi mais do que a mera privação dos bens mundanos dentro de um espírito de Alegria que contrariava o conhecido da maior parte das asceses. O ponto mais alto da sua Herança Espiritual reside na extensão da verdadeira - que não a postiça das confrarias políticas e esotéricas - Fraternidade aos tidos por brutos, levando o respeito ao ponto de ver as mensagens de Deus a Si dirigidas simbolizadas oniricamente em aves de capoeira entre as quais se encontraria a Própria alusão imagética. Nessa admirável fusão se dissolveu a hiperconsciência desumana da Humanidade que de tanto se pensar se forja, mais a direitos espúrios que nenhum sentido faz que possa ter, como o de infernar as vidas dos seres com menos defesas.
De Mark Twain: O cão é um gentleman. Espero ir para o Paraíso deles, não para o dos homens.

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