Olimpo Tripeiro
Em terra que não é só de Portistas, pois são muitos mais os Portuenses, Ute Lemper não poderia homenagear a sua audiência adoptando os azuis do FCP. Diplomata que é, optou antes por referir o seu gosto pelo Vinho do Porto, dando assim uma ferroada na prosápia inglesa que dá o ex-libris do Douro como The Englishman´s Wine. Nalguns sempre me irritou, precisamente naqueles que usam tão licoroso líquido para acompanhar a refeição, produzindo o nosso País tipos de vinho muito mais adequados ao efeito e sendo o primeiro produzido na região, antes da comercialização britânica, um normal vinho de mesa, embora de qualidade. Com tal hábito apetece perguntar: Porquê a modificação? Agora, nada admira que uma Diva ame este produto da Excelência, pois já João Saraiva punha os Deuses do Olimpo doidos varridos por ele, com crítica à antecessora da ONU e tudo:
AUTO DO VINHO DO PORTO ou UMA PARTILHA NO OLIMPO
PRÓLOGO
(Baco passa em revista a sua garrafeira;
Pára em detido exame a certa prateleira,
Onde pôsto a recato um velho «Pôrto> havia,
E empalidece ao ver uma ânfora vazia.)
BACO
- Por Júpiter! roubado! E logo - ó maldição! -
O meu vinho melhor!... Quem seria o ladrão?
Será crível que esteja entre os deuses do Olimpo?
Eis a grande questão que vou tirar a limpo!...
ACTO ÚNICO
(Na Assembleia dos deuses. Sentados em humiciclo, diante do trono de Júpiter, que empunha um feixe de raios, os deuses observam o rosto consternado de Baco, que acaba de depôr a sua queixa).
JÚPITER
AUTO DO VINHO DO PORTO ou UMA PARTILHA NO OLIMPO
PRÓLOGO
(Baco passa em revista a sua garrafeira;
Pára em detido exame a certa prateleira,
Onde pôsto a recato um velho «Pôrto> havia,
E empalidece ao ver uma ânfora vazia.)
BACO
- Por Júpiter! roubado! E logo - ó maldição! -
O meu vinho melhor!... Quem seria o ladrão?
Será crível que esteja entre os deuses do Olimpo?
Eis a grande questão que vou tirar a limpo!...
ACTO ÚNICO
(Na Assembleia dos deuses. Sentados em humiciclo, diante do trono de Júpiter, que empunha um feixe de raios, os deuses observam o rosto consternado de Baco, que acaba de depôr a sua queixa).
JÚPITER
- O caso, amigos meus, resume-se em bem pouco:
É Baco que se queixa, a chorar como um louco,
De que alguém lhe bebeu uma ânfora de «Pôrto».
BACO
- É uma dor sem alívio, um pesar sem confôrto!
JÚPITER
- Pois bem. Eu vou dizer-te, ó Baco, quem bebeu o divino licor...
BACO
- Ah, vós sabeis?
JÚPITER
- Fui eu!
(Os deuses entreolham-se, estupefactos)
BACO
- Abusais do poder! Mas dizei: que razão
Vos leva a cometer tão injusta agressão?
Temos vivido em paz; mas se esta paz se quebra...
MARTE
(desembainhando o gládio)
- O meu gládio não treme!
BACO
- Eu recorro a Genebra!
JÚPITER
- O tesouro de Baco é causa de discórdia?
Repartamo-lo, pois!
BACO
- Oh, não! Misericórdia!
JÚPITER
(com grande fleugma)
- O «Pôrto», a não ser eu, quem ousa pretendê-lo?
Não há vinho melhor, como deveis sabê-lo!
Por êle é que eu deixei o nectar que bebia,
E - o caso é de notar - nunca mais tive azia...
VÉNUS
- Prefiro o Champagne
MARTE
- Eu, que apavoro a terra,
Reclamo (é o meu direito!) as bebidas de guerra!
JÚPITER
- É justo. E tu, Neptuno? escolhe, ó Deus dos mares!
NEPTUNO
- Eu fico satisfeito em tendo à mão Colares.
APOLO
- Eu quero Chambertin.
MINERVA
- Eu, Tokai...
DIANA
- E eu Xerez!
JÚPITER
- Tu, deusa da justiça, ó Témis, tu talvez,
Queiras Chipre ou Madeira...
BACO
(indignado)
- Isto é demais! Protesto!
TÉMIS
- Segundo o meu costume, ó Jove, eu levo o resto!
JÚPITER
(levantando-se para encerrar a audiência)
- A partilha está feita; Amigos, tenho dito!
BACO
(erguendo os braços num apêlo desesperado)
- E a mim, o deus do Vinho, o nume favorito
Do Homem que na terra o meu culto celebra,
Que me deixais ficar?
JÚPITER
(imperturbável)
- Disseste-o já: Genebra!
4 comentários:
Los franceses llamaban a los españoles "bebedores de agua" (por beber agua en las comidas " da torneira.......)
Este Júpiter nunca me enganou;espertinho,hem?E não valeu de nada(as usual)a Baco o recurso a Genebra...
Como diria um meu conhecido:eheheh.
Ah, Caro Çamorano, desconhecia a chalaça!
Abraço
E Amável Citadora, atentemos em como a paródia é certeira: o Poder a alapardar-se com o que julga ser o melhor, a Justiça contentando-se com as sobras.
Beijo
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