quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Apologia de Sócrates

Até Kipling reconhecia que, ao contrário do que disse - East is East, West is West, and they will never meet - o encontro poderia vir a ocorrer, no cérebro de um classificado linguísta de São Bento.
Quem nunca se enganou a indicar um caminho, trocando as Direitas pelas Esquerdas, & vice-versa, que atire a primeira pedra.
Ou então, tendo lido o postal dragoniano sobre o Grande Oriente, quis excluir-se da obediência...

Os Perigos do Presente

Chère T, muito grato, tenho estado a tarde inteira perante o dilema que me põe. Começo por estranhar o Alfa Romeo, pois sendo a Minha Amiga tão insistete no meu uso de chapéu, não ignorará que Henry Ford dizia tirar o seu de cada vez que via um carro daquela marca. E como Mussolini adorava as maquinas dela, tendo até conduzudo uma (não esta) nas Mille Miglia, é preciso muito cuidado, ou os controladores de serviço ainda acharão que me está a imputar, em código, alguma militância.
Já a viagem marítima parece-me surgir da fantasia de muito ler as aventuras da Samantha. E respondo também à Cristina: ficam as Senhoras romanticamente a sonhar com o que os cruzeiros Vos possam dar e eu, ávido da Vossa companhia... chapéu!
Desisto, é melhor manter os pés na terra.

Demanda da Sophia

Também tenho direito à minha teoriazinha da conspiração. Assim, estou absolutamente certo de que as recentíssimas medidas tomadas pelas Autoridades sanitárias do Reino Unido, no sentido de os médicos não usarem, doravante, a tradicional bata com mangas, ou o estetoscópio pendurado ao pescoço, nem têm por fim as precauções anti-bacteriológicas aduzidas, nem se enquadram na linha de preocupações que desaconselhou aos graduados militares o uniforme fora do horário de serviço ou restringiu o uso das cabeleiras dos juízes a processos criminais, como tão-pouco visa protegê-los da tradicional alcunha de batas brancas.
A razão é muito outra e corresponde a uma iniciativa de puritana camuflagem que dificulte a identificação dos clínicos e inerentes assédios como o aqui evidenciado. Pouco a pouco, o estatuto de Médico perde tudo o que o tornava invejável. Sophia Loren nasceu num 20 de Setembro.

Validade No Verso

O Acordo de Casamento de Hogarth

O Islão não tenta só avanços nos planos estratégico e demográfico. Também no cultural instituições características dele vão tentando insinuar-se no Ocidente. Assim o casamento temporário, que uma autarca alemã, Frau Pauli, propõe, por um prazo de sete anos, renovável. Imagina-se que os filhos eventuais sejam os juros da aplicação, o que até traria alguma esperança, se ficassem os casais vinculados a uma taxa (de natalidade) a impor por algum organismo central europeu. Não digo banco, com receio de que entendeis "de esperma"...
O certo é que o quadro que acompanha ganha agora um novo alcance, com solicitadores nos lugares dos familiares. E estou certo de que a política bávara só não defendeu também outra característica civilizacional muçulmana, a poligamia, porque incompatível com a imagem de dominadora em que, complacentemente, permitiu que a publicitassem.

Mouros, Mourinhos e Alguns Mais

1- Até os Drusos de Jumblatt - que conhecem bem a família Hassad, por, noutra encarnação, lhe terem servido os interesses, sabem da cobardia de Damasco. Perante isto choca ver alguns portugueses calarem-se quando um Cristão é morto à bomba e chamarem lacrimosamente criminosos Aos que estragam os ingredientes de bombas maiores, na posse dos autores do feito.

2- O Special One não se furtou à despedível condição de everyone, no ofício de treinador. Não gosto nem um bocadinho da personalidade do nosso compatriota, mas a satisfação mafiosa do dono do Chelsea quando o clube perdia e a desilusão aquando do empate, contra o Rosenborg, ainda me inspiram piores sentimentos. Pobre público britânico, a Pátria do Desporto, com dirigentes que torcem contra os próprios clubes, sabe-se lá em função de que perspectivas negociais!

3- Um Belga pôs, na net, o seu País em Leilão, obtendo "licitações" de vulto. Impossível de importar para Portugal o exemplo. Para além de ser duvidoso que o estado actual despertasse interesse comprador, já foi vendido, há 33 anos, por tuta e meia. Culpem o atraso da informática de então, culpem.

4- Por vezes, a imitação do estrangeiro faz bem. Ninguém me tira da cabeça que os aplausos a C. Ronaldo e Nani em Alvalade, ontem, vivem muito do exemplo dado em Milão, pela recepção entusiástica a Rui Costa, por parte dos adeptos locais. Cá, como se sabe, o hábito era assobiar ex-jogadores da cor, como os meus consócios fizeram a João Pinto, despedido pelo próprio Clube...

5- O Grillo falante, Beppe Grillo, de seu nome, quer extinguir a corrupção e a impunidade da classe política e não esconde que tal só será plenamente conseguido em Itália com a abolição dos partidos. Centenas de milhar de assinaturas às petições que promove, 50.000 participantes num comício, em Bolonha, um milhão de visitas ao seu blogue, em Julho. Por cá sofremos do mesmo, mas falta-nos a consciência que nos impeça de ser bonecos de madeira marionetados por directórios vorazes, mentindo eternamente a nós próprios sobre a liberdade de que nos gabamos.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

A Pantites e Aristôdamos

Dia convencionado para celebrar o Sacrifício das Termópilas. Sempre visto como um combate de nacionalidades, fica obscurecido o que mais especificadamente foi, o de um recontro de elites, entre os Imortais Persas mandados avançar por Xerxes, perante o falhanço da "tropa de linha" e a parte da Guarda Real Espartana com descendência assegurada, somando-se-lhe Téspios valentemente associados. Uma Entrega sem esperança, obliteradora das entregas vergonhosas, atestada pelo adivinho Megístias, conhecedor do desfecho da Tragédia pela via oracular e não já pela das probabilidades, que, dispensado pelo Rei Leónidas, se recusou a abandoná-lo.
Choro por ser de um tempo em que o Episódio não é já Exemplo fortalecedor que contribua para as vitórias seguintes, mas apenas objecto filmável para distracção de todos nós, espectadores potenciais, fornecendo-nos notícia de Gente cuja conduta nos é estranha. Como num jardim zoológico.
E verto ainda mais lágrimas por ter nascido já depois dos Vassalos que contra as ordens recebidas Índias deram de mão beijada, em vez de tranquilamente se deixarem matar. Ou contra os historiadores que pretendem transferir o opróbrio para uma ordem de resistir. Tão exigente era a Ética Lacedemónia que dois guerreiros dispensados, Aristôdamos por estar doente, Pantites porque enviado, em serviço, como mensageiro à Tessália, apenas por terem sobrevivido e pese a estarem isentos de responsabilidade, foram por cobardes tidos e apontados, até que um se redimiu em Platéia, numa problemática lordjimesca com final feliz na fatalidade, e o outro se enforcou.
Aqueles a que se refere a inscrição Diz aos Espartanos que aqui jazemos para obedecer às suas leis foram os que ouviram o seu Rei exortá-Los a que com ele estivessem no momento e mais tarde consigo jantassem no Inferno. Razão acrescida para não faltarem neste recanto, apesar do País que temos estar completamente carecido de "Rei e Lei", numa terra de ninguém de "nem paz nem guerra". Sobretudo a paz, que bem deve faltar à nossa consciência colectiva.
De A. E. Houseman

THE ORACLES

'Tis mute, the word they went to hear on high Dodona mountain
When winds were in the oakenshaws and all the cauldrons tolled,
And mute's the midland navel-stone beside the singing fountain,
And echoes list to silence now where gods told lies of old.

I took my question to the shrine that has not ceased from speaking,
The heart within, that tells the truth and tells it twice as plain;
And from the cave of oracles I heard the priestess shrieking
That she and I should surely die and never live again.

Oh priestess, what you cry is clear, and sound good sense I think it;
But let the screaming echoes rest, and froth your mouth no more.
'Tis true there's better booze than brine, but he that drowns must drink it;
And oh, my lass, the news is news that men have heard before.

The King with half the East at heel is marched from land of morning;
Their fighters drink the rivers up, their shafts benight the air.
And he that stands will die for nought, and home there's no returning.
The Spartans on the sea-wet rock sat down and combed their hair.

Exercício de Licantropia

Estereótipo de Lauri Svedberg

Nunca tendo praticado Rugby, desde pequenino que nutri um certo gosto pela modalidade. Talvez porque nesses tempos de iniciação o melhor Desporto que a TV dava era composto pelas transmissões do Torneio das (então) Cinco Nações, com os apaixonados comentários de Cordeiro do Vale, Alguém que exalava perdição pela modalidade, um pouco como o Coronel Matias no Hipismo, ou até João Coutinho, no Basquetebol. Mais tarde novas visões daquela prática me foram facultadas pela devoção absoluta, literariamente servida com génio, de Antoine Blondin e Kléber Haedens. Acima de tudo sempre me ficou a noção, por um Colega Universitário traduzida, em frase antiga que sempre reiterava - tratava-se de um jogo de brutos praticado por Cavalheiros, onde o Futebol muitas vezes é um jogo de Cavalheiros praticado por brutos.
Avesso que sou a ver no Desporto outras realidades que não as que nele se esgotem, por achar que embarcar nisso é fazer o jogo dos poderes que dele se servem, não posso, todavia, deixar de denunciar uma indignidade e lamentar uma fraqueza.
A primeira - que em mérito última é - passou-se na última edição do programa televisivo «Eixo do Mal», onde os intervenientes troçaram da participação dos Lobos, o Quinze Nacional que ora se bate com os melhores. Eram três os vectores do desinspirado escárnio: os nomes porventura ilustres dos Seleccionados, a maneira fervorosa como entoaram o Hino e as diferenças pronunciadas nas derrotas que lhes foram infligidas. Ou seja, velhíssimas pechas da Esquerda, os fumos de inveja social, como o desconforto perante a União em volta dos símbolos da Pátria. Mas a terceira ainda é pior, porque define a falta de qualidade dos intervenientes, não já a de um campo ideológico. Não prezar a progressão, o cerne da prática desportiva, é bem típico desses amigos do Progresso, o género de gente que só se cala quando há medalhas, como bons materialistas que se revelam. E, se essa superação que leva a um patamar superior é aferível mais patentemente nas marcas, de Atletismo e Natação, por exemplo, a ascensão a um grupo restritíssimo como o dos participantes no actual certame raguebístico é critério seguro de equivalente aperfeiçoamento, impossível de verificar-se no meio boleiro, em que, independentemente das qualificações, é mais fácil todos jogarem contra todos.
Um tanto desculpável, por outro lado, mas não credora de aprovação, é a alegria com que Alguns Bloguistas que estimo, entre eles Amigos também fora da Blogosfera, se demarcam dos gostos predominantes na Colectividade, relegando para as "massas acéfalas" o apreço pela bola, reservando para os Eleitos o culto do melão. Não penso devermos procurar motivos de afastamento dentro do Todo Nacional, já basta o que basta. E amarmos um sector desportivo não obriga a denegrirmos os outros, nem a promovermos uma pontinha de snobismo pela consideração em voz alta de virtudes não estritamente atléticas dos praticantes.
Seja como for, perante os estereótipos dos televisionados opinion makers, que tentaram apresentar os Lobos como indesejáveis, confesso que contra a Itália me irmanarei a eles, seguindo a letra do Exemplo Franciscano.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Evitando as Pi(c)adas

Querida T, nada tenho contra sorrisos Binaca, mas um artista português não se contenta com menos do que o único remédio contra a ceifeira molengas dos dentes. E quanto a evitar inobservâncias de horários, lembro que uma Vespa é insusceptível de evitar as picadas dos bicharocos homónimos. Enquanto que se me deixar conduzir o Buick que, pela descrição dos proprietários, se adequa por inteiro a V. Ex.ª, o duplo problema ficará resolvido. Além de permitir potenciar a atenção prestada a Velhinhas em autocarros, dando-lhes uma generosa boleia...

Pele de Galinha

A Água de Rosas convirá a peles delicadas, mas dela também tiram proveito mais calejadas, como as das velhas raposas milanesas. A Água que os Rosas, meteram, ao fazer livre escusado contra uma equipa que tem Pirlo, para não falar já na ingenuidade da entrega, sem recuperação, no segundo tento, a verduras de juventude atribuível. A questão, porém, é que todos, excepto Léo me pareceram entrar com medo do nome do adversário, o que me sugeriu o título do presente.
A sondagem que lateralmente disponibilizei, nos últimos dias, foi inconclusiva. Seis votantes, repartindo-se por igual entre os que queriam Katsouranis na defesa e os que o preferiam no meio-campo. O meu juízo é que esta última era a melhor solução, aliás Camacho pôs de início precisamente a linha que eu colocaria. No reino dos ses poderá ser dito que se Miguel Vítor tem sido sacrificado, não ocorreria o segundo golo italiano. Mas também se pode dizer que provavelmente a velocidade teria sido outra e haveria muito mais probabilidades de a diferença se dilatar. Não gosto de me alegrar por perder por poucos, contudo teria um piadão se nos qualificássemos graças à diferença de um golo, o que foi marcado no último minuto...

Dilema dos Diabos

É tão complicado atribuir ao Dr. Kouchner desígnios de desamor ao Próximo, depois do seu protagonismo à frente dos Médicos Sem Fronteiras, que os protobombistas nucleares de Teerão, para dizerem alguma coisa, tiveram de apontar uma ultrapassagem no discurso do que até aqui vinham dando como Satan. Para além da perda de credibilidade de um regime clerical que apregoa agora uma maldade maior do que a do Demónio, esvai-se, igualmente, muita da força de dar todos os duros como seguidores de Washington. É tão impossível nas tomadas de posição como no plano físico algo mover-se à frente e atrás de outro corpo, em simultâneo...

Ghost Writer

Conhecimento Oculto de Michel Verplank

A Língua está condenada a camuflar, moderando a integralidade de cada pensamento. Ao adoptar a forma de Poesia, contudo, faz mais, por escolher a expressão menos imediata, furtando a intenção patente de significar, através da transmissão velada de um sentido. Em vez da mutilação da personalidade residir na amputação que qualquer delaração parcelar dela implica, há uma tentativa de ampliar o alcance do Poeta, projectando uma grandeza que só corresponde aos anseios que da própria dimensão desenvolve. É furtando a aridez condensada que os "vizinhos" conhecem que, catapultando-se num desmedido conjunto de caixinhas chinesas, quais as salas escancaradas e sucessivamente percorridas da Vida, se procura dar a ilusão de dimensão maior ao Leitor e, em ricochete, a si próprio, sendo certo o desmentido realista que cada falhanço troveja, reduzindo o solipsismo ambicioso de negar-se à percepção dura da inescapabilidade do que se é. O que é o contrário do esperado, ou como a marca do Prisioneiro se confunde com o símbolo da Liberdade.
De David Mourão-Ferreira

ARGUMENTO

De versos em que me escondo
encho os meus próprios ouvidos

Digo abrigo em lugar de ombros
rua em vez de paraíso

dádiva em lugar de roubo
em vez de pólvora vidro

rosto rasto ruga rogo
em vez de polen e cisco

Só vivo se me prolongo
Caminho se não caminho

Sempre uma deusa bifronte
esta língua em que me exprimo

Digo remos vejo sombra
Chamo ramos ao que é vivo

Sonho que sonho o que sonho
E recomeço E desisto

É não indo ao meu encontro
que me encontro a sós comigo

Ah no incesto das ondas
com que pânico me atinjo


A Solidez da Estrada Para a Metáfora e a Memória de Misha Reznicoff

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Ó...Ciosos dos Livros

O Ócio de Sísifo de Sandro Chia

Chamo a atenção da T para que montanhas de papel para ler podem constituir uma forma de ociosidade. O que me leva a atribuir à postagem a significação de que se escusa de estragar duas casas... Mas o pobre Sísifo não pára nem pode ser aliviado por doces companhias enchapeladas...

Cabeça no Ar

Perto do acto inaugural da grande exposição dedicada a Arcimboldo pelo Museu do Luxemburgo, ocorreu-me ser o momento de falar da série dos «Quatro Elementos», de longe por mim preferida à da tetralogia das «...Estações». Isto porque, por muitos antropomorfismos que comovessem os Surrealistas, até o surrealista que há em nós, a representação sazonal redunda sempre em compêndio de naturalista que o Pintor Milanês ao serviço dos Habsburgos também parece ter sido.
Enquanto que nos constituintes do Universo a coisa fia mais fino. Foi preciso alguma ductilidade para transferir as flamas para uma cabeleira, por muito que os cabelos ruivos hajam preenchido os imaginários do Ocidente.
E a evidência dos frutos do Mar na ideação da Água obrigou á profundidade de não olvidar uma homenagem merecida à nossa Colega Miss Pearls,
assim como a alusão à Terra nos traz animais de olhos fechados, que mortos ou adormecidos, não têm maneira física de despegar os ossos do chão.
O que nos transporta à genialidade da procura da sugestão do Ar. Como pintá-lo? Recorrendo a perturbações dele, como furacões, reduz-se a Essência a "deformidades" atmosféricas. Se olharmos para a figura cimeira deste post, poderemos dar como não pequeno sucesso pictórico a indicação do caminho, em vez da própria imagem da coisa. As alimárias de boca aberta remetem-nos para a urgência da respiração, de que a vida sente a falta ainda antes da água, e sem possibilidade de substituição como os outros dois componentes da síntese empedocleana.
Mas é o pavão que dá a suprema nota de argúcia, porquanto descreve bem a soberba desmedida do Homem em querer pensar e aprisionar mentalmente, como classificar, o que se lhe escapa entre os dedos. Apesar de aparências em contrário, Anaxímenes foi mais modesto, pois, ao propor o Ar como Princípio Originário, o vocábulo empregue não se referiria ao puro, mas à neblina, o que é nada desprezível confissão das dificuldades de abarcar claramente o que nos envolve.
E, para aqueles que estejam já disposinhos a dizer que fiz um postal a partir do ar, sempre citarei Thoureau, quando dizia que nenhum mal há em construir nele os respectivos castelos, desde que se implementem por baixo as fundações. É ele que permite voos e do concerto com a solidez das bases dependerá muito do nosso equilíbrio psíquico.

Faça Cabeleiras, Mestre André!

É extraordinário como a Opinião Publicada francesa se vem mostrando volúvel acerca de Ségolène Royal. Antes da eleição levou-a em ombros, ao ponto de negar a evidência da derrota no debate televisivo com Sarkozy. Daí para cá tudo de menos abonatório tem sido posto em evidência, o artificialismo da postura, o tornear das questões enquanto prepara uma resposta limpinha, as frases de circunstância para agradar, à vez, a fatias da Sociedade descartáveis do resto, o feminismo bacoco, enfim a quota de vazio. Mas tudo isto sempre lá esteve, como demonstra esta genial rábula pré-eleitoral de Florence Foresti. O que se passará para ser toda esta negatividade posta em evidência, esquecendo-se a parte positiva, a de uma política liberta dos tradicionais grupos de pressão socialistas, com o jacobinismo da retórica atenuado e os bordões da Luta de Classes eliminados?
Dos seus opositores assumidos, Strauss-Kahn e Lang alinharam, em graus diversos, com Sarko. Fabius, vendo o campo vazio, continua a repelente reconversão da boca para fora, transitando do estatuto do Socialista mais direitista de França para o de líder da ala Esquerda.
Resta Lionel Jospin onde sempre esteve. Mas esse é que é o (seu) mal. Anuncia-se agora a publicação de um livro, intitulado «IMPASE», em que diz ser a actual dirigente do PSF "uma ilusão" e "não ter as qualidades humanas e as capacidades políticas para vencer uma eleição presidencial". Sabendo-se como foi brilhante o desempenho eleitoral para o Eliseu do opinador, falhando a própria presença na final, contra Chirac, importaria dizer-lhe não vá o sapateiro além da chinela, como Apeles o terá feito (ne sutor ultra crepidam).
Mas há uma história que, pela proveniência e força da recomendação, assenta melhor :
Por 1760 um cabeleireiro francês de nome André dirigiu uma missiva a Voltaire, tentando o patrocínio para uma peça sua «O Terramoto de Lisboa», essse tema que, desgraçadamente, deu para tudo. Rezava assim:
"É um estudante, noviço na arte da poesia, que se aventura a dedicar-lhe a sua primeira obra, tendo-o sempre reconhecido por um dos nossos célebres, pelas pomposas obras que tem dado e dá à luz todos os dias. Eu julgar-me-ei feliz se quiser lançar um rápido olhar a essa pequena obra, favorecendo-a com a menor das suas lembranças. Faltaria a um grande dever se não confessasse que o reconheço por mestre. Se pela sua bondade se dignar favorecer-me, eu prometo que, livre de todo o receio, publicarei constantemente os seus louvores e testemunharei por toda a parte o quanto lhe sou devedor por ter aceite.".
Voltaire, divertido, respondeu com a frase cem vezes redigida Faça cabeleiras, Mestre André, o que não despertou no destinatário outra percepção que a de "o grande escritor estar a envelhecer, porque se repetia".
Correndo o mesmo risco, também eu digo ao político Francês: Faça cabeleiras, Mestre Lionel.

domingo, 16 de setembro de 2007

Fardas & Fadas

Querida T, não deixe que as vestes próprias de músculos hipertrofiados A assustem! Pode vir tomar uma banhoca! Atenção à legenda ínsita.


E, não menos Querida Júlia, na dimensão a que nos referimos, esta é que seria, tendencialmente, uma farda: de presidiário...


Mas não gostei nada dos modelos de fato de banho femininos que constam do outro postal. Como as aparências enganam, aqueles é que seriam enfiar um barrete. Não já estes, mais adequados a Damas entusiastas de chapéus. Façam favor de experimentar.

Beijinhos

Olhares Enviesados

Da celeuma levantada pelas inovações decididas em matéria de prisão preventiva não posso falar, por desconhecer o pormenor delas. Mas posso referir-me às consequências incontestadas que trarão. Num país em que o raquitismo das molduras penais impede qualquer veleidade de Justiça, uma medida que visa, fundamentalmente, a Segurança tem em comum com elas a prioridade da pena - como compaixão - dirigida ao inculpado, sobre aquela que se concede à vítima. Claro que a prisão preventiva deveria ser excepcional e insusceptível de arrastar-se, mas sabe-se como a pecha da lentidão oblitera uma e outra dessas características ideais. E é curioso que esse carácter de excepção não seja suficiente para aplacar os receios legítimos quanto a inocentes aprisionados antes do julgamento. Cabendo a decisão a um Juiz deveriam as consciências ficar sossegadas... se não fossem débeis na distinção entre os súbditos pelas suas condutas. O que está por detrás da constância em soltar criminosos repugnantes o mais depressa possível é o que espreita por cima do ombro da libertação de acusados perigosíssimos - o horrível entendimento que tende para a igualdade; e que obcecado pela recuperação ou pela menor privação possível dos infractores, os entende como não tão afastados de gente que nunca se desviou visivelmente da rectidão, assim como que uns descuidados a quem por mera distracção tivesse sobrevindo o contágio de uma doença...
Não se admirem, em decorrência directa desta castrada forma de reagir, que aos olhos do público também delinquentes de naifa assestada e decisores de governamentais cadeiras não sejam tão diferentes como isso...
*

Neste Domingo topei igualmente com uma reflexão de Bacon:O pincel do Espírito Santo trabalhou mais ao descrever as aflições de Job do que as felicidades de Salomão. Não sendo este o Pecado que nunca será perdoado, o que atribui ao Paracleto o Mal, não deixa de Lhe creditar o que resulta duma fraqueza patentemente humana. A de cuidar mais das dores que levam a maioria à revolta, do que das bençãos que a conduzem tantos ao fastio. O privilegiado morto de tédio e de enjoo, o desvalido que se deixa embarcar no ódio, as duas atitudes que fazem os pobres homens atentar mais no que os vai ferindo do que naquilo que os sacia. E, pela insistência em ter o que os bafeja como merecido e o que os magoa como injusto, em dar-se como eleitos, iniciática ou rotineiramente.


O Rei Salomão de Marcos Zapata

Desejos no Shaker

Quero dar as boas-vindas a Um Grande Apreciador da dança e de cocktails, Que regressou à roda bloguística, com duas prevenções: contra a agitação desmedida e contra o "Génio da Bebida"...
E para tanto junto a receita que Ted Shane dá de

AFFINITY

1/2 oz. French Vermouth
1/2 oz. Italian Vermouth
2 dashes Angostura Bitters
1/2 oz. Scotch
Stir with cracked ice and strain. Twist of lemon peel.

I PRAY IT CAN BE AN EFFECTIVE ONE...

sábado, 15 de setembro de 2007

Paulo à la P(l)age

Ora aqui está o que eu chamo um belo dia de praia! Excelente Companhia e igualmente refrescante bebida numa esplanada sobre o mar, sem vento contra o qual ter de estar de prevenção e, cúmulo da felicidade, encontrando uma feira do livro no regresso.
Os preços? Tão apetecíveis que só não os descrevo como negócio da China por o episódio que põe esse Grande País na ordem do dia, a opressão esterilizadora do Povo Tibetano, ser transacção que custou demasiado caro à Humanidade - a Honra das chancelarias das Nações.
Resultado: vinte volumes a mais, dos quais Vos dou um cheirinho de cinco.
Vida de um político que me tem valido mais como fonte da História, sobre esse Século XVII que com a Grécia Antiga e a Inglaterra Victoriana forma a tríade epocal que mais me atrai. O Homem, aliás, era melhor vidente do que Nostradamus e escreveu escolher um ministro é fazer vinte invejosos e um ingrato. Pensei muito nele, no conhecido episódio do Dr. Santana e do ministerial Chaves que acabou por o apear.
*
É provavelmente o que lerei primeiro. Não por prioridade de gostos, mas pela mui prática razão de tentar saber se o devo colocar na prateleira da História das Religiões, ou na da Ficção.
*
Henry Adams ergueu a célebre Abadia (pen)insular aos píncaros de emblema da Cultura, mais, da Espiritualidade Europeia de séculos. Espero aqui uma biografia menos simbólica, por um singularíssimo e sempre aconselhável Preservador da Tradição.
*
Para que nem me acusem de exclusivista nem de ignorar o que a Genealogia oferece. É cá um bloco... se tamanho for documento do Saber, estou servido.
*
Vem como atestado que me garanta imparcial. Só espero que não seja areia demasiada para a minha camioneta...
Prontos, como se diz. Tenho ou não por onde esbracejar?

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Quem És Tu, Romeiro?

Vê como se pode ser excluído do conceito de "ser alguém", graças a um "everybody knows", Caro Jansenista? Aqueles que cita têm uma atenuante, se prestaram atenção aos argumentos vistos, que não aos ouvidos. Enfim, não demasiado, mas em tempos de escassez...

Bocas de Reacção

- Tanta conversa sobre as coincidências entre o desaparecimento da Menina McCann e o filme de Affleck bem poderiam induzir os mais suspicazes a acreditar estar-se perante um golpe genial na promoção da fita. Dentro do horror ainda bem que o caso real precedeu a estreia, ou voltaríamos a sujeitar-nos à catarata de teses sobra a má influência do Cinema nos comportamentos, com códigos censórios a espreitarem a oportinidade.
*
- Fiquei deveras surpreendido por Márcia Rodrigues, em incongruência com o incidente na Embaixada do Irão, não ter rapado a cabeça e envergado vestes monacais tibetanas para entrevistar o Dalai-Lama.
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- Tea! And Sympathy? A Dama de Ferro foi tomar cá com o Trabalhista Gordon Brown! Lady Thatcher dava-se tão bem com Cavaco que está a fazer a Cameron o mesmo que o PR fez a Santana. Mas um, no plano do revisionismo ideológico, como o outro, no da lealdade política, fizeram por merecê-lo.
*
- O Primeiro Ministro Britânico contratou uma agência de publicidade que bolou o chavão Not Flash, just Gordon, para jogar com o nome do herói da banda desenhada. Este não terá culpa da fraqueza da mensagem, parecendo que os autores são gente menos capaz do que os spin doctors de Blair, os quais não brincavam em serviço. A menos que com o Labour a descer nas sondagens, a eliminação de Flash exprima o desejo de não se verificar a fugacidade associada ao disparo iluminante usado na fotografia...
*
- Diz um Alto Responsável que vão ser penalizados "os que ensinem a fazer bombas na net". Com tanta má vontade, qualquer dia estão a impedir-nos de estabelecer links para aqui.
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- O Calendário vale mais do que a Diplomacia, reunindo Judeus e Muçulmanos em momento sagrado para ambos. O do Novo Ano Hebraico coincidindo hoje com o início do Ramadão. Este, altura de Purificação da Alma, implica, durante o dia, jejum de alimentos e de sexo e renúncia à inveja e à hipocrisia. Vendo assimiladas estas realidades, pergunto-me se a abstinência das duas últimas também integrará o conceito de sacrifício?