Cabeça no Ar




O que nos transporta à genialidade da procura da sugestão do Ar. Como pintá-lo? Recorrendo a perturbações dele, como furacões, reduz-se a Essência a "deformidades" atmosféricas. Se olharmos para a figura cimeira deste post, poderemos dar como não pequeno sucesso pictórico a indicação do caminho, em vez da própria imagem da coisa. As alimárias de boca aberta remetem-nos para a urgência da respiração, de que a vida sente a falta ainda antes da água, e sem possibilidade de substituição como os outros dois componentes da síntese empedocleana.
Mas é o pavão que dá a suprema nota de argúcia, porquanto descreve bem a soberba desmedida do Homem em querer pensar e aprisionar mentalmente, como classificar, o que se lhe escapa entre os dedos. Apesar de aparências em contrário, Anaxímenes foi mais modesto, pois, ao propor o Ar como Princípio Originário, o vocábulo empregue não se referiria ao puro, mas à neblina, o que é nada desprezível confissão das dificuldades de abarcar claramente o que nos envolve.
E, para aqueles que estejam já disposinhos a dizer que fiz um postal a partir do ar, sempre citarei Thoureau, quando dizia que nenhum mal há em construir nele os respectivos castelos, desde que se implementem por baixo as fundações. É ele que permite voos e do concerto com a solidez das bases dependerá muito do nosso equilíbrio psíquico.
2 comentários:
S. Com uma pintura tão material ninguém consegue dizer que não pode viver do ar.
Meu Caro Rudolfo Moreira,
vão nisso, vão e será um ar que se lhes dará.
Abraço
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