A Pantites e Aristôdamos
Dia convencionado para celebrar o Sacrifício das Termópilas. Sempre visto como um combate de nacionalidades, fica obscurecido o que mais especificadamente foi, o de um recontro de elites, entre os Imortais Persas mandados avançar por Xerxes, perante o falhanço da "tropa de linha" e a parte da Guarda Real Espartana com descendência assegurada, somando-se-lhe Téspios valentemente associados. Uma Entrega sem esperança, obliteradora das entregas vergonhosas, atestada pelo adivinho Megístias, conhecedor do desfecho da Tragédia pela via oracular e não já pela das probabilidades, que, dispensado pelo Rei Leónidas, se recusou a abandoná-lo.
Choro por ser de um tempo em que o Episódio não é já Exemplo fortalecedor que contribua para as vitórias seguintes, mas apenas objecto filmável para distracção de todos nós, espectadores potenciais, fornecendo-nos notícia de Gente cuja conduta nos é estranha. Como num jardim zoológico.
E verto ainda mais lágrimas por ter nascido já depois dos Vassalos que contra as ordens recebidas Índias deram de mão beijada, em vez de tranquilamente se deixarem matar. Ou contra os historiadores que pretendem transferir o opróbrio para uma ordem de resistir. Tão exigente era a Ética Lacedemónia que dois guerreiros dispensados, Aristôdamos por estar doente, Pantites porque enviado, em serviço, como mensageiro à Tessália, apenas por terem sobrevivido e pese a estarem isentos de responsabilidade, foram por cobardes tidos e apontados, até que um se redimiu em Platéia, numa problemática lordjimesca com final feliz na fatalidade, e o outro se enforcou.
Aqueles a que se refere a inscrição Diz aos Espartanos que aqui jazemos para obedecer às suas leis foram os que ouviram o seu Rei exortá-Los a que com ele estivessem no momento e mais tarde consigo jantassem no Inferno. Razão acrescida para não faltarem neste recanto, apesar do País que temos estar completamente carecido de "Rei e Lei", numa terra de ninguém de "nem paz nem guerra". Sobretudo a paz, que bem deve faltar à nossa consciência colectiva.
De A. E. Houseman
THE ORACLES
'Tis mute, the word they went to hear on high Dodona mountain
When winds were in the oakenshaws and all the cauldrons tolled,
And mute's the midland navel-stone beside the singing fountain,
And echoes list to silence now where gods told lies of old.
I took my question to the shrine that has not ceased from speaking,
The heart within, that tells the truth and tells it twice as plain;
And from the cave of oracles I heard the priestess shrieking
That she and I should surely die and never live again.
Oh priestess, what you cry is clear, and sound good sense I think it;
But let the screaming echoes rest, and froth your mouth no more.
'Tis true there's better booze than brine, but he that drowns must drink it;
And oh, my lass, the news is news that men have heard before.
The King with half the East at heel is marched from land of morning;
Their fighters drink the rivers up, their shafts benight the air.
And he that stands will die for nought, and home there's no returning.
The Spartans on the sea-wet rock sat down and combed their hair.
Choro por ser de um tempo em que o Episódio não é já Exemplo fortalecedor que contribua para as vitórias seguintes, mas apenas objecto filmável para distracção de todos nós, espectadores potenciais, fornecendo-nos notícia de Gente cuja conduta nos é estranha. Como num jardim zoológico.
E verto ainda mais lágrimas por ter nascido já depois dos Vassalos que contra as ordens recebidas Índias deram de mão beijada, em vez de tranquilamente se deixarem matar. Ou contra os historiadores que pretendem transferir o opróbrio para uma ordem de resistir. Tão exigente era a Ética Lacedemónia que dois guerreiros dispensados, Aristôdamos por estar doente, Pantites porque enviado, em serviço, como mensageiro à Tessália, apenas por terem sobrevivido e pese a estarem isentos de responsabilidade, foram por cobardes tidos e apontados, até que um se redimiu em Platéia, numa problemática lordjimesca com final feliz na fatalidade, e o outro se enforcou.
Aqueles a que se refere a inscrição Diz aos Espartanos que aqui jazemos para obedecer às suas leis foram os que ouviram o seu Rei exortá-Los a que com ele estivessem no momento e mais tarde consigo jantassem no Inferno. Razão acrescida para não faltarem neste recanto, apesar do País que temos estar completamente carecido de "Rei e Lei", numa terra de ninguém de "nem paz nem guerra". Sobretudo a paz, que bem deve faltar à nossa consciência colectiva.
De A. E. Houseman
THE ORACLES
'Tis mute, the word they went to hear on high Dodona mountain
When winds were in the oakenshaws and all the cauldrons tolled,
And mute's the midland navel-stone beside the singing fountain,
And echoes list to silence now where gods told lies of old.
I took my question to the shrine that has not ceased from speaking,
The heart within, that tells the truth and tells it twice as plain;
And from the cave of oracles I heard the priestess shrieking
That she and I should surely die and never live again.
Oh priestess, what you cry is clear, and sound good sense I think it;
But let the screaming echoes rest, and froth your mouth no more.
'Tis true there's better booze than brine, but he that drowns must drink it;
And oh, my lass, the news is news that men have heard before.
The King with half the East at heel is marched from land of morning;
Their fighters drink the rivers up, their shafts benight the air.
And he that stands will die for nought, and home there's no returning.
The Spartans on the sea-wet rock sat down and combed their hair.
8 comentários:
Caríssimo Amigo:
Bem Haja pela Sua lembrança desta data em que vale sempre a pena relembrar a Coragem, a Honra e o sentido de Dever de Leónidas e dos seus homens, qualidades que hoje em dia são apontadas como «defeitos», como muito bem escreve, numa inversão de valores grotesca digna de algum pesadelo mais ou menos dantesco.
De igual modo tombaram os Cavaleiros do Templo, em São João d'Acre, mais de um milénio depois, sob os golpes dos mamelucos sarracenos, para que a população pudesse fugir ao massacre por duas passagens secretas que iam dar ao porto.
E também, o nosso tão vilipendiado Rei D. Sebastião exclamaria naquele quatro de Agosto o célebre «morrer, sim, mas devagar», porque «um Rei não se rende, mas tomba a combater» pelo que julga ser justo e honrado.
No caso de Leónidas, o ímpeto do exército persa foi quebrado, o que o levaria mais tarde à sua derrota.
No caso de D. Sebastião, a expansão do Império Otomano foi ali mesmo travada, pois a partir dali não fez mais do que regredir. À custa do sacrifício do Império Português, é certo, mas os Desígnios de Deus são mesmo insondáveis.
E agora, neste marasmo «sem rei nem lei», à beira da dissolução de Portugal como Nação, atraiçoada por aqueles que, num acto de suprema hipocrisia, a juraram defender, pergunto de novo ao meu Caríssimo Amigo:
«Quando é o Rei, quando é a Hora?»
Porque tarda.
Grande abraço.
Vim aqui como intuito de fazer uma tentativa de comentar este texto,cuja leitura me encheu as medidas,mas calo face ao comentário anterior,que não me deliciou menos,e que já disse tudo que havia a dizer(aliás,os seus comentários são sempre enriquecedores).
Resta-me,pois,deixar um beijo.
...com o intuito...
Querida Cristina:
Um Bem Haja pelo seu elogio ao meu comentário, porventura muito menos eloquente do que os excelentes (e belíssimos) textos com que o Caríssimo Paulo nos brinda.
Beijo.
Caríssimo Réprobo,
Não chore... não verta lágrimas...
A história é feita destas histórias que vão alimentando os valores desses homens.
Eu sou um pouco mais céptica: não acho que só nessas épocas havia gente vertical. Sempre houve heróis, continua a haver heróis, mas hoje já não se valoriza as suas acções. Tenho a certeza que, nestas guerras que hoje vivemos, muitos tiveram atitudes nobres, esquecidas ou nem sequer notadas pelos que poderiam fazer o papel do historiador e contar...
Um beijinho
Meu Caro Carlos Portugal,
devo dizer que concordo totalmente com o que a Cristina diz do(s) Seu(s) Comentários e atribuo à Bondade a imerecida qualificação que o Meu Amigo faz dos meus textos.
Lembra muito bem a linha de continuidade histórica que nos salvou e o Seu brado final é também o meu. Penso que, para despoletar a reacção que propicie a recuperação da Honra há que mostrar às pessoas a ligação das soluções a problemas que apercebam. Daí que tenha referido no post inicial de hoje as denúncias de Grillo, em Itália.
Vamos a isso!
Abraço
Querida Cristina,
e o Beijo foi deixa que igualmente me fez sentir recompensado, embora quaisquer palavras que haja por bem acrescentar sejam sempre incentivo de monta.
Beijo
Querida Xantipa,
acredito que hoje haja heróis, mas de um heroísmo mais manso e menos decisivo em defesa do Ocidente. Mas evidentemente que, a par dos encómios à traição, o que dói mais é não ver erguido em exemplo e Norte das condutas da posteridade estes grandes quadros históricos. O que referi poderia servir também para nós, claro está
Beijinho deste Seu chorão amigo
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