sábado, 7 de abril de 2007

Sábado de Aleluia

A Aurora Surge Entre as Montanhas, de Dullah Mary Evans

À esmagadora carga da Véspera surge a Claridade que liberta, na manifestação completa, rumo à Elevação que possa unir de novo os dois pólos da adoração sagrada. Para tão sobre-humano Momento parecem escassos os recursos poéticos que O celebrem, fraca demiurgia quando concorrendo com o poder extremado da Prece que já não pede só na aflição, antes, não abdicando dessa humildade enternecedora, sobretudo agradece.
Escreveu Torga:

SUDÁRIO

O dia rompe da noite
Como um rebento do fruto
Ri-se um melro de alegria,
Acorda o ceu do seu luto.
Era preciso cantar,
Mas um hino absoluto.

E quem o canta, quem é
Capaz de uma tal façanha?
A poesia morreu
De desespero e de manha.

Mas a questão vem a revelar-se falsa: o óbito da Poética como exaltação apropriada só pode ser certificado relativamente à acepção de técnica, não À do maravilhamento que se impõe espiritualmente. É o triunfo do centrípeto da Comunhão sobre o centrífugo da realização, afinal Aquela Esperança a que secreta ou assumidamente se aspira, para lá das coroações de louros da "passagem cá por baixo" que compensam mas não recompensam.

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