domingo, 29 de abril de 2007

Contra a Bibliofobia!

Uma Busca:Eles encontraram um livro de Poesia de Esenin! de Nikolai Getman
Mau grado a minha identidade ser um segredo de Polichinelo, não é permitido a um signatário assumido como réprobo confessar a amizade por Quem quer que seja, nem a solidariedade, independentemente das divergências doutrinais. Fica pois esta nota em abstracto pespegada, com o ónus da concretização a caber aos bons entendedores.
A destruição dos volumes de textos é velha como o Mundo. Desde as recíprocas práticas religiosas de afirmação da sua visão da Verdade, com o propósito de imprimir nos espíritos a definitividade da execução dos escritos inimigos, até temores tributários de algo entre a superstição e o pré-maquiavelismo ligados à conservação do Poder, que geraram um Imperador Chinês com um cognome de Queimador de Livros. No universo contemporâneo a Alemanha hitleriana fê-lo, com intuitos semelhantes de associação da vontade popular ao triunfo da cultura oficial.
Nota-se uma abrupta e absurda queda qualitativa quando o móbil da inutilização não se refere já à condição herética ou hostil dos autores, ou ao perigo das suas máximas concernendo a conservação política, para passar-se a culpar o livro em si, personificando-o. Foi o que o Santo Fidel Castro de muitos opinadores fez, na grande biblioincineração de 2003, ao estatuir que "certos livros não deveriam ter visto publicados um simples capítulo, uma simples página, uma simples letra". Na base da reificação do ódio suspeito muito de que se possa encontrar a inconsciente e infantil pulsão de não querer permitir aos outros o acesso a um tesouro eventual na posse de um nebuloso gnomo do ramo, como de impedir a este a continuação do fruir dessa propriedade.
A Biblioteca de Rob Gonsalves

O grau zero da dignidade no ódio em questão atinge-se porém quando se priva alguém dos seus calhamaços, não já por preocupações de neutralizar capacidade propagandística que a quantidade de exemplares de cada obra não consente, mas para privar os adversários que se pretende atacar do manto protector de que se rodearam. Sabe-se que uma maneira clássica de enfraquecer um Homem é investir contra os seus afectos. Nesta medida, subtrair a um grande Leitor a companhia dos maços de folhas encadernadas que ama é transformá-lo num sem-abrigo. E nem funciona a única espirituosa redenção sugerida por Brodsky quando dizia que há crime maior do que queimar livros, qual fosse, não os ler. Confesso que seria perfeita a apreensão em que os homens de mão dela desatassem a devorar os milhares de páginas que tinham sido encarregados de desviar, convertendo-se às prosas lá dadas, porque, no sentido de preocupação, tal desenvolvimento decerto instalaria angústias extremas nos mandantes deste horror.
E mais, como técnica de combate político é muito rudimentar, uma interpretação grosseira, literal e, contudo, plena de iliteracia da recomendação de, nestes casos, proceder by the book.

7 comentários:

cristina ribeiro disse...

Caríssimo
Uma coisa que muito me impressionou,aquando de uma ida a Berlim,foi a vista de uma estante vazia,protegida por um vidro,sublinhada pela frase(pelo menos é este o sentido se não as palavras exactas):"quem é capaz de queimar livros,acabará,mais cedo ou mais tarde por queimar pessoas"(Heinrich Heine)...

(P.S.Gosto muito da nova decoração do "Afinidades).

�ltimo reduto disse...

A Amizade e a Solidariedade chegam lá. :)

Já o que retenho do comentário anterior é que quem lá meteu essa frase seria provavelmente capaz de fazer o mesmo... Tudo conversa fiada (não da Cristina Ribeiro, evidentemente)...

Um abraço!

O Réprobo disse...

Ora viva Quem é uma Flor! Então, que tal achou John Bull & C.ª? Pois, Cristina, a História do Livro coabita com uma imensa fogueira. No casos em que as fés se mostram mais... ardentes, como escape natural, embora lamentável, delas. Quando as investidas pelo fogo ou pelo palmanço adquirem contornos burocráticos nem se pode dizer que seja o afivelar de uma máscara de ardor...
Beijo radiante pelo regresso

O Réprobo disse...

Demolidor Pedro Guedes,
o Romantismo tinha destas coisas, mas procuremos aproveitar o aprovetável isolando-o do resto: o amor aos livros é atenuante para muitas imperfeições.
E, sim, gostaria de ver assegurada a chegada ao destino que pensei para esta tomada de posição.
Abraço

O Réprobo disse...

Ah, consegui da Cristina um louvor ao encarnado e branco! Posso enviar a propostazita de sócia do SLB?

cristina ribeiro disse...

Ó meu Caro,mas eu nunca tive qualquer fobia a cor alguma;o vermelho sempre foi uma cor de que gostei.
Não me diga que não gosta de ver uma paisagem de árvores bem verdinhas?

O Réprobo disse...

Pois, Minha Amiga, o pior é quando há partes desbotadas, sobretudo transversais, ehehehehehe.
Beijo