terça-feira, 17 de abril de 2007

e Reverso

Onde não se concebe refresh que valesse é no que tocasse a um acidente sucedido no Século XIV, a tristemente célebre Margarida da Caríntia, concorrente séria ao título de Mulher Mais Feia de Sempre. Não se pense que a involuntária característica a teria levado a procurar na Virtude a compensação que a tornasse admirável. A sucessão de infidelidades ao contudo apaixonadíssimo primeiro marido, João Henrique da Boémia, vai para além das baronias que distribuía pelos camponeses vigorosos que desejava e possuía - terminou no abandono final, para casar com o Imperador Luís da Baviera, por cima de recusas de anulação e da excomunhão papais. Se o segundo esposo começou por cobiçar os ricos e estratégicos teritórios que a aliança traria, não tardou a ficar perdidíssimo pela mulher. Redenção por um casamento harmonioso? Nem pensem. Acabou envenenado por ela, talqualmente o filho, nos seus vinte anos, dado a megera ser tão pouco escrupulosa sentada no trono como movimentando-se no leito. Trata-se, como se entrevê, de coisa bem diferente do expresso na moralidade do nosso ditado popular "casai as filhas bonitas que as feias saberão casar", ou da preferência de Benjamin Franklin pelas amantes velhas e feias, face às novas e belas, porque, dizia, "as primeiras se esforçam muito mais". Aqui o esforço era todo destrutivo, condizendo com a ameaça visível. Quem nunca se conformou com a monstruosidade foi o Pai da evocada, o que se justifica, pois se uma perversão pode fazer viciar, a autoria de algo deformado nunca deu bom nome a ninguém. Têm os psicólogos pano para mangas para desculpar as falhas de carácter em virtude desta rejeição.
Já quanto à falta de harmonia física temos de recorrer à pena dum pensador de eleição como Ralph Waldo Emerson, para negar o que parece, à primeira vista, evidente: dizia ele que "o segredo da fealdade não reside no irregular, mas no desinteresse". Consultando esta biografia, vê-se pois evaporada a possibilidade de apelidar de "feia" a que foi assunto deste post. À cautela, junto o retrato, para demonstrar como um grande escritor deixa, por vezes, a Realidade em maus lençóis...

4 comentários:

cristina ribeiro disse...

Pelo que me é dado ver,e ler,se essa Margarida vivesse nos dias de hoje,não se livrava de entrar no Livro do Guiness,além de que faria grande concorrência às nossas colunáveis especializadas nesse desporto de experimentar novas emoções:)).

O Réprobo disse...

ehehehehe, Maliciosa Cristina,
é, aliás, um possível case study para quem queira abordar na História a coincidência da repugnância física e de carácter, tão repisadas na BD e no Cinema popular.
Beijo

Anónimo disse...

Antes de leer el texto pensé que la fámula del cuadro era natural de la localidad leonesa de Peña Cambrones..........!

O Réprobo disse...

Ehehehehehe!