terça-feira, 12 de junho de 2007

Essência Para Abarcar

Heraclito de Gellu Naum
Tinha Heraclito centrado o protagonismo cósmico nas apreensões, pelo que Parménides sentiu a necessidade se sublinhar a assunção do Estatuto. Porque entre os dois a atracção humana pela perenidade estava num pensar tão altivo como o do Aristocrata de Éfeso circunscrita à obediência finalística, enquanto para o Eliata urgia a participação sem conflito igualatório, base intelectual assimilável a Verdade Revelada alguns séculos depois.
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Parmenides de Marcelle Van Bemmel
Mas as coisas não são tão simples como parte dos ledores as quis e, correcção pelo corolário do cíclico, a negação da fatalidade do Progresso radical era constatável no Todo de Um, apesar das espirais mais ou menos "feitas sob medida" para defesa do contrário, enquanto que o avantajamento afirmativo e demarcador sobressaía no Outro, visando não mais denegrir a radicalidade suprema do Espírito Pensante.
1ª Parte da divisão VIII do Poema parmenidiano, em tradução de José Cavalcante de Souza:

Só ainda (o) mito de (uma) via
resta, que é; e sobre esta indícios existem
bem muitos, de que ingenito sendo também é imperecível,
pois é todo inteiro, inabalável e sem fim;
nem jamais era nem será, pois é agora todo junto,
uno, contínuo; pois que geração procurarias dele?
Por onde, donde crescido? Nem de não ente permitirei
que digas e penses; pois não dizível nem pensável
é que não é; que necessidade o teria impelido
a depois ou antes, se do nada iniciado, nascer?
Assim ou totalmente é necessário ser ou não.
Nem jamais do que em certo modo é permitia força de fé
nascer algo além dele; por isso nem nascer
nem perecer deixou justiça, afrouxando amarras,
mas mantém; e a decisão sobre isto está no seguinte:
é ou não é; está portanto decidido como é necessário,
uma via abandonar, impensável, inominável, pois verdadeira
via não é, e sim a outra, de modo a se encontrar e ser real.
E como depois pereceria o que é? Como poderia nascer?
Pois se nasceu, não é, nem também se um dia é para ser.
Assim a geração é extinta e fora de inquérito perecimento.

Nem divisível é, pois é todo idêntico;
nem algo em uma parte mais, que o impedisse de conter-se,
nem também algo menos, mas é todo cheio do que é,
por isso é todo contínuo; pois ente a ente adere.
Por outro lado, imóvel em limites de grandes liames
é sem princípio e sem pausa, pois geração e pensamento
bem longe afastaram-se, rechaçou-os a fé verdadeira.
O mesmo e no mesmo persistindo em si mesmo pousa,
e assim firmado aí persiste; pois firme a Necessidade
em liames (o) mantém, de limite que em volta o encerra,
para ser lei que não sem termo seja o ente;
pois é não carente; não sendo, de tudo careceria.

2 comentários:

Terpsichore Diotima (lusitana combatente) disse...

Posso perguntar em que edição está esta tradução? Obrigada.

O Réprobo disse...

Respondo com todo o gosto, Querida Terpsichore: trata-se de uma edição autónoma do «Poema», precedida da Introdução ao Poema de Parménides, de Nietzshe, editora Farândola, Paris, 1993, 34pgs.
Beijinho