quarta-feira, 13 de junho de 2007

Prefácio à Cirrose

Manda a cronologia lembrar Pessoa a 13 de Junho. Pela criação que deixou, como pela criatividade medíocre de si em que se viciou. A indisposição provocada pela concretização em que se arrastava fora do momento transfigurador da escrita, acabava finalmente por, em momentos mais desasados dela, cair na vulgaridade justificatória da conjugação do verbo Poder no Pretérito Imperfeito, quando qualquer completude exigiria definitividade. Igualmente no não menos espalhado consolo repetido da brevidade do indesejado. Como se a bebedeira de obscuridade não fosse corrosiva, matando lentamente. Não, de forma inevitável, pela ânsia de recompensas geralmente ambicionadas, mais por desgraça da ausência do afecto testemunhado e retribuído do público coevo desejado ou por desejar. É desse teor o lamento que repele, mesmo se, intimamente, o leitor queria concordar, porquanto a benignidade do apagamento soa incompatível com a sua própria condição proclamatória. E esta tensão abafada mata.

Ouvi os sábios todos discutir,
Podia todos refutar a rir.
Mas preferi, bebendo na ampla sombra,
Indefinidamente só ouvir.

Manda quem manda porque manda nem
Importa que mal mande ou mande bem.
Todos são grandes quando a hora é sua.
Por baixo cada um é o mesmo alguém.

Não invejo a pompa e ao poder,
visto que pode, sem razão nem ser.
Obedece, que a vida dura pouco
Nem há por isso muito que sofrer.

5 comentários:

Mário Casa Nova Martins disse...

Ilustre Amigo, cuidado com os relógios!

Abraço.
M

O Réprobo disse...

Os Santos Populares, Atletismo e Futebol trocam os fusos ao mais pintado... Prescindamos deles, pois.
Abraço

O Réprobo disse...

Ah e eu não uso, há vários anos. Até podia ir à Albânia. Mas não há que levar a mal: aquela santa gente chama à sua terra "o País das Águias", título disputado pelo Montenegro, é certo.
Abraço, Caro Mário

Anónimo disse...

Aos Génios da literatura mundial (a todos os Génios, enfim) não se lhes perdoam todos os defeitos? Pergunto.

Maria

O Réprobo disse...

Sim, claro, Querida Maria, não era ao pecadilho da pinga que eu visava. A cirrose vai como prolongamento conotativo da bebedeira na e da obscuridade, cujo carácter voluntário perpassa pelo poema em talentosa similitude com popularizadas e carecidas de valia prosápias do género "se eu estivesse para isso..."
Beijinho