quinta-feira, 14 de junho de 2007

O Fogo Vitorioso

Há-de acompanhar-me sempre a esmagadora força bélica, malgré lui, de um filme pacifista que no meu imaginário vai recorrendo, tal «Apocalypse Now». Vejo-lhe um fado do jaez do livro de Remarque «A Oeste Nada de Novo», com a atracção que exerceu numa juventude de pais ausentes pela (Grande) Guerra directa ou indirectamente determinados, desorientada e carente, que via na camaradagem um activo muito mais decisivo do que a negatividade da destruição a contabilizar do outro lado. Também aqui, não é a mensagem adaptada do texto de Conrad, com a guerra sem legitimação pela obediência ou finalidade sentida a substituir na pele do "horror" o canibalismo, que grangeia maior adesão, pois esta não significa o mesmo que admiração. É a famosa carga dos helicópteros, a cavalaria do céu, ao som das «Valquírias» de Wagner. Mas penso a força da cena impossível sem a que lhe é contígua, neste momento dada, de Robert Duvall a louvar a sinestesia do triunfo por napalm interposto... O Coronel Kilgore, a que dá corpo, é aqui composto num misto de identificação com os seus homens, sugerido pelo tronco nu desprovido de insígnias, e da cagança da sua Arma, visível no chapéu azul de abas que conserva. E, suprema e inescapável conclusão, a virtude pura do Cinema revela-se tão perigosa para o espectador conservar a lucidez como o contágio do macabro para Kurz, ou os paraísos artificiais para o protagonista, cuja notícia nos é dada pela focagem dos seus registos...

2 comentários:

Mário Casa Nova Martins disse...

«Apocalypse» não é um filme, é um Épico!
Abraço.

O Réprobo disse...

Apesar de a intenção ser outra, concordo inteiramente, Caro Mário.
Abraço