quarta-feira, 13 de junho de 2007

A Difusão da Santidade

Nunca deixarei de pasmar com os paradoxos das atitudes do Poder perante o Grande Santo cuja morte se lembra hoje. Num país que atávica e acefalamente fazia por rejeitar tudo o que de Espanha viesse, ao ponto de proibir os seus Nacionais de jogar na lotaria espanhola e de recusar os auxílios oferecidos pelo País Vizinho aquando do terramoto de 1755, não houve pejo em continuar uma modificação introduzida e fomentada pelas autoridades do período de União Pessoal das Coroas Ibéricas, sob a Dinastia Filipina. Com efeito, incontestavelmente português na origem e profundamente entranhado na devoção popular de que os anseios das raparigas casadoiras eram apenas uma das manifestações, só o Amigo de S. Francisco se guindou à oficialidade de Santo da Cidade - mas não padroeiro, ressalve-se - nessa época, numa tentativa propagandística de diminuir o culto de S. Jorge, dado como agente da influência inglesa que vigorava, desde D. João I, com antecedentes remontando à intervenção dos Guerreiros Britânicos que, sob a Cruzada, contribuíram, de caminho, para libertar o Castelo. Mas chegado, ficou.
Ora, transportando-me para o Século XX, ao ler um interessante artigo de Luís Chaves sobre «Tronos» Populares de Lisboa, no Dia de Santo António, caio boquiaberto perante a diferença de atenção que o actual regime dá às marchas que o ajudem a ir passando, subalternizando o antigo hábito de erigir altares ao Taumaturgo, que eram verdadeiras obras-primas de talento popular em aproveitar os pobres materiais de que se dispunha. O Estado Novo, a par da institucionalização da espectacularidade marchística, promoveu concursos que premiavam o esforço e engenho, publicitando-os. É estranho que um novo velho sistema, tão crítico da "actualização anestesiante do Pão e Circo", sempre pronto a invectivar os usos pretendidamente análogos de Fado, Futebol e Fátima tenha justamente opções de continuidade e esquecimento tão desproporcionadas. E ficando apenas o pedido infantil do imposto antoni(a)no, desprovido da referência espiritual legitimadora, é mais um triste passo na senda do materialismo...

6 comentários:

Anónimo disse...

La Providencia le "poupou" la estancia en Marruecos, donde fueron a fallecer muy jóvenes los añorados Don Sebastián y , más recientemente, Inma de Santis.........Ab.

Anónimo disse...

Essa tradição de que fala,manteve-se aqui ao lado,em Braga (não sei se também no Porto),dentro das festas dedicadas a S.João(que coincidem na data com o "meu"Feriado Municipal,que não no motivo):são as famosas cascatas,sendo grande a disputa para aferir qual delas merece o epíteto de a mais bela.
Beijo

Anónimo disse...

Por otro lado, Portugal constituye la "Provincia Franciscana dos Santos Mártires de Marrocos".......los inspiradores de la vocación misionera del Santo Lisboeta, el Santo más popular en las Penínsulas Ibérica e Itálica........

O Réprobo disse...

É bem verdade, Caro Çamorano, como teria provavelmente sido diferente a sorte do Santo, se tivesse sido martirizado no Norte de África Muçulmano! Mas sempre constituiu para mim motivo de surpresa a adesão popular a um intelectual tão íntimo do inacessível como era, pese ao franciscanismo que o devolvia às Gentes.
Abraço

O Réprobo disse...

Querida e Nortenha Cristina, grato pela informação tranquilizadora. Não é que em Lisboa não haja nichos de persistência desta arte. Agora do que não parece haver dúvida é da deficitária nota que os poderes constituídos de hoje, o politico e o mediático dela dão. O que pode fazer perigar os aspectos mais louváveis da tradição, como referi.
Beijo

Anónimo disse...

Tras el caso de los Barbarroja, renegados piratas y del rapto del niño de la Guardia, la Santa de Avila (Santa Teresa de Jesús) dijo: concertábamos irnos a tierra de moros para que allá nos descabezasen)