sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Agarrar o Vulto

Aquiles Tentando Apanhar a Sombra de Pátroclo de Henry Fuseli

O sentido de ser algo muito para além do que os outros podem captar está sempre presente nas horas de fraqueza em que não se consegue abstrair de si e é ainda, pela óbvia mediação do texto, mais patente entre quem escreve e quem lê. Pode surgir como uma dupla opressão, a que os ultra-sensíveis sentirão em chicotada no orgulho - como desconformidade do reconhecido e do tido como justo -, mas também o que tudo farão por esquecer, a adaptabilidade de si como cedência ao que pensam estimado pelos que pela baça imagem dêem, transformando-os em escravos desse escuro duplo que se queixam de concitar as atenções.
No fim de (todas as) contas é a eterna ingenuidade egocêntrica que ignora ser uma sombra algo a que o afecto se tenta agarrar e que a desmedida vontade de se livrar dela não deixará de transformar numa autocracia individual e exul incapaz de gerar a empatia, mergulhando na altivez que não excede o desespero, por não conseguir içar-se além do ponto de passagem em que pensar-se cesse.
De Tomás Losa Carretero:

DISTANCIA

No. No me conocéis. No me habéis visto.
Sólo mi sombra entra
a vuestro mundo. Más allá estoy yo,
blanco de eternidad frente a la luz eterna.
Como en sueños me sinto vivir a mis espaldas:
en donde el mundo acaba mi pensamiento empieza.
Amáis y odiáis mi sombra;
pero es sólo mi sombra... - qué tristeza
y qué placer...! -
Y yo estoy solo, nuevo,
como el agua que espera
que, a un mandato del mundo, le reclame la fuente
en dolores de cauce alivio de riberas.
No. No me conocéis. No me habéis visto.
Sólo es mia la luz que me proyecta!
Yo estoy en la distancia
donde está mi grandeza,
pues, estando muy lejos,
parezco estar muy cerca.
Estoy en ese punto
donde muere el sonido y el silencio no llega.
Donde cesa la imagen su trayecto visible
y, en ausencia suprema,
se desciñe su atuendo de miradas y siente
su libre desnudez infinita y eterna.

2 comentários:

Anónimo disse...

Ao ler este seu texto veio-me de imediato à lembrança o "sentimento para sempre e hoje- melancolia" lido hoje num blogue que conheci por constar da sua "lista", e de que muito gostei: "Eternas Saudades do Futuro".
Quantas vezes só captam de nós a sombra que projectamos; a consciência dessa limitação nossa, na medida em que mais não logramos dar a conhecer, só pode mesmo conduzir-nos à melancolia...
Beijo

O Réprobo disse...

Querida Cristina,
o João Marchante é Enorme e fazê-Lo chegar a Tais Olhos é razão suficiente para eu ter vindo à Blogosfera.
Claro que o diferencial entre o que se julga e o que se vê captado pode levar ao atrabiliário letargismo que a Cristina enuncia. Mas tentei mostrar que se trata de um pau de dois bicos e que muita vez o que escreve, ou, simplesmente, aquele que convive, é levado a moldar-se ao resultado que essa projecção cria no espírito alheio.
Beijo