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quarta-feira, 16 de julho de 2008

Paixão Que Veio do Frio

Amor Num Clima Frio de Anil DayalNão me quero ir sem revelar um história comovente que resiste ao cinismo. O dia de anos de Admunsen foi o pretexto para pensar num seu colega explorador dos Pólos, Nansen, que, amantíssimo da Mulher, exigiu que dele se divorciasse, antes de uma das suas perigosas explorações, por não querer que ela corresse o risco, caso não voltasse, de ficar vinte anos sem estado civil definido, o tempo de ausência que a lei estabelecia para presumir a morte.
Voltando, foi a divorciada esperá-lo e comunicar que queria contrair segundo casamento, tendo-lhe o ex respondido que deixara a liberdade para esse efeito, caso fosse a sua vontade. Foi quando a anunciadora retorquiu que o noivo que tinha em vista era... ele.
E re-casaram, vivendo com felicidade que ainda consta até que ela morreu, sendo ele o principal diplomata da representação da Noruega em Londres.. Nos transportes do luto fresco desabafou:
Agora que já nada me liga ao mundo, hei-de chegar ao pólo. Até aqui tinha a minha mulher, que me atraía para o Sul, fazendo-me voltar das minhas viagens. Mas esse elo, que tão fortemente me prendia à vida já não existe e só regressarei se conseguir chegar vivo ao termo da viagem.
Suspeito que tão tórrido afecto terá sido o causador do início do derretimento da calota polar.

sábado, 28 de junho de 2008

A Cajadada

Bolas de Ícaro de Christophe Demarez

Dois coelhos de uma só: mostro que a via aqui dada pela nossa Amiga das nuvens é uma queda em contemplações que não se acha na alegria sem risco de dois apetrechos perigosos, desde que reduzidos pela imaginação humana a proporções incompatíveis com o acidente que gere quedas livres. E nunca pensei arranjar uma maneira aceitável de mandar a Ana Vidal fazer bolas de sabão!

quarta-feira, 18 de junho de 2008

O Gene Errado

Mandou-me o Amigo Carlos Portugal, por mail, um aviso sobre os malefícios da margarina, esse produto dantes usado na egorda dos perus, no que respeita a riscos em sede de cancro, doenças cardíacas e sistema imunitário. Mas há quem entenda que traz outros efeitos, como um tal professor do Rev. Gene Admonson, candidato presidencial norte-americano pelo Partido da Proibição, em entrevista ao «Weekly Fillibuster»:
I had a professor in college that said that the rising of homosexuality really came when our diets were changed, when they took out vitamin E, which was found in whole grains and real butter. You can change the diets of rats and remove vitamin E from them and rats can become homosexual. So, our diets need -- if you got kids, feed them whole grains, feed 'em real butter, none of this margarine -- [and] when I used to go home as a kid in college, I'd say to my folks, 'Pass the...pass the homo-margarine.' Well my dad didn't think that was funny -- but our diets need to be right and if we ... keep having drunk moms and dads...drunk dads molesting their children, that's where this homosexuality comes around a lot." Want to know what ruined morality, families and women? "Now see the Devil woke up and said 'How can I ruin America,' he says 'this is what I'll do, I'll go to the Catholic churches and the Protestant churches and I'll get all these women that used to do things like fight alcohol and I'll get them into Bible studies and they'll learn scripture, and scripture and they'll forget about fighting alcohol that hurts our children

Pensava eu que a mania de proibir o álcool já estava erradicada. Eis-me desenganado, ao mesmo tempo que é interessante ver que o direito à interpretação pessoal da Bíblia, para estes fanáticos, é privilégio de Género, remetendo o papel das Senhoras para uma peixeirada contra uma substância que, moderadamente consumida, beneficia a saúde físuca e mental.
Quanto à determinação alimentar da homossexualidade pela margarina, eliminando a simples relevância volitiva na orientação sexual, estão a passar... manteiga à comunidade Gay, precisamente aquela que já não corria riscos por não a ingerir...

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Os Inocentes Sem o Silêncio

O Prisioneiro de Steven EnglundTenho dito e redito que não me agrada o Sr. Cameron, leader Conservador Britânico. Quando ganhou o comando do partido estava eu por David Davis, que agora se demitiu de Ministro-Sombra do Interior, para evitar que seres sem mácula passem demasiado tempo à sombra. Desencadeou uma eleição parcelar na sua circunscrição para poder protestar à vontade e com eficácia contra a extensão do período de prisão preventiva, sem culpa formada, que o Governo de Brown quer impor, a pretexto da luta contra o terrorismo. Não se trata de fraqueza na repressão do mal, creio que este político é até defensor da pena de morte para homicidas. Mas está-se perante a indeclinável nobreza de lutar pela separação nítida entre culpados e inocentes, englobando nestes todos os que não hajam sido objecto de decisão judicial desfavorável razoavelmente fundada, evitando-lhes o encarceramento com um minimalismo processualista.
A distinção radical entre a honra e a perda dela, pelos crimes provados, eis o fundamental hiato entre os homens, de que só os confusos e os fracos abdicam. Como se vê, ainda há um ou outro eleito que não se quer entre eles.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Eterna Insatisfação

Twig Com Chicote de Marc Luscheraqui disse o que me ocorria sobre a orgia masoquista do Presidente da Federação Internacional Automóvel, Max Mosley. E acho uma parvoeira completa a demissão que se prepara, por confundir o público com o privado. Agora, quando ele se queixa de que a revelação das imagens o humilhou, tenho de reconsiderar, será que, conhecendo-lhe os gostos, não estão a tentar dar-lhe mais prazer ainda?

sexta-feira, 2 de maio de 2008

E o Açaime?

Trela, Natureza Morta de Philip JurasAvesso que sou a ser localizado por meios tão entrados na normalidade e na normalização quotidianas como o telemóvel, não posso deixar de me insurgir contra este controlo das deslocações dos particulares, à revelia da sua vontade. Isto de as autoridades irem à fonte, quer dizer às agências de viagem, saber do paradeiro dos clientes é inaceitável, pois a incontactabilidade é um bem incluído no programa de muitas férias. Uma deslocação absorve no seu encanto uma certa dose de atracção pelo risco, o que qualquer terra estranha que nos isole um tanto acarreta.
Sei que a intenção aventada é a melhor, mas sem correspondência real. Na maior parte dos casos só os organismos preparados para atender a emergências nos pontos de destino poderão valer, não sendo os ganhos com a nova medida de molde a contrabalançar a perda da independência. Mas deve ser isto que se quer. E depois venham cá dar lições de moral sobre totalitarismo!

sexta-feira, 11 de abril de 2008

O Silêncio É de Agouro

A Torre de Rolha de Neill Kidgell

Não faz o mais pequeno sentido querer estender aos Militares na Reserva ou na Reforma o dever de não tomar posições públicas em certas matérias que se compreende impenda sobre os que se encontram no activo. É evidente que os detentores de armas que servem para proteger a unidade da Nação devem coibir-se, enquanto no uso desse poder, de se tornarem suspeitos de favorecer partidos, ou o regime, já de si mau, ainda resvalria para uma fotocópia do de Mugabe. Agora, os reservistas (em caso de Paz) e os reformados que força têm que os torne equiparáveis? Zero. A ir para a frente, esta medida é condenar um militar a nunca poder ser outra coisa. Os Coelhos deste mundo terão todos os direitos a mudar de profissão(?) ou de estatuto, caminhando alegremente da Política para os Negócios conexos. A carreira castrense é que não permite alforrias. É uma maneira de, por meio do papel, ressuscitar a medida de precaução do arranque das línguas dos eunucos que guardavam os haréns Otomanos: para que não contassem o que lá viam, embora eu desconfie que também visava impedir relacionamentos de segunda classe com as guardadas...
E já que tão cioso do apartidarismo dos garantes da Unidade Pátria, como se compreende que ainda o poder socrático aceite um chefe de estado eleito e não silenciado após reformar-se? Incongruências...
Não havemdo DREN aplicável, tinham de arranjar maneira de calar as críticas. Em verificando não terem já nas hostes qualquer incorporado no extinto Serviço Militar Obrigatório, de certeza que estenderiam aos nele outrora incorporados a medidazinha.

sábado, 29 de março de 2008

O Tempo e a Luta

Passaria hoje o aniversário daquele que considero o maior prosador do Século XX, Ernst Jünger, o qual levou a demanda da Liberdade a um ponto em que não só procurava furtar o Ser à tirania dos regimes e facções que movimentam e mobilizam as massas para combates longe dos do protagonismo aristocrático da Personalidade, mas também lhe tentava incutir a capacidade de se eximir às ordens do tempo rotineiro e contemporâneo. Daí que promovesse a significação das clepsidras e ampulhetas, por contarem um lapso temporal durante o qual se pretendia fazer alguma coisa; e rejeitasse os relógios, telefones e rádios, transmissores duma hora genérica e abstracta, a que se adstringia a obrigação de fazer alguma coisa. Como cantou uma solitude, não necessariamente associal, concretizada no refúgio florestal ou na observação e estudo sem as exigências formalistas da Escola.
Claro que o velho protestante - como se definia - visando resgatar a Individualidade das ameaças que de todos os lados impendiam sobre ela, teria de, nas suas palavras, ele que acreditava num Criador mas não era Cristão - chegar a um flirt com a Igreja Católica, por ser a única Instância actual que, consistentemente, preserva a dignidade, pela defesa do Livre Arbítrio. E, numa vida tão longa como a que o contemplou, de concluir pelo crescimento moral que a idade avançada permite.
Posted by Picasa
Noutro 29 de Março, o de 1966, escreveu, diaristicamente:
Nas nossas experiências, nas nossas tarefas, nos nossos deveres, quantas recriminações! Recriminações: quer dizer que nós não demos a resposta esperada. Recriminações aos olhos dos pais, dos mestres, dos camaradas, dos amigos, também daqueles que encontrámos casualmente. Dislates ligeiros, inconveniências, pretensões, gafes, faltas de jeito, más acções.
Seja: está longe, tudo isso, a anos e décadas de distância, ou remonta mesmo aos nossos tempos infantis. As feridas que nos infligimos, a nós e aos outros, estão há muito cicatrizadas. E há muitas coisas que nos resta saber ainda. Os parceiros, os cúmplices, os interessados estão mortos desde há muito. E enquanto vivos já tiraram a sua vingança de nós, ou nos perdoaram. Mais ninguém sabe o que quer que seja.
Nós expiámos, mas as cicatrizes são sempre dolorosas e, por vezes, doem mais do que as feridas. Os males que sofremos esquecêmo-los, mas àqueles que cometemos, não lhes vemos o fim.
Como explicar estas investigações retardadas de camadas interiores de que a vida se retirou, essa inquietude que recusa o apaziguamento? Primeiro, pelo facto de que, desde logo, nós envelhecemos e o nosso discernimento moral se afinou. Mas então a recordação das nossas boas acções deveria desculpar-nos. Ora, nada disso se passa. Nós erramos através do nosso passado, como se o bem se tivesse emancipado, assim como que através de uma passagem de que não apercebessemos senão as irregularidades, as depressões e os abismos.
Ou seja, na Memória sem auto-complacência reside o fundamento do Digno, pressuposta a linearidade do Tempo.

O Telefone Vermelho

Nunca compreendi a esperança de suavização que vejo investida em Raul Castro, no que tange ao Futuro de Cuba. Sem o carisma do irmão, foi durante muitos anos dado como ainda mais alinhado com a URSS do que aquele. Só vejo uma de duas explicações: ou o facto de Moscovo ter mudado de cor sossega os espíritos, ou é vago mergulho na janela do impreciso, agarrando-se à noção de que, muitas vezes, os reputados duros são os promotores de abrandamentos de sistemas enérgicos.
Vale esta prevenção para conspirativamente teorizar um bocadinho, tentando prendê-lo por não ter cão, já que está abundantemente encarcerado por o ter. Ao permitir que outros que não os do poleiro tenham acesso a telemóveis, para mim, é um reforço da opressão. Mas, para os que tenham a engenhoca em boa conta, pode ser uma de duas coisas - ou uma variante do pão e circo que desvie energias da oposição, ou, inspirando-se num certo incidente há pouco passado numa escola portuguesa, um incentivo à delação ou simples emissão de imagens de comportamentos desviantes, que facilitem o trabalho da polícia...

segunda-feira, 24 de março de 2008

Domínio Que Se Esvai

O Piano Silencioso de Nguyen Dihn Dang
Quanto mais ténues são os contornos de cada concretização da nostalgia, infirmando o carácter vago que a atenção dos observadores lhe associa, lutam sem quartel dois desejos por um espaço que tem a fenda do abismo continuamente a alargar-se: Pretender conservar uma imagem daquilo que se quis e fazer por afastar a dor da falta. É do clamor imenso desta refrega que estoira o silêncio condizente com a ausência, tornando cada vez mais longínquo o oásis propiciador de algum consolo, a memória a que procurávamos encostar-nos. Qual das duas será mais terrível, a dor pungente das imagens que nos assaltam, ou a impotência progressiva de as reconstituirmos?
De Marta Mesquita da Câmara,

SAUDADE

Alguma vez soubeste o que é saudade,
Que faz da nossa vida uma agonia?
Alguma vez no espaço dum só dia
Sonhaste percorrer a eternidade?

Perdeste alguma vez a Liberdade?
Sentiste emurchecer tua alegria,
Como ao cair da noite murcha o dia,
No derradeiro tom da claridade?...

Se nunca presumiste o que era amor,
Despindo as galas e vestindo a dor.
Se uma saudade, enfim, não conheceste,

Não saias do limite da razão
Para atender a voz do coração,
Que o maior mal ainda o não sofreste!...

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

E Ela a Dar-lhe!

Essa já não pega

domingo, 23 de setembro de 2007

In Vino Veritas

Não continues a beber apenas água, bebe um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas frequentes indisposições.
São Paulo, 1ª Epístola a Timóteo, 5, 23

Em dia de lagarada, uma notícia me deu que pensar. A da aptidão do vinho para localizar filões metalúrgicos não quererá dizer que a ambição alquímica de aperfeiçoar a Alma e a Saúde, começando pelo domínio dos metais, teria como segredo um alimento havia muito descoberto? Património que é da Civilização Judaico-Cristã que nos gerou, com a Terra Prometida dada como vinha e o produto consagrado transmutado em Sangue do Salvador, oposto ao proibicionismo islâmico que protela para o Paraíso a corrente vinícola que teria de suportar a concorrência das 72 virgens, não encerrará, nos nossos dias, a potencialidade de nos unir contra o radicalismo maometano e o eurocrata que querem enfraquecer ou erradicar este néctar?
Das quadras da nossa Tradição:

Hei-de morrer numa adega,
O tonel é o meu caixão;
O vinho é a minha mortalha
«Prá» estar de copo na mão.

Rapazes, quando eu morrer,
Lavai-me devagarinho;
Por baixo com aguardente,
Por cima, botai-me vinho.

As Bodas de Canã, de Paolo Veronese

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Imagens da Leitura 11

Requer o ideal que fazemos do Leitor que a assimilação da obra se equilibre entre a profundidade da interacção com o texto e a manutenção da dose de independência que se traduza na manutenção do espírito crítico. A pura cedência à devoradora sede de conhecer pode congelar o crescimento espiritual que se espera como proveito a retirar de um livro; tal como a Mulher de Lot se viu transformada em estátua de sal, por não ter resistido a olhar para trás, também aquele que apenas procure saciar ligeiramente o bichinho que o vai roendo pode ver-se metamorfoseado metaforicamente numa imobilidade solidificada em materiais perecíveis.
Mas há a pecha contrária: a do que ama tanto os livros que do que segue no papel faz sair a diluição da sua personalidade, fundindo-se inteiramente com o que por outrem foi redigido. Apesar de ser perigo contraposto ao estatuto de perfeição na Leitura, não deixa de inspirar o prestígio que, romanticamente, as grandes paixões ainda despertam. Sendo que aos olhos desses bibliófilos radicais ninguém, salvo os próprios, sabe amar a Escrita.
O Bibliófilo de Ernesto Montenegro

terça-feira, 17 de julho de 2007

Economia Processual

Imagem veiculadora de ódio racial, segundo os censores britânicos.
Temendo que as populações de origem africana se ofendessem com a venda do «Tintim no Congo», revelaram-se as autoridades anglo-saxónicas supervisoras destas coisas como empedernidas racistas: acreditar que os pretensamente protegidos se ofendessem com tão pouco é mostrar a fraca conta em que têm os respectivos cérebros. Além do mais, uma confissão de falhanço das virtudes do Liberalismo - se a coisa fosse tão ofensiva, decerto todos os negros e os brancos sensíveis deixariam de comprar os volumes, sem ser precisa intervenção alguma. Finalmente, remeter um dos primeiros títulos da série, com argumento rudimentar e traço infantil para a prateleira dos adultos é elucidativo quanto à acuidade do espírito crítico daquela gente.
*
A Ministra da Economia da argentina Miceli demitiu-se, na sequência do achado pelos investigadores de uma soma considerável de dinheiro com cintas do Banco Nacional na casa de banho do seu escritório. A velha tese de que as Mulheres são menos corruptíveis do que os Homens não é para aqui chamada, porque se está a falar de um outro género, o dos políticos em regimes de eleições. A comunidade de interesses esbate-lhes as características de base e deve trazer-nos percentagem de corruptos aproximando-se, em ambos os casos. O que interessa concluir é que o toilette está para estas damas como a garagem para os cavalheiros equiparados. Que o "irmão" da visada faz lembrar o sobrinho do Dr. Isaltino. E que a demissionária se poderia ter justificado, dizendo querer tomar contacto com a realidade palpável que tutelava, ou acompanhar de perto a pasta, para o que se haveria proposto seguir o exemplo desse irrecusável perito que é o Tio Patinhas...
*
A pobrezinha da Kate Winslet vai ser despedida por a sua empregadora, a L´Oreal, ter sido considerada culpada de só contratar modelos brancos! Que grande crime! Sabendo-se que a maio parte das pinturas capilare são no sentido de aclarar, algo me diz que é uma tentativa de os rivais da marca frustrarem a publicidade da concorrente, obrigando-a a associar-se a cabelos que seduzam menos público. Liberdade de mercado? Esqueçam. Prevejo um futuro negro aos produtos de beleza capilar.
Disclaimer: não utilizo produtos da marca posta no pelourinho e a única pessoa que emprego, nas tarefas domésticas, é Guineense.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

O Efeito

Para responder à Cristina Ferreira de Almeida, eis como ficou a dama, na verdade um bocadinho parecida com o Sócrates envergonhado dos últimos tempos. Estive para intitular este post como Chorona!, mas abstive-me, por temer ser incluído entre os autores do protesto da Luz, sendo que eu estou em virgindade total no que toca a assobiadelas. No sentido de vaias, saliente-se.

terça-feira, 19 de junho de 2007

Os Sentidos Duma Entrega

Bartholdi no seu estúdio

Neste dia do mês, de 1885, era entregue em Nova Iorque, como oferta da França para as comemorações da independência americana, a escultura de Bartholdi «A Liberdade Iluminando o Mundo». Pouco importa neste momento lembrar que foi uma terceira escolha de estátua colossal, pelo escultor, após terem sido recusados um projecto para farol celebrativo do Canal de Suez e a representação de Vercingetorix, em Clermont-Ferrand. Também não interessa dissecar os motivos pelos quais se virou para a América, intoxicado pela ingénua e fanática admiração do seu grande amigo Laboulaye, historiador/adorador dos EUA, antes mesmo de ter ido lá verificar a bondade do que cantava. Este teria, aliás, como co-redactor do texto inscrito numa medalha enviada para o Novo Mundo, após o assassínio de Lincoln, sido responsável pela primeira idealização, sob forma alegórica é certo, de uma petrificação do motivo: Dedicada pela democracia Francesa a Lincoln... o honesto Lincoln que aboliu a escravatura, reestabeleceu a União e salvou a República, sem velar a estátua da liberdade.
O que se impõe hoje é salientar a cegueira da França de Luís XV, que enviou voluntários, apoio e quadros militares, para irritar o rival inglês, lançando o fermento da destituição da sua própria dinastia. Ao pé disto o comboio congeminado pelo Império Alemão que levou Lenine para a Rússia dos Czares é brincadeira de crianças. Custou muito sangue, mas a infecção já foi neutralizada, enquanto que a gangrena liberal-republicana continua a obrar. Nada admira que a III República francesa haja enviado o artista numa pomposa delegação presidida por um Rochambeau neto do combatente de Setecentos, toda babada com a asneirada do seu Rei.

sábado, 16 de junho de 2007

Carne-Viva da... Alma

Os Problemáticos São Alvo do Sarcasmo de Brandt Peters

São obscuros os caminhos da Desconformidade. Mas não deviam, não deviam sê-lo. Da demarcação esperar-se-ia, pelo nojo que acentua a repulsa, vê-la gerar satisfação por se ter conseguido ser coisa diferente, ou, nos casos de generosidade mais extremada, de tristeza por ver os circundantes seguirem pelo lado errado da bifurcação, a qual, se acompanhada pelo altruísmo oratório, pode bem acarretar o halo. Já a figura do rebelde abafado e fugitivo, que não se sente confortável em sítio algum, se ostenta a dignidade de ser o inverso dos que a tudo prazenteiramente se adaptam sem aspirações ao que não é deste mundo, sofre da debilidade contraditória nos seus termos de não prezar os estilos que o tentam absorver, mas sofrer com isso ao ponto de se marginalizar. A menos que o sentimento de não ser como eles usurpe a electricidade própria da vida. Como nos estimulantes eróticos que deslocam o prazer do estímulo que precede o acto para a substituição deste: é a passagem da fantasia à perversão.
De João Cabral de Melo Neto:

SOBRE O SENTAR/ESTAR NO MUNDO

Ondequer que certos homens se sentem
sentam poltrona, qualquer o assento.
Sentam poltrona; ou tábua-de-latrina,
assento além de anatômico, ecumênico,
exemplo único de concepção universal,
onde cabe qualquer homem a contento.
*
Ondequer que certos homens se sentem
sentam bancos ferrenhos, de colégio;
por afetuoso e diplomata o estofado,
os ferem nós debaixo, senão pregos,
e mesmo a tábua-de-latrina lhes nega
o abaulado amigo, as curvas do afeto.
A vida tôda, se sentam mal sentados,
e mesmo de pé algum assento os fere:
êles levam em si os nós-senão-pregos,
nas nádegas da alma em efes e erres.

sábado, 2 de junho de 2007

A Fusão Impossível

Nostalgia da Memória de Albert de Villeroux

No recreio da Memória há um jogo sumamente incestuoso, que é a interdita roda do Amar e da Recordação. Onde o primeiro tenha consequência banida está a contraparte; quando esta prospere, fá-lo-á graças ao legado do colega, só na sua posse entrado ao finar-se aquele. O sentimento distendido deve pois à vontade de quem não esquece, como à que lavrou essa força que, sob forma testamentária, permite a subsistência da Rememoração ansiosa e abafada. Mas na medida em que o Afecto Mais Alto seja dispensado da actualidade encarnada da intensidade mais preenchida, pode bem defender-se a tese de que uma perduração encarcerada na liberdade do Espírito é a continuidade que resta, mas assegura existência, prolongando o que surgia terminado.
De Humberto de Betencourt (Micaelense), dedicado aos meus Leitores Açoreanos, Conterrâneos dele:

O Amor e a Saudade

Do mesmo beijo nasceram
-Quem diria?!-
Amor e Saudade, um dia...
Como gémeos receberam
Baptismo na mesma pia.

Mas, logo vário destino,
Sem piedade,
Os fadou de tenra idade...
O Amor ficou pequenino,
Cresceu imenso a Saudade.

E assim, no correr da vida,
Não minguou,
Antes até aumentou
Aquela díspar medida
Que de berço os estremou.

Era o Amor folgazão,
Estouvado...
A Saudade, por seu lado,
Muito ao invés do Irmão,
Sempre fechada em cuidado...

Nunca a via rir ninguém,
Nem folgar...
E tinha expressão de quem
Curte indizível pesar

Ora uma vez, que o Amor,
À carreira,
Doidejava em brincadeira
Deu-lhe nos olhos tal dor
Que o mergulhou em cegueira!

Correndo a Irmã a ampará-lo,
Dar-lhe ajuda
Em provação tão aguda,
Colheu um tamanho abalo
Que, coitada, ficou muda

E nesse transe, para os dois
Tão fatal,
Ainda mais desigual,
Mais vário traçou depois
O fado de cada qual.

Desde então, mais divergentes
Se tornaram...
Sorte diversa penaram,
Um do outro sempre ausentes,
nunca eles mais se encontraram!

Soube-se que o Amor, uma vez,
Se finara
Como dum mal que não sara...
Mas que a Saudade, em mudez,
Sempre a chorá-lo, ficara!...

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Enquanto Há Vida...

A doença é das poucas coisas de que Fidel não tem culpa e não é susceptível de brincadeira, da minha parte. Porém, a sabujice dos que o rodeiam é. Só pela vontade de passar graxa na Referência do regime se explica as fantasias de um médico que garante 140 anos de vida ao Comandante! É, todavia, sintomático do incómodo que os materialistas sentem diante da ameaça da morte, quando a deveriam entender como facto natural. E da negação permanente da realidade, como a que levou à detenção do cineasta Luís Moro e de Helena Houdová, na foto, por captarem imagens arrasadoras para a mitificação do sistema de saúde cubano, no primeiro caso, como da repartição das habitações, no outro. Numa altura em que o derradeiro líder comunista do Ocidente reconheceu que o inimigo principal é a idade e não o vizinho americano, poderia, com mais fundamento, retirar alguma esperança da descoberta de que os dinossaur(i)os nadavam, o que lhe facultaria a hipótese de se evadir da ilha em que o encerram, locomovendo-se na água que os lambe-botas que querem singrar metem à sua volta.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

De Boca Aberta

A Mordaça Social de Bonnie E Rodgers

Enquanto não há versão indisputada do que o professor alvo de punição por socráticos gracejos possa ter dito, quero deixar duas ou três posições sobre o tema.
Considero que a oposição política não dá o direito a ninguém de ofender a família dos actores do Poder e, desse ponto de vista, a ser verdadeira a qualificação que uma das histórias alternativas fornece, sentiria alguma compreensão pelo correctivo possível, nyma triste época em que se exige aos políticos um comportamento certinho, que lhes não permite lavar afrontas pessoais pelas próprias mãos.
No caso de ser a mera anedota sobre a saga académica do Sr. Sócrates a base factual da repressão o caso fia mais fino, pois é uma intromissão na privacidade do humor de cada um, desde que se não consubstancie em actos de serviço, não colhendo a justificação oficial que tornaria os espaços públicos - e do funcionalismo em particular - "assépticos à força".
Devo dizer que não parece poder ser assacada responsabilidade ao ex-engenheiro, o qual terá reagido como devia, apesar de o fazer de forma inferior ao lendário desportivismo de Salazar, que gostava de se fazer contar as piadas que o visavam. Mas Esse, para além de Universitário era um Político à séria. O que se pode cobrar ao actual ocupante da cadeira é a falta de qualidade que resulta do provimento no cargo da carrasca que se revelou.
A maior lição disto tudo é que haverá sempre burocratas desejosos de mostrar serviço e o quanto, para tanto, zelam pelo nome dos poderosos, enquanto estes subsistam. E também, com menos culpa, oferecendo-se a vítimas deles, funcionários que querem alguma liberdade, como a de desprezar os superiores hierárquicos e os que neles mandam, mas que não estão dispostos a sair da carreirazita segura para serem verdadeiramete livres. O resultado é a tensão entre o silenciamento e as delações, mesmo num grau mais risível do que trágico
Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é enfado!