domingo, 10 de fevereiro de 2008

Banhos Com Telha

Ao Carlos Portugal

Como a Praia da Poça aqui tem despertado o interesse dos Leitores, cá deixo três imagens mais esclarecedoras e pormenorizadas da época em que a graça respectiva ainda se apresentava como dos Banhos da dita, tempo em que as nossas elites tinham tempo para se enfastiar, ainda não ocorrera a democratização do fastio que deu pelo nome de stress. E que fugiam a tal monstro ameaçador por temporadas balneares maiores do que a característica tarde de fim de semana, desta aceleração dos tempos que vivemos,
pois a frequentação enquadrada pelo estatuto exigia uma sofisticação de infra-estruturas que transcendesse a esplanada, já que a mediação da relação com o Sol e a água passava pela sociabilidade e etiqueta incompatíveis com bichas e outros formigueiros.
Se o ponto de vista democrático espumará perante a confinação ao privilégio, não há dúvida de que o nivelamento ocorreu por baixo, do que é prova insofismável o facto de este Vosso criado morar a escasos metros do local fotografado e consideravelmente arrasado...

20 comentários:

Anónimo disse...

Muito obrigado, Caríssimo Amigo, pela bela surpresa!

A velha Praia da Poça, onde aprendi a nadar, ainda menino, pelas artes do Primo Ferreira (lembra-se?).

E as velhas Termas, das quais apenas recordo já estarem a servir de colónia balnear, ou algo de parecido... E a nascente na areia, a descoberto na maré baixa. Ainda me lembro de algumas mães citadinas, totalmente ignorantes do facto, a gritarem para que os seus pimpolhos saíssem dali, pois «era , decerto, um esgoto»! Esgoto de águas termais, tomáramos nós que os outros fossem assim. E de nada valia dizermos às ditas senhoras, já então em histeria, que aquilo era uma nascente de água, e boa...

Agora o facto de o meu Caríssimo Amigo viver a escassos metros da praia degradada e vilipendiada é, pelo contrário, a prova de que nem tudo piorou, pois as Pérolas continuam a brilhar, embora às vezes por entre ruínas. Que o meu Amigo continue a ser a insubstituível Âncora de Luz e Saber nesta época de «gathering gloom».

Um grande abraço grato.

Capitão-Mor disse...

E lá está o Forte Velho (dos vampiros) mem grande destaque. Esta praia faz-me lembrar uns amigos surfistas que tinha nessas bandas...
Não se arranja nada sobre a minuscula Praia da Rainha em Cascais. Essa relembra-me uns namoricos engraçados!

T disse...

Estava a fazer falta o Carlos Portugal! Não o lia aqui há que tempos:)

Anónimo disse...

Obrigado, Querida T!

O Réprobo disse...

Meu Caro Carlos Portugal,
Associo-me à T na alegria. Quando o Amigo comenta o blogue decuplica de qualidade.
Pois eu aprendi a nadar no tamariz, com o Azinhais, creio.
E essa do esgoto termal está uma delícia...
No mais é a Sua amabilidade Pura. Bem haja, o Concelho orgulha-Se de Tal Residente.
grande abraço

O Réprobo disse...

Meu Caro Capitão-Mor,
respondido ficou, lá em cima. E sim, o Forte já se candidatava a cenário desses banquetes sanguinários!
Abraço

Luísa A. disse...

Meu caro Réprobo, é giríssima a sua definição do «stress» como «democratização do fastio». E tem razão. Tenho notado que os «activos», que não têm tempo para se dobrar sobre si próprios (porque se dão aos outros, por exemplo), não têm «stress».
P.S.1: A definição, em todo o caso, reconcilia-me um pouco com o problema. :-)
P.S.2: Conheço mal essa zona, caro Réprobo. Fico com curiosidade de a comparar com as suas imagens.

MySelf disse...

E eu venho mais uma vez meter o 'bedelho'...
Duas coisas que gosto muito neste post: uma, a minha praia dos meus passeios quase diarios aqui tão bem representada; e outra, ADORO postais antigos e com muita pena minha não tenho nenhum desta zona.
Obrigado pela partilha!
Nota: não foi aqui que aprendi a nadar, mas pelas minhas contas vai ser aqui que o Pedro se vai estrear...

Beijinho

O Réprobo disse...

Querida Luísa,
sim, a massificação da insuportabilidade saturada encontrou na overdose da rotina do trabalho o que ar antigas elites sofriam na do ócio. A natureza é a mesma, só mudando a camada maus superficial. E sim, tem toda a razão, as naturezas generosas têm menos facilidade em cair nessas doenças, pois encontram pólos de interesse onde outros só vêem pretextos para bocejar ou fugir.
Beijinho.
PS: O Estoril já não é o que foi, mas uma excursãozinha de comboio é sempre para lembrar com agrado, julgo. Continuarei a enganá-La com o Passado, na mira de A atrair às nossas paragens decadentes.

O Réprobo disse...

Querida Myself,
E que local melhor para pôr o Pedro a dar braçadas? É com grande gosto que faculto imagens de local que se percorre com tanto prazer, sem que, nas mais das vezes, tenhamos em mente o que foi.
Beijinho

Anónimo disse...

Ao contrário da velha Azaruja, a Poça é bastante mais reconhecível, ao fim de (mais de?) um século...

Caríssimo Carlos Portugal, o seu comentario sobre o "esgoto" da Praia da Poça fez-me cair da cadeira! É que eu, como tantos outros (pelos vistos erroneamente!) sempre pensámos que aquilo era de facto um esgoto, e essa era uma das razões porque preferíamos ir para a praia do lado...

Ab

Anónimo disse...

Caríssimo TSantos: pois é, de início também eu pensava que fosse um esgoto. Embora inodoro. Quem me desenganou foi precisamente o meu professor de natação, o Primo Ferreira, que me disse ser essa mesma nascente que terá dado, em tempos o nome à praia (não sei se será verdade).

De qualquer modo, mais tarde vim a saber ser de facto uma das nascentes da zona (repare que, para ser esgoto, durante as marés vivas que levavam imensa areia, deveria aparecer parte da estrutura da dita canalização, o que nunca aconteceu).

Mas, mesmo quando decidia ir da Poça ao Tamariz a nado, tentava afastar-me o mais possível da praia do Pescoço de Cavalo, essa sim ostentadora de um senhor esgoto que tresandava à distância.

Abraço.

O Réprobo disse...

Pois, Caro Carlos Portugal, transcrevi lá em cima o que um antigo Mestre, do TSantos e meu, deixou escrito sobre o assunto.
Abraço

Anónimo disse...

"Mas, mesmo quando decidia ir da Poça ao Tamariz a nado, tentava afastar-me o mais possível da praia do Pescoço de Cavalo, essa sim ostentadora de um senhor esgoto que tresandava à distância."

Com efeito, as famosas "praias da Linha" estavam pontuadas de esgotos a céu aberto, desde Cascais a, pelo menos, Oeiras, que marcava o limite nascente das nossas excursões a pé pela costa...

O Réprobo disse...

Aaaaargh, mesmo junto ao balcão sobre a Azarujiha havia um jacto mal-cheiroso, lembras-te?
Abraço

Anónimo disse...

Yeck! Se me lembro...

O Réprobo disse...

Só voltei a encontrar aquele cheirinho na tropa, em Sacavem, graças ao lendário (ex-)Rio Trancão. Ao Meio Dia era impossível estar na parada...
Abraço

Anónimo disse...

Caríssimo Amigo:

Se me lembro da «cascata artística» da Azaruja... Tinha até honras de pódio, esculpida na pedra como se se tratasse de fonte monumental, a jorrar das alturas!

Essa era uma das razões que me levavam (e aos meus Pais) a evitar a Azarujinha, ou, pelo menos, as rochas por debaixo da velha «casa dos fantasmas»...

Quanto ao Trancão e aos seus dejectos, parece que meteram dois metros de terra sobre os aluviões fétidos, para além de taparem as fossas industriais da Sacor (ao que chamaram «despoluição» da zona) para construírem por cima o Parque Expo. Alguns colegas meus chamam à zona da Expo o «Aterro Tóxico nº1». E as emanações de metais pesados parece que são de meter medo, em certas épocas do ano. O Trancão pode ter sido «desodorizado», mas a zona continua altamente poluída...

Abraço.

O Réprobo disse...

Uuuf, Caro Carlos Portugal, ainda bem que não terei de receber uma segunda instrução militar! Essa do Aterro Tóxico Nº 1 está uma delícia... desde que ao longe!
Abraço

Anónimo disse...

"O Trancão pode ter sido «desodorizado», mas a zona continua altamente poluída..."

Era inevitável, e bem à portuguesa: varrer
os incómodos para debaixo do tapete e assumir (pior, anunciar bombasticamente...) que o problema está resolvido...É claro que o fantasma da coisa mal feita volta a assombrar passado algum tempo...

Caríssimo Carlos Portugal: nós evitávamos essa zona da praia, precisamente pela mesma razão...;-)

Ab