quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

O Chefe e o Sangue

Dia em que se comemora o início de um sangrento feito de guerra, a Batalha de Verdun. A defesa vitoriosa coube a Pétain, incensado pelo feito, como mais tarde, pela política da memória e gratidão curtas, seria infamado. E, no entanto, os seus principios militares estavam em consonância com a condução de Estadista. Poupar vidas, poupar vidas. Foi ele que inverteu a tendência criminosa dos generais da Grande Guerra, de fazerem da Infantaria a carne de canhão barata. Os seus dois princípios intangíveis, o da superioridade do poder de fogo sobre o movimento e o do respeito sagrado pelo sangue dos subordinados, explicitar-se-iam na máxima a Artilharia conquista, a Infantaria ocupa.
Mas seria falácia reduzi-lo, como alguns querem, a um administrador prudente, como Wallenstein fora no Século XVII, A sua marcha à frente das unidades que comandava, na ocupação da crista de Saint-Bon, atravessando um campo fustigado pelos disparos dos obuses inimigos, documentada em baixo, honram-no tanto como o comando que tomou na praça que o celebrizou. E quando, na vergonha que se vangloriou de ser julgamento, Isorni lhe propôs uma declaração em que dissesse ter pautado a chefia do Estado pela mesma forma que o levara a defender Verdun, riscou o título supremo da sua glória, colocando em lugar dele "a defender a França", para que os louros pessoais não influíssem.
Os Homens não são todos feitos da mesma massa, por muito que se tente impingir o contrário.

Posted by Picasa

8 comentários:

fugidia disse...

Bem sei que é a despropósito do teor do post, caro Réprobo, mas tal como eu receei no meu recanto, clico no ano do seu arquivo e... pois, tenho de andar página a página, clicando nas "mensagens mais antigas", durante "séculos", até chegar ao post do filme...
Dá vontade de dizer que os Homens não, mas os arquivos dos blogues são, decididamente, todos feitos da mesma massa...
:-)))

Anónimo disse...

A propósito do "colaboracionismo" e "germanofilismo" de Pétain, li algures que, quando os Aliados lançaram a operação "Torch" (a invasão do Norte de África Francês), a resistência inicial, encorajada e encabeçada pelo almirante Darlan, figura cimeira do Governo de Vichy, que então se encontrava na região, foi tomada na convicção de que essas eram as ordens de Pétain.

O marechal enviou então ao almirante Darlan, utilizando uma cifra que a Marinha conseguira esconder dos Alemães, o seguinte telegrama secreto:

"Referência telegrama XXXX. Acordo íntimo marechal e presidente Laval, mas decisão oficial submetida às autoriadades ocupantes (1400/13/11)".

Ao receber este telegrama, Darlan "mudou de campo", conseguindo, primeiro, um cessar-fogo e, depois, um acordo com os Aliados, de forma a permitir à França retomar a guerra a partir de África. Infelizmente, foi assassinado pouco tempo depois, mas o acordo manteve-se e vigorou até à Libertação e à derrota final do Reich.

Com efeito, em África e nas colónias francesas, o nome de Pétain era ainda, em 1942, respeitado acima de tudo, pelo que a "benção" que enviou de forma indirecta ao seu delfim, pesou muito nos acontecimentos futuros.

O Réprobo disse...

Querida Fugidia,
já não me lembro em que rotulagem o incluí...
A etiqueta "cinema" não ajudou?
Beijinho

O Réprobo disse...

Sim, Meu Caro TSantos, o Almirante Darlan era uma figura ambígua na forma, mas fiel ao Marechal. O seu papel à frente do Norte de África Francês viveu as agruras da observação do Armistício que poupava condições mais duras à França, algo combinado com Londres, segundo os depoimentos do próprio Churchill (pelo filho, que mandou testemunhar no processo) e, com nuances, do Almirante Leahy, embaixador americano em Vichy. Mas germanofilia não será excessivo? O Velho marechal foi acusado de inteligência com o inimigo, mas acho que nem os jurados o tinham como germanófilo...
O postal, porém, era sobre 1914-18 e o padrão de conduta contínuo que se poderia estabelecer entre a poupança de vidas dos seus comandados, os mulitares da grande guerra e toda a população na seguinte, que foi perdida por outros que não ele.
Abraço

Anónimo disse...

Sim, germanofilia é talvez excessivo, mas a expressão não é minha, embora já não me recorde onde a vi expressa...

Quanto à sua acção na I Grande Guerra, concordo totalmente...No aspecto de poupar vidas, era o contraponto do marechal Douglas Haig (britânico) e do general Nivelle (francês), a quem chamavam "o Carniceiro"...

O Réprobo disse...

Ui, Nivelle era de uma insensibilidade... macabra. Fartos das calmas de Joffre, deram-lhe o comando supremo com resultados tão horrorosos que logo tiveram de emendar a substituição e chamar Foch!
Abraço

Flávio Santos disse...

Rebatet chamou à I Guerra "la plus inutile tuerie de tous les temps". Pétain era um homem de uma estatura que envergonharia os pigmeus que hoje mandam e os que mandavam na altura - se soubessem o que é vergonha.
Um abraço.

O Réprobo disse...

Meu Caro FSantos,
foi um queimar de vidas muito excedentário do normal num qualquer conflito, que deu origem a excelentes poemas na Literatura inglesa, tidos por pacifistas, no mau sentido, mas que afinal mais não eram do que a revolta perante a inutilidade da morte provocada por comandos mal conduzidos.
Pétain e o que Lhe fizeram virá um dia a ser a pena infamante dos vencedores de um momento que se alonga mas terminará.
Abraço