quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Proteccionismo Com Frustrações

Como todos os sites cronológicos davam como acontecimento marcante deste dia do mês o fim do Protectorado Britânico sobre o Egipto, decidi-me a abrir este livro de memórias de um diplomata francês que presenciou a coisa in loco, dando-nos um relato capaz de trazer à terra os cantores da epopeia. A agitação independentista devida aos acólitos de Saad Pacha tinha tornado completamente ingovernável a terra dos Faraós, pelo que Londres, em vez de mandar tropas para o atoleiro, enviou Lord Milner, um alto funcionário, à frente de uma comissão de inquérito. Diz o Autor que todos os inquiridos se recusaram a responder, o que não atrapalhou o inquiridor, o qual produziu um relatório extenso, poemenorizado e documentado(!) sobre a situação, vindo a estar na base da tal declaração de 28/2/1922 do Alto-Comissário, Lord Allemby, em que a Coroa reconhecia a independência e soberania egípcias, reservando-se discricionaridade em quatro pontos:
-a segurança das comunicações dentro do Império
-a defesa do Egipto contra uma agressão estrangeira
-a protecção dos interesses estrangeiros e das minorias
-a questão do Sudão.
G´andas Ingleses! Isto é que é "independência" e "soberania"! Nos outros, claro. Bora reformular a concepção de Protectorado? Não admira que o representane Máximo tenha telegrafado para a Mulher: Returning victorious

Mas, como extra, apanhei uma história muito mais interessante. O Egipto dava equivalência de estatuto diplomático aos Comissários da Dívida estrangeiros (esta também é linda). A Albion costumava nomear ou gente em fim de carreira ou personalidades algo excêntricas para o cargo. Assim, na época, achava-se defendida nessa vertente por um gentleman já não muito novo, sempre metido em calças apertadíssimas e colarinhos inenarráveis, que falava de todos os temas com uma extensão de conhecimentos tal que deixava os interlocutores algo incomodados, ao ponto de se deitarem com afinco a estudar um campo que lhe pensavam estranho, para o colocarem na defensiva. Calhou a ser a música chinesa e Mr. Farnhall, posto sem aviso prévio perante a discussão da matéria, saiu-se com o brilhantismo de sempre, embora emitindo um ponto de vista contrário a um dos artigos consultados pelos provocadores, o da Enciclopédia Britânica. Vendo nisso a única frecha por onde o poderiam pôr em dificuldade, fizeram-lhe notar a discrepância.
Resposta: É perfeitamente exacto. Fui eu próprio que redigi esse artigo, mas devo reconhecer que me enganei. Preparo uma redacção diferente para a próxima edição.
Ou o melão que sabe bem ver em todos os despeitados pelas qualidades alheias. Coisa feia a inveja, né?

2 comentários:

Anónimo disse...

S. A história da enciclopédia é engraçada e fez-me lembrar uma do Misantropo sobre Henry James.

O Réprobo disse...

Já a dei também aqui, ceio. Mas essa é um exemplo de modéstia, onde a do postal que comentamos sublinha uma de relativa ignorância atrevida. James, hesitando na questão de uma expressão poder ser empregue em certo sentido, encontrou na Britannica a resposta afirmativa alicerçada em escrito seu anterior. Não se vê ninguém a querer diminuir o Próximo.
Ab.