sábado, 17 de maio de 2008

País Em Fuga

O Suicídio de Dorothy Hale de Frida KahloAqui está um resultado de estudo que me surpreendeu. Sempre pensei que houvesse mais tentativas de sucídios entre os homens, mas parece que são as Mulheres que ocupam essa duvidosa dianteira. A minha ideia firmava-se numa constatação, a de, nas minhas relações e conhecimentos, a parte masculina não admitir sequer a concorrência do Belo Sexo, o que, pelos vistos, não constituía uma amostra significativa. E num duplo diagnóstico caracteriólógico, o de Elas serem mais capazes de aguentar a dor do que nós e o de, por este lado, ser muito mais frequente a tentativa de aumentar a própria envergadura através da retumbância de um acto definitivo.
A bem ver, poderia suspeitar-se, meditando nas causas. As sujeições acabrunhantes talvez ainda ameacem mais o Sector Feminino, assim como a maior propensão a depressões poderia contribuir. Mas o conformismo diante das contrariedades da vida também se suporia maior.
Claro que falo apenas da abrupta decisão de precipitar o fim desta vida, não já da desistência dela. Igualmente acreditava, pelos vistos laborando em erro, que os meios de auto-infligir-se o fim eram mais radicais no Sexo Fraco - gás, mergulho de edifícios altos, do que o manejo de armas ou comprimidos, sempre susceptíveis de falta de habilidade.
Será que ficarão outrossim abaladas as convicções de ser na masculinidade mais frequente a assunção de fracasso pessoal no desmentido do projecto pessoal que se fizera e de ser nas Senhoras muito mais rara uma segunda tentativa, falhada a primeira?
Depois desta surpresa já não arrisco certezas. Até porque lembro sempre a propalada ideia entre a intelectualidade francesa do Sécilo XIX, de que a voga moderna do suicídio era importação de Inglaterra, concluindo que os Britânicos o faziam para desenfastiar-se e exortando-se a deixar-lhes esse passatempo, que não conviria quer ao carácter, quer ao clima da nova Gália. Quando a percentagem, sabe-se hoje, era maior em França.

16 comentários:

Anónimo disse...

En la España del siglo XIX se decía que los habitantes de la Albion tenían un sentido del humor tétrico, por afición de algunos de ellos al insano acto.......

O Réprobo disse...

Meu Caro Filomeno,
não teria também influência a disseminação do "Romance Gótico", que tanto êxit teve na Literatura das Ilhas?
Abraço

Anónimo disse...

Amigo Réprobo: el experto en las Islas eres tú. Me adhiero a tu erudito dictamen.
Ab.

O Réprobo disse...

Céus! Qual dictamen e qual experto, Amigo Filomeno!
Mas pensei que a atmosfera dessa tendência literária também tivesse tido eco em Espanha. Em França teve bastante...
Abraço

Anónimo disse...

¿Don Alvaro o la Fuerza del Sino?

ana v. disse...

"Experto" não sei se será, caro Réprobo, mas que é "Esperto" já está provado à exaustão!

Isto é só para aliviar o tema, de que não me apetece falar agora. Credo, é tétrico de mais.

Bjo

cristina ribeiro disse...

Ao contrário do Paulo, sempre estive convencida dessa tendência; por pressentir, talvez, que as mulheres sentem demais a dor e o vazio.
Beijo

O Réprobo disse...

Se o dizes, Caro Filomeno... Haveria que seguir o rasto das influências, claro.
Abraço

O Réprobo disse...

Vá, diga tudo, Querida Ana, ponha "chico" atrás ou "saloio" à frente...
Mas pensei que detectasse a homenagem da selecção da pintura da Frida, de que já falámos, em sintonia. A Arte amacia qualquer tema, não?
Beijinho

O Réprobo disse...

Querida Cristina,
não discuto o sentir, mas tenho por inegável a relativamente maior capacidade de sofrê-los. Daí que tenha formado a ideia que as estatísticas prejudicam.
Beijo

ana v. disse...

Longe de mim considerá-lo um Chico esperto ou um esperto saloio... que ideia! Pelo contrário, caríssimo, a sua inteligência é refinadíssima! Foi só um trocadilho com nuestro hermano Filomeno, não se zangue...
E detectei, sim, a homenagem a Frida Khalo. Uma pintora que muito respeito e admiro, embora não quisesse quase nenhum dos seus quadros na minha sala porque me aflige olhar para tanta dor pintada. Postei sobre ela há tempos, um dia destes volto a fazê-la entrar pela minha Porta.
beijinho

Anónimo disse...

¿Chico = Rapaz, en la lengua de Camoes?

O Réprobo disse...

Gostava muito de ler, sim, Ana, dando-Lhe inteira razão quanto ao carácter inquietante da pintura dessa notável Artista.
Mãos à obra!
Beijinho

O Réprobo disse...

Meu Caro Filomeno,
é o diminutivo de Francisco, talvez mais espalhado entre todos, logo depois de Zé para José. Assim um pouco como o Vosso "Paco". Houve tempo em que se costumava dar muito como nome de macaco, quando era vulgaríssimo animal doméstico em Lisboa, assim como muitos cães são Bobis e muitos papagaios eram Jacobs.
Abraço

CPrice disse...

notável de facto e que me fascina como nenhum outro pintor de letras o consegue.
Confesso-me sua fã incondicional e presa fiquei a esta imagem caindo na tentação de a interpretar .. e não é que o longínquo prédio de onde é suposto ter-se atirado (ou será para onde vai?) é mais nitido no topo que na base ? Topo como algo inacessível ou futuro ali mais à mão de semear .. a porta por onde é suposto entrarmos totalmente invisível como quem diz: no trespassing!
enfim .. conjecturas :)

O Réprobo disse...

Querida Once,
ainda bem que tentar Se deixou. As conjecturas são brilhantes e a resposta a uma delas, a da nitidez relativa do cimo, creio pretender evidenciar o lugar crucial onde outra tentação - a de precipitar-se, em mais do que um sentido - levou a melhor.
Conjecture sempre!
Beijinho