Cobras de Santa Engrácia
No caso de algum Leitor mais fiel estranhar o meu silêncio e a ausência da minha assinatura entre Os que, indignadamente, protestam contra a trasladação dos restos de Aquilino Ribeiro, como cúmplice do Regicídio, para o Panteão, aqui deixo uma explicação, porque não posso, não devo e não quero furtar-me a ela.
É decerto grosseria evitável juntar um matador a toda uma família que enlutou, quando não às próprias vítimas. Mas eu não esperava coisa melhor da República, logo acho-a coerente. E, ademais, o meu campo tem telhados de vidro na matéria. É que um regime do qual tinha expectativas melhores, o de Salazar, com a honrosa intenção de homenagear, meteu a pata na poça de forma similar: aquando da entrega do jazigo-monumento ao Rei D. Carlos e ao Príncipe Real D. Luís Filipe confiou a redacção e leitura do seu acto consagratório a Alfredo Pimenta. Ora, perguntar-se-ão Os que me seguem, o réprobo não tem em boa conta a obra do Homem? Porque protesta? E eu respondo que por muito grande que seja a minha vocação de admirar, ela é menor do que a minha capacidade de esquecer. O nomeado orador fora o que em tempos escrevera O imprevisto era o Buíça, que trazia nas suas mãos serenas e justiceiras, a sentença que um povo inteiro não tivera coragem de decretar e executar. Claro que a conversão ao ideal monárquico e a luta sem quartel que travou posteriormente contra os princípos e os fins republicanos resgatam. Como, igualmente, no caso de outro grande Doutrinador, António Sardinha, que ostentara gravata vermelha após o crime. Mas o bom senso e a rectidão desaconselhariam que a um ou a outro fosse confiada uma missão de que só uma fidelidade sem mancha poderia ser digna.
Da mesma forma, o caso de hoje. Não sei qual o grau de arrependimento que o escritor, grande como foi na prosa, terá vindo a sentir por haver participado nesse acto de ferocidade. Sei que os poderes actuais não dão como motivação da homenagem esse condenabilíssimo acto, mas a distinção nas Letras. Não vejo como protestar, apesar de toda a minha maioridade ter decorrido na fidelidade ao percurso histórico do Ramo Legítimo da Casa de Bragança, mas, ainda assim, não poder pactuar com a baixeza de pistoleiros, mesmo que as Vítimas pertencessem a uma linha usurpadora. Tudo o que posso é censurar a falta de maneiras do sistema e, nessa medida, assumir-me como patético, apodo dirigido aos entristecidos Monárquicos portugueses por um ocioso plumitivo o qual, todavia, terá visto bem o pathos, o sofrimento, que tantas insuficiências deixam no nosso espírito.
Sei bem que este post pode não agradar a gregos, como a troianos. Mas não sou homem de partido, nem que seja algum dos que comigo concordem. E não escrever o que penso seria cobardia.
É decerto grosseria evitável juntar um matador a toda uma família que enlutou, quando não às próprias vítimas. Mas eu não esperava coisa melhor da República, logo acho-a coerente. E, ademais, o meu campo tem telhados de vidro na matéria. É que um regime do qual tinha expectativas melhores, o de Salazar, com a honrosa intenção de homenagear, meteu a pata na poça de forma similar: aquando da entrega do jazigo-monumento ao Rei D. Carlos e ao Príncipe Real D. Luís Filipe confiou a redacção e leitura do seu acto consagratório a Alfredo Pimenta. Ora, perguntar-se-ão Os que me seguem, o réprobo não tem em boa conta a obra do Homem? Porque protesta? E eu respondo que por muito grande que seja a minha vocação de admirar, ela é menor do que a minha capacidade de esquecer. O nomeado orador fora o que em tempos escrevera O imprevisto era o Buíça, que trazia nas suas mãos serenas e justiceiras, a sentença que um povo inteiro não tivera coragem de decretar e executar. Claro que a conversão ao ideal monárquico e a luta sem quartel que travou posteriormente contra os princípos e os fins republicanos resgatam. Como, igualmente, no caso de outro grande Doutrinador, António Sardinha, que ostentara gravata vermelha após o crime. Mas o bom senso e a rectidão desaconselhariam que a um ou a outro fosse confiada uma missão de que só uma fidelidade sem mancha poderia ser digna.
Da mesma forma, o caso de hoje. Não sei qual o grau de arrependimento que o escritor, grande como foi na prosa, terá vindo a sentir por haver participado nesse acto de ferocidade. Sei que os poderes actuais não dão como motivação da homenagem esse condenabilíssimo acto, mas a distinção nas Letras. Não vejo como protestar, apesar de toda a minha maioridade ter decorrido na fidelidade ao percurso histórico do Ramo Legítimo da Casa de Bragança, mas, ainda assim, não poder pactuar com a baixeza de pistoleiros, mesmo que as Vítimas pertencessem a uma linha usurpadora. Tudo o que posso é censurar a falta de maneiras do sistema e, nessa medida, assumir-me como patético, apodo dirigido aos entristecidos Monárquicos portugueses por um ocioso plumitivo o qual, todavia, terá visto bem o pathos, o sofrimento, que tantas insuficiências deixam no nosso espírito.
Sei bem que este post pode não agradar a gregos, como a troianos. Mas não sou homem de partido, nem que seja algum dos que comigo concordem. E não escrever o que penso seria cobardia.
6 comentários:
Caríssimo,
aquando do encontro de que lhe falei há tempos(e sobre o qual me informei,entretanto,tendo ficado a saber que embora tenha coincidido no tempo com a cedência do espólio do Historiador,ele se realizou no âmbito de um "Encontro de Gastrónomos do Alto Minho",alguns dos participantes,entre os quais se encontrava Couto Viana,vieram cá a casa e António Valdemar dirigiu-se directamente a um livro,de onde leu esse mesmo trecho;confesso que na altura fiquei um bocado confusa,por não saber do percurso feito por Alfredo Pimenta.
Compreendo-o,pois,quando fala em telhados de vidro,mas não me consta que Aquilino tivesse mostrado qualquer arrependimento...
Caro amigo,
Compreendo todas as suas razões, menos a complacência com a "coerência" da República.
Assinei o documento de protesto porque representa, só por si, essa revolta necessária contra tudo o que o regime vai ditando como aceitável. É que por mais voltas que demos, a coincidência com o centenário do crime horrendo faz-nos remeter para o que os alinhados teimam em apelidar de cabalas sem fundamento, conspirações fruto de mentes perturbadas. Mas não são! São constatações mais que óbvias.
O homem podia ter sido o supra de toda a literatura lusa ou mundial, mas o regozijo com actos deploráveis faz indigna a sua pessoa de assumir tão nobre local de repouso. Hitler também escreveu supremamente bem, e nem por isso seria de colocar o seu corpo entre aqueles que se querem como referencias. O exemplo pode ser mau, mas pretende mas ser radical.
Assinei e mantenho a convicção de que fiz bem. Certo é que o homem descansará no panteão, façamos o que fizermos, mas fica o protesto dos que não se revêem na lógica de honras deste regime.
forte abraço
Querida Cristina,
como escrevi, toda a obra posterior deve ter garantido a redenção, pois não foi uma mera palinódia final, ao ver chegar o dia do Juízo, mas uma luta de décadas, com todos os incómodos que acarretou. E até de perseguições, na parte desencadeada durante a I República. Mas continuo na minha, deveriam ter escolhido outro para arengar, na cerimónia. Exemplos de inalterabilidade na honra de servir não faltam, felizmente.
Beijo
Meu Caro Gazeteiro,
sou sensibilíssimo aos motivos da Sua indignação e não fora este mau precedente que citei, também a minha, provavelmente, se teria manifestado identicamente.
Só um esclarecimento: a falta de surpresa em ver a III República não se desgostar de um assassínio não é complacência, mas a confirmação amarga de que uma edificação vil não é capaz de condenar vilanias.
Abraço
E não será a passividade uma forma de complacência com o vil sistema?
Eu entendo-a como uma possível forma de nojo...
...mas faço o pouco que posso para exibir às Pessoas a ruindade da coisa.
Abraço
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