A Dopagem dos Convívios
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O que nós temos como prescrição utilitária de conduta é visto em França como pura arte. Coisa bem desenvolvida nesta obrita, escrita sumptuosamente, em que Hermant relata como, em Itália, travou conhecimento com Médisance, elle-même, aparecida e tagarelando sob feminina forma alegórica. A defesa que de si faz é convincente, declarando-se essencial ao interesse da conversação neste Ocidente em que as gentes reunidas conversam obrigatoriamente, mesmo que nada tenham a dizer umas às outras, ao contrário dos Asiáticos que se permitem encontrar-se e permanecer em silêncio; pintando-se como morena picante, quando a sua melhor amiga, a neologística "Bem-Dicência" seria uma loura bela mas desmaiada e enjoativa.
Os pontos nos ii continuam a ser postos quando se revela como irmã gémea da Ironia e separa as águas, demarcando-se da Calúnia, porque, ao contrário desta, a nossa amiga seria desinteressada e, nessa medida, não-integrante do Ódio. Quando o Autor, em Cardeal Diabo revestido, lhe atira que o pretendido papel catártico que desempenharia não passa de um remédio homeopático, recebe a resposta de que o essencial é que cure, tal a missão aristotelicamente outorgada a trágicos e cómicos por Aristóteles.
Momento maior é aquele em que diz só os gauleses estarem predestinados a ela, eliminando-se de Alemães, por banalidade, Ingleses, por espírito positivo, Norte-Americanos, por inocência, Escandinavos, por puritanismo e Italianos... por levarem o amor demasiado a sério.
Dos Lusos não fala. Mas é de crer que a nossa proverbial fidelidade à dama que é não seja de molde a estimular o reconhecimento desta vivaça amante das relações movimentadas!
2 comentários:
Uma perspectiva bem humorada de ver a questão.
E escrita com brilhantismo. O Hermant era dos que sabiam da poda.
Beijo
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