A Fusão Impossível
Nostalgia da Memória de Albert de Villeroux
No recreio da Memória há um jogo sumamente incestuoso, que é a interdita roda do Amar e da Recordação. Onde o primeiro tenha consequência banida está a contraparte; quando esta prospere, fá-lo-á graças ao legado do colega, só na sua posse entrado ao finar-se aquele. O sentimento distendido deve pois à vontade de quem não esquece, como à que lavrou essa força que, sob forma testamentária, permite a subsistência da Rememoração ansiosa e abafada. Mas na medida em que o Afecto Mais Alto seja dispensado da actualidade encarnada da intensidade mais preenchida, pode bem defender-se a tese de que uma perduração encarcerada na liberdade do Espírito é a continuidade que resta, mas assegura existência, prolongando o que surgia terminado.De Humberto de Betencourt (Micaelense), dedicado aos meus Leitores Açoreanos, Conterrâneos dele:
O Amor e a Saudade
Do mesmo beijo nasceram
-Quem diria?!-
Amor e Saudade, um dia...
Como gémeos receberam
Baptismo na mesma pia.
Mas, logo vário destino,
Sem piedade,
Os fadou de tenra idade...
O Amor ficou pequenino,
Cresceu imenso a Saudade.
E assim, no correr da vida,
Não minguou,
Antes até aumentou
Aquela díspar medida
Que de berço os estremou.
Era o Amor folgazão,
Estouvado...
A Saudade, por seu lado,
Muito ao invés do Irmão,
Sempre fechada em cuidado...
Nunca a via rir ninguém,
Nem folgar...
E tinha expressão de quem
Curte indizível pesar
Ora uma vez, que o Amor,
À carreira,
Doidejava em brincadeira
Deu-lhe nos olhos tal dor
Que o mergulhou em cegueira!
Correndo a Irmã a ampará-lo,
Dar-lhe ajuda
Em provação tão aguda,
Colheu um tamanho abalo
Que, coitada, ficou muda
E nesse transe, para os dois
Tão fatal,
Ainda mais desigual,
Mais vário traçou depois
O fado de cada qual.
Desde então, mais divergentes
Se tornaram...
Sorte diversa penaram,
Um do outro sempre ausentes,
nunca eles mais se encontraram!
Soube-se que o Amor, uma vez,
Se finara
Como dum mal que não sara...
Mas que a Saudade, em mudez,
Sempre a chorá-lo, ficara!...
8 comentários:
Magnífico!
Como deixei expresso em Sua Casa, Meu caro Mário, era dedicado ao Autor de «A Voz Portalegrense».
Abraço
Imerecido...
E de certeza que o Senhor Oliveira da Figueira concordaria comigo.
Abraço.
Mário
Que Talento desperdiçado
Neste Postal extraordinário
É que a quem foi dedicado
Teria sido desnecessário…
Meu Caro Mário,
custa-me discordar de Si, mas sei que estou certo quando reconheço ao seu belo Espírito muito maior merecimento que de tão pobre dedicatória, pese o curioso poema.
Emérito Vendedor e Comentador,
o que é que o Amigo Mário Lhe não comprou para o deixar tão ressabiado?
Abraços a Ambos
Muito belo o poema. MAIS um grande poeta, pelos vistos...desconhecido por completo. Isto em Portugal é uma indigestão tão grande de grandes...que uma pessoa até desiste de os apreciar..foge-se assustado! Sem saber em qual pegar...
Ah se percebessemos ao menos em que somos ricos...quão ricos seríamos!
Caro Réprobo, venho também agradecer a honra de ter guardado na sua real casa, o modesto nome da minha - por ventura, por fazer ainda...
E não estou só ''a dizer palavras''; formalidades. É uma honra.
Oh Psiché, de Sebastianista Sabor,
na verdade o livro de poemas que comprei, deste Autor, encerra vários digníssimos de nota. E nada tem a agradecer, fiquei deslumbrado ao percorrer o Território da Insular Fada que linkei.
Beijo
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