quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Da Inconstância ao Martírio

Passou ontem mais um aniversário sobre a decapitação do Rei Carlos I de Inglaterra, o qual, vendo correctamente a Sua Real Missão de resistência à centralização parlamentar que serviu a instauração da tirania puritana, teve, no entanto, contra si a iniciatvia absolutizante e divinizadora do Direito dos Stuarts, a mudança contínua, da recusa à cedência, face às aspirações da Escócia e da Igreja, a tibieza de deixar cair Strafford e Laud, os amigos em que se podia fiar.
A fantasia de Alexandre Dumas fê-lo pôr na boca de Mazarino, numa das sequelas de «Os Três Mosqueteiros», a frase os ingleses são um mau povo, que corta a cabeça aos seus Reis. A ironia, dado o momento em que escreveu, não se circunscreve ao que aconteceu um século e tal depois da execução, em França, após uma catadupa de erros semelhantes, sem guerra de religiões, mas com guerra contra a Religião: também inventou ser o Remember gritado pelo Monarca, imediatamente antes da machadada final, alusivo a um depósito secreto de ouro que permitisse ao Filho levantar exércitos para retomar o Trono. Não o seria. Com toda a probabilidade, referia-se às palavras que proferira antes, em que assumia o seu sacrifício por defender os Direitos do Povo. Substituir a obsessão do serviço dos Súbditos pela segurança do dinheiro é a mais irónica das liberdades do ficcionista.

2 comentários:

Anónimo disse...

S. O preto do cadafalso faz um contraste grande com a alegria das cores dos assistentes.

O Réprobo disse...

Bem, Meu Caro Rudolfo Moreira, é difícil imputá-lo a tristeza dos executores...
Poderia ser levado à conta da austeridade puritana, mas o certo é que a cobertura patibular em casos de condenação por Traição tinha feito o seu caminho. Por cá foi inangurada logo após uma célebre decapitação francesa, com a cabeça do Duque de Bragança que rolou em Évora, ao tempo de D. João II. Consta mesmo que o Supliciado, vendo o estrado com tal decoração, terá exclamado: Ah! Como em França?!
Abraço