domingo, 22 de junho de 2008

As Relações da Mente

Leio este relato da Viúva de Borges e não posso deixar de sorrir, da ingenuidade de um escritor tão prevenido poder pensar que um acidente cerebral fosse capaz de lhe ter coarctado selectivamente apenas uma das modalidades da criatividade, a poética, Sabe-se como grandes abalos físicos podem impedir uma forma de expressão, mas dentro de uma só delas, a Escrita, seria credulidade excesiva admitir que fosse capaz de prejudicar apenas um dos géneros em que se desdobra.
Outro caso seria o efeito psíquico receado do choque. Nietzsche perante o cavalo espancado de Turim, abstendo-se do debate filosófico... E ponho-me a pensar como o baque de se ver sofredor de uma vulgaridade fortuita não poderia exercer uma influência dissuasora da elevação programática que qualquer poema é, relegando para o contismo, a mais difícil das especialidades, mas que escapa ao estalão comum apenas pela Qualidade que possa atingir, não já pela inerência transfiguradora dum registo.
Como outros colossos mostraram, o receio de si, mesmo que passageiro, era o seu maior adversário. Ainda que ultrapassável. Mas da porventura excessiva conta do Poético, como da temporária falta de aptidão para o mesmo, germinaram das melhores ficções curtas do Século. O que faz de alguns percalços circunstâncias gratas.
Nada a Temer, Salvo a Si de Glen Tarnovski

4 comentários:

Jansenista disse...

Sem menosprezo para a Senhora, mas Maria Kodama é quase um «acidente crepuscular» na trajectória de J.L. Borges. As verdadeiras musas foram outras, e delas é que poderia com propriedade ter-se esperado o retrato possível de uma alma peculiarmente insondável...

O Réprobo disse...

Meu Caro Jansenista,
que alegria vê-Lo por cá!
Sim, claro que a promoção final dos olhos ledores a Cônjuge, com a apropriação promocional da Interessada, não a guindam a estímulo criativo.
No entanto, em todas as entrevistas que tenho lido é inegável um certo desconforto de JLB quando menorizam a sua condição de Poeta, face ao ficcionismo e ensaísmo. Não trairia esta ferida?
Abraço. Olhe que estou a pensar num postal sobre uma anedota real em que são envolvidos dois Amigos Seus, do Século XVII.

Beatriz disse...

Viúvas de celebridades são quase sempre abjetas. costumo brincar: sempre tem que ter um Yoko Onno;
Rép, respondi sua questão da tradução do Cole Porte lá no Compulsão, ok?

O Réprobo disse...

Sim Querida Bea, essa está fabulosa, a Y.O. como o paradigma da negatividade é eminentemente citável, com Autoria creditada, claro...
Já Lá vou, então.
Beijinho