A Face Visível da Coragem
Mas detenhamo-nos na coragem, que é o que aqui sobressai. O que se defende não é ensinar a ser corajoso, mas a exibir (apesar das hastes convenientemente serradas) uma vã e fanfarrona aparência de arrojo. Um pouco como o Leão Medroso de «O Feiticeiro de Oz», que do seu valor se convencia, vendo convencidos os outros, por uma medalha agrafada ao pelo.
Numa época em que os duelos não eram a mimética comédia com que a Burguesia se promoveu, acabados ao primeiro tiro ou ao primeiro arranhão, para inglês ver, Turenne recusou certa vez - coisa impensável num militar, o desafio que outro oficial lhe lançara, dizendo não querer desobedecer à proibição Real e à Clerical, como arriscar vidas em vão. Mas disponibilizou-se para defrontar o adversário no risco corrido, dentro do que o dever permitisse. E, dessa forma, propôs que ambos se voluntariassem para realizar um golpe de mão em certa batalha, de perigo elevadíssimo e com a autorização do Comandante de ambos, vendo-se assim qual sairia do transe com maior honra.
O outro desistiu, por achar o projecto proposto demasiado arriscado.
É assim, da coragem dos pavões escasso proveito se retira. Não é dessa que convém fazer pedagogia.
22 comentários:
Armemo-nos e marchai...
Lindo quadro, o do cavaleiro.
Beijo, Paulo
:-)
Reenvio, para o sapo e para o merlin aqui ao lado.
Veja lá se chegou :-)
Paulo, este post abstenho-me de comentar pelas razões que já conhece de sobra.
Mas não resisto a sublinhar a hipocrisia dos pressurosos cuidados daa autoridades competentes em proteger as crianças portuguesas de um espectáculo como este (adiando para uma hora mais tardia a transmissão televisiva), quando as mesmas já foram bombardeadas a várias horas do dia, e finalmente ao jantar (enquanto comem a sopa) pelos verdadeiros filmes de terror que são todos os telejornais. E aí são homens, mulheres e crianças que vemos torturados e mortos...
e já agora, em jeito de brincadeira para desanuviar (mas muito a sério, ainda assim), dir-lhe-ei que acho ainda mais grave a pornografia pura que são as doses de Ana Malhoa e quejandos, servida a todas as horas sem que isso incomode ninguém!
beijinho
Concordo, meu caro Réprobo, que a verdadeira coragem não está nesse confronto com um touro embolado, num rácio de sete contra um (embora não duvide dos efeitos pouco dignificantes que a proximidade de um tal animalzinho teria na minha pessoa). Nem se testa, julgo eu, numa prática desportiva ou lúdica, mas naquilo de que se tem medo e não se quer fazer, mas se faz por um imperativo de honra. Coragem terá tido o Ursus na luta com o auroque - (Quo Vadis?).
P.S.: Mas a Ana tem toda a razão, claro.
A maior coragem está em vencer o medo. Quem corre um touro parte da posição de que o que faz medo aos outros não o afecta. São coragens diferentes.
Caro Réprobo.
Acho que antes de falar conviria informar-se junto de fontes fidedignas e não junto a estrangeirados pagos para destruir a nossa cultura.
Em Portugal não se serram hastes de touros, nem em qualquer outro país do mundo taurino.
Os cornos são protegidos com as carapuças de couro.
Aliás a função do embolamento não tem a ver com a protecção dos forcados, mas sim com a protecção dos cavalos e é um regulamento que está em vigor desde o século XVI (D. João III).
Claro está que a individua que suja a 12ª vara do tribunal de Lisboa não tem qualquer fundamento legal para proibir a transmissão de um espéctaculo classificado para maiores de 12 anos, equiparando-o a um filme pornográfico do 3º escalão a não ser, claro está, que seja juiz em causa própria.
Eu, por exemplo, estando de baixa em casa vejo-me privado de assistir a esse nobre espectáculo, definidor da minha condição de português. A individua que suja a 12ª vara, violou com a sua decisão sem fundamento a minha liberdade individual, tornando-me um estrangeiro no meu próprio país.
Querida Cristina,
armemno-nos, muito bem dito, em fanfarronadas sem fim útil.
É um Turenne equestre de que gosto bastante.
Beijo
Querida Fugidia,
chegou a este, o outro não funciona.
Já respondi.
Beijinho
Querida Ana, o tema era o da coragem versus exibicionismo, como direi abaixo. Se quiserem proibir os espectáculos que menciona, encantado da vida. Mas quanto aos noticiários, há uma diferença entre sonegar o conhecimento das tragédias que por aí ocorrem e fomentar o culto do derramamento de sangue como divertimento, não acha?
Beijinho
Querida Luísa, grande Salvação Barreto, não foi ele que fez de duplo no filme? Mas lá está, a inutilidade dessas demonstrações é que é o ponto.
Beijinho
Eu nunca disse, Caro Rudolfo Moreira, que os toureiros eram poltrões. Acho é que são perdulários em apregoar a sua bravura sem fim útil.
Abraço
Já tudo foi dito, meu Caro Réprobo. Pois venha de lá esse peito para que nele seja colocada uma merecida medalha. Pela coragem de abordar um assunto melindroso (?) e pela forma como o fez. Um seu leitor que de touradas quer distância.
Um abraço.
Ao Luís Bonifácio direi o que já disse acima, que o tema era o da coragem desbaratada; e não entraria em insultos a magistradas, maesmo que discordasse delas, como nãso é o caso.
Mas há mais um par de coisinhas: a corrida nunca foi consensual em Portugal, esteve largos anos proibida pela Igreja e teve contraditores popularissimos como o celebérrimo Fradinho de Xabregas que era tudo menos estrangeirado. Quanto aos cornos, terá a lembrança de que D. Pedro II mandou cortar as pontas dos ditos, para protecção dos toureiros, como consta expressamente da ordem régia. E cominava cem cruzados de multa àqueles que transgredissem, dobrando a sanção à segunda, se fossem nobres; e cinquenta cruzados + quinze dias de cadeia, caso fossem plebeus. Como sabe, estes não toureavam a cavalo, ao menos em público e autorizados. Desde aí a legislação continuou a vigorar, apesar de D. José, D. Miguel e, por vezes, D. João V, terem deixado andar. Quanto ao que se faz hoje eu já vi como estavam os chifres de um touro por baixo do capuz.
Mais, a tourada só começou a ser verdadeiramente popular quando, sobretudo durante o setecentismo, o touro corrido dava a carne para os caldos dos desvalidos. Daí surgiu o berro "Morra o touro! Haja vaca para o povo!". Mas Passos Manuel voltou corajosamente a proibir as lides.
Há que não confundir uma tradição com um mau hábito. ?Para Si será a primeira, para mim é o segundo. E se a injustificação da decisão judicial radica no deficit de saúde que, infelizmente, O retem em casa, fique com a minha simpatia, mas disso não se lembraram os protesatários sindicalistas, pelo que me restringi ao argumento chave deles.
Ninguém possui o monopólio da lusitanreidade, nem sequer do casticismo; e a História não pode restringir-se ao gosto de berrar "Eh touro Lindo", pelo que desejo cordialmente as melhoras.
Coloquemo-nos pois à distância delas, Caríssimo Mike. E venham daí esses ossos!
Abraço
"... quanto aos noticiários, há uma diferença entre sonegar o conhecimento das tragédias que por aí ocorrem e fomentar o culto do derramamento de sangue como divertimento, não acha?"
Não, não acho, Paulo. Infelizmente, o conhecimento das tragédias reais não é simplesmente facultado como informação, mas explorado até à medula, muito para além do que é necessário para a compreensão das mesmas. E para quê? Puro espectáculo, meu caro, com vista à conquista de "audiências" que pedem sempre mais sangue, mais violência e mais "emoções fortes". Tal e qual como sempre foi, e tal e qual como nas touradas: as actuais (com o sacrifício de animais) e as antigas (com o de humanos)...
Acho que podemos dizer que as televisões são os novos Coliseus.
Não tenho dúvida da existência desse espremer da desgraça, Ana. Mas mesmo no sensacionalismo exala-se uma nota que considera lamentável o ocorrido, mesmo que tenha tido origem lúdica, diferente da recomendabilidade do entretenimento assumido como tal,´à custa do sofrimento de inocente. Não se pode abstrair quer da causa, quer do registo, como da autoria.
Beijinho, Querida Ana
Não pretendo justificar as touradas, como sabe. Limitei-me a estabelecer um paralelismo entre dois espectáculos que assentam na perversidade que existe na espécie humana. Não é bonito, eu sei, nem é confortável admiti-lo. Mas é a nossa natureza, meu caro, apesar da fragilíssima capa de civilização que gostamos de ostentar...
Mas já chega deste tema desagradável. Um bom Domingo para si, Paulo.
Beijinho
Querida Ana, longe de mim dar ideias mais doces da nossa natureza. Só que onde outros nos desculpam com ela, eu faço finca pé de culpar-nos. E claro que me parece evidente a diferença nos actos violentos em si, se não nos objectivos dos que os desencadeiam, ao menos na simpatia ou condenação como são mostrados, por muita insistência de que se revista esse tratamento.
Beijinho
Caro Rép.
Apenas deixo aqui o comentário de NÃO comentar.
De acordo comsigo. De acordo.
Querida Nocas Verde,
é tão bom saber que concordamos quanto ao Vermelho...
Não podendo ser clubisticamente, o do sangue inocente derramado é uma bela base de entendimento!
Beijinho
Aligeirando um assunto que para mim nada tem de ligeiro... não há verde sem senão!...
sangue? e do inocente? nem os irracionais os derramam!
Tentemos fazer passar a mensagem, Esperançosa Nocas.
Beijinho
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