quinta-feira, 12 de junho de 2008

A Insustentável Certeza do Ver

Não é tanto no Insólito como no Quotidiano que a nossa formação específica de uma Realidade deforma de acordo com o molde que nos fizemos. É inútil não tentar que alguém compartilhe em absoluto a viciação específica que cada um impõe ao que o circunda, fazendo-se as cumplicidades do interesse que despertem noutro os pontos destacados de uma visão de conjunto impossível de, totalmente, fazer coincidir. E, aí, tanto pode ser maior a eficácia da estranheza absoluta de uma forma de ver, como a da concordância pontual e parcelar. Porque as almas são como os corpos, têm os seus secretos e variáveis pontos sensíveis que é conveniente saber accionar. O que nada tem de enganador, caso não se reduza à técnica o segredo refulgente da atracção.
Percepções de Sally A. Eckert-ToneDas diferenças que dão normas de vida fala um grande poema que desejaria dedicar à Marília Jackelyne.
De António Gedeão,

IMPRESSÃO DIGITAL

Os meus olhos são uns olhos,
e é com esses olhos uns
que eu vejo no mundo escolhos,
onde outros, com outros olhos,
nao vêem escolhos nenhuns.

Quem diz escolhos, diz flores!
De tudo o mesmo se diz!
Onde uns vêem luto e dores,
uns outros descobrem cores
do mais formoso matiz.

Pelas ruas e estradas
onde passa tanta gente,
uns vêem pedras pisadas,
mas outros gnomos e fadas
num halo resplandecente!!

Inútil seguir vizinhos,
querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos!
Onde Sancho vê moinhos,
D.Quixote vê gigantes.

Vê moinhos? São moinhos!
Vê gigantes? São gigantes!

2 comentários:

Anónimo disse...

Lindo!!
A cada poema do Gedeão que leio, fico mais apaixonada por essa poesia tão parecida comigo!!

Querido Réprobo,
Que felicidade de ganhar esse poema de você. Aliás, de ganhar esse poeta de você.

Grande abraço

marilia

aindapodiaserpior.blogspot.com

O Réprobo disse...

Querida Marília,
ainda bem que gostou! Eu acho a poesia de Gedeão notável na expressão, a um tempo simples mas elaborada, de tudo o que transcende o atrofiamento humano, na imanência em que está encerrado. Isto apesar de alguns intelectuas da nossa praça o desvalorizarem, porque o dizem muito didáctico. Ora, se isto é didáctica, esta é que é a Magna.
Beijinho