Não Ser de Modas
A Ampulheta de Vladimir PavjukNo passamento de Yves Saint-Laurent, breve reflexão sobre o cunho genérico do fenómeno da Moda. É, antes do mais, a ostentação dos sinais exteriores de fraqueza de tentar eximir-se à tirania do Passado, com as desilusões maiores ou menores que toda a Experiência traz; e à condenação do Futuro, ameaçador, com o inexorável arrastamento no turbilhão que impele os corpos, conjuntamente com as águas residuais, para o ralo da finitude.
Estar à la page simula uma confortante coagulação, como traço mais emblemático de todo o ilusório Presente que é: acompanhando as tendências, enganamo-nos, como se enganam os passageiros de duas viaturas paralelas à mesma exacta velocidade, que imaginam estar parados, apesar de se irem encaminhando velozmente para os respectivos destinos.
Oscar Wilde disse certa vez que a Moda era coisa tão detestável que era necessário mudá-la de seis em seis meses. Sabendo da obsessão que colocou em envergar gravatas e sobrecasacas do último grito, bem como da confissão de que aplicara na obra o seu talento e o génio na sua vida, somos obrigados a concluir que igualmente sentiu a necessidade de se transformar em cada semestre para conseguir suportar-se.Que é afinal o escape comum à maior parte de nós, os que não conseguimos evitar a penetrabilidade à influência do Actual.
Estar à la page simula uma confortante coagulação, como traço mais emblemático de todo o ilusório Presente que é: acompanhando as tendências, enganamo-nos, como se enganam os passageiros de duas viaturas paralelas à mesma exacta velocidade, que imaginam estar parados, apesar de se irem encaminhando velozmente para os respectivos destinos.
Oscar Wilde disse certa vez que a Moda era coisa tão detestável que era necessário mudá-la de seis em seis meses. Sabendo da obsessão que colocou em envergar gravatas e sobrecasacas do último grito, bem como da confissão de que aplicara na obra o seu talento e o génio na sua vida, somos obrigados a concluir que igualmente sentiu a necessidade de se transformar em cada semestre para conseguir suportar-se.Que é afinal o escape comum à maior parte de nós, os que não conseguimos evitar a penetrabilidade à influência do Actual.
24 comentários:
A moda não passa de uma epidemia induzida. (Bernard Shaw).
"A moda era coisa tão detestável...": tinha-as boas o Óscar...
(tenho um livro com citações dele e não sei onde pára - as arrumações também as tenho de fazer de seis em seis meses...)
Beijo
De facto, a moda é algo de muito estranho. Mesmo numa sociedade menos dominada pela aparência que a nossa.
Para variar, uma reflexão de luxo, Paulo! Acho que a moda é uma estupidez, por definição: normalizar toda a gente é sempre um acto redutor da personalidade de cada um. Mas vejo que hoje em dia a moda é muito flexível, o que é muito mais inteligente. Apesar disso todos lhe cedemos, uns mais, outros menos. É quase impossível ignorá-la por completo.
Um beijinho
Ainda vou a tempo de incluir este seu post no Cata-Ventos. Espero que não se zangue comigo pelo atraso.
Confesso-lhe, caro Réprobo, que gosto de ver vestir bem, com elegância. Mas há sempre duas tendências na moda de cada momento: a sóbria, que a reconduz a linhas clássicas; e a exuberante, que explora os seus traços excessivos e, frequentemente, ridículos. Prefiro, naturalmente, a primeira, mais intemporal. Aceito que a sistemática adesão à moda, centrada nas aparências, revele futilidade, cedência ao ilusório e à pressão normalizadora. Mas também acho que não deixa de indiciar algum… brio? :-)
Concordo com Wilde. Só sigo a moda que me agrada, mantenho a minha marca,resistindo à despersonalização.
beijinho
Meu Caro Mike,
o GBS esteve em grande, nessa. Com efeito, o modo de propagação, como a cura, após alguns meses, em tudo fazem o fenómeno assemelhar-se à doença. E todos já demos também por casos fatais, ehehehe.
Abraço
Querida Rosarinho,
é-o porque é uma escravidão, sem a desgulpa das grilhetas, quando não tomada em colherinhas pequenas. E, por moda, também poderíamos extrapolar para a das ideias e a das frases feitas...
Beijinho
Querida Cristina,
a outra frase dele que citei parece-me uma auto-definição magnífica: com efeito, vejo bem as peças dele, mas é nesttas blagues que a imortalidade o conserva.
Beijo
Ah sim, Querida Ana,
apesar da minha fortíssima tentação em sair para a rua de armadura completa, vou refreando esse pendor, ao ponto de ser muito mais fácil encontrarem-me dentro de um singelo polo...
Mas Deus me livre se andaria a ver cores e padrões que "se usam este ano". Há limites para tudo!
Atraso? Como se fosse coisa devida uma gentileza que só o Afecto explica!
beijinho
Querida Luísa,
com certeza que sim, tal como a tentativa, condenada à partida, de não se deixar submeter pelo domínio do Passado ou a usura do Futuro vão no mesmíssimo sentido.
T6ambém prezo mais a estética clássica, por encontrar na intemporalidade e na permanência o equilíbrio que aptoxima da grandeza e da facilidade em ser estimado sem cedências a cumplicidades de ondas.
Mas claro que é a velha problemática que se pôs a propósito de T. S. Eliot: será o Clássico "para uns a perfeição da Forma, para outros o zero absoluto da frieza"...
Beijinho
E, no caso da Júlia, qualquer migalha de despersonalização seria para todos nós que A adoramos uma perda inestimável!
Beijinho
Querido Paulo
eu como de costume sou do contra.
Claro que Oscar Wilde tem alguma razão, mas não toda.
Claro que quase todas as Senhoras que aqui vieram comentar não têm razão, e que seguem a moda, por mais que digam que não.
Vou dar três exemplos e depois me dirão:
- sapatos - basta mudarem-lhes o salto e ficam impraticáveis
- casacos tipo blazer - basta mudarem a altura dos mesmos e ficam definitivamente arruinados
- saias - mais uma vez a altura das mesmas, pelo joelho, pelo meio da perna, o mais compridas, já para não falar das curtíssimas.
Beijinho
Paulo!
Posso usar esta sua imagem para um post sobre o tempo?
Não conhecia e é espectacular.
Evidentemente que direi onde a fui "roubar"
Beijinho
Querida Minucha, por isso é que eu disse que só sigo a moda que me agrada, foi ao pensar nesses pequenos/grandes pormenores que às vezes ,é verdade podem arruinar uma imagem, dar um ar cafona" , como dizem os nossos amigos brasileiros.
Querido Paulo,
vou visitá-lo mais vezes pra ver se levanto o astral :-))
beijinho e obrigada
Querida Minucha,
claro, daqui leve o que quiser!
Vejo um blogue como brincadeira incompatível com qualquer veleidade de copyright, seja de autoria, seja de intermediação.
Quanto ao outro probleminha, a questão está em moldar o gosto ao prescrito, ou conseguir manter a respectiva intangibilidade. Claro que sei que as pessoas não são iguals e que algumas subvertem a própria aparente adesão exemplar aos ditames dos costureiro, por vezes marcando a mudança que outras seguirão.
It´s a gift!
Beijinho
Querida Júlia,
jura que me vem visitar mais vezes? Deus seja louvado! Afinal dizer a verdade também recompensa neste Mundo!!!
Beijinho
visitar eu visito sempre, Paulo ,
só que entro muda e saio calada :-)
acontece-me isso com caixinhas onde comenta muita gente. fujo, risos
Mas isso é supina maldade! Privar as multidões da Alegria de A contemplarem, oh Júlia Avara de Si!
Bj.
Querido Paulo, a minha avó dizia: "mais vale ser desejada do que aborrecida" :-)
"Aborrecida" é qualificação inimaginável, aplicada a Este Caso...
B&BQ
Eu percebi Júlia
sorriso
obrigado Paulo
Quando o escrever aviso-o, está bem?
Beijinho
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