Nicolau Franco e Salazar assinando o Pacto Peninsular

A Bondade do Miguel Castelo-Branco levou-o a esbanjar algum do seu precioso tempo e ainda mais saber numa
resposta ao que
aqui ficou dito sobre as relações Ibéricas. Começa por anunciar inexactidões, mas lido o texto - e porque se tratava de contestação bifronte - aos argumentos aqui apontados não se topa com correcção factual alguma. Há, sim, tentativa de desvalorizar Sardinha, dizendo que os Integralistas tinham escasso conhecimento historiográfico, porque "diletantes". Caramba! É ser mais apimentado do que Pimenta! O Erudito de Guimarães faz justamente essa crítica a Sardinha, mas destacando-o do resto do movimento. Trocado em miúdos, os Companheiros seriam muito profundos, ele é que não, por não ir directamente às fontes da História remota. Penso que o Miguel concordará que ignorar como ineptamente amadores os trabalhos de um Hipólito Raposo sobre D. Luísa de Gusmão, ou sobre os Juristas da Sucessão e pela Restauração aproveitados é um pouco excessivo. Entre outros. Tudo somado, argumentos
ad hominem à parte, o grande erro substancial que A. P. encontrou no Teorizador Alentejano foi uma inconsideração do título que D. Afonso Henriques adoptara. Demasiado pouco! Mas nem é isso o pior.
O pior é o duplo erro em que o Grande Autor de Combustões também parece cair, a saber, que Sardinha usaria o Passado Histórico para nele assentar a Aliança, quando o que ele faz é reproduzir factos indisputados para salientar o que correu mal na ausência dela: a decadência de ambos os Países, ao ponto de não mais contarem na cena internacional. E se Sardinha colocava a nova proposta como alternativa ao velho enlace com a Inglaterra, que reprovava, as posições dos seus Companheiros eram mais matizadas. Pequito Rebelo, por exemplo, advogando-lhe o caso contra o
Senhor Embaixador, escrevera também, sem rejeição, sobre o património da conjugação com a Inglaterra. É a minha posição. Anglófilo que rambém já me confessei, gostaria de ver Lisboa e Madrid concertadas para resistir ao cilindro alisador de interesses e identidades que é uma Comissão Europeia surda a tudo o que não seja o apoio do ressurgido eixo franco-alemão.
A velha dicotomia entre
potências marítimas e continentais será excelente em termos analíticos, é um zero absoluto como determinismo político. As nações, ao contrário do que pensam alguns Estudiosos, não agem sempre da mesma maneira, mas em função do inimigo concreto que lhes surja ao caminho. A França agiu sempre da mesma forma? Não. Opôs-se à Espanha quando ela era Habsbúrguica, ficou toda contente com a "abolição pirenaica" na instauração Burbónica; favoreceu o Brandeburgo contra os Católicos do Sacro-Império, mas combateu ferozmente a mesma Prúsia quando esta encabeçou uma Alemanha forte. E Berlim? De braço dado com a Inglaterra na Guerra dos Sete Anos, contra a Áustria, com a Áustria contra a Ingaterra no primeiro Conflito Mundial. A Rússia? Ligada aos Alemães e Austríacos na Liga dos Três Imperadores, transferindo-se para a
Entente, qual Figo do Barcelona para o Real Madrid. A Áustria? Nem falo Dessa. Só nas guerras napoleónicas, mudava de campo ao sabor das derrotas e dos casamentos. A única que teve um padrão coerente, desde o fim da Guerra dos Cem Anos, foi a Inglaterra: deixar os outros europeus entretidos, desde que não tivessem disponibilidade ou frota para cruzar a Mancha. Mas é uma Ilha, em todos os sentidos.
Mais, Salazar jogou com a manutenção de Portugal ligado ao
poder naval do dia, mas não descurou a modificação do relacionamento com
a Vizinha, ao assinar com Franco a
Amizade entre os dois Estados, passo muito mais importante do que aquele que proponho, embora precursor dele, espera-se. E, Caríssimo Amigo, não lembra a alguém menos vocacionado que o Miguel fundar a
gula espanhola que nos fitasse na escassa atenção que nos dispensam as suas editoras. Presos por terem cão e por não terem, os
Nuestros Hermanos. Que acharia, se as publicações espanholas versando-nos disparassem? "Eu não dizia? Cá estão eles sem despegar os olhos, a salivar"?
Ná! O inimigo é outro e julgo saber que o Miguel também o considera como tal. E contra ele, o espírito padronizador de umas instituições comunitárias hipertrofiadas, só o entendimento entre as capitais espanhola, britânica e lusa. Doutra forma não vamos lá.