sábado, 14 de julho de 2007

Margens da Continuidade

Renascido de Erik Armusik

Único antídoto contra a irreversibilidade do isolamento ditado pela amargura da experiência é a noção de que a inclusão na Espécie exige a capacidade de perdoar resultante da universalidade amorosa, ao contrário da antecipação do fim pela segregação de nós que seria a vitória irreversível do Mal, na medida da desistência que inocularia. É na obliteração da lembrança como perpetuação das animadversões que poderá residir a prova suprema de procura da Unidade, triunfando sobre as fragmentações que tentam mobilizar os nossos estigmas e fazer das esperanças medíocres de vinganças parciais a razão de persistir ou rejeitar, contra a aspiração serena à Integridade que não exclui a Justiça, mas fornece, como chave, o reconhecimento da participação no destino pecador e nos salva da perigosíssima auto-avaliação de pureza.
De Lindolf Bell, o primeiro dos vários poemas de «Os Ciclos»

I

Existe em nós não o novo
mas o renascido
Pesamos por isso as verdades
sôbre a balança sem pêndulo
e carregamos contra os ventos do ódio
e contra os que nos britam em seu pêso de ave
com roucas interrogações sôbre a morte,
sim, sobre a morte,
como anzois a dragar-nos das memórias

Existe em nós não o novo
mas o renascido
Por isto comportamos o lastro,
o lastro de termos sido e virmos a ser
Sentimos os pequenos gritos como ficam imersos
quando a noite junca as fibras
e dentro do silêncio que brota devagar
os pais de outras nações

Existe em nós não o novo
mas o renascido
E apesar da haste gritar contra o caule
e ferir o grito com tempos sem fim
a essência persiste como essência
Então o amor nos justifica
e carga imersa, revela-se concepção,
enquanto de um plano qualquer retornamos
com a solidão de todas as solidões

.
O Poeta Catarinense, dentro do que podemos chamar o seu Anarquismo, sempre me agradou pelo que da obra se pode extrair como critério de aproximação das pessoas por entre os escolhos dos registos e incitamentos. Gosto especialmente desta obra, de que possuo exemplar... autografado. Mas essa circunstância suscita-me uma dúvida.
O folheto que consta da minha biblioteca tem em branco o nome daquele a que seria dedicado. Alguma lacuna de conhecimento ou memória que o Escritor não conseguiu integrar? Ou, cismando, numa interpretação muito mais aliciante, a abertura total da Fraternidade ao primeiro espírito que com este momento de poesia se revelasse capaz de comungar? Como reforço do indício que nos levasse a concluir por aí temos o facto de o Autor ter animado o movimento de Catequese Poética, que procurava trazer as pessoas para um proximidade maior, através da activação das sensibilidades despertadas pelo conhecimento de poemas. Não sei se algum dos meus Leitores do Brasil saberá dizer se existem muitos mais como este autografados, caso em que a hipótese ganharia força.

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