quarta-feira, 25 de julho de 2007

Raízes da Insinuação

Da insinuação, sim, que captar a atenção é o aspecto da publicidade que integra autonomamente a conquista do afecto, ao qual, porém, nem sempre chega. Prosseguindo a saga de abordar propagandas privadas antigas, gostaria de Vos transcrever o primeiro anúncio publicado em Portugal. Foi na segunda vida do título «Gazeta de Lisboa», a surgida em 1715, sendo de aconselhar uma pronta correcção da «Wikipédia» que a confunde com a ancestral homónima publicada ao tempo do Restaurador.
Saído no número de 31 de Agosto do primeiro ano de existência, rezava assim:
Faz-se aviso ás pessoas curiozas da língua franceza haver chegado a esta Côrte, ha pouco tempo hum estrangeiro apelidado de Villeneuve, Francez de nascimento, natural da Cidade de Pariz, o qual falla Lingua Latina, Allemã, Italiana, Castelhana e Portugueza; tem um methodo muyto facil para ensinar em pouco tempo a toda a sorte de pessoas; ainda ás de cinco para seis anos, as que quizerem servir-se do seu prestimo se podem encaminhar a casa de Manoel Diniz, livreyro na rua da Cordoaria Velha.
Prova provadinha do ascendente que Eça nos diagnosticou, de francesismo, ao ponto de nos exames que prestara enquanto petiz, inseguro noutras matérias, fora a família tranquilizada pelo examinador com o "saiba ele o seu francês...". É extraordinário que a transição para a predominância anglo-saxónica como esboço de "língua franca" tenha ocorrido tão rapidamente num país em que o enfeudamento à rival de Aquém-Mancha estava tão enraizado. E terá começado a inversão nos anos de 1970´s, ou seja, sem os vinte de atraso que marcam as nossas adesões culturais.
Claro que eram tempos em que se remetia um contacto para um livreiro, não era a época em que os encontros são marcados em Centros Comerciais.
Mas todo este arrazoado me fez voltar a Esopo, à famosa história das línguas que servira a Xantos quando este lhe pedira o melhor prato da praça, dizendo:
Que há de melhor que a língua que nos serve para exprimir o pensamento, para ensinar, para manter as relações da vida civil? A língua, chave das ciências, orgão da verdade, do raciocínio e da oração aos deuses...
e lhas voltara a servir, quando instado a apresentar o pior que encontrasse, porque
Que conheces pior que a língua, instrumento de difamação e da calúnia, mãe de todos os debates, nascente das desilusões e guerras, instrumento da mentira e da blasfémia...?
Mutatis mutandis, o que ajustou a língua-orgão assenta que nem luva a língua-idioma, sendo certo que os tempos dão a primeira como sendo mais amiudadamente cozinhada de modo sofrível. Porém, resistindo aos condimentos empobrecidos, os usos e abusos descritos teimam em manter-se.

6 comentários:

Anónimo disse...

E não é que Esopo está certo?Segundo a forma como é usado ,o idioma tanto pode ser magnífico, como também a maior das choldras.
Beijo

O Réprobo disse...

Infelizmente, Cristina Mia, a massificação mediática audiovisual faz alastrar a segunda modalidade...
Beijo

joshua disse...

Foi um prazer encontrar o teu blogue, na sequência do Combustões.

Bom trabalho.

O Réprobo disse...

Meu Caro Joshua,
O Miguel é sempre muito generoso com esta casa que é também Sua. E vejo que isso se pega...
Grande abraço, do fundo do coração.

T disse...

Eu também sou uma das afrancesadas, o inglês vem em terceiro.
Mas é interessante a análise que fez das línguas da moda e da publicidade.

Beijinho!

O Réprobo disse...

Querida T,
embora esteja em crer que a escolha do Chevalier de Villeneuve fosse, desde logo, ditada pela sua origem, uma vez que ele se achava fluente em tantas línguas, não parece de rejeitar que tenha avaliado as aspirações do País que o recebia, sendo certo que, na altura, o francês era, um pouco por todo o lado, a língua culta.
A emergência do Inglês alicerçou-se na mesma onda, só que com a extensão do prestígio cultural ao consumismo pop, dá-nos doses literalmente industriais de subprodutos, a par de realizações de excelência. O que acontecia menos na Língua de Molière, não obstante as adstringências de muito romancito de cordel...
Beijinho