quarta-feira, 2 de julho de 2008

A Paráfrase Que Facilita

O cadáver do rei deposto volta agora, por nossas mãos, à Pátria comum. Quem nos diz que este facto que da nossa parte, da parte do governo, não tem intuitos reservados, não sarará aquela ferida e não promoverá uma união mais íntima de todos os portugueses, fechando, definitivamente, o ciclo das convulsões em benefício da Pátria?
Salazar
A 2 de Julho de 1932 faleceu no exílio o último (por enquanto) Rei de Portugal. Acabadinho de chegar à liderança formal, o genial Chefe da Situação honrá-Lo-ia, dessa forma Se honrando e ao regime, Na própria nota em que assumia a realização das exéquias, as justificava pelo desejo do Monarca de descansar para sempre em solo luso e pelo Patriotismo que, na Guerra e na Paz, sempre evidenciara, nessa Inglaterra que o acolheu.
D. Manuel caiu vítima do regresso em força do multipartidismo, com seis presidentes de Ministério em dois anos, como doutra forma caíra Seu Real Pai, por não ter prescindido de um partido para apoiar uma ditadura, ao contrário do que tanto desejava, propunha e peparava o enorme Mousinho. Os partidos, um ou muitos, sempre o mesmo mal!
Não pode um miguelista desencantado há muito com os rumos que a sua Terra tomou deixar de se inclinar perante o Rei Constitucional, aqui significativamente retratado no uniforme de Generalíssimo talhado no do Seu Progenitor e Antecessor. Nem perante o Dirigente dum Poder Republicano que não hesitou no preito que unisse. Para que na Restauração que forçosamente há-de vir se possa gerar a união de que só se vejam excluídos os entusiastas das fracturas enquanto nessa infantil mas assassina disposição permanecerem.
António Lopes Ribeiro na Ericeira escreveu:

NA MORTE DE D. MANUEL II DE PORTUGAL

Daquela praia exígua se embarcou
o Rei de Portugal, naquele dia
em que a nossa inquietude renegou
as velhas tradições da Monarquia.

Partiu para Inglaterra - e não voltou
senão contido numa urna fria,
derradeiro sinal de simpatia
daquele reino em que tão mal reinou.

Morreu no exílio, o último Bragança.
E viveu exilado da esperança
de regressar à Pátria e ao Poder.

Mas nós os fortes, os que o exilámos
sem saber bem porquê - nunca olvidámos
o Rei moreno que sabia ler.

8 comentários:

Cristina Ribeiro disse...

Bela homenagem, a de Salazar; mas já sabe o que penso quanto ao ter deixado escapar a oportunidade de repor as coisas...
Beijo

ana v. disse...

"O rei moreno que sabia ler"???
O que quer dizer esta estranha frase, Paulo?

O Réprobo disse...

Era difícil, Cristina,
no Regime havia muitos Republicanos, embora não-jacobinos. E no Exército e Armada ainda mais.
Ele esboçou uma tentativa, à morte de Carmona, mas o ambicioso Marcello Caetano não descansou enquanto não lhe titou o gás.
Além de que, a partir da eclosão da Guerra do Ultramar, não creio que o Trono aguentasse a coisa só por si, sem a genialidade Dele a conduzir o País.
Beijinho

O Réprobo disse...

Querida Ana,
é uma evidente alusão ao extraordinário mérito bibliófilo de D. Manuel II, expresso nos catálogos de preciosidades livrescas que patrocinou e na sua correspondência com Prestage.
Beijinho

Cristina Ribeiro disse...

"O Trono aguentasse só por si"; mas eu vejo a Monarquia como uma instituição, que não pode esgotar-se num homem só...

O Réprobo disse...

Com certeza, Cristina, o que quis dizer é que sem um Diplomata de excepção como S, a hostilidade internacional à nossa presença ultramarina teria levado a melhor, como levou, depois de Ele desaparecer. E que arrastaria a Monarquia consigo, o que seria uma espécie de reprise, tendo presente o papel desempenhado pelo Ultimatum na Implantação da República.
Beijo

Cristina Ribeiro disse...

E o que eu quis dizer, Paulo, é que ele poderia muito bem ter dado esse contributo dentro de uma Instituição que englobasse todos que pudessem servir Portugal: acho que o País ficaria a ganhar.
Beijo

O Réprobo disse...

Eu quereria, a Cristina também, Ele igualmente. Mas quando um dos próprios ex-líderes da juventude do Integralismo Lusitano se opôs à Restauração...
Beijo