sábado, 21 de julho de 2007

Persistência de Eróstrato

Dia do ano dado como sendo o do incêndio da Maravilha do Mundo que fazia empalidecer todas as demais, segundo o seu seleccionador, Antipater. Eróstrato teria posto fogo ao templo de Artemisa em Éfeso, vangloriando-se seguidamente do facto, para que se pudesse tornar célebre por essa destrutiva acção, já que não fora possível por obras de maior dignidade. O mais famoso pirómano de sempre foi condenado a morrer no fogo de que tanto gostava e, como sanção acessória, a que nunca o seu nome fosse proferido por qualquer cidadão efesiano, sob pena de morte. Antes de fazermos a ligação a legião de criminosos comuns actuais que prevaricam para obter a celebridade devemos atentar nos políticos que aniquilam o que tanto tempo e custo levou aos antepassados. Mas não se pode concordar com o abafamento do nome dos responsáveis, pois é condicionar a justiça à vontade dos infractores, ainda que por oposição ao seu desejo. A Moral é impossível de ensinar convenientemente sem apontar exemplos a enaltecer ou a reprovar. E a vergonha deve sempre levar a palma ao silêncio, pois quando baixa os decibéis do volume da sua proclamação anuncia o fim próximo.
Circunscrevendo-me ao caso da Antiguidade gostaria de focar um outro aspecto: quando os historiadores nos dizem que Artemisa estava ocupada em garantir o sucesso do parto que trouxe Alexandre Magno a este Mundo, não tendo por isso podido proteger o santuário que a honrava, caíram no mesmo erro dos muitos que posteriormente se afastaram da religiosidade por imaginarem incumprida pelo Divino uma "obrigação" de interferência que decretaram. Em vez de culparem os membros mais fracos da Espécie e esta, por não ter sabido neutralizá-los.
Sabendo-se que o monumento destruído fora o único com função similar que Xerxes poupara, prova-se de novo que é muito mais temível o inimigo interno do que o externo.
E, para encerrar, às escolas psicanalíticas que queiram ver no erostratismo alguma sequela de trauma de infância, contraporei que a simbologia permite uma explicação pela sexualidade sem fantasiar demasiado nem relegação para períodos formativos: Artemisa, a Diana dos Romanos, era a Deusa associada à Lua e, por essa via, à Mulher. Não passaria afinal de uma concretização alternativa para o que alguns lamentam não conseguir normalmente: inflamar por si o Feminino...

2 comentários:

Anónimo disse...

ter um blogue também é uma forma de pegar fogos

O Réprobo disse...

Ou de os apagar. Mas há alguns que gostaria de atear, como o da amizade que sinto por tantos dos Interlocutores que por aqui achei.