Requiem Por Um Poiso
No sempre agradável «Era Lisboa e Chovia», parecendo adivinhar o dia de hoje, Castro Alves escreve:
Na ombreira da porta estreita uma pintura-símbolo da Lisboa antiga. Uma data e um letreiro decorado por gerações sucessivas: A Tendinha. A data, o letreiro e a pintura formam a síntese de um dos elementos mais típicos de Lisboa. E continuam a ser chamariz de um comércio que se opera generosamente, sem facturas nem máquinas de calcular. Contabilidade simples. Apenas a registadora, num constante abrir e fechar, é dona do segredo dos lucros. Falam as moedas, divididas nos compartimentos da gaveta... e as notas acamadas por sectores. A porta estreita é um sorvedouro de clientes. De toda a espécie de clientes que se esgueiram como enguias, subtraídos à multidão. Cada um, ao entrar, leva a pressa duma visita marcada, urgente e indispensável. Depois, ao sair, os rostos apresentam um aspecto subitamente mais sadio - regalo vital entrado na circulação. É que esta hora não pede somente o vício de um café. É também a hora do «balde de três» e do bolinho de bacalhau mastigado num foguete. E da «imperial» que sai do barril bojudo, à vista do cliente... A Tendinha!
Foi.
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Não é Hermínia, mas temos de viver com aquilo que temos no YouTube: «Tendinha», a alternativa instrumental de Silvestre Fonseca, por Inês Fonseca e Diogo Chaves, mais adequada ao Presente, suponho.
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