segunda-feira, 26 de novembro de 2007

A Perda do Equilíbrio

Festa com vinho, numa cratera de CorintoComo devoto de muito do que a Grécia Clássica nos deixou e julgando-me apreciador de vinho tinto, é natural que rejubilasse com a importância que na dieta Helénica o precioso líquido assumia. O pequeno almoço típico, por Safo descrito, um pedaço de pão vinicamente embebido dava-me, outrossim, a alegria de remeter para a materialidade em que assenta a Eucaristia, na minha Religião. Nem a variante da refeição matinal pintada por Aristófanes, com tempero pouco atraente de alho e vinagre, me afastava desta admiração. Assim como, repugnando-me os que não sabem beber, via com bons olhos a troça que na Hélade se fazia dos Beócios, tidos, a um tempo, como pacóvios, bêbados e glutões, os exemplos acabados das insuficiências espirituais e do excesso alimentar.
Assim sendo, o ideal das duas taças, a da Saúde, porque necessária ao organismo e a do Prazer, pela delícia da experimentação do sabor, tinha a perversão na interdita terceira, a da embriaguez, o que me parece não pequena condensação do espírito de equilíbrio dessa Antiguidade.
Mas eis que tudo vai... por água abaixo. Leio que a ingestão da maravilha dionisíaca se fazia não em estado puro (vinos), mas com H2O adicionado. Era a mistura, que dava pelo nome de Krassi. E, com efeito, viria a calhar a descoberta etimológica que lhe fizesse remontar a expressão "erro crasso", em fez de culpar patrícios romanos, ou outras possibilidades!

2 comentários:

Anónimo disse...

O consumo do vinho na Grécia não era tão equilibrado no tempo dos poemas de Homero e caiu muito com o aumento do preço.

O Réprobo disse...

Meu Caro Rudolfo,
mais uma prova de que o Clássico é expressão do equilíbrio, até nos períodos estabelecidos para a cronologia da Grécia Antiga. Sabe-se como o excesso também tinha o seu lugar, com conexões ao Sagrado.
Abraço