sexta-feira, 30 de novembro de 2007

O Cosmos Pessoano

de Stuart?
30 de Novembro é também a data da morte de Fernando Pessoa. Passo os olhos por uma carta, então inédita, publicada pela «Colóquio Letras» Nº 45 de Setembro de 1978, em que oferece a Unamuno o primeiro número da «Orpheu». Depois de uma provocatoriamente altiva, quase publicitária, assunção da sintonia com as vanguardas literárias europeias, sem que se perdesse o cunho original, arroga-se de cosmopolitismo:
Baseados n´isto e como seja nosso intuito estender quanto possivel a nossa influencia, e conseguir, atravez da nossa corrente - a mais cosmopolita de quantas teem surgido em Portugal - uma approximação de espiritos, tão pouco tentada ainda, com a Hespanha, pediamos a V. Ex.ª nos desse a sua opinião sobre a nossa revista e a literatura que contém - opinião essa que, se pudesse ser dada atravez da imprensa, como julgamos que a nossa iniciativa merece, duplamente nos seria grata. Nada nos é tão sympáthico como a agitação de idéas e é porisso que sobremaneira agradeceríamos que tornasse pública a sua opinião - seja ella qual fôr - sobre nós.
O carácter penoso de todo o pedido daquele que começa a um estabelecido, em três tonalidades desgostantes: o fale-se bem ou mal de mim, mas fale-se, a promoção da irreverência do movimento a factor de qualidade e, acima de tudo, a auto-proclamação do cosmopolitismo. Este pode, desde que não esmague os laços de originalidade, ser factor de engrandecimento espiritual e criativo, ampliando as referências. Mas só se reconhecido e creditado por outrem. Na boca própria soa sempre a provinciano antigo contando na terra as "maravilhas" que viu na cidade grande. Pessoa era muito maior do que se pintava ao Consagradíssimo Escritor Espanhol. Mas este é um mal impossível de evitar, quando se juntam dois voluntarismos: o da juventude e de empreendimento colectivo.

8 comentários:

Anónimo disse...

S. O tempo veio aumentar a veia nacional de F.P. sem cair no casticismo.
O traço não parece de S.C.

O Réprobo disse...

Mas era-lhe atribuído no blogue donde o rapinei, Meu Caro Rudolfo Moreira.
Sem dúvida que o tempo morigerou as adesões impensadas da geração, com «Marinetti Académico» em podium arquetípico.
Abraço

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

,,logo ele, Paulo, que rotulou de provinciano o E�a e outros!! Concordo consigo que � realmente de muito mau gosto.

Acho que � a 1� vez que n�o assinalo esta data. Eu sou Pessoana mas n�o cega. Penso tamb�m que se ele pudesse evitar,muito do esp�lio do ba� n�o veria a luz do dia. Infelizmente n�o p�de e toda a gente publica o que vai encontrando.
com excep�o de alguns que ainda v�o tendo �tica e guardam o que ser� para guardar.

Quanto � caricatura, acho francamente m� sendo ou n�o sendo de Stuart.:-)

beijos

Ricardo António Alves disse...

É mesmo do Stuart, ó Irmão em C.

O Réprobo disse...

Querida Júlia,
eu gosto de Pessoa, mais do próprio do que dos heterónimos, apesar de achar que, com muito menos extensa obra, o cume da poesia do século XX em Portugal foi atingido por Camilo Pessanha.
Esta carta claro que, passada à posse de Unamuno, sempre emergiria. Foi um momento mau, repetição de outros, vividos por muito literato em princípio de vida, que mais tarde causam vergonha, o que explicará muita revolta contra os benfeitores nas Letras.
Beijinho

O Réprobo disse...

Meu Caro RAA,
ficamos então sossegados. Mas esctou com a júlia: não foi dos melhores momentos do Artista.
Abraço

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

Pessoa foi sobretudo um filósofo,um pensador, um dramaturgo. A obra dele leva-nos ao conhecimento de nós próprios e deverá ser analisada num todo...

Para mim o Mestre é Ricardo Reis, embora de tão perfeito,chega a ser chato tal qual um padre que tem sempre razão. (risos)

Concordo consigo, Camilo Pessanha foi perfeito, sim, e só com meia duzia de poemas...o que prova que não é necessário que a obra seja extensa.

Pessoa é o maior a seguir a Camões e está sempre actual. REpare na Florbela: são da mesma época e tem alguma coisa a ver??

beijo

O Réprobo disse...

Querida Júlia,
nada de nada. Uma boa sonetista, como Bocage e Antero, com força no canto da própria desilusão e tristeza, mas sem a universalidade especulativa e especular identificável de que falou em F.P.e com que concordo.
Não contesto um milímetro da estatura pessoana. O poema que dele mais gosto é aquele a que pertencem os versos:
Eu não sei o que sou.
Sei talvez que estou sendo
O perfil casual de um rei tristonho
Numa história que um Deus está relendo.
Todo o poema, de que citei este passo, de memória, me parece Berkeley transposto para a Poesia.
Beijo