Eça (a) Descoberto

Do Autor de «Os Maias» em 25 de Novembro chegado a este Mundo, de que conservou um momento passado através de estilo e equacionações anda hoje frescos, o que é particularmente difícil num ironista, não resisto a transcrever trechos de uma das cartas, aquela em que exprime desagrado por Newcastle:
Com efeito, meu caro Amigo, nunca invejei tanto o poder de Nero - que - quando embirrava com uma cidade lhe mandava tranquilamente deitar fogo. (...)nunca pensei que o coração humano - que não tem mais de quatro polegadas quadradas - poderia conter tantas toneladas de rancor. (...) Aqui tudo é mau - o clima, a sociedade, os costumes, os passeios, os conhecimentos, a moral, os jornais, as mulheres, os criados - etc. - tudo é mau a única coisa boa que há - são os trens de caminho de ferro - ... quando partem daqui. Quando chegam, são odiosos. Quase soa a variação sobre o dito do Dr. Johnson acerca da Escócia, de que a melhor coisa que lá havia eram as estradas para Inglaterra...
Como parece uma versão diversa da conhecida carta a Ramalho, a aplacar a susceptibilidade dele, a tríplice escolha que na mesma missiva dá entre besta, burro e alimária para qualificar o empregado da chancelaria, quando, no ponto epistolográfico mais conhecido, punha em tom de brincadeira à vontade do freguês burro ou camelo.
Enfim, exercícios de erudição que são verdadeiras ofertas cultuais a um Autor de Culto que não é monopólio de um grupo restrito.
2 comentários:
Meu Caro Eçafim (Eça-Afim),
Parabéns pela recensão, digna duma "Revista de Portugal".
Falta dizer que a exposição «Aquisições Queirozianas», a que o catálogo respeita, pode ainda ser visitada na BN, pois foi «prolongada até 31 de Dezembro».
Com um abraço,
Áurea Pluma.
Caríssima Pena d´Ouro,
que boa nova nos dás a todos. Ficam pois os Leitores avisados dessa faculdade extra de visitar uma importante mostra queirosiana.
Quanto aos elogios, mérito há em Eça e Nos Que assim nos revelam a sua obra, não em mim.
Abraço apertado
Enviar um comentário