domingo, 8 de abril de 2007

O Lugar Dela

Não pude impedir-me de pensar em como pouco consideram aqueles críticos que reduziram a importância da Mulher no Cristianismo ao contudo fulcral estatuto de Mãe, decalcado do culto da Virgem Maria, muitos deles os mesmos que tentam encontrar herméticos papéis e presenças para St.ª Maria Madalena, Aquela cuja indisputada notoriedade sexual estava mais à mão entre as que seguiam Jesus. É fazer tábua rasa do mandato de anunciar o túmulo vazio, conferido angelicamente às Piedosas que no Domingo Pascal se tinham dirigido à Sepultura, como Carracci aqui representa. Num universo religioso retirado do Judaísmo, em que o desmpenho cultual feminino era secundarizado ao ponto de alguns protestantismos revivalistas negarem o valor antecipatório nas aparições de Nossa Senhora, por a profecia ser alegadamente reservada aos Homens, tal como deles se fez eco H. L. Heijkoop, constituiu esta missão uma revolução coperniciana avant la lettre. Mesmo o incumprimento devido ao terror não é dado como típico do Género, nem desobediência culposa, mas como fraqueza Daquelas poucas, assaltadas por medo inelutável.
Da mesma forma, é À que não titubearia, A de Magdala, que Jesus aparece. E que não O reconhece, senão quando chamada pelo nome, coisa estranha em quem tivesse contacto carnal com o Mestre, como querem fantasias esotéricas do Tema, dado que o hiato entre a separação e o seu termo não correspondia aos muitos anos de Penélope, mas a apenas escassos três dias. Nem a natureza da reacção e da incumbência parecem ser a de um casal, por muito Singular que fosse. Mas claro que os amantes do Oculto ficariam muito empobrecidos no encanto das suas efabulações sem o recurso à União física com o Senhor. Depois da acusação da subalternidade, esbate-se a do acasalamento, ambas por vezes estimadas pelas mesmas cabeças, que não percebem contradição nelas, cegas que estão no empenho da recusa ou diminuição Da que viria a ser Padroeira de Portugal.

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